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Quarta-feira, 27/5/2015
Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
ANDRÉ LUIZ ALVEZ
 
Cenas do bar - Juvenal e Marcela

No sagrado ano de 1986, a nossa turma costumava se reunir nos finais de semana na casa do Juvenal, que era o diferente, o único que tinha boa situação financeira, já que o pai era dono de um grande depósito de construção. A cerveja era farta e a música de boa qualidade. Juvenal falava pouco, às vezes baixava a cabeça, não por falsidade, mas por timidez, nem mesmo depois do sétimo copo de cerveja conseguia se soltar. Chico não gostava dele. Falava num tom de voz assombradamente alto que o considerava psicopata, para desespero do resto da turma que temia que Juvenal o escutasse. Chico sempre foi assim, fala o que lhe vêm na cabeça, usa um grau de sinceridade difícil de acompanhar e que muitas vezes machuca. Do meu lado, eu percebia no Juvenal apenas um amigo carente de atenção e lhe dava ouvidos a todos os seus queixumes. Fui o primeiro que ele segredou, mantido um brilho estranho no olhar, a paixão arrasadora que sentia por uma de nossas amigas, a Marcela, uma menininha pouco atraente, extremamente magricela e que mantinha os cabelos loiros sempre curtos e repartidos ao meio. De longe, parecia um menino. Contou o segredo apenas para mim que tentei encorajá-lo ir adiante, falar diretamente com a Marcela, que não tinha namorado e muitas vezes, também se mostrava carente. O conselho foi ouvido com total atenção e um tremor no braço, que subiu para o queixo. Logo a fala do meu amigo secou e tudo que ele conseguia era beber goladas de cerveja em busca de coragem que não conseguiu obter. E os sábados foram passando no mesmo ritmo. Juvenal entregue à paixão que calava, enquanto Marcela mantinha a vista um tanto perdida no horizonte. Certa vez o Chico chegou com um disco novo que logo colocou na vitrola. Era uma linda música romântica. Juvenal tomou dois goles seguidos de cerveja e se levantou em direção da Marcela que o encarou surpresa, abrindo exageradamente os olhos. Os passos do Juvenal pesavam chumbo, Marcela olhou para um lado, depois para o outro, como um animal indefeso prestes a ser abatido. Quando faltavam três ou quatro passos, rápido feito um relâmpago, Chico cortou o caminho e tirou a Marcela para dançar. A música era tão linda que contive o palavrão que estava pronto na minha boca. Juvenal recuou até o seu canto solitário, acendeu um cigarro e ficou olhando a cena. Chico apertava o quadril magro de Marcela e encostava o rosto da barba mal feita na pele macia de moça, que logo enrubesceu. Caminhei para perto do Juvenal, os olhos baixados, a fumaça do cigarro apagando o seu rosto. Quando pressentiu a minha chegada, disse com a voz embargada: - Essa será a nossa canção, minha e da Marcela. Ela ainda será minha esposa. O tempo passou depressa e menos de três anos depois, lá estava novamente o meu amigo Juvenal, o mesmo rosto sofrido, o cigarro como único companheiro, o corpo encostado na mureta da casa da Marcela. - Não fique assim, Juvenal. As pessoas já estão percebendo... - Eu quero que as pessoas e o mundo se danem! Ela não tinha o direito de se casar com outro. Chico apareceu no instante seguinte e tentou ajudar no seu jeito rude, incontrolavelmente sincero: - A culpa é sua, Juvenal. Esse tempo todo e nunca se declarou pra Marcela. Ela cansou de esperar. Os olhos do Juvenal faiscaram raiva: - Quando tive coragem, você a tirou pra dançar na minha frente! Chico ficou quieto por segundos. Depois respirou fundo, tragou o cigarro e ajeitou o corpo. - Não fiz por querer. E ela me deu bronca, disse que queria dançar com você. Juvenal arregalou os olhos. - E você nunca me contou isso? E a sinceridade do Chico ecoou em nossos ouvidos. - Eu não gostava de você. Sempre achei que fosse um psicopata. Agora vejo que me enganei. Ficamos em silêncio enquanto a noiva Marcela, de dentro da casa, acenava para nós. - Ei vocês, venham pra dentro que o baile vai começar. - Vocês conhecem o noivo? — eu disse, rompendo o silêncio — - Trabalha num banco... Eu acho. — respondeu acanhado o Chico enquanto dava dois tapas nas costas do Juvenal. Dirigimos-nos para dentro da casa e a música que tocou, numa cruel coincidência, foi aquela mesma que o Juvenal escolheu para ele e a Marcela. Troquei olhares com o Chico. Depois fitamos o Juvenal e tudo o que ele conseguiu falar foi uma frase curta: - Eu adoro essa música. https://www.youtube.com/watch?v=8WH7xv0WW-0

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
27/5/2015 às 10h10

 
Paris, eu estou aqui!

