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Quinta-feira,
20/1/2011
A casa do Tom
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Chuvas, degradação ambiental, mudanças climáticas, descaso do poder público, pessoas em moradias irregulares, verbas empregadas indevidamente em um museu que guardará o futuro, enquanto centenas de crianças morrem soterradas... Tragédia.
Durante a enchente que atingiu a região serrana do estado do Rio de Janeiro, desceu rio abaixo um patrimônio da música popular brasileira: a casa onde, nos verões, se refugiava Tom Jobim e na qual o maestro compôs músicas como "Águas de Março" e "Matita Perê".
Não, não era a casa o que importava. Os lugares guardam um pouco da alma de seus donos. Mas não era o fato de aquele imóvel ter pertencido a Tom Jobim e de ter feito parte da história da música popular brasileira. É o cinismo das organizações Globo ao anunciar a tragédia, pedir auxílio para que as vítimas sejam atendidas e lamentar a perda desse sítio, que era quase um memorial em homenagem a Tom Jobim.
Aproveitando-se da tragédia para atrair audiência, não tocou sequer no assunto das doações que recebeu do poder público. A cada dia, me entristece mais assistir aos telejornais. Sou estudante de jornalismo e não tenho estômago para tanta exploração da desgraça alheia, mas infelizmente isso atinge praticamente todas as emissoras abertas de televisão do Brasil.
Há algum tempo ao menos tentavam exibir programação de qualidade, eu me imagino vivendo na época em que Elis Regina apresentava um programa de música na televisão. Chico, Milton, Caetano, que faziam parte da mass media, hoje são considerados cantores da elite. E o gosto vai se rebaixando... Da Elis Regina cantando no Fantástico no início da década de 1980 a "Eguinha Pocotó" em 2000 foram apenas 20 anos; o "Rebolation", que veio 10 anos depois, não nos deixa mentir: o nível da música transmitida à grande massa e apreciada por boa parte da população brasileira vem caindo drasticamente nos últimos 30 anos.
O padrão Globo de mediocridade veio para trazer a impessoalidade, a frieza e o cinismo ao jornalismo brasileiro, e continua a ser copiado desajeitadamente pela maioria das outras emissoras. Isso se repete no restante da programação. Quão mal feitos e novelísticos os episódios da série Amor em 4 atos, músicas lindas de Chico Buarque que não passaram de mera trilha sonora e mero pretexto para mais uma microssérie para forçar que as pessoas assistissem ao Big Brother.
Aliás, hoje o Big Brother não é só no "plim plim", pois muitas e muitas imitações surgiram nos outros canais. Somos observados 24 horas por dia em casa, na rua, na internet. Os milhares de cadastros que fazemos na rede por um acaso servem para quê? No Twitter muitas pessoas fazem questão de serem monitoradas: a cada passo, a cada respiração, a cada movimento tuitam simplesmente tudo, e ainda têm coragem de criticar o Big Brother...
A Globo e o seu padrão de mediocridade, e os seus sertanejos universitários que nunca nem passaram no vestibular... seus rebolations, seus tecnobregas...
Tom Jobim não merecia ver essa decadência na música popular brasileira...
Segundo Daniel Jobim, neto de Tom, parecia que, nas músicas, o maestro havia profetizado o acontecido. "Águas de Março" foi composta em 1972, e não sabia Tom Jobim que as águas não esperariam até março nem que seu refúgio entre as montanhas não duraria até o ano do fim do mundo. Nem que a música brasileira teria esse fim.
Uma casa pode ser reconstruída, mas e as centenas de vidas perdidas na tragédia? 25 milhões de reais não valem a vida de uma única pessoa. Pra que construir um museu pro futuro se agora ele está morto para as centenas de vítimas?
Postado por Dea Nunes
Em
20/1/2011 às 04h41
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