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Terça-feira,
3/5/2016
Julio Daio Bløg
Julio Daio Borges
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Assistindo ao Super-Homem com a Catarina
Superman, o original, de 1978, foi um dos filmes que mais marcou a minha infância
Foi um dos primeiros filmes que vi no cinema, em 1979, quando tinha 5 anos. O Papai levou a mim e ao Diego. A Carolina devia ser recém-nascida e a Mamãe deve ter ficado em casa com ela
Esperei um pouco para ver com a Catarina. Porque, embora eu tenha visto com a idade dela, não é exatamente um filme infantil
Também porque: àqueles filmes que nos marcaram, às vezes a gente não quer rever - para não estragar aquela "imagem" gravada na memória...
Eu tinha, inclusive, o álbum de figurinhas do filme e outro dia até cruzei com ele
Vamos ao filme e às impressões da Catarina
Embora a cópia fosse em DVD, não tinha muita qualidade. Parecia um VHS daqueles mal copiados dos anos 80. Poderiam ter cuidado mais e feito uma versão "remasterizada"...
A estética do planeta Krypton me lembrou muito Guerra nas Estrelas, que devia ser a grande referência, na época, para "espaço" e a vida em outros planetas (fins da década de 70)
O que eu nunca entendi, em retrospecto, foi a presença do Marlon Brando no filme. Seria como ter, sei lá, Kenneth Brangh ou Laurence Olivier num filme de super-herói
Ele está engraçado com o cabelo à la Walmor Chagas e os penteados são algo que me chamou a atenção. O penteado, do próprio Super-Homem, com aquele "arrancacorazones", escorrendo pela testa, é algo a ser notado
A Catarina não entendeu muito bem os dilemas do planeta Krypton, o julgamento dos malfeitores e seu banimento através da galáxia. Não entendeu, sobretudo, como eles entraram naquele tipo de "espelho" - e ficaram girando pelo espaço...
Ela achou ruim que os pais do Super-Homem morreram na catástrofe. E quando ele atinge a maioriadade e sai andando pelo mundo, depois que o pai adotivo morre, ela comentou: "Sem pai, nem mãe, qual é a graça?"
Ela também queria que ele ficasse mais tempo como criança. Porque ele cresce muito rápido "e ele estava tão bonitinho, Papai" - como quando ergueu o carro (dessa cena, eu me lembrava)...
O que me espantou, particularmente, é que eu não achei a Lois Lane - a famosa Lois Lane - bonita. Um cabelo murcho, dentes escurecidos (de fumante?) e "media passadita" - como dizem lá na terra da Mamãe...
Mas a paixão do Super-Homem por ela é bonita. E quando ele faz a Terra girar ao contrário, para o tempo voltar, ainda é uma das cenas mais fortes do filme. Achei a cena da morte dela, sendo soterrada viva, muito forte para a Catarina. (No fim, há muitas mortes no filme...)
A famosa cena deles voando ficou um pouco ultrapassada, tecnologicamente falando. A gente percebe, hoje, a montagem. Até porque viu, muitas vezes, em estúdios e parques temáticos. Mas a Catarina gostou. E ela até erguia o bracinho, imitando o Super-Homem, naquele seu gesto característico...
Outra coisa ultrapassada é eles trabalharem num jornal. A redação é velha - mesmo para os padrões do anos 80 (que se seguiriam logo depois): a era do videogame e do computador pessoal. Uma redação cheia de máquinas de escrever e o fotógrafo, Jimmy Olsen, com uma daquelas câmeras antigas, tipo fotógrafo de casamento, com o flash à parte...
Gene Hackman talvez seja a melhor atuação do filme. Como "a maior mente criminosa de todos os tempos". Para variar, assessorado por um néscio e por uma secretária nada recatada, meio bobinha, que acaba gostando do Super-Homem, o ajudando e o beijando
O Super-Homem, como personagem, é ingênuo, de tanta bondade, e esse é, obviamente, seu ponto fraco
Fisicamente, chama a atenção, para nós hoje, que ele não seja "bombado". Ele é alto e magro, claro. Mas tem o físico mais parecido com o de um ciclista do que com o de um halterofilista (a maioria dos super-heróis hoje)
De tudo isso, o que sobreviveu melhor foi a trilha sonora, de John Williams, que ainda é espantosa. Os filmes dessa época, dos anos 80 em diante, são tanto dos diretores, como Spielberg, quanto o são de John Williams
Basta observar o quanto faz falta um John Williams hoje, com aquela "pegada" sinfônica, grandiosa, retumbante - que confere densidade à trama, como se o futuro da humanidade dependesse daquilo que se passa na tela e os personagens nos representassem (virando nossos heróis)
Christopher Reeve continua lindo. Talvez meio grande e meio bobo, vide Clark Kent - até porque ninguém pode ser tudo... E a gente não deixa de se lembrar como sua vida acabou, tragicamente, naquela cadeira de rodas... O arquétipo do homem superpoderoso entrevado até a morte
A Catarina ficou interessada em ver o Super-Homem II, mas não sei se vou ver com ela. Fico imaginando que a sequência, com aquelas lutas entre os "super-vilões", não seja muito indicada para ela...