Noite de lua cheia de um sábado tão calmo que resolvi comer na feira do Bairro Taquarussu. Estava na dúvida se trocava o sobá por um churrasquinho, quando um senhor se aproximou. O rosto enrugado, cansado, a barba rala e grisalha e os olhos de um azul bastante claro que chamavam a atenção. Falou comigo como se me conhecesse de muito tempo atrás, se apresentou pela alcunha de "Francês" e quando pensei que pediria comida, ele tirou do bolso da camisa rota um monte de jogos de loteria. Disse que era francês por parte de mãe, mas o pai era cigano e assim que me viu entrar na calçada da feira, teve o pressentimento que eu ganharia na loteria. Sou completamente cético quanto a isso, nunca ganhei nem rifa, uma vez comprei dez cartelas de um bingo do Comercial e não fiquei nem pela "boa". Mas o homem insistiu tanto que acabei comprando. Ao conferir o resultado, percebi que acertei quatro números, faltaram dois.Quase um milionário... Então o vento soprou tão forte que amaldiçoei meus poucos cabelos, era brisa suficiente para levar as mechas ao longe. Ainda assim senti estranho prazer ao erguer os braços diante da Torre Eiffel, o cheiro de Paris invadindo minhas narinas enquanto eu pedia pra Graziela um beijo de cinema, porque todos os lugares do mundo são bons para beijos, mas em Paris é diferente, é eterno. Caminhamos de mãos dadas pelas margens do Rio Sena e o passado adentrou ao presente sem que eu pedisse, embora desejasse, tão logo vi surgirem as cadeiras espalhadas pelos cafés nas calçadas da Champs-Élysées. Com o Arco do Triunfo ao fundo, fui vendo desfilar fantasmas imortais. Numa mesa, o Marquês de Sade discutia com Restif de La Bretonne, na outra Simone de Beauvoir cochichava algo nos ouvidos de Sartre que em seguida caía na risada. Mais ao fundo, bebendo uísque e fumando um charuto cubano, Ernest Hemingway contava segredo aos ouvidos atentos de Scott Fitzgerald, enquanto Gertrude Stein fazia sinais para o garçom servir mais uma bebida. E surgem La Fontaine, Picasso, Proust, Collete. Balanço a cabeça, estou num filme de Woody Allen, penso, e prossigo caminhando até chegar ao Louvre e só então tenho força para perguntar pra Graziela: você viu aquilo? Ela não responde, congela, vira uma dançarina do Moulin Rouge e eu sou arremessado ao túmulo do Jim Morrison no Cemitério de Père-Lachaise. Sinto a perna tremer ao imaginar que o corpo de um dos meus ídolos está enterrado logo abaixo dos meus pés, ameaço chorar, me contenho quando vejo no túmulo ao lado a foto do homem dos olhos azuis que me vendeu os números da loteria. Acordo aliviado, no silêncio do meu quarto. Sonho bom, que surgiu certamente quando imaginei qual seria a primeira coisa que faria com o dinheiro caso ganhasse o prêmio. Faltaram dois números e, por enquanto, Paris e seus fantasmas terão que esperar.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
25/5/2015 às 10h43

