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Quarta-feira,
16/5/2018
Julio Daio Bløg
Julio Daio Borges
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Tom Wolfe
Tom Wolfe era um daqueles jornalistas “maior que o jornalismo”. *Ele* era o assunto - tanto quanto o assunto sobre o qual escrevia...
Embora a comparação não seja justa - e nenhum dos dois talvez concorde -, eu o aproximo do Paulo Francis. Ambos escrevendo num estilo “apimentado”; ambos personalidades transbordantes; ambos com grande presência cênica; e ambos se metendo em polêmicas e criando inimizades “para a vida inteira”...
Leio que Plauto, o comediógrafo romano, quando escrevia uma peça, tinha de competir com toda a sorte de “atrações”, inclusive gladiadores... E como chamar a atenção do público senão exagerando bastante?
Foi o que a New Yorker escreveu sobre Tom Wolfe. Como competir com os anos 60, a música, as revoluções, a televisão... Como - sem carregar nas tintas?
Repare que o mesmo vale para Paulo Francis, que “apareceu” criticando teatro, apanhando do marido da Tônia Carrero, depois criticando Carlos Lacerda na televisão, sendo preso pela Ditadura, se auto-exilando em Nova York, metendo o pau no Brasil, acabando processado, e talvez morto, pela Petrobras...
Nelson Rodrigues, outro “exagerado” - com estilo apimentado, presença cênica, polêmicas e inimizades também -, repetia que o que é dito apenas uma vez, permanece inédito. Era uma flor de obsessão. E tinha lá as suas razões...
A diferença entre Francis e Wolfe é que o último conseguiu nos deixar mais livros, diria Piza. Francis tinha um grande efeito imediato; mas dialogava mal com a posteridade.
A crítica de Wolfe deve ficar. Não é preciso nem ler os livros para saber do que se trata