Contudo, é sempre bom rever os filmes que nos marcaram com as pessoas que amamos ;-)
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Postado por Julio Daio Borges
3/5/2016 às 14h31
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Prince
No início dos anos 90, eu tinha cabelo comprido e ouvia rock pesado, mas conversava com o Pedro Mariano, por causa de um amigo em comum (músico)
Um dia, entrando na escola, mostrei meu fichário, cheio de guitarristas de rock, e o Pedro me falou que o único que prestava ali era o Prince
Achei engraçado, o Pedro era arrogante, filho da Elis e do César Camargo Mariano, não aceitava discutir música com muitas pessoas (eu tinha paciência)
Não concordei com o Pedro na época. Era difícil, para mim, achar que algum guitarrista fosse melhor que o Steve Vai de Passion and Warfare (1991)
Mas fiquei com aquilo na cabeça. E hoje concordo com o Pedro. Não que Prince seja melhor *guitarrista* mas, sim, melhor músico
Ele foi - também - um grande guitarrista. E o solo de "Let's go crazy" é respeitável. (Não é de alguém que tem medo ou que não sabe o que está tocando)
E Prince foi um grande artista pop, na época em que Michael Jackson e Madonna estavam no auge - e ele conseguiu fazer frente aos dois. Não como bailarino, ou coreógrafo, mas como músico, e compositor
Apesar de bem-sucedido e consagrado, conseguia escrever sobre a dor da perda, e do abandono, em "Nothing compares 2 you" - que praticamente lançou Sinead O'Connor (que foi essa canção e nada mais)
Seu reinado foi até os anos 90, quando foi atropelado pelo rap e pelo hip-hop, cuja estrada, para o mainstream, ajudou a pavimentar. Prince era muito sofisticado, musicalmente, para o que veio depois
E numa evidente crise de identidade, se perdeu com aquele negócio de mudar de nome: primeiro para "Victor", depois para aquele símbolo hermafrodita. Acabou virando "Symbol"
Ultimamente, tentou se relançar. Mas passou muito tempo fora. E não entendia a internet - como muitos artistas de sua época, aliás
Para se ter uma ideia do tamanho do equívoco, basta procurar "Prince" no YouTube e no Spotify. No primeiro, só há vídeos "ao vivo" (de baixa qualidade). No segundo, um único álbum - e o Spotify informa que Prince é um dos artistas mais procurados...
Sua teimosia em resistir ao compartilhamento vai lhe cobrar um preço alto agora: se não estiver na internet, em pouco tempo sua memória irá se apagar
Tempos atrás, baixei sua discografia (apesar das proibições). É impressionantemente boa. Consistente. E envelheceu bem - ao contrário de muita coisa dos anos 80
Eu gosto de 1999 (1982) em diante. Purple Rain (1984) é um clássico. Sign O' Times (1987) entra numa fase mais conceitual. E eu me lembro muito de Lovesexy (1988), porque é da minha época, e do vídeo de "Alphabet Street" (lembro de ver com meus amigos)
Acho que Prince vai bem até Graffiti Bridge (1990) - que o Pedro Mariano tentava me impingir -, até Diamonds and Pearls (1991), que eu acho maravilhoso, desde a canção-título
Em meados dos anos 90, quando eu já estava no reino do jazz e da música clássica, ainda comprei uma coletânea do Prince, na saudosa Virgin Records, com "singles" e B-sides
Desde "When doves cry" ("Maybe I'm just like my mother/ She was never satisfied"), "I feel for you" ("I think I love you") até "Sexy M.F.", "Get off" ("22 positions in one night stand") e "Cream", que eu considero uma perfeição pop. Passando por "Thieves in the temple" ("Love comes quick/ Love comes in a hurry") e "Raspberry beret", que a gente dançava em festas
Entre os três maiores artistas pop oriundos dos anos 80, Prince é o meu favorito. O Michael Jackson não tem tantos discos bons (que você consiga ouvir de ponta a ponta). Nem a Madonna
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Postado por Julio Daio Borges
21/4/2016 às 18h29
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Meu texto de aniversário
Como disse o Steve Jobs, naquele discurso de formatura, eu tive sorte
De nascer de uma mãe que me amou incondicionalmente e de um pai que, além de exemplo, sempre foi (e continua sendo) uma fonte inesgotável de apoio
De ter irmãos que me amaram e me estimularam, também, sempre. De ter avós, tios, primos e sobrinhos que me inspiraram, me formaram e me instigam. Em São Paulo, fora de São Paulo e fora do Brasil ;-)
De ter convivido com a Carol, e com a família dela. De ser pai da Catarina, a maior alegria da minha vida. Uma alegria que eu nem imaginei que existisse...
De ter encontrado vocês, cada um de vocês. Desde o primário, o ginásio, o colegial até o cursinho, até a faculdade, a vida com a Carol, a vida profissional e a vida com a Catarina
Cada um de vocês foi (e é) uma referência para mim, cada um a seu modo. Nós somos um conjunto de referências, eu acredito - e só nos damos conta disso quando perdemos alguém importante. Então toda referência é válida. Sempre
Tive sorte de poder estudar e entrei na USP duas vezes. Mas, mais do que isso, tive a sorte de encontrar professores e colegas que, além de me moldar, são lembranças para sempre
Tive sorte em meus estágios, em meu "programa de trainee" e tive sorte nos meus empregos. Trabalhei com gente brilhante, fui reconhecido, conheci o tal "espírito de equipe" e até encontrei pessoas que não admirei pelo caráter, mas que me serviram de exemplo, também
E tive a enorme sorte - e o enorme prazer - de criar o Digestivo. De poder realizar uma vocação. De ser um dos pioneiros da internet, no Brasil. E de ter conhecido - e convivido - com meus ídolos
De ter encontrado pessoas tão apaixonadas quanto eu pelo assunto. De ter revelado talentos. De ter criado uma referência. E até a sorte de poder deixar um legado - mesmo que tudo dê errado ;-)
E estou tendo sorte, de novo, com o Portal dos Livreiros. São mais de 500 vendedores já. Em pouco mais de seis meses. Já somos uma das principais referências, no Google, em matéria de livros. Chegamos a 1000 seguidores no Twitter. E, neste mês de Janeiro, ao recorde de 20 buscas por minuto (uma busca a cada 3 segundos)
Depois de tudo isso, eu gostaria de dizer que não sou pessimista - não tenho como ser. Nem com o Brasil...