 
O último trem

E de repente estou caminhando pelas ruas de paralelepípedos da vila dos Ferroviários, perto da antiga estação: Por lá, algumas árvores, antigas sentinelas, sobrevivem ao tempo. O trem do Pantanal passava por aqui - penso no exato instante que um vento gostoso, levemente gelado,sopra em meus ombros. Deparo-me com a velha estação transformada em feira-livre, um dos pontos turísticos de Campo Grande. Não sei se amo ou detesto. Gosto da feira, mas o lugar me remete aos finais de semana de quando eu era jovem e com amigos viajava de trem rumo ao balneário Cachoeirão: um suspiro de saudade me invade e assovio a canção do Paulo Simões, na mente atravessa a letra imortal: "enquanto este velho trem, atravessa o Pantanal..." De propósito, me perco na vila dos Ferroviários só pra sentir a saudade bater mais forte enquanto observo tudo ao meu redor. Se o vento soprar mais forte nos cachos daquelas árvores, é capaz de se fazer ouvir novamente o apito do trem que surgia na curva enquanto nos acotovelávamos na estação - imagino ao me dar de frente com frondosa árvore. Dizem que não nos esquecemos das coisas quando acontecem pela primeira vez. No caso do trem do Pantanal, eu não me esqueço é do último trem. Alguns detalhes ainda estão vivos na minha memória: Parece que vejo meu amigo Josino apontando uma moça escorada no muro lateral da estação; usava short curto, chinelo havaiana, o rosto meio escondido pelo boné e ele ria um riso sem jeito: "achou ela bonita?" A moça era muito magra, respondi que não e hoje acho graça ao constatar que ela viria a ser a esposa dele pouco tempo depois. Dentro do vagão, tínhamos lugar marcado: o restaurante do trem, que por lá sempre havia lugar pra sentar, comer e beber. Outro amigo, o João Batista, sabia tocar berrante, que levava consigo junto da velha mochila. Em cada parada de estação ele colocava a cabeça para fora do vagão e tocava o berrante, assustando os pássaros, chamando a atenção da boiada desavisada que passava por perto e nós caíamos num grito de loucos. Ao chegar ao balneário, descíamos num pulo dado quase ao mesmo tempo, levantando a poeira vermelha, que logo se misturava com a grama das pastagens, na ânsia juvenil, a disputa sem combinação pra ver quem chegava primeiro. O balneário é o oásis que algum desconhecido teve a ideia genial de aproveitar a água corrente dos veios d'água e fazer uma enorme piscina, que lembra um lago: rasa nas pontas, profunda no meio. Num tempo recorde já estávamos todos só de calção e prontos para o primeiro mergulho: Josino não era o mais velho da turma, mas o mais acostumado às aventuras: cresceu no mato, sobreviveu sem pai e mãe, morava num pensionato, era uma espécie de Peter Pan. "Você sabe nadar?" perguntou ao dar de frente comigo na beira da piscina. Claro que sim - respondi - mesmo não tendo certeza. E pulei na água dando braçadas desengonçadas. Eu era jovem e conseguia atravessar a piscina de um lado para o outro. De repente o final da rua de paralelepípedo me traz de volta ao presente. Um carro passa apressado e percebo que o dia está acabando. Um último pensar: O balneário ainda existe, mas falta o trem e os amigos. Talvez eu volte qualquer fim de semana de sol, embora a certeza que já não exista por lá o mesmo encanto de antes.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
25/5/2015 às 10h19

 
O jovem mendigo

No bairro Nova Bandeirantes, perto do supermercado que costumo freqüentar, de dentro do carro acompanho um jovem maltrapilho que caminha pela calçada. Ele usa sempre a mesma camisa de algodão, comprida e rota, puída nas pontas e da costura rasgada no bolso, que desprende aos poucos, como se fosse o desenho da vida daquele rapaz, aos poucos desabando sem que ele se dê conta. Seu rosto reflete uma espécie de indagação, como se não acreditasse no destino que os caminhos da vida lhe conduziram. É jovem, no máximo vinte e cinco anos. Tão jovem e tão acabado, se esgueirando pelos beirais das casas, arrastando o sapato marrom da sola furada, que ele faz questão de usar, com se fosse a última obrigação que ainda o mantêm humano. Seu rosto sereno, conformado, de repente se transforma na escultura fiel de um parente distante que esqueci o nome, provocando meu descompasso. As gotas da chuva miúda atingem seus cabelos e caem pela testa grande e ele sorri levemente. Prossigo observando o seu caminhar até a entrada do grande supermercado. Ele toma o café gratuito enquanto faço minhas compras. Na saída, o encontro fortuito, do rosto sofrido me lança um sorriso de velho conhecido que retribuo num aceno de cabeça e saio para o meu mundo. No outro dia, a cena se repetirá, eu sei. O dia prossegue apressado, dirijo meu carro pelo Parque dos Poderes, tenho pressa, compromissos inadiáveis e me enfezo quando uma grande fileira de carros à frente pára de repente. Só me acalmo quando percebo o motivo: uma família de quatis atravessa a larga avenida. Conto mentalmente a quantidade de bichos, considero que passaram pelo menos oito filhotes e mais dois maiores, certamente o pai e a mãe, formando uma bela família de quatis. Um motoqueiro pára ao meu lado e sorri dizendo uma maldade em forma de graça: "está faltando onça por aqui!". Toco os dedos no volante tentando com isso apressar os quatis, que não se incomodam com a minha pressa. E a imagem do jovem mendigo volta a povoar minha mente. Onde estariam os familiares daquele cidadão, que mal teria ele praticado para merecer o total isolamento? Drogas, doença mental? Nada que justifique, penso, enquanto meus pensamentos me conduzem à frente da calçada que ele fez de morada; um colchão imundo jogado abaixo de uma árvore, encostado no muro de uma residência, que tenho certeza que não é mais aconchegante que a mata para a qual se dirige a família de quatis. Só de imaginar o tormento que ele enfrenta na madrugada vazia, o medo que preenche a escuridão com uivos de lobos e fantasmas, me provoca desassossego. E o frio do inverno se aproxima... Há mais humanidade entre os animais que entre alguns humanos. Os bichos somem na mata. Acelero o carro ao mesmo tempo em que caminho pelo vale das sombras, incomodado quando surge a imagem do jovem mendigo na minha cabeça, que balança, apoiada na abstração da alma e no medo que causa o imperativo dos homens.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
21/5/2015 às 09h15

