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Quarta-feira,
8/6/2005
One-man show
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[Como você avalia a crítica musical da atualidade?] A falta de uma publicação forte, de penetração nacional entre os mais diferentes fãs de estilos musicais, a extrema segmentação das publicações e a facilidade tecnológica com que qualquer um pode montar um blog ou um site ajudam a criar essa dispersão atual. A internet criou a ilusão de que todos podem ser críticos, graças ao MP3, que permite conhecimento rápido das novas tendências, e à praticidade com que se pode publicar uma opinião. E, por isso, talvez o último nome da crítica musical, como a conhecemos, seja Lúcio Ribeiro, que em sua coluna atualiza a função de garimpagens de bandas novas que começou nos anos 80. Lúcio é sincero e realmente gosta do que recomenda. Mas não deixa de incorporar e inspirar o jornalismo hiperlativo dos blogs. Se por um lado todos acreditam que têm direito a criticar e opinar, seja na imprensa como blogueiro ou num blog como jornalista, a crítica cultural se reduz a encontrar novidades ou tendências. Por outro lado, o efeito colateral dessa explosão de opiniões faz com que nenhuma opinião seja realmente relevante. Há consensos brutais que tornaram a função do crítico supérflua. Ele só tem que concordar com o que todos dizem. Lembrando que há o bloco dos contras, que devem discordar dos consensos porque é a única forma de se destacar da manada. Mas, na verdade, a crítica tinha que crescer. Deixar os blogs para os meninos e levar o jornalismo cultural para uma fase adulta, em que se torne jornalismo investigativo ou antropologia cultural.
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[Você foi um dos primeiros jornalistas a lançar uma revista solo de música, a Vírus, que circulou a partir da segunda metade da década de 90. Ela durou algum tempo e acabou. O que aconteceu? Qual foi a lição tirada dessa experiência?] A Vírus tentou ser uma alternativa à Bizz/Showbizz, apresentando com destaque artistas que não tinham espaço na imprensa mainstream. Era uma aposta ousada, típica de críticos de rock. Foi uma aventura passional, que rendeu muitas brigas e custou dinheiro. Era para ser bimestral, mas com sorte saía a cada três meses. Mesmo assim virou cult. Tinha lá mil indivíduos que compravam a revista sempre que ela saía. Como laboratório de experiências, foi privilegiada. Até distribuição banca-a-banca foi tentada, num esquema de carro e perna mesmo. Deu uma bela canseira, mas provou um ponto: que a distribuição nacional não funciona para pequenas editoras. A revista em que tentamos o corpo-a-corpo foi a que mais vendeu. Quando falo "nós", refiro-me também a Jeferson de Sousa, meu sócio na Vírus. Outro problema é que a Vírus era realizada como projeto paralelo. De dia, tínhamos as nossas carreiras de jornalistas, que pagava as contas, e virávamos a madrugada trabalhando na revista. Isso provocou diversos atrasos. Esta foi outra lição: é preciso dedicação total num projeto impresso. A Vírus nunca deu lucro, nem empatou suas contas. O único dinheiro que entrava mesmo era os das grandes gravadoras. Nenhuma gravadora independente investiu um centavo na Vírus, mesmo concentrando o espaço no alternativo. Foi quando tentamos colocar na capa um artista nacional que estava em alta na época, os Virgulóides, para tentar viabilizar o projeto. Os leitores fiéis ficaram revoltados, apesar do tratamento crítico dado à reportagem - Ricardo Alexandre, que depois criou a Frente, escreveu, a nosso pedido, um texto desancando a banda. Isto, claro, não ajudou a conquistar os fãs dos Virgulóides. Fizemos uma última tentativa: uma revista com capa dupla - de um lado, Planet Hemp, na época da prisão em Brasília, com aposta na reportagem investigativa, e do outro o Blur, no que pode ter sido sua única capa no Brasil. Dobramos a tiragem e prendemos a respiração para ver no que ia dar. Deu em mais de U$ 4 mil de dívidas que inviabilizaram a continuação do projeto.
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[Fale um pouco mais da (sua) revista (atual) Pipoca Moderna.] Pipoca Moderna combina o velho idealismo com uma visão mais amadurecida do mercado. Tem uma tiragem de 30 mil exemplares. É gratuita, portanto tirou do leitor a função de sustentá-la. Quem a sustenta são anúncios - de distribuidoras de DVD, sim, de gravadoras, pizzarias, livrarias, de quem anunciar. Sua ambição não é a de informar um grupo seleto de pessoas, mas de chegar ao maior número possível de leitores. O alcance deve ser amplo porque o público de DVD é amplo. Nem por isso é um produto pobre. Creio que tem ótima qualidade editorial, artística e gráfica. O fato de não tratar diretamente de cinema, mas de DVD, permite que fale aos fãs, e não aos demais críticos. A idéia associada à imagem da Pipoca é essa: diversão. Por esse conceito, Indiana Jones é a coleção mais aguardada do ano, e não a caixa de, digamos, Fellini. É possível fazer uma crítica de cinema com estilo pop, embora não se veja isso sendo feito cotidianamente. Talvez porque, do mesmo modo que na música pop, os consensos da crítica de cinema também são brutais. É pior ainda, pois o cinema tem o status de arte que o rock não tem, e sua seleção de especialistas oficiais não muda na grande imprensa há várias décadas. Assim, seus consensos atravessam gerações.
Marcel Plasse, da Pipoca Moderna, em entrevista perdida a Rodney Brocanelli, no Observatorio da Imprensa (aqui e aqui).
Postado por Julio Daio Borges
Em
8/6/2005 às 08h04
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
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