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Quarta-feira,
3/8/2005
Quer ir pra cama comigo?
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Será que ele ainda se lembra? Não faz tanto tempo, mas homem é assim: esquece rápido as coisas. Mulher se lembra, se lembra de tudo: as palavras, o tom de voz, a expressão no rosto do outro, a música que tocava naquele momento - tudo.
O choque. O rosto dele mudou de cor, passou de pálido ao vermelho, e ao mais vermelho (quando viu que eu o olhava). Ah, somos fortes. Corajosas. Mesmo quando mortas de medo - corajosas.
Será que ele sabia que eu estava com medo? Medo de que mudássemos um com o outro (como de fato mudamos, mas não para pior). Medo de que essa transição - de amigos para amantes - não se desse sem traumas, o sem jeito do sexo e que respingasse na amizade, quem sabe danificando-a.
Com medo, mas fiz: droga, se eu tenho de ter um amante por que não um em que eu confie? (E me atraia, lógico.) Passar à ação: não vamos ficar tendo essa conversa idiota em que os dois dizem coisas nas quais não estão pensando, apenas escondendo a verdade, escondendo os fatos: Eu quero. Você me quer. E isso, oras, não é o fim do mundo.
Eu me lembro que a chave escorregava toda hora dos seus dedos. E lembro que ele, depois de pôr a mão no meu ombro, mantinha-a ali como se temesse uma fuga; que eu mudasse de idéia, vai ver.
Porta aberta. Luz se acendendo, sua boca na minha. Minhas mãos nele descobriam que tremia. Nós. Lutando juntos, e não um contra o outro: para que o medo não nos engolfasse, não nos transformasse em outras pessoas, inimigas ou indiferentes.
Ou ainda: para que, temerosos de ferir, temerosos de sermos feridos, não vestíssemos outras roupas enquanto nos despíamos: trajes que moldassem uma outra mulher, um outro homem, e não nós dois. Na cama com estranhos.
Eu não quis me esconder. A tentação veio, porém repeli-a. Ele não o fez tampouco.
Seus olhos. Seus olhos. Abertos, em mim. Seu corpo em mim. Meus olhos nele enquanto nos uníamos. Nos abraçamos com os olhos antes que os corpos o fizessem.
E não foi estranho. Não foi louco, como com outros, e não foi inadequado. Nós dois nos encontramos. Ele segurou-me, olhos nos meus, como para impedir que eu me guardasse. Olhos nus, como estivemos nus.
Será que ele se lembra que fui eu quem comecei tudo? Volto a cabeça quando ele diz algo sentimental, nada rebuscado. E quem se importa?
Da Claire Scorzi, uma das nossas Comentadoras mais dedicadas, cujo blog linca pra nós.
Postado por Julio Daio Borges
Em
3/8/2005 às 14h37
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