 
Anos oitenta - Segundo texto - Acabou Chorare

Não, eu não vou reclamar de nada. Eu era muito novo naquele inicio do ano de 1972, recém havia completado dezessete anos. Acontece, porém, que eu estava apaixonado e um jovem apaixonado se perde facilmente no mundo de fantasias que cria e no qual existia apenas a linda moça dos longos cabelos negros, dos olhos miúdos e dona da voz que calava as outras sereias. Sim, eu era novo, mas era sonhador e determinado de um tanto que não me incomodei quando ela me apresentou o cabeludo que chamou de amigo. Simpático ao extremo, Pepeu apertou com força a minha mão e sem querer acabou ferindo o meu dedo anelar. Quando ela me convidou para ir morar no sítio de Jacarepaguá, sorri feito o menino que eu era já convencido que o meu caminho seria o mesmo pelo qual Bernadete seguisse. No fim daquele dia, ela me ofereceu um baseado. Fiquei com medo na hora, mas acabei cedendo e traguei levemente a bagana. Ela riu da minha falta de jeito e alongou as pernas, deixando escapar, pela fresta do vestido branco, a coxa roliça que paralisou meu olhar: "fume mais um pouco. - abriu um leve sorriso e os olhos miúdos brilharam - Você pode fazer tudo, desde que possua e não seja possuído, entende?" e me passou de novo a bagana que dessa vez traguei com gosto e logo depois cai numa risada desenfreada, mergulhando meus dedos num copo de cerveja. Enquanto Pepeu dedilhava com total desenvoltura as cordas do violão, perdi um longo tempo imaginando como faria para o meu cabelo crescer como o dele, ser brilhoso do mesmo tanto e a cara que eu faria quando fosse assoprar as mechas que certamente dançariam na minha testa. E o mundo se calava por instantes quando Bernadete resolvia cantar. Ela começava fechando os olhos e logo depois parecia adentrar num outro mundo, gemendo de mansinho, balançando a cabeça, fazendo a dança dos cabelos e eu me via completamente perdido de paixão. Cantou "A rosa e o espinho" de um jeito diferente, só dela, e me perdi num mundo só meu e de Bernadete, que no final deslizou pelo chão até os meus braços e adormeceu fazendo carinho na minha mão fedida de cerveja. Não sei quanto tempo passei junto dela, mas até hoje, quando penso, imagino a eternidade sob as luzes do campo, perseguido pela sombra do rapaz que tocava guitarra para a moça dos cabelos negros cantar e dançar. Eu ignorava completamente os outros cabeludos que moravam junto dela no sítio de Jacarepaguá. Apenas Pepeu merecia minha atenção, talvez porque era exatamente o único que prestava atenção em mim e que, sem perceber minha paixão pela mesma moça, confessou, num cair de noite, depois de duas tragadas seguidas no baseado que eu havia recém terminado de fazer, a fina dor do lado esquerdo do peito que aos poucos lhe consumia sempre que seus grandes olhos cruzavam com os miúdos olhos de Bernadete. Eu não queria admitir, mas era perceptível que ele era correspondido enquanto eu, ah, pobre de mim, era apenas uma das tantas pessoas que ela devotava carinho. No madrugada que fui embora, meus passos finos e o jeito cuidadoso com que desviei dos entulhos perto da porta, não foram suficiente para que escapasse despercebido. Paulinho olhou para mim no seu jeito desconfiado e cutucou Luiz Galvão que cochilava ao seu lado. Luiz era o mais avoado, parecia sempre flutuar, como se tivesse uma nuvem permanente sob seus pés. Coçou os olhos antes de me perguntar: "- Aonde você vai, guri?" E eu respondi com a boca ainda grudada de saliva da noite mal dormida. - Vou-me embora, acabou chorare. E Moraes se ergueu atrás dele: "- O que você disse?" Estava com a cabeça zonza e não consegui repetir a frase. Um senhor magricelo que passou a noite tocando violão e cantando com os cabeludos, envoltos numa densa nuvem da fumaça do que chamou canabis, apanhou as chaves do carro num canto e ordenou: - Venha, estou indo para o centro e vou lhe dar carona. Obedeci sem questionar. O homem magricelo tinha no timbre da voz uma espécie de ordenança, o que dizia se transformava numa ordem inegociável. No caminho, o homem, que se chamava João e era famoso, foi me contando algumas histórias e rindo a cada tropeço meu, que concordava antes que finalizasse a pergunta, coberto pela falta de resposta, ora e vez coçando os olhos que ardiam, estranhando cada vez mais o seu jeito um tanto intimista, como se eu fosse uma espécie de velho conhecido. Pisava destemido no acelerador e falava ao mesmo tempo, mantendo o rosto virado na minha direção, encolhido no banco do carro, apavorado ao perceber que ele avançava em todos os faróis fechados, sem se importar para o meu rosto de espanto, que aumentou consideravelmente quando ele freou abruptamente o carro diante do único sinal verde do caminho, no exato instante que à nossa frente cruzou um caminhão em alta velocidade. Respirei fundo, ajeitei o corpo e limpei da testa, com as costas das mãos, o suor que escorria. Só então olhei para o seu Gilberto e vi diante de mim uma espécie de anjo. Não havia outra explicação para aquele sorriso aberto, como se soubesse exatamente o que iria acontecer. Os dedos finos, que tocava violão como ninguém, engatou a marcha para frente e pisou novamente no acelerador, calmo dessa vez e eu fiquei admirado quando ele começou a assoviar as mesmas canções que desafinava ao cantar, sem se importar com que pensavam as outras pessoas. Seu rosto enigmático se abriu num sorriso quando me despedi, batendo devagar a porta do carro e baixando a cabeça, na forma do insignificante ser diante de uma divindade. Ele riu levemente antes das últimas palavras que guardei para sempre na memória. - Bernadete logo se chamará Baby e todo mundo ouvirá a sua voz. Não fique triste, nem desiludido, ela não é de ninguém, é de todos. E acenou com os dedos tocando na testa e aos poucos foi sumindo na curva da estrada. Nunca mais voltei ao sítio de Jacarepaguá. Deixei que o tempo apagasse a desilusão. Só tempos depois, no começo dos anos oitenta, voltei a pensar em Bernadete, que agora se chamava Baby e cantava em todas as rádios algo bem próximo das palavras que certa vez assoprou nos meus ouvidos, provocando calafrios: "Você pode fazer quase tudo, contanto que você possua e não seja possuído."

