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Quarta-feira, 26/8/2015
Julio Daio Bløg
Julio Daio Borges
 
Acho que entendi o Roberto Setubal

Apesar de saber do "acordão" e de todo o esforço do establishment para preservar o governo, confesso que fiquei "estarrecido" com o apoio do Roberto Setubal, presidente do Itaú, à Dilma Rousseff.

Além de ter sido trainee do Itaú, convivi com muita gente que ascendeu às altas esferas do banco. E conheço gente que conhece o Roberto Setubal, no nível pessoal. Em geral, ele é bem avaliado por quem conviveu com ele. (Parece óbvio, mas nem todos os heróis corporativos o são.)

Roberto Setubal, com certeza, não é burro. E não consta que ele seja um herói sem caráter, como Lula. Mas estava faltando uma peça no quebra-cabeça - para ele apoiar a Dilma, ou a manutenção deste governo, tão deslavadamente...

Então, ontem, recebi a notícia de que o Roberto quer fechar metade das agências do Itaú em três anos, para aumentar a lucratividade do banco. Leia-se: continuar aumentando a lucratividade - num cenário de recessão, PIB negativo, inflação alta, essas coisas...

Quantos anos faltam para Dilma sair mesmo?

O Roberto Setubal justifica que, com a internet, as agências perdem cada vez mais o sentido (as pessoas não vão; usam de casa etc). Mas isso é uma meia verdade.

Coincidentemente, na semana passada, me ligou alguém do setor de "qualidade" do banco, me perguntando como eu "avaliava" a minha gerente (eu tenho conta no Itaú)...

"Olha", eu respondi, "nem tenho como avaliar, porque eu nem a conheço. Vocês trocam a gerência toda hora. A cada seis meses, recebo uma ligação, ou um e-mail, de uma nova gerência se apresentando... Não consigo nem guardar o nome e já mudou outra vez. Desta, eu nem vi a cara. Não tenho como te dizer se é boa ou má..."

Para variar - como eu reclamei - a moça, da "qualidade" do banco, disse que a minha observação estava "fora do script" (ela não tinha uma resposta pra ela), mas que ia "anotar". Ou seja: não vai dar em nada.

Aí, juntei as duas últimas coisas e fiquei imaginando o que vai restar do banco se eles reduzirem o número de agências pela metade. "Se já está ruim assim - se o gerente virou um 'genérico' -, imagina como vai ficar", especulei.

Quando eu trabalhava na controladoria para a América Latina, já dentro do ABN Real, um dos maiores estresses era aumentar o número de pessoas (headcount) nas diversas áreas do banco. Dava briga. Era mais grave que aumentar o orçamento do cafezinho, por exemplo, ou do adoçante ou do papel higiênico.

As pessoas que entram na folha de pagamento são difíceis de tirar. Custam caro, no Brasil. Tem de receber aumento, de tempos em tempos. E, se for uma contratação errada, lá vem mais prejuízo... (E, às vezes, mesmo mandando a pessoa embora, não é possível acabar com a função...)

Por fim, juntei tudo e concluí: "O Roberto Setubal conseguiu uma solução mágica para mandar as pessoas embora: apoia um governo ruim, deixa a crise rolar - enquanto usa a mesma, como justificativa, para mandar as pessoas embora. Algo que o banco nunca conseguiria fazer em tempos de bonança..."

É cruel, mas muitos outros empresários - que apoiam o governo - devem estar planejando a mesma coisa. Transforma-se a crise numa "oportunidade" para limpar a folha de pagamento. No caso do Itaú, reduzindo o número de agências pela metade até 2018.

Para terminar, lembro do meu pai, que às vezes almoçava no Josephine, na Vila Nova Conceição, e avistava o Roberto Setubal numa mesa, almoçando sozinho - e ficava "estarrecido" com a solidão dele. Pois é, Papai, digamos que a solidão dele só vai aumentar - depois de ter apoiado a Dilma, e do anúncio de "cortar", pela metade, o número de agências do banco...

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Postado por Julio Daio Borges
26/8/2015 às 11h32

 
No caso de a Dilma sair, quem assume?

Escrevi um texto pedindo para a Dilma sair e me responderam com a objeção do momento:

"Mas se a Dilma sair... quem entra no lugar dela?"

