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Terça-feira,
18/6/2013
Fala Antonio Risério
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A primeira coisa que digo às pessoas de minha geração (por volta dos 60 anos de idade), com relação às manifestações pela tarifa zero no sistema público de transporte, é: parem de ser nostálgicos e de idealizar seu próprio passado. Porque as pessoas usam 1968 como critério. É uma tolice. Naquela época, embora nos achássemos "marxistas", alimentávamos socialismos utópicos. Hoje, a conversa é outra. A luta não é explicitamente contra a "ditadura dos patrões", como a Polop gritava na década de 1960.
Se meus amigos de esquerda, teleológicos ou escatológicos, não entendem o que está acontecendo, menos ainda nossos governantes, independentemente de suas posições no tabuleiro ideológico de nossos dias.(...)
Acho apenas ridículo quando me dizem que a garotada que luta contra o aumento da tarifa não precisa pegar ônibus ou metrô. É uma garotada classemediana, motorizada. Se isso é verdade, melhor ainda. Significa que a juventude brasileira de classe média está recuperando, enfim, sua noção de solidariedade, que parecia irremediavelmente perdida. Lembro então aos saudosistas que, na década de 1960, lutávamos até por reforma agrária. E nenhum de nós tinha sequer um palmo de terra fora dos muros da cidade. Eu costumava dar esse exemplo para falar de uma solidariedade que julgava não mais existir. E agora me vejo na feliz obrigação de retirar o que dizia.(...)
Talvez a gente possa falar de uma espécie de insatisfação difusa, disseminando-se pelo conjunto da sociedade. Uma insatisfação geral com o país depois das celebrações narcísicas do "take off" anunciado pela Economist em 2010. É na pauta dessa insatisfação, de resto, que ouço a vaia em Dilma Rousseff no estádio Mané Garrinha, em Brasília, na abertura da Copa das Confederações. Claro que nós, brasileiros, sempre gostamos de vaiar autoridades. Há um desrecalque sociologizável nisso. Mas não foi só. A vaia em Dilma expressou uma reação de alta classe média contra a situação atual do país. Situação atual que também mobiliza o protesto de estudantes e trabalhadores, com apoio de donas de casa.(...)
O fantasma da inflação ronda feiras e "supermercados". O dinheiro é pouco. Mas há a enxurrada de milhões de reais na corrupção dos políticos. A gastança do governo. E o esbanjamento em função de uma Copa das Confederações que será seguida por uma Copa do Mundo.(...)
Mas vamos ampliar o foco. O Brasil, hoje, parece um país triplamente acomodado. Acomodado, no âmbito governamental. Acomodado, no terreno de sua oposição política. Acomodado, no conjunto da sociedade. "Acomodado" no sentido da carência de uma nova visão estratégica e de projetos correspondentes. É preciso reencontrar o rumo da transformação. E quem sabe essa meninada nas ruas nos ajude a fazer isso: a recuperar a ambição nacional, no sentido mesmo do clichê de ser um país menos injusto e que possa se ver como nação plena.
Via Francisco Bosco
Postado por Julio Daio Borges
Em
18/6/2013 às 16h54
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