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Quinta-feira,
12/1/2012
Um Leitor sobre Daniel Piza
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Olá, Julio
Queria ter escrito logo na semana passada, mas acabou ficando só para hoje. Meu nome é Germano Stein, te sigo no Twitter. Meu objetivo era agradecer pelo texto sobre o falecimento do Daniel Piza.
Como leitor dele de longa data, sua morte repentina me entristeceu profundamente e eu ainda procurava na internet algum obituário que lhe fizesse justiça. Eu até já havia procurado um texto teu no Digestivo na terça à tarde, mas não vi nenhuma menção. Achei até estranho, sabia que o Piza era uma figura tão importante para você e o Digestivo. Por isso, foi uma alegre surpresa ver na quarta de manhã um link no Twitter para o "Encontros (e Desencontros)".
Acho que nunca mandei um e-mail para agradecer (nem criticar) o autor de um texto, mas acho que no contexto das memórias envolvendo o Piza seria oportuno. Assim como você, fiquei sabendo sobre ele através dos textos do Paulo Francis, e li a antologia Waaal quando saiu em 1996.
Bom, não dá para falar do Piza sem se lembrar do Francis, e no meu caso, não há como superestimar a influência do Francis na minha "formação". Crescendo em Joinville, SC, numa época pré-internet, as colunas do Francis via Estadão eram praticamente uma janela para outro mundo, repleto de ideias, nomes, assuntos interesses que eu não encontrava em outro lugar.
Certa coincidência de fatores também me favoreceu: a entrada do Francis no Estadão, a minha entrada na adolescência, e a entrada da minha residência na lista de assinantes do Estadão foram todas praticamente ao mesmo tempo. Considero-me sortudo por isso.
Cinco anos depois, uma coincidência mais triste. Na semana em que o Francis faleceu eu começava a faculdade de administração em São Paulo. Por outro lado, logo estava assinando a Gazeta Mercantil, onde acompanhei boa parte da fase de ouro do "Caderno de Fim de Semana" (e do Piza). Em tempos mais recentes, acompanhava sempre a Sinopse no Estado, li alguns dos seus livros e acompanhava o blog dele e a sua coleção de artigos completa no site.
Acho que isso resume meu histórico com a obra do Piza, mas não explica exatamente minha tristeza. Em primeiro lugar a trajetória do Piza lembra ― para usar termos do futebol que lhe era tão caro ― um jogo com um placar final amargo, cheio de bolas na trave e golaços que ficaram no quase.
O resultado desse "jogo" pode ter sido bom, mas o desperdício foi maior, dado o tamanho do potencial. Com toda sua erudição, concisão e diria equilíbrio, Piza podia ter sido um Francis maior que o Francis, mas não chegou lá e não teve tempo nem espaço para tanto. (Teu texto é muito esclarecedor sobre a insatisfação dele no Estado, a falta de com quem debater, os livros "excessivos", a relação ambígua com a internet, a frustração com o aspecto financeiro e a valorização profissional).
Mais ainda, eu vejo em Piza a coragem de ter deixado de lado uma carreira mais tradicional (como o direito ou a diplomacia, como ele mencionou ter cogitado) para seguir esse "sonho" do fazer o jornalismo cultural. E apesar de tudo que ele publicou, leu e todos os leitores que deixou, esse término súbito deixa um gosto amargo. O trágico se mistura com o frustrante, e o Piza não merecia nenhum dos dois.
Isso tem um significado pessoal para mim porque acho que eu tive, em algum momento do passado, o mesmo sonho, mas não a mesma coragem (nem o talento ou aptidão). E aqui chego à minha questão central: será que não teria sido "melhor" (escolha-se o critério que quiser) pro Piza ter seguido uma carreira "mais tradicional"? Não acho que a resposta seja positiva, mas me ver cogitando essa hipótese que me realmente me entristeceu.
Afinal, quem é que vai ter a mesma coragem que aqui atribuo ao Piza? E se tiver, será que essa pessoa deveria tentar seguir esse sonho? Há realmente espaço no Brasil para o verdadeiro debate cultural, a defesa dos valores liberais mais amplos, o combate aos clichês e meias-verdades e a prática da honestidade intelectual rigorosa?
Posso estar exagerando um pouco, e sempre há grandes exceções, mas para mim a partida de Piza deixa um grande vazio e um enorme silêncio. E por isso que queria agradecer poder ter lido tuas recordações.
Germano Stein, por e-mail.
Postado por Julio Daio Borges
Em
12/1/2012 às 11h41
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