Em primeiro lugar, o fato de ela *ter de sair* não tem nada a ver com *quem vai entrar*.

Quando estourou o escândalo da Fifa, o mundo inteiro concordou que Joseph Blatter tinha de sair. Ninguém ficou perguntando: "Mas se ele sair, quem vem depois?". Ele *tinha* de sair, ponto.

Assim como José Maria Marin foi "saído" da CBF. Quando foram prendê-lo, ninguém disse: "Ah, mas não o prendam, por que *quem* vai entrar no lugar dele?"

Fora que quando Collor sofreu o impeachment ninguém usou esse tipo argumento... ("Não tirem o Collor, por que *quem* vai assumir?")

Depois: se a Dilma renunciar ou se o impeachment acontecer - por crime de responsabilidade - quem assume, pela lei, é o Temer.

E muito me surpreende que os eleitores da Dilma - que votaram no Temer - agora lancem esse tipo de dúvida no ar: "Ah, mas *quem* vai assumir?"

Ora, vocês não votaram no Temer para vice? Não viram que ele era do PMDB? Agora vocês não querem o PMDB? Não tem jeito, vocês votaram *tambem* nele...

Caso Dilma não renuncie, e caso o impeachment não aconteça, pode haver a cassação da chapa pelo TSE. Pois existem fortes suspeitas de que algumas das contas de campanha foram pagas com dinheiro de corrupção...

Nesse caso, existe a hipótese de que o segundo colocado assuma, como ocorreu no Maranhão, quando Roseana Sarney assumiu - mas acho bem difícil...

O mais provável - nesse caso - é que sejam convocadas novas eleições.

E, se forem convocadas, eu - ainda assim - não entendo o medo dos eleitores da Dilma. No caso de novas eleições, todos podem concorrer, inclusive o PT! E vence quem tiver mais votos. O que pode haver de temeroso nisso?

O medo existe - eu sei - caso Eduardo Cunha assuma por trinta dias (até as eleições ocorrerem). Caso a chapa seja cassada e Temer, igualmente, tenha de sair... (Cunha, como presidente da Câmara, é o terceiro na linha sucessória.)

Eu deixei essa hipótese por último porque ela é, realmente, a *última* hipótese. Existe uma chance remota de chegarmos aqui...

Mas mesmo que a gente chegue: vocês não aguentam trinta dias de Cunha para que o Brasil não aguente mais *três anos* de Dilma?

Quer dizer: o sacrifico de aguentar o Cunha por um mês não compensa o alívio de *não ter* de aguentar a Dilma por mais três anos?

O "medo" de *quem vai assumir* não pode servir de justificativa para manter a Dilma...

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Postado por Julio Daio Borges
25/8/2015 às 11h42

 
Por que Dilma tem de sair agora

Porque é o certo

Porque, embora ela não tenha sido formalmente acusada de nenhum crime, ela tem responsabilidade

Porque o Brasil está em crise, econômica, política, de valores, e Dilma não sabe como resolver

Porque o País está em recessão e a única coisa que Dilma sabe fazer é aumentar crédito e subsídio

Porque a inflação voltou e já beira os dois dígitos

Porque o desemprego bate recordes na série histórica

Porque o ajuste - que era um sinal de comprometimento, para reverter a crise econômica - não vai acontecer

Porque, embora Joaquim Levy seja capaz, não tem força política

Por causa dos esquemas de corrupção - desnudados pela operação Lava Jato - que tiveram lugar nos governos Lula *e* Dilma

Porque Dilma foi ministra das Minas e Energia, presidente do conselho da Petrobras, ministra-chefe da Casa Civil, presidente da República e tem, sim, responsabilidade no escândalo do Petrolão

Porque sua impopularidade, como presidente, é a maior desde Fernando Collor de Mello

Porque, embora tenha feito o diabo para ganhar a eleição, Dilma não tem mais autoridade nenhuma para governar

Porque há fortes suspeitas de que houve dinheiro sujo financiando as últimas campanhas do PT à presidência da República

Porque o descontrole fiscal não pode continuar, as pedaladas fiscais ensejam crime de responsabilidade e porque, pelos inúmeros atrasos nos pagamentos e repasses, o estado brasileiro está, virtualmente, quebrando

Porque o Brasil não aguenta mais três anos

Porque o acordo, para tentar salvar o que não deve ser salvo, é mais uma vergonha nacional

Porque o impeachment é constitucional e razões para ele não faltam

Porque devemos dar o exemplo para as próximas gerações

E porque não importa quem vai entrar, Dilma têm de sair já

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Postado por Julio Daio Borges
24/8/2015 às 09h58

 
A política brasileira perdeu a agenda

(E os políticos, a iniciativa)

As pessoas ficam preocupadas em tirar a Dilma e o PT do poder. Em prender o Lula e, até, em cassar o registro do partido. Eu acho legítimo.