O Millôr - que eu tive a honra de conhecer - diz que o pessimista ganha sempre: quando dá certo e quando dá errado. Mas eu prefiro ser otimista mesmo assim ;-)
Gostaria de terminar com três sugestões, para você que me leu até aqui:
Primeira: ame. Todo mundo tem amor para dar. E todo mundo merece receber amor. Todo mundo. Gosto de uma frase que diz: "Ser amado nos dá segurança. E amar nos dá coragem." (E o melhor: é grátis!)
Segunda: ame o que você faz. Ou, pelo menos, faça com amor. Voltando ao Steve Jobs: só quem *ama* o que faz, pode ser bom no que faz. ("Find what you love. Don't settle...")
Terceira e última coisa: faça agora - o que você pode e *com o que* você pode. Você sempre pode. Todo mundo sempre pode. E não precisa esperar. Faça agora
Não sou perfeito, cometi um monte de erros, mas tento amar, fazer o que eu amo e, sobretudo, tento fazer *alguma coisa* com o que eu tenho no momento
O aniversário é meu, mas o texto eu escrevi pra você - que me lê. Obrigado pelas curtidas e pelos comentários ao longo do ano ;-)
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Postado por Julio Daio Borges
29/1/2016 às 15h40
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Bowie, David
David Bowie não tinha fãs fanáticos. Li que era um artista conceitual. Eu prefiro pensar que era um artista completo. No sentido da "obra de arte total", de Wagner
Agora que morreu, surge toda a sua iconografia de uma vez - e é impressionante que tenha vivido tantas encarnações em uma só...
Fases dentro de fases. Cada uma com sua própria estética. David Bowie poderia ter sido artista plástico, se quisesse. Estilista de moda. Seus "looks" são parte de sua obra. Poderiam ser estudados "per se"
No rock, não lembro de ninguém com tanto estilo. Roqueiros se vestem mal. São descuidados, mal-ajambrados... De propósito. David Bowie, em suas aparições, humilhava a todos
Acho interessante sua androginia. Nunca me pareceu vulgar. Nunca soou agressiva. Não consta que tenha feito disso uma bandeira. Ele tinha muito bom gosto para se meter com política
Ouço que explorou, com humor, rumores de que fosse alienígena. "Space Oddity" foi seu primeiro hit. E "Ziggy Stardust", seu primeiro clássico. Disseram que não morreu, entrou numa espaçonave...
Em música, esteve entre os maiores de seu tempo. Cantou os Beatles e os Stones em "All the Young Dudes" - e gravou com eles. "Fame", com John Lennon. "Dancing in the Street", com Mick Jagger. Fez dueto com Freddy Mercury, em "Under Pressure". Foi homenageado pelo Nirvana, em seu acústico. E por Madonna, que o chamou de "gênio"
Sua esposa, Iman, foi Cleópatra, num clipe de Michael Jackson. Estava mais para Nefertiti. Até porque Cleópatra não era negra - como alardeiam. Era grega. Desde o nome. E branca
Apesar disso, não temos tantos escândalos "by" Bowie. Falam de drogas. Mas se for verdade, ele deve ter tido uma constituição "estilo" Keith Richards - porque produziu muito, e décadas a fio. Seu último álbum, lançado este ano, ainda soa interessante
Meu preferido ainda é "Let's Dance" - da minha adolescência; me marcou. Todo mundo da minha geração conhece, e canta, "Modern Love", "China Girl" - que, eu sei, é com Iggy Pop. Poderíamos explorar, ainda, suas relações com Lou Reed - e dizem que há um documentário, muito bom, sobre isso - mas meu texto não teria fim...
Para resumir: há uma coletânea muito boa, dos anos 90, "Sound & Vision". É de 1989, na verdade. Foi minha introdução ao Bowie. Sugiro fortemente para quem quiser começar. (Tem, inclusive, no Spotify.) É daquela época em que se faziam "caixas", na transição dos LPs para os CDs...
Felizmente, há muito David Bowie para se escutar ainda. Os grandes artistas são assim - inesgotáveis
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Postado por Julio Daio Borges
21/1/2016 às 15h30
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Narcos
Terminei de assistir Narcos ontem. Fui lento. Para os padrões
É uma excelente série. E gostaria de começar rebatendo as críticas
Achei uma bobagem, por exemplo, a implicância com a "voz de Deus". Aquela narração que fica "em off" - e que, supostamente, fez alguns pararem de assistir
Meus amigos, a trama é complicada. Não tem como narrar sem explicar quem são as pessoas, de onde elas vieram, porque são importantes etc.
Depois, reclamaram do espanhol do Wagner Moura. OK, não é perfeito. Ele é brasileiro! Mas não acho que prejudique a trama...
Ele está grandioso no papel de Pablo Escobar. Me arrisco a dizer que é o melhor papel dele
Muito bem caracterizado. Muito convincente. Quando Gustavo, o primo e principal sócio de Escobar, morre, a gente fica com dó dele...
Agora, falo dos paralelos com o Brasil de hoje (vamos ver se convenço você que não assistiu ainda...)