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
13/5/2015 às 19h03

 
Anos Oitenta - Primeiro texto - Homenagem a John

"Será que o King Kong é macaca"? Perguntou Julio Barroso às paredes. Depois apanhou o charuto cubano que levou à boca, tragou profundamente e assoprou a fumaça densa para cima, sorrindo para Alice Pink Pank. Lobão (antes da overdose de estupidez que lhe corrompeu os neurônios) assistiu à cena inquieto: Estava apaixonado por Alice, mas adorava Julio como a um irmão. E Alice era namorada do amigo. "Nem sempre se vê mágica no absurdo", pensou Lobão. E como Julio não parava de dançar, absorto num raro som do vinil, o inovador new wave da banda Dead Boys, segurou a pergunta inquietante que mantinha a tempos na cabeça. Quando a música acabou e Julio por fim se aquietou, Lobão rasgou a dúvida. "Pô Julio, eu sei que ganhamos mal pra cacete, mas não sobra nem para obturar esse dente?". O líder da Gang 90 tinha um dente quebrado e nunca se importou em consertá-lo. Deu outra tragada e ajeitou os óculos no rosto, a resposta já pronta na ponta da língua, que desfilava levemente no espaço do dente quebrado. "Essa é a marca da minha rebeldia. Quando John Lennon morreu, eu estava em Nova Yorque. Fiquei tão arrasado que saí à rua chorando feito criança. Quando encontrei dois sujeitos que não estavam nem ai para a tragédia, sacudi os dois pelo pescoço e gritei: "Lennon morreu, porra, o sonho acabou, o mundo acabou! E vocês nem ligam?"Daí o maior deles me deu um murro na cara e quebrou o meu dente. Entendeu agora o porquê que preservo meu dente quebrado?" Lobão não respondeu nada, mas sentiu vontade de também quebrar um dente, não só por causa de Lennon, mas pela rebeldia do amigo Julio Barroso. Quando ficaram a sós, Alice chegou junto de Julio e sussurrou-lhe no ouvido: "John Lennon? Você me disse que o dente quebrado era em homenagem ao John Lydon (líder da banda Sex Pistols, que também tinha o dente quebrado)... Julio beijou Alice Pink Pank na testa, com ternura, antes de responder:" O importante é que foi por causa de John, não importa qual dos dois". E sorriram antes de fazer amor. No dia seguinte, curtindo a rebordosa, Julio pensou confessar que havia quebrado o dente ainda adolescente, por motivos fúteis numa briga no banheiro da escola, e que nunca arrumou o dente quebrado porque tinha medo de dentista.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
12/5/2015 às 08h29