Mas eu acho que a crise vai além disso.

Quando eu vejo o Fernando Henrique Cardoso sugerindo a renúncia, ou mesmo encampando o impeachment, vejo que ele está apenas reagindo às manifestações de domingo.

E quando o Aécio diz que devemos fiscalizar os tribunais (o TSE e o TCU), o Serra acha "difícil" que a Dilma termine (o mandato) e o Aloysio Nunes sobe à tribuna do Senado para pedir o impeachment... só vejo eles reagindo ao Fernando Henrique.

Então alguém solta que agora depende do PMDB: depende do Temer, ou de quem quer que seja, romper com o PT e se unir ao PSDB - pelo impeachment.

E o governo, em vez de governar, tenta barrar o mesmo impeachment. Ora encampando a agenda de Renan Calheiros, do mesmo PMDB, ora procurando aumentar sua base, reabrindo o balcão de negócios do Congresso - a fim de inviabilizar a votação do... impeachment.

Eu não sei quanto a vocês mas, a mim, me parece que ninguém se mexe por iniciativa própria. Apenas reage: a uma manifestação popular, a um comando do supremo líder, à ameaça de impeachment.

Ninguém tem uma agenda própria. Ninguém tem um programa. O governo, muito menos. O governo vive de apagar incêndios. E a oposição precisa que a população saía às ruas para soltar alguma declaração; para cobrar as instituições; para, finalmente, encaminhar o impeachment...

Não é só o governo que anda aos trancos e barrancos. A oposição também anda.

E temos de pensar, seriamente, como será o Brasil pós-Dilma. Continuaremos tendo de sair às ruas para fazer o governo - do PMDB? - pegar no tranco? E para fazer a oposição - que talvez seja "situação" - se mexer de vez em quando?

Eu olho para o governo e vejo uma equipe desacreditada, sem nenhum talento e sem nenhuma ideia. Mas eu olho para a oposição e vejo um líder cansado, vejo outros líderes que brigam pelos seus projetos (de poder) e até vejo algumas lideranças, em outros partidos, com energia, mas sem a mesma representatividade para assumir o Brasil (e a crise).

Os estertores do governo Dilma talvez sejam só o primeiro capítulo de uma história de vácuo de poder que eu só comparo ao período da redemocratização. Assim como os militares caíram, o PT está caindo e a *esquerda* está caindo junto. Mesmo o PSDB pode cair nesse abismo de inércia, vaidades e falta de imaginação...

Eu não sei o que virá - ninguém sabe -, mas não vejo esses atores comandando a cena política, por muito tempo, no próximo ciclo.

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Postado por Julio Daio Borges
19/8/2015 às 15h46

 
A esquerda nunca foi popular no Brasil

(E isso é um tremendo de um desgosto para a esquerda brasileira)

O que mata a esquerda brasileira de raiva é que ela não consegue ser popular de verdade. A única chance que ela teve - de ser popular, no Brasil -, ela perdeu... Com esse projeto nefasto de poder...

Na verdade, essa esquerda só conquistou o poder com o discurso do "Lulinha paz e amor". Com a "Carta ao Povo Brasileiro". Ou seja: prometendo que não ia dar calote na "dívida"; que não ia haver "quebra de contrato"; e que ia cumprir com os compromissos assumidos... Quer mais *direita* do que isso?

Depois, com a Dilma, a esquerda se elegeu prometendo mais consumo. Bastante crediário. Juros artificialmente baixos. IPI reduzido além da conta. Luz falsamente barata. E combustíveis... (Bem, você conhece o final da história...)