Escobar é um monstro. O mais perto que a Colômbia chegou de Hitler. Ou de Al Capote. Apesar de que não conheço a história da Colômbia para saber
O negócio de cocaína de Escobar e Gustavo, escoado em Miami, chega a faturar 5 bilhões de dólares por ano; depois, 60 milhões de dólares por dia. "Mais do que a General Motors", diz a voz em off
Um sujeito tão rico não combinava com a Colômbia. E os Estados Unidos vão atrás dele
Só que Escobar se crê - não por acaso - maior do que tudo. E não aceita ser perseguido ou, sequer, cerceado em seus movimentos
Como já era praticamente dono da Colômbia, entra na política, querendo ser presidente, mas é rechaçado, como deputado, tão logo assume
O ministro da Justiça, que o crítica, ele manda matar. O Supremo de lá - que, num dado momento, guarda provas materiais contra ele -, Escobar mandam invadir, com tanques - e incendiar
Um candidato a presidente que levanta a bandeira da extradição - para traficantes como ele -, Escobar mata (mesmo com colete à prova de balas). E o próximo candidato, que mantém a mesma posição, ele tenta explodir num avião (com a ajuda de um terrorista do ETA)
Eu sei que o Brasil é menos violento do que isso. Mas eu lembrei do Brasil várias vezes
As instituições são frágeis. Também, como no Brasil, a Colômbia depende de "heróis"
A corrupção é total. Desde a polícia - cujo paralelo está em Tropa de Elite, do mesmo Padilha - até quase toda a classe política
Escobar conhecia todos os policiais que poderiam interpelá-lo, suas famílias, suas vidas pessoais - e subornava todos (pagava salários)
O líder do partido "liberal" da Colômbia, ele transforma em seu moleque de recados. Seus capangas, do tráfico, não distinguem os políticos dos bandidos - têm de lhe perguntar ("qual a diferença?")
Uma das maiores lições, em Narcos, é sobre a dificuldade que é pegar um sujeito como Pablo Escobar:
Ele destrói as provas. Ele compra as autoridades. Sua milícia mete medo na polícia local
Num determinado momento, ele simplesmente foge. Se esconde. Quando fica sabendo que vai ser preso, é sempre informado, e muda de local
Instala a guerra civil na Colômbia. Bombardeia. Sequestra. Inclusive a principal âncora da TV. Filha de um ex-presidente... Que paga um preço
O problema do "mal" é que ele não tem limites. Quando ao "bem", tem de agir dentro da lei...
Por fim, Escobar negocia com o presidente Gaviria e se entrega. Mas constrói sua própria prisão. E não deixa ninguém chegar a menos de 3 Km sem a sua autorização...
A primeira temporada se encerra quando Escobar, naturalmente, viola os termos do acordo, sua prisão é invadida por forças especiais, e ele, mais uma vez, escapa por um túnel...
Eu me lembro quando Escobar foi morto, na década de 90. Mas, assistindo a Narcos, a gente percebe o quanto a caçada foi árdua: foram *anos*...
Sei que a história, no Brasil, não é a mesma. Mas ela vai acabar, no nosso país, também
Vale uma frase, do seriado, como alento: "Bandidos não podem fugir para sempre..."
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Postado por Julio Daio Borges
1/11/2015 às 13h26
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Debate Democrata na CNN
Assim como fiz com os pré-candidatos republicanos, assisti, ontem, ao debate dos pré-candidatos democratas à presidência dos EUA
Eu devia ser o único brasileiro que não estava assistindo ao jogo do Brasil, contra a Venezuela, no mesmo horário. Mas, depois de um dia trágico na política brasileira, eu precisava de um refresco
Depois de ficar bem impressionado com a Carly Fiorina, pelo lado dos republicanos, eu queria ver como estava a Hillary Clinton
Eu nunca tinha visto a Hillary num debate. Convivo com a Hillary, no noticiário, como todo mundo, desde que Bill Clinton foi presidente. Mas é diferente vê-la em ação, e sem o marido
Hillary teve uma ascensão, sozinha, já na campanha "contra" Obama (ou, talvez, até antes). Mas a comoção em torno de Obama foi tão grande, que ela abriu mão. E, graças a uma manobra inteligente dos dois, ela foi secretária de Estado, o equivalente ao ministro das Relações Exteriores, no Brasil
Bem, a Hillary é muito, muito inteligente. E me impressionou. Não que eu concorde 100% com ela. Hoje em dia, depois da experiência do PT, me alinho muito mais com os republicanos
Só que a Hillary está no seu momento, e temos de reconhecer isso. Ela mesma percebe que é a favorita há muito tempo. E domina a cena com muita tranquilidade
Fora que é muito preparada. Tem uma experiência, em política, como ninguém tem. Foi primeira-dama. Foi senadora. Trabalhou com Obama. "I've been in the situation room" (qualquer um que tenha visto seriados americanos onde o presidente aparece, sabe o que isso significa...)
Ela, obviamente, usa o fato de vir a ser a primeira mulher presidente. O que eu acho uma bobagem. (Vide o nosso exemplo aqui...) Mas, nos EUA, isso comove muita gente
Depois, ela usa o fato de ser muito atacada pelos republicanos - afinal está na frente -, brinca, faz piadas... E ataca de volta: como quando disse que os republicanos queriam ver os imigrantes pelas costas - mas que ela gostaria de colocar os filhos dos imigrantes ilegais na escola (desde que os estados aprovassem)...
As pautas dos democratas, que são a "esquerda" norte-americana, são diferentes das dos republicanos. Como se fosse outro debate. Como se fosse outro país
Bernie Sanders, por exemplo, que é uma espécie de senador hippie que deu certo, é total "Occupy Wall St". Para ele, o problema são os bilionários, e os milionários, que ficam com boa parte da riqueza. E acha que a solução, entre outras coisas, pode ser taxar mais...