 
Crigor, o grilo

Uma crônica do Rubem Braga, "A borboleta amarela", marcou a minha infância. Não foi por conta desse texto que resolvi me tornar escritor, isso só me ocorreu tempos depois, mas foi através dele que passei a prestar atenção aos bichos, me aproximar daqueles que de alguma forma me atraíam e, num rompante estranho, dar-lhes nome. Naquelas linhas, o mestre Rubem nos faz enxergar as cores e os borboleteio que o bicho fez ao atravessar o seu caminho, mas não lhe deu nome, foi para ele apenas uma borboleta amarela. A minha borboleta laranjada com bolinhas pretas morreu faz tempos, Inácia era frágil e não resistiu quando as flores murcharam. Outros tantos bichos vieram, alguns marcantes, como esse último, o grilo trovador. No meio da noite a cantoria começava, um pequeno estrilo no início, leve, que ia aumentando até se tornar insuportável. Tratei de dar-lhe um nome, já o considerando como conhecido, tipo aquele amigo que quando bebe se transforma num chato de galocha: Crigor, o grilo, o bicho que resolveu fazer de minha casa a sua morada e por aqui se aventurar em busca de companheira. Pelo menos foi isso que descobri ao pesquisar no Google: os grilos machos cantam para atrair a fêmea. Assim, Crigor zumbia com gosto sem se incomodar com a nossa presença, atravessando a noite, varando a madrugada, fazendo o sono desandar. O que no inicio foi motivo de risos, logo se transformou num tormento. O som parecia vir do forro e danamos a cutucar o teto da casa em busca de silêncio. Ontem, com mais atenção, a Graziela percebeu que o som vinha do piso, e com a vista apurada, conseguiu encontrar Crigor entre os vãos do assoalho. Fiquei decepcionado. Era um bicho pequeno, um pouco maior que uma aranha caseira, escurinho e das antenas tortas, um tanto troncho, das pernas finas e compridas, eu que, amparado pela fortaleza do seu canto, o imaginava mais formoso que um louva-deus. Armei-me no chinelo a fim de restabelecer de vez o silêncio, mas a Graziela ponderou: "deixe o bichinho, ele só quer namorar", e o arrastou pela vassoura até a porta de saída. Ao me deitar, fiquei um tempão imaginando que ele se atreveria a avançar pelos vãos da porta e novamente perturbar o silêncio. Pensei também que a fêmea sentiria a falta do seu cantar, ou então, insensível, estivesse à espera de outro grilo que não fosse o meu amigo Crigor. Adormeci levemente e sonhei com o desencanto de um trovador desprezado. De repente acordei na madrugada, o sono havia ido embora, agora o silêncio me inquietava, ansioso para ouvir algo que me fizesse dormir. Fazendo esforço pra não acordar os outros aqui de casa, fui ao quintal pra ver se Crigor ainda estava por lá. Só consegui enxergar o vôo rasante de um morcego. Voltei desolado, por conta de algo tão pequeno, desses que acabam com o sono, aliviado depois, quando num breve cochilo o som inconfundível do estrilo de um grilo apaixonado se fez ouvir do fundo do quintal.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
7/5/2015 às 12h54

