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Quinta-feira,
6/7/2006
O economista que virou pop
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Foi enterrado essa semana Arif Mardin, um dos mais premiados produtores musicais do pop. Mardin morreu em 25 de junho, devido a um câncer pancreático, diagnosticado há 18 meses. Só pelos números da carreira de Mardin já se desenha o impacto da perda: 12 prêmios Grammy - dois deles de melhor produtor do ano - e mais de 40 discos de ouro ou platina. Entre 30 de junho e 15 de julho, o festival de jazz de Montreux desse ano irá homenageá-lo com um tributo - vale lembrar que a carreira de Mardin, embora tenha se consagrado pelo pop, começou com o jazz.
Arif Mardin desembarcou no Logan Airport em janeiro de 1958, vindo de Istambul, na Turquia. Eram quatro da manhã de uma madrugada gelada do inverno de Boston e o arranjador de 26 anos decidiu virar a madrugada no hall do aeroporto, à base de coca-cola e chocolates, para economizar o dinheiro da diária do hotel. Ele tinha sido indicado como bolsista para a Berklee College of Music, por Quincy Jones, que estava em turnê em Istambul dois anos antes, com Dizzie Gillespie, e ficou impressionado com as composições do rapaz. Embora fosse fanático por jazz, Mardin já era graduado em economia pela Universidade de Istambul e pela London School of Economics e, até aquele momento, nem pensava em se tornar músico profissional.
Logo que se formou na Berklee, Mardin começou a trabalhar para a Atlantic Records Passou décadas como um dos maiores hit makers da gravadora, até se tornar vice-presidente sênior. Só saiu de lá mesmo porque chegou ao limite de anos para aposentadoria compulsória. Nesse momento, figuras-chave na indústria fonográfica norte-americana como Bruce Lundvall, presidente da Blue Note, e Roy Lott, presidente da EMI, ofereceram a Mardin e a outro veterano do mercado fonográfico, Ian Ralfini, os cargos recém-criados de vice-presidentes de um novo selo, o Manhatan Records, vindo da EMI.
Pelo Manhattan, a missão era produzir cabaret music e pop para adultos. Nada a ver com o perfil jovem que o fez explodir na Atlantic, com hit "Good Lovin", dos Young Rascals, de 1965. O sucesso que veio na seqüência foi "Respect", de Aretha Franklin. A música faz parte do álbum I Never Loved a Man (The Way I Love You) , que é considerado uma obra-prima do soul. Ao longo da carreira do produtor, a lista de artistas que trabalhou com ele não é apenas grande, mas bem eclética; vai de Bee Gees a Cher, passando por Phil Collins, Stevie Wonder, Smashing Pumpkins, Eric Clapton, Diana Ross, James Taylor, Barbra Streisand, Jewel e Queen, entre dezenas de nomes.
Num modelo como o do pop, em que o marketing é feito principalmente pelas rádios e pela MTV, um homem com esse faro para produzir sucessos comerciais acaba se tornando uma pessoa-chave. Não é comum resistir a esse mercado por quatro décadas. Mardin, numa aula magna do Berklee College of Music, deixou o seguinte conselho: "Quando você sentir nostalgia, tente resistir a ela e sem rejeitar a música do passado, olhe para o futuro".
Mardin trabalhava de forma bastante autônoma criativamente. Quando recebia material de um artista, preferia demos simples, em que apenas a linha melódica sobressaísse, em vez de trabalhos quase finalizados, cheios de idéias de outros produtores e arranjadores. Com apenas o essencial da música em mãos, podia criar com mais liberdade em cima das letras e melodias.
O último trabalho de repercussão em que o produtor esteve envolvido foi Come Away with Me, de Norah Jones, lançado pelo Manhattan. Mais delicado e limpo - bem diferente do estilo de Mardin na Atlantic -, lhe rendeu o segundo Grammy de melhor produtor. Latife, esposa de Mardin, disse ele estava envolvido com música até seus últimos dias. Mardin faleceu aos 74 anos, em Nova York.
Postado por Verônica Mambrini
Em
6/7/2006 às 09h48
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