Sanders não tem um bom discurso para a política externa, assunto que a Hillary naturalmente domina - mas se empolga ao dizer que as finanças estão corrompendo o processo eleitoral e que é preciso resgatar a "democracia vibrante" que vai redimir a classe média (que, segundo ele, está desaparecendo) e a classe trabalhadora...
Não me empolga. Mais impostos? Fora que no Brasil a gente não aguenta mais ouvir falar dos "trabalhadores" - e de um certo partido criado em nome deles... (Eu sei que os EUA não são o Brasil)
Um colega de Sanders, no lado oposto a Hillary, Jim Webb, resumiu bem a situação: "Bernie, eu gosto muito de você, mas a revolução não vai acontecer". Militarista, foi o único mais habilitado a falar de conflitos armados. Sanders, por exemplo, prefere uma "coalizão". Acontece que com o Estado Islâmico, por exemplo, não há diálogo (basta lembrar do "fora" que a Dilma deu na ONU)...
Para fechar o grupo, Martin O'Malley, que me lembra - não sei se estou enganado - John Kennedy. Tem aqueles mesmos olhos apertados. É bom moço, bem apessoado. E a Hillary - não sei se estou enganado novamente - parecia meio embevecida, pela sua figura, e quase que só concordou com ele... Imaginei que ela estivesse pensando em colocá-lo no seu governo - caso vencesse -, mas, apesar de ele falar bem, não tem chance...
O último que cito é Lincoln Chafee, que acabou fazendo mais um papel de bobo da corte. Não conseguiu nem se desvencilhar das perguntas do moderador. Quando este, por exemplo, questionou por que ele foi republicano, depois "independente" e, agora, democrata...
Hillary, enfim, surfa as ondas democratas com desenvoltura... Sanders empolga os mais desavisados, mas não acredito que seja uma ameaça a ela... Tem 74 anos e não tem a mesma energia de Hillary (apesar de ela não ser muito mais nova)
Aguardo o enfrentamento de Hillary com os republicanos. Não é por nada, mas acho a fauna republicana mais interessante. Deu para se divertir mais com o debate deles. (O debate democrata eu não aguentei ver todo...) Que venham Fiorina, Dr. Ben Carson, Trump e todos os outros. Que venham desmanchar o topete de Hillary Clinton. Mesmo porque, até agora, está muito fácil pra ela...
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Postado por Julio Daio Borges
14/10/2015 às 10h25
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Os Onassis - e os Kennedys
Confesso que, quando era mais jovem, não tinha muita paciência para a família Onassis
Via a minha mãe acompanhado as vidas deles, pelo jet set e por revistas de celebridades - e as aventuras deles não me interessavam em nada
Mas o livro de Peter Evans, Nêmesis, autor que escreveu a biografia de Aristóteles Onassis, e que eu comecei a folhear porque a editora me mandou, me pegou de jeito
Talvez porque eu tenha percebido que, por trás de toda grande celebridade, existe uma história de poder, e dinheiro - e essa história pode vir a me interessar
O livro tem a vantagem de não ser grande, então eu tinha a oportunidade de não perder muito tempo com ele - se o assunto se revelasse banal ou frívolo
Mas eu sabia que não seria, porque era muito bem escrito, desde o início. E aquela estrutura, tipo thriller, acabou me prendendo (eu só pensava em voltar para o livro)
Nêmesis, basicamente, revela que Aristóteles Onassis, o homem mais rico do mundo (e um dos mais poderosos) em seu tempo, financiou o assassinato de Robert F. Kennedy, irmão de John F. Kennedy, o célebre presidente dos EUA
E financiou porque queria se casar com Jacqueline Kennedy, a célebre viúva de JFK - e Bobby Kennedy sempre foi um obstáculo: porque Onassis não valia nada, e os Kennedys nunca aceitaram ele
Na verdade, o livro refaz a trajetória do ódio entre Onassis e Bobby, que é anterior a Jackie, e que é anterior à própria presidência de Jack Kennedy. ("Não há nada mais tenaz que um bom ódio", escreveu o nosso Machado)
A figura de Onassis é fascinante e eu confesso que fui seduzido por ela, também. É um mau-caráter no estilo Assis Chateaubriand (por mais que você saiba dos seus crimes, não tem como não sair embevecido da leitura de "Chatô")
Onassis fez de tudo na vida, foi um tremendo de um gângster, fez fortuna, foi amante de mulheres importantes - e abriu caminho até as mais altas rodas, à sua maneira
O romance com Jackie começou antes da morte de John Kennedy - e vale dizer que os casamentos, na alta sociedade, eram uma bandalheira (se é que não continuam sendo)
Além do presidente que todos conhecemos, JFK entrou para a História como um incorrigível mulherengo. Assim como seu pai, e seu irmão (esse um pouco menos). Os dois últimos dividiram Marilyn Monroe - e o livro dá a entender que ela foi "suicidada" por eles: pois ameaçava colocar a boca no mundo...
Acontece que Jacqueline não era nenhuma santa e não aguentou as humilhações passivamente. Quando aceitou o convite de Onassis para um cruzeiro em seu iate, foi um escândalo mundial - porque ela havia acabado de sofrer um aborto e estaria de consolando com "o grego" de má fama, longe dos EUA e do presidente...