 
Sobre ruivos e formigas

Graziela pintou os cabelos, ficou ruiva e detestou. Insatisfeita, quer retornar aos antigos castanhos. Por mim ficaria assim um bom tempo, bendita menina dos cabelos longos que ficam belos em qualquer cor. Gosto quando ela passa deixando aquele vermelho espalhado no ar e me trazendo recordações. Certa vez, a minha classe no colégio Osvaldo Cruz recebeu dois novos alunos. Era mês de maio e o frio começava a chegar. O casal de irmãos entrou na sala timidamente, cada um sentou-se num canto. Vestiam casacos leves e usavam capuz, deixando no ar fagulhas de mistérios. Só no quarto dia revelaram o segredo: ambos eram ruivos. Diante do assombro de todos, fui o primeiro a dar-lhes a mão, não representavam para mim nenhuma espécie de perigo, embora o fascínio daqueles fios vermelhos atiçando o vento. Foi fácil fazer amizade com o menino. Renato adorava formigas, tinha o costume estranho de segui-las pelos gramados, queria saber onde daria o caminho e ficava contente quando se via diante do fim da trilha. Seu rosto sardento se abria num sorriso enquanto apontava aos gritos o formigueiro. Sem perceber, acabei adquirindo o mesmo costume. Até hoje, quando vejo uma trilha de formigas, sinto vontade de segui-las até encontrar o formigueiro. Com custos me contenho, armado no medo bobo de me tornar aos olhos dos outros um adulto tolo que segue formigas. A irmã do Renato foi a primeira garota a espalhar em meu peito as chamas da paixão, aquela pequena pontada no peito cada vez que nossos olhos se cruzavam. E banhado na ilusão, sonhava com castelos intransponíveis, no alto do penhasco, de onde uma princesa ruiva escondia toda a riqueza que eu, um amarrotado plebeu, poderia sonhar. Roberta era linda e sabia disso. Impunha o respeito misturado com admiração e nós, ingênuos garotos, medíamos cada palavra quando era preciso falar com ela. "cabelos ruivos hipnotizam" disse uma professora com o olhar severo, incomodada com tanta idolatria que devotávamos à menina dos cabelos de fogo. Com o passar do tempo, aqueles novos amigos, encantaram a todos. Um dia fui até a casa deles fazer o trabalho de ciências. A mãe me recebeu com total cordialidade e carinho, fez bolo de fubá, café com leite, contou histórias da outra cidade na qual moravam. Tinha o riso fácil e uma covinha na bochecha que saltava cada vez que sorria. Achei estranho seus cabelos negros que nada lembravam os dos filhos. Lá pelas seis da tarde, o pai dos meus amigos surgiu na porta de entrada e o mistério se desvendou: Era um senhor enorme, bastante gordo, devia ter a idade que tenho hoje. Do semblante de olhos enormes, se destacavam os cabelos encaracolados e completamente ruivos. Usava bigodes e barba no queixo, tudo vermelho, se transformando numa espécie de ser de outro planeta. Mal se sentou no sofá e já foi acendendo um cigarro e todos saímos de perto dele. No final daquele ano meus amigos foram embora para outra cidade. Estavam acostumados, a profissão do pai os obrigava àquelas mudanças. Nunca mais tive notícias. Tentei encontrá-los no Facebook, mas não me recordo o sobrenome e então a tarefa se tornou impossível. Fico com eles guardados na lembrança e na esperança que tenham se dado bem, já fazendo minha tarefa de escritor, compondo caminhos, imaginando o fim dessa história: Roberta se casou e foi morar em outro país, tem três filhos, todos ruivos, vive bem ao lado do marido, mantém a faceirice de quando menina e ainda causa mistérios indesvendáveis nas cabeças de todos os homens que cruzam o seu caminho... e nem por um segundo se lembra de mim. Renato se transformou num homem enorme feito o pai, dá aulas de biologia numa faculdade e mantêm a doçura de criança. Mora numa casa de vasto quintal que dá de fundos a uma pequena mata. Diversas vezes é pego seguindo os caminhos das formigas.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
2/5/2015 às 11h23

 
Sobre ruivos e formigas

Graziela pintou os cabelos, ficou ruiva e detestou. Insatisfeita, quer retornar aos antigos castanhos. Por mim ficaria assim um bom tempo, bendita menina dos cabelos longos que ficam belos em qualquer cor. Gosto quando ela passa deixando aquele vermelho espalhado no ar e me trazendo recordações. Certa vez, a minha classe no colégio Osvaldo Cruz recebeu dois novos alunos. Era mês de maio e o frio começava a chegar. O casal de irmãos entrou na sala timidamente, cada um sentou-se num canto. Vestiam casacos leves e usavam capuz, deixando no ar fagulhas de mistérios. Só no quarto dia revelaram o segredo: ambos eram ruivos. Diante do assombro de todos, fui o primeiro a dar-lhes a mão, não representavam para mim nenhuma espécie de perigo, embora o fascínio daqueles fios vermelhos atiçando o vento. Foi fácil fazer amizade com o menino. Renato adorava formigas, tinha o costume estranho de segui-las pelos gramados, queria saber onde daria o caminho e ficava contente quando se via diante do fim da trilha. Seu rosto sardento se abria num sorriso enquanto apontava aos gritos o formigueiro. Sem perceber, acabei adquirindo o mesmo costume. Até hoje, quando vejo uma trilha de formigas, sinto vontade de segui-las até encontrar o formigueiro. Com custos me contenho, armado no medo bobo de me tornar aos olhos dos outros um adulto tolo que segue formigas. A irmã do Renato foi a primeira garota a espalhar em meu peito as chamas da paixão, aquela pequena pontada no peito cada vez que nossos olhos se cruzavam. E banhado na ilusão, sonhava com castelos intransponíveis, no alto do penhasco, de onde uma princesa ruiva escondia toda a riqueza que eu, um amarrotado plebeu, poderia sonhar. Roberta era linda e sabia disso. Impunha o respeito misturado com admiração e nós, ingênuos garotos, medíamos cada palavra quando era preciso falar com ela. "cabelos ruivos hipnotizam" disse uma professora com o olhar severo, incomodada com tanta idolatria que devotávamos à menina dos cabelos de fogo. Com o passar do tempo, aqueles novos amigos, encantaram a todos. Um dia fui até a casa deles fazer o trabalho de ciências. A mãe me recebeu com total cordialidade e carinho, fez bolo de fubá, café com leite, contou histórias da outra cidade na qual moravam. Tinha o riso fácil e uma covinha na bochecha que saltava cada vez que sorria. Achei estranho seus cabelos negros que nada lembravam os dos filhos. Lá pelas seis da tarde, o pai dos meus amigos surgiu na porta de entrada e o mistério se desvendou: Era um senhor enorme, bastante gordo, devia ter a idade que tenho hoje. Do semblante de olhos enormes, se destacavam os cabelos encaracolados e completamente ruivos. Usava bigodes e barba no queixo, tudo vermelho, se transformando numa espécie de ser de outro planeta. Mal se sentou no sofá e já foi acendendo um cigarro e todos saímos de perto dele. No final daquele ano meus amigos foram embora para outra cidade. Estavam acostumados, a profissão do pai os obrigava àquelas mudanças. Nunca mais tive notícias. Tentei encontrá-los no Facebook, mas não me recordo o sobrenome e então a tarefa se tornou impossível. Fico com eles guardados na lembrança e na esperança que tenham se dado bem, já fazendo minha tarefa de escritor, compondo caminhos, imaginando o fim dessa história: Roberta se casou e foi morar em outro país, tem três filhos, todos ruivos, vive bem ao lado do marido, mantém a faceirice de quando menina e ainda causa mistérios indesvendáveis nas cabeças de todos os homens que cruzam o seu caminho... e nem por um segundo se lembra de mim. Renato se transformou num homem enorme feito o pai, dá aulas de biologia numa faculdade e mantêm a doçura de criança. Mora numa casa de vasto quintal que dá de fundos a uma pequena mata. Diversas vezes é pego seguindo os caminhos das formigas.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
2/5/2015 às 11h23