Fora que as "bolsas", desde a bolsa-família até a bolsa-empresário, via BNDES, passando pelo Fies, pelo Minha Casa Minha Vida, nada mais são que... dinheiro! Esmola, financiamento ou empréstimo subsidiado são todos dinheiro, no final das contas. Esse era o governo de "esquerda" de vocês? Quer coisa mais capitalista do que *dinheiro*???

Então, agora que a festa acabou, que, além da roubalheira, essa "bonança" foi uma tremenda de uma irresponsabilidade (fiscal)... A esquerda se espanta que há pessoas "de direita" nas ruas! E que elas são maioria!?!

Ora, mas elas sempre foram. A esquerda brasileira é que fez concessões a essas pessoas. Prometendo que não seria "esquerda de verdade". Prometendo que não bagunçaria a economia (o Plano Real). Prometendo acesso - histórico - a bens de consumo. E prometendo - vamos falar com todas as letras - ascensão social.

Agora, acabou. O governo quis tanto baixar os juros que avacalhou com o controle da inflação. O governo quis fingir que a festa do crediário era infinita... mas bateu num teto (o limite de endividamento das famílias). O consumo, naturalmente, arrefeceu (por conta das dívidas...). As empresas sofreram com a inflação, nos seus insumos, e com a queda de consumo... Tiveram de mandar gente embora... Desemprego, o verbete proibido.

A arrecadação desmoronou, é lógico. O governo de esquerda - que achou que o Brasil ia ficar rico, que acreditou no "boom" das commodities - contratou uma verdadeira gastança pelas próximas décadas... O governo não arrecada mais com antes, mas tem de pagar, cada vez mais... Onde isso acaba? O governo termina pobre... O governo está falindo... O governo, quem sustenta, somos nós!

A esquerda, é claro, não sabe como arrumar. (Algum esquerdista sabe como arrumar a casa???)

Só que agora não adianta a esquerda fingir que não sabe por que as pessoas estão revoltadas. Governos sucessivos que só acostumaram essas mesmas pessoas a "bolsas", esmolas, crédito barato, empréstimos subsidiados, juros forçados, energia farta, consumo desenfreado, mobilidade social...!

Como é que essas pessoas são "de direita" agora? Quem ensinou isso a elas? É dinheiro que elas querem, afinal???

A esquerda brasileira se sente traída. Mas nunca foi esquerda de verdade.

Ser de esquerda nunca deu Ibope, aliás. Não vai ser agora...

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Postado por Julio Daio Borges
18/8/2015 às 08h47

 
Meu 16 de Agosto

A Carol me deixou na Brigadeiro com a Paulista. Ela e a Catarina iam para uma festa infantil em Moema. (Era mais fácil a Brigadeiro, a fim de coordenar as necessidades de todos...)

Segui pela Paulista em direção ao Masp. Confesso que não curti um pessoal cantando o Hino da Bandeira, em frente ao ex-prédio da Gazeta. Um sujeito vestido de militar - era de verdade? - pedindo "intervenção constitucional", em cima do carro de som. Me pareceu que havíamos voltado no tempo.

Logo à frente, um contraponto. O Bruno Torturra, do Mídia Ninja, com uma máquina fotográfica enorme na mão, tentando retratar um velhinho - fardado? - que carregava um cartaz pedindo "intervenção militar". Quase fotografei a cena e pus uma legenda: "Bruno Torturra, do Mídia Ninja, tenta provar - para a Folha - que a manifestação pede 'intervenção militar'". Mas não havia conexão ;-(

Eu queria achar um lugar onde houvesse Wi-Fi. Minha intenção era gravar um Periscope da manifestação. Já tinha quase desistido da ideia quando, cruzando em direção ao Masp, me apareceu um sinal de Wi-Fi do Starbucks, quase no Parque Trianon. Havia um, na Paulista com Peixoto Gomide... (Eu não sabia!) De lá, realizei minhas transmissões ;-)

Primeiro Periscope que eu gravo, quem me aparece? O Bruno, do Mídia Ninja! Pensei: "Não! Agora vou ter de entrevistar..." E entrevistei. Percebi, depois, que não gravou direito no meu celular. Espero que tenha gravado no Periscope...