Embora tenha ficado viúva logo depois, não podia se casar com Onassis imediatamente. Primeiro, porque o papel de viúva lhe caía bem. Segundo, porque ela recebia uma boa pensão. E terceiro porque, após a morte de JFK, se construiu o mito de "Camelot". E como uma princesa - dos EUA - iria se casar com um homem de tão baixa estirpe, como Ari, o grego?
Seria como se Lady Di se casasse com Pablo Escobar, mais ou menos. Considerando-se que Diana, embora fosse mais bonita, era menos interessante que Jacqueline. E Escobar, embora talvez mais rico, nunca se tornou um homem refinado, como Onassis
A história do assassinato de Bobby Kennedy - que protegeu Jackie de Onassis até o fim - é intrincada. Mas, basicamente, Onassis financiou um terrorista palestino que tinha ligação com outro terrorista - que acabou matando Bobby, quando ele fazia campanha para a presidência dos EUA e havia acabado de vencer as primárias na Califórnia
Assim, essa história de que "surge" um "maluco" que "de repente" mata uma pessoa importante, sozinho, sem nenhuma estrutura, não cola mais. Nunca colou, para mim. Agora, cola ainda menos. (Pense nos assassinatos de John Lennon e do próprio JFK...)
Enfim: Jackie saiu de uma família trágica para causar tragédia em outra. Depois que se casa com ela, Onassis perde: a cunhada, o filho, Alexander, e sua primeira mulher, Tina. Seus negócios começam a ir mal, ele adoece - e, em questão de meses, morre (aos 75 anos)
A batalha, então, começa pela herança. Desta vez, é Christina Onassis, a filha remanescente de Tina e Ari, tentando proteger o espólio... dos Kennedys! Afinal, Jackie sempre quis o dinheiro. E Aristóteles quis as vantagens comercias - de ser casado com uma ex-primeira dama dos EUA - embora não tenha conseguido obter tantos ganhos...
A história dos herdeiros não é tão interessante e o livro termina, basicamente, com o acordo entre Christina e Jackie. Segundo o qual, aliás, Jackeline foi obrigada - por Christina - a assinar "Onassis" para sempre
Se você quer se introduzir no mundo de Camelot, e na sua vasta bibliografia, Nêmesis poder ser uma boa porta de entrada. E eu confesso que fiquei com vontade de ler "Ari", sobre a vida desse mostro, ao mesmo tempo grotesco e sublime, chamado Aristóteles Sócrates Onassis
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Postado por Julio Daio Borges
27/9/2015 às 11h55
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O que me incomoda nos políticos, velhos e 'novos'
Eu não sei quanto a você, mas eu não acho que o problema seja só a Dilma
Nem só o PT. Nem só o Lula. Nem só os petistas
Eu não acho que o problema seja só a esquerda
Assim como eu não acho que o problema seja a direita (ou o que quer que isso seja, no Brasil)
Eu acho que o problema é o sistema inteiro
Não acredito mais que a oposição vai resolver (que oposição, aliás?)
Uma oposição que é governo, como o PMDB? Uma oposição que não fez praticamente nada em 12 anos, como o PSDB?
Não acho que o resto da oposição - um Ronaldo Caiado, por exemplo - tenha força
E também não acho que a solução esteja nesses movimentos, que surgiram desde o ano passado, e nem nos líderes deles
Eu queria ver alguém rompendo com o sistema e não vejo ninguém
Vejo, pelo contrário, as pessoas - que eram "contra o sistema" - aderindo ao sistema
Mas não com um discurso de mudar o sistema - mas com um discurso de, simplesmente, fazer parte dele
Outro dia me causou mal-estar saber que um desses líderes, desses novos movimentos, quer se candidatar a deputado (e ele ficou todo vaidoso quando anunciaram...)
Como disse o Daniel Piza (quando o Mangabeira Unger foi nomeado e veio correndo - de Oxford - beijar a mão do Lula): "O que todo intelectual quer é aderir ao poder"
Lembrei, de novo, dessa frase quando o Renato Janine Ribeiro foi todo subserviente atender ao chamado da Dilma...
E lembrei, antes, quando o Afif - que era um liberal nos anos 80 - foi igualmente lamber a mão da "presidenta"
Me lembra um pouco aquele pessoal que mal sai da faculdade e já vai correndo prestar concurso - porque não quer correr nenhum risco, não quer fazer nada de diferente
Bom, se uma pessoa jovem, na casa dos vinte anos, está acomodada desse jeito, o que esperar do resto da população?
Falo tudo isso porque vi o trecho de uma fala da Carly Fiorina, candidata republicana à presidência dos EUA, onde ela conclui: "A questão não é trocar 'esquerda' por 'direita'. A questão é trocar todo o sistema."
E eu acredito nisso. Nesse discurso. (Independente se ela vai conseguir implementar, ao pé da letra, ou não)
Alguém tem de *dizer* isso:
"O sistema está podre"
E eu não vejo ninguém dizendo isso no Brasil...
Eu acho o discurso da "nova política", da Marina Silva, por exemplo, uma piada
Porque o Walter Feldman - que era quem melhor reproduzia esse discurso, do "fim da polarização" - foi correndo aderir à CBF, que é uma instituições, politicamente, mais retrógradas, e mais corruptas, do Brasil
E, agora, o primeiro a se filiar ao partido Rede, na Câmara, é simplesmente o deputado com o maior número de mandatos acumulados na Casa. Ou seja: de *nova política*, ele não tem nada...
É uma piada
E o Partido Novo? Para começar que o nome é uma tremenda de uma falta de imaginação. Chamar alguma coisa de "nova" é o golpe publicitário mais velho que existe
Mas aí dizem: "é liberal"... "são empresários"...