 
Desculpe, eu não tenho whatsapp

Aconteceu num shopping, no final de tarde de um sábado recente. Eu bebia calmamente uma garrafa de água com gás, depois de andar várias quadras, naquela tentativa de melhorar a saúde. O lugar estava repleto de gente de todos os tipos. Num dado momento, olhei para a praça de alimentação lotada e percebi que quase todos digitavam textos no celular. Comiam sem olhar, bebiam por instinto, os dedos em forma de garras digitando sem parar. Dai olhei para um canto, depois para o outro, em cada ponta surgia uma moça perdida no mundo cibernético, andavam e digitavam ao mesmo tempo. Nunca fui bom nas leis da física, sequer sei fazer contas, mas era evidente que se nenhuma das duas olhasse para frente, a trombada seria inevitável. Foi exatamente o que aconteceu. Uma das garotas caiu no chão e a outra só não teve o mesmo destino porque conseguiu se amparar numa pilastra. Os celulares voaram no chão e a única preocupação das duas garotas era com o aparelho. Várias pessoas em volta começaram a filmar a cena e tirar fotos da garota que caiu. Fiquei bastante irritado com o acontecido, mas não surpreso, já vi gente filmando acidentes graves. Eu não tenho wathsapp e quando confesso este meu pecado, as pessoas me olham como se eu fosse um ser primitivo, o homem das cavernas que fala. Até tentei usar o dispositivo, mas simplesmente não consegui. Comprei um aparelho de primeira geração e com tantas funções que me perdi. Está jogado numa gaveta qualquer, não consigo encará-lo sem pânico e chego à conclusão que pilotar um avião não deve ser mais difícil. Que saudades dos bons tempos do email. Eu pertencia a um grupo e por lá trocávamos correspondências, falávamos de tudo, surgiu uma amizade muito grande, que durou mais de dez anos, embora a distância. Eu tento acompanhar a modernidade, hoje tenho Facebook, que me toma muito tempo, mas sempre estou por lá falando com os amigos, que são mais de mil, embora pessoalmente conheça no máximo vinte. Já não é o suficiente? Ontem pedi pra minha mãe uma foto antiga e ela me disse que me enviaria pelo "waths"! Até dona Dalva tem wathsapp, ela que é dos tempos em que se esperava o carteiro no portão trazendo cartas, o que só acontecia poucas vezes no ano. O que mais me surpreende nessa moçada do celular é a rapidez e eficiência com que digitam suas mensagens. Fico impressionadíssimo. Eu digito bem e rápido, sem olhar para o teclado, mas fiz curso nas antigas máquinas de escrever, daí a habilidade, mas esses jovens nem sabem o que foi o sistema qwerty, e ainda assim, digitam sem parar. Embora com medo de perder o encanto com coisas naturais; o dia de ar puro, a noite de lua e estrelas que cintilam, não pretendo desistir, vou comprar um celular mais acanhado, daqueles que a gente fala, recebe mensagens e que tenha wathsapp, só isso. E então vou sair digitando feito um maluco, o dia todo, a noite inteira, até aprender. Me aguardem!

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
24/4/2015 às 10h53

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