"Bruno?". Ele foi simpático. Perguntei se estava pela Folha. Ele disse que não. Que estava pelo El País. "E o que você está achando?", eu perguntei. "Então... Eu vim para saber se mudou alguma coisa... Ou se as pessoas estão, aqui, pedindo as mesmas coisas das outras vezes..."

O Bruno não parecia muito confortável na manifestação. Mesmo trabalhando, estava morrendo de medo de ser confundido com um manifestante. No fim, quando soube para onde eu estava gravando, fez uma cara de preocupação. (Calma, Bruno, eu sei que o Mídia Ninja era uma joint-venture sua com o Capilé - aquele do programa da Dilma - e, embora você não faça mais parte, não vou dizer que você virou anti-PT...)

Ainda gravei outros dois Periscopes. E acho que o segundo foi o melhor. Embora, quando fui assistir, não tenha registrado 100% do que está no meu celular. Acredito que a conexão do Starbucks não tenha aguentado... Então, quem viu, viu. (Quem não viu: não sei se dá para recuperar...)

Foram 165 pessoas ao vivo comigo. Eu peguei um ângulo que mostrava o Masp atrás. Havia uma boa luminosidade. E eu praticamente registrei o vai e vem de manifestantes. Alguns expectadores - fazendo bullying - começaram a xingar os paulistas. E a falar: "Aí só tem rico".

Passou um ciclista e eu resolvi entrevistar. "Você é rico?", perguntei. "Eu, não", ele sorriu. "Ricos são aqueles que queremos tirar do poder - por corrupção. Que, inclusive, enriqueceram às nossas custas", concluiu.

Depois peguei um senhor mais velho: "O senhor é rico?", perguntei. Ele sorriu também: "Eu sou da classe média!". Depois peguei um afrodescendente. Ele elogiou o civismo do povo. Parecia articulado. E tinha um sotaque. Era angolano!

Por último entrevistei um sujeito que estava do meu lado: "Eu não sou rico, não. Eu trabalhei com você!". Não reconheci na hora. Pior que havia trabalhado comigo mesmo. No banco. No Banco Real. "Eu era da Controladoria do Brasil! Você não é o Julio?". Eu ri, sem graça.

Quase sem bateria, resolvi percorrer o resto da Paulista, mas era impossível. Acabei tendo de pegar a alameda Santos, para desviar do fluxo. Dizem que tinha menos gente do que em março - mas eu nunca vi tanta gente. Só consegui voltar para a Paulista muitos quarteirões depois... Estava intransitável.

Depois, pela internet, eu soube das outras cidades. Podem falar o que quiserem. Que foi menos gente, que foi "menor" que março. Na realidade, não importa. O importante é que é a terceira vez que se critica (tanto) um governo, e um governante. Três vezes no mesmo ano!

E sem apoio da mídia, que está dividida. E sem apoio da oposição, que está, igualmente, dividida. Eu sei, existem políticos que merecem o nosso apoio. Mas *não são* os políticos que estão organizando... É a sociedade civil!

Eu posso até não fazer parte desses grupos novos, e olhar, com reservas, para alguns líderes deles. Mas é inédito o que estão conseguindo, em termos de mobilização. E com toda a esquerda contra. O governo contra... E todo o aparelhamento - desde nem sei quando...

A grande fato novo não é a oposição, em Brasília. Nem o Aécio. Nem nada disso. Somos nós! São as pessoas que hoje foram à Paulista... E nas demais cidades. Isso não é Diretas Já. Isso não é 1992. É muito maior! É o grande legado da Dilma... Esta é a suprema ironia ;-)

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Postado por Julio Daio Borges
17/8/2015 às 09h02

 
1992 e hoje

Um amigo mais jovem me escreve perguntando se eu estive na manifestação dos caras-pintadas em 1992. Segundo ele, uma revista semanal quer fazer uma reportagem com gente que foi em 1992 e que vai agora, no dia 16...

Respondi para ele que vou sondar entre o pessoal da minha geração. Mas já adiantei que acho muito difícil alguém que tenha ido pedir o impeachment de Collor em 1992 e que vá pedir o impeachment de Dilma em 2015.

Não fui na manifestação de 1992. Lembro que caiu numa sexta-feira. Apareceram ônibus na minha faculdade para transportar as pessoas. Eu acompanhava os desdobramentos pela televisão - via Jô Soares e Boris Casoy - mas não era "anti-Collor" o suficiente, a ponto de me deslocar até o Masp...