Gente, já teve partido liberal no Brasil. Esqueceram? Na última versão, tinha até um livro do João Mellão Neto a respeito, que eu li há mais de 20 anos...
Esse partido liberal, o PL, do Valdemar Costa Neto... alguém se lembra o que aconteceu com ele? Foi condenado no julgamento do mensalão do PT!
E tinha gente, ideologicamente, muito mais equipada do que nesse Partido Novo... Como o próprio João Mellão
Vocês acham que colocar "liberal" no estatuto garante alguma coisa?
"Empresário", na política, também já teve. Esqueceram do Antonio Ermírio de Moraes, candidato a governador em 1986?
E o vice do Lula, era o quê? E o ministro Furlan, também no governo Lula, era o quê?
Como no caso da "nova" política, esse Partido... de *novo*, não tem nada
Talvez o que me incomode mais - como no caso do líder de movimento que fica envaidecido porque vai se candidatar a deputado - é ver as pessoas comemorando porque fundaram um novo partido...!
Nossa, eu acho que há alguma coisa profundamente errada nessa comemoração...
Porque todos querem virar políticos!
Os mesmos políticos que nos trouxeram à atual situação...
Enquanto não houver alguém querendo romper com o sistema - de verdade -, não vamos sair disto
Só vamos trocar os velhos políticos por "novos" políticos...
E os velhos partidos por "novos" partidos...
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Postado por Julio Daio Borges
25/9/2015 às 15h59
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Sobre o 'fatiamento' da Lava Jato
Eu sei que o sentimento é de frustração - eu sei porque o meu também era, ontem
Mas, lendo o Reinaldo Azevedo hoje de manhã, eu lembrei que era previsível que isso acontecesse
Ele fala que era previsível que o próprio "fatiamento" acontecesse
Já eu me lembro de ter lido, não sei onde, que o juiz Sergio Moro imaginava que a operação iria "melar" quando chegasse no Supremo - mais especificamente, quando chegasse nos políticos
Tanto que ele deixou a "parte" dos políticos para o final - porque sabia que, com o encaminhamento dos processos para o Supremo (por conta do "foro privilegiado"), tudo poderia acontecer...
Vale lembrar ainda que - embora o Brasil confiasse muito nele - Sergio Moro sempre disse que a sociedade deveria continuar pressionando
Seria demais esperar que Moro vencesse, sozinho, um esquema desse tamanho
Eu acho que ele foi muito longe. E que ele vai continuar fazendo o que estiver ao seu alcance
Mas, desde ontem, ficou bastante óbvio que Sergio Moro não é o super-homem. Que a sua atuação tem limites
Para quem se desanimou, vale lembrar que o Collor nunca foi condenado pelo Supremo - mas, mesmo assim, seu impeachment aconteceu
Uma coisa é a parte "policial" da crise. Outra coisa é a parte política
A crise política não se resolve porque os políticos - que estão envolvidos no esquema - talvez não sejam condenados pelo Supremo
A popularidade da Dilma não voltará ao "normal", porque o Supremo desmembrou a Lava Jato. Nem a inflação convergirá para o centro da meta. Nem, muito menos, o dólar será cotado abaixo de 4 reais
Também não consta que o PT recuperará sua força política. Acho que é irrecuperável. E as eleições de 2016 vão mostrar...
Mas é óbvio que devemos continuar fiscalizando. E cobrando
Lembro, por último, do desalento que foi quando a Dilma venceu há quase um ano. Eu mesmo escrevi um texto totalmente desencantado
E, embora a economia tenha piorado muito - mais do que eu imaginava -, acho que, politicamente, fomos vitoriosos. Enquanto que a Dilma destruiu seu capital político - e o PT, e o Lula, junto...
Por mais que eles se segurem no que ainda resta de poder, há um consenso, cada vez mais forte, de que a época do PT já passou, de que a época da *esquerda* já passou
Quanto mais a crise dura, mas essa percepção se cristaliza. Mesmo entre a própria esquerda (que é tão cabeça dura)
Desde que "fez o diabo" para ganhar a eleição, Dilma trilhou um caminho sem volta. E para ela, e para a sua gente, não há salvação possível
Se o Supremo não julgar, a História julgará
Estamos assistindo a um grupo político nos seus estertores. E o "judgement day", como se diz em inglês, está próximo - mesmo que não seja o do Supremo Tribunal Federal...
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Postado por Julio Daio Borges
24/9/2015 às 14h55
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Assistindo ao debate dos candidatos nos EUA
Quarta-feira passada, aconteceu o segundo debate entre os candidatos republicanos à presidência dos EUA
Pode parecer distante de nós, mas não é. O escritor mexicano Carlos Fuentes dizia que todo cidadão do mundo deveria ter o direito de votar nas eleições para presidente dos Estados Unidos
Para além do impacto que essa eleição tem para o mundo todo, para nós, brasileiros, é interessante acompanhar - até para efeito de comparação
Se você ainda acha que os temas podem ser muito específicos, ou circunscritos aos Estados Unidos, eu te digo que não são. Lembre-se de que, como tudo nos EUA, e na televisão, o debate tem de ser minimamente interessante - pois ninguém é obrigado a votar lá...