Meu ponto é que os engajados de 1992 eram "de esquerda". Inconformados com a derrota de Lula em 1989. Havia gente no oba-oba, claro. Telespectadores de "Anos Rebeldes". Ávidos por fazer história com as próprias mãos... "Como os nossos pais" etc.

Hoje, em contrapartida, quem vai pedir o impeachment de Dilma é "de direita". Para o bem ou para o mal. Claro que vamos encontrar lá o Roberto Freire, ex-PCB, como encontramos (eu e esse meu amigo do início do texto). E algum PSDBista súbito. Mas são exceções. O grosso do público é aquela "classe média" execrada pela Marilena Chauí. Alguma classe alta que ainda se digna a andar nas ruas. Também exemplares da classe C que "acordou"...

Tirando as diferenças de "público" nas respectivas manifestações, o que há de parecido entre Collor (1992) e Dilma (2015)? Foram eleitos democraticamente, se isolaram politicamente, perderam apoio do Congresso, foram acossados por escândalos, denúncias, terminaram fracos e caíram. Todo mundo lembra do impeachment de Collor, mas ele, na verdade, renunciou. (Dilma já tem sua carta-renúncia pronta...)

Acontece que Dilma não daria um Notícias do Planalto, de Mario Sergio Conti. Quem leu o livro, sabe que Collor foi um fenômeno - para o bem e para o mal. Dilma é uma construção, não tem nada de próprio, uma burocrata alçada à Presidência da República. Típica exemplar daquele segundo escalão anódino do "PT que sobrou"...

Outra diferença é que o PC Farias do PT é o José Dirceu. Não tem nenhum "gênio do mal" no governo Dilma. Lula? E o Marcos Valério, não está mais para PC? E o Youssef? O "Paulinho do Lula"? Quanto mais nomes aparecem na Lava-Jato, mais falta um "cérebro"... E esse cérebro *não é* Dilma... (Nem ninguém da equipe dela...)

Por fim, acho as pessoas mais politizadas agora. Na média. Mais por dentro do noticiário político, quero dizer. Eu sei que "politização" é outra coisa. Mas o noticiário já é um começo. Tudo bem que a Globo, no seu governismo histórico, está "contra" agora. E, em 1992, esteve "a favor". Embalou as pessoas etc. 1992 ainda era da televisão... 2015 é da internet.

"O Renan Calheiros é o mesmo", vão dizer... É o mesmo? Temos julgamento das contas no TCU, dinheiro suspeito abastecendo a campanha eleitoral... Dilma pode cair por improbidade administrativa. Sua chapa pode ser cassada... Mas, apesar de as instituições estarem funcionando, temos de fazer a nossa parte igualmente. E a nossa parte não é ficar nas redes sociais. Nem só batendo panela na frente da TV...

Daqui a algumas décadas alguém pode te perguntar se você esteve no 16 de Agosto de 2015... Eu espero ter uma resposta mais elaborada do que dizer que, como em 1992, foi mais "um embalo de sábado à noite"... (Ou de sexta à tarde...)

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Postado por Julio Daio Borges
12/8/2015 às 17h42

 
Os Rolling Stones deveriam ser tombados

Os Rolling Stones nos anos 60. É incrível que eles tenham sobrevivido até agora. Quem mais sobrou? Os Beatles? Os Doors? Jimi Hendrix? Eric Clapton, talvez. Mas, alguma banda? E, tirando Brian Jones, continuam os mesmos. De 1966 pra cá, quantos anos? Daqui a pouco, 50 anos. Com Mick Jagger, Keith Richards e Charlie Watts. OK, Bill Wyman está fora. Mas mesmo assim. É impressionante que eles ainda consigam tocar e cantar. (Eu vi em 1998 e eles tocavam de verdade...) Mick Jagger já sabia cantar em 1966. E que segurança para tão pouca idade. Era um ícone fashion antes de existir a palavra? Esse vídeo é uma relíquia. E eu nem gostava tanto dessa canção... (Os Rolling Stones - tirando as besteiras do Mick Jagger - deveriam ser tombados.)



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Postado por Julio Daio Borges
2/8/2015 à 00h12

Julio Daio Borges
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