Minha curiosidade era pelo Donald Trump, de quem falam tanto (e tão mal). Igualmente pela Carly Fiorina, ex-CEO da HP, que tem sido muito elogiada. E, ainda, por Jeb Bush - que, embora seja um Bush, dizem que é o melhor dos três
Falando da forma, o debate é muito dinâmico e não se perde, como no Brasil, um tempo enorme explicando as regras. O debate começa e você nem percebe. As respostas duram, no máximo, um minuto. E todo mundo, mais ou menos, respeita o tempo
O mediador - impressionante - consegue ser mais rápido do que todos os candidatos juntos (eram onze). E eu não sei como, mas ele consegue dividir os tempos, mais ou menos, entre todos. Quando um candidato fica mais "esquecido" pelos outros, ele direciona uma pergunta específica para ele. Nunca deixa cair a peteca e todo mundo acaba falando
Não existem perguntas de um candidato para o outro, como no Brasil. O próprio mediador seleciona trechos de declarações, na imprensa, de um candidato sobre o outro - e sugere que quem foi criticado comente a declaração do outro. O mediador deliberadamente joga um candidato contra o outro. E logo no primeiro bloco. Afinal, é um debate!
Entrando na performance de cada um, o mais divertido é o Trump. Provavelmente porque ele foi apresentador de televisão. No Brasil, seria, mais ou menos, como ter o Silvio Santos num debate. É tão grande a sua intimidade com a câmera que, na TV, ele praticamente domina e ofusca os outros
O mais equilibrado, por incrível que pareça - depois de sua família invadir o Kuwait e o Iraque -, é o Jeb Bush. Talvez porque, em política, seja o mais experiente (também, com dois presidentes na família...). Ele me parece muito sereno e judicioso. Mas por ser, justamente, muito "bonzinho", termina atropelado pelos candidatos mais agressivos, como Trump
A Carly Fiorina se revelou, de fato, a grande surpresa do debate. Talvez seja a maior inteligência entre os candidatos. Como foi presidente de empresa, sabe, igualmente, se dirigir à audiência. É muito concisa, tem a capacidade de resumir uma questão complexa em alguns pontos básicos, é muito assertiva e consegue se manter impassível, mesmo quando atacada. Vão dizer que estou torcendo pra ela, mas me lembra a Margaret Thatcher
Como não poderia deixar de ser, alguns dos melhores momentos foram os embates entre Trump e Fiorina. Ele, porque é agressivo naturalmente, e quer se manter na liderança (entre os republicanos, está na frente); ela, porque é uma estrela em ascensão, e precisa subir nas pesquisas
Como um exemplo de tudo o que estou falando, Trump disse à Rolling Stone, comentando uma foto da Fiorina: "Olha essa cara! Você votaria *nisso*?". No meio do debate, o mediador trouxe essa declaração à tona e pediu para Fiorina comentar. Trump ficou super sem graça, óbvio, e tentou consertar: "Eu quis dizer que ela é uma mulher bonita". Fiorina, claro, não perdeu a chance: "As mulheres dos Estados Unidos sabem muito bem o que o senhor quis dizer, Mr. Trump". Foi ovacionada
Embora seja um debate dos candidatos republicanos, questões de gênero entram na pauta. E os candidatos procuram ser representativos, quando se pensa na população dos EUA...
Assim sendo, há um candidato negro, o Dr. Ben Carson, que é um neurocirurgião (os candidatos que não são políticos profissionais têm feito sucesso nesta eleição). Ele também é do tipo bonzinho, só que sem a malícia de um político experiente como Jeb Bush. Tem muito carisma pois é um homem simples. Fala com sinceridade, mas não é simplório. Impossível não gostar dele. Mas acho que, no meio de tantos tubarões, não tem chance
Outro candidato "representativo", digamos assim, é o Marco Rubio, ou "Marc" Rubio, que é "latino". Neto de um cubano que fugiu para Miami, e que nunca aprendeu inglês direito, Rubio chegou ao Senado, embora sempre diga que é filho de um "bartender" (um garçom) e de uma "maid" (uma arrumadeira). Não se faz de coitado, porém. É muito inteligente. Fala muito bem. E é outra estrela em ascensão. Mas acredito que será uma candidato mais forte no futuro. É "jovem" em relação aos outros (tem menos de 50 anos)...
É interessante como a "superação" é um ponto em comum entre quase todos os candidatos. Fiorina gosta de dizer que começou como secretaria e que chegou à presidência de uma empresa. Trump gosta de dizer que fez "bilhões", que é um "business man", que sabe lidar com pessoas, e com contratos - e que não é financiado por ninguém, além dele próprio
Financiamento de campanha foi um tema, igualmente. Ben Carson, por exemplo, se financia através de uma espécie de crowdfunding. Também "política externa" foi um tema - e Trump foi o mais atacado nessa hora, por causa de suas declarações belicosas. Trump é um boquirroto e ninguém parece muito convencido a lhe entregar todo o arsenal atômico...
Há consenso, entre os candidatos republicanos, de que a administração Obama fraquejou no Oriente Médio. E que o crescimento do Estado Islâmico e do perigo na Síria, também na Coréia do Norte, são resultado de uma política externa pouco firme - por parte da administração democrata...
O 11 de Setembro - of course - é um tema recorrente. Mas também as drogas e o aborto. Casamento gay, menos. Jeb confessou que fumou maconha na adolescência, mas todos parecem concordar, inclusive ele, que a maconha é uma "porta de entrada" para outras drogas - e não deve ser liberada. Carly Fiorina tem um filho dependente químico e falou com tristeza sobre isso
Em linhas gerais, foi assim. Recomendo fortemente que se assista. Está tudo no YouTube. São alguns blocos de pouco mais de 20 minutos cada. É um debate denso, mas todas as questões nos dizem respeito, de um modo ou de outro. Fora que há sempre muito o que aprender com a maior democracia do mundo...
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Postado por Julio Daio Borges
19/9/2015 às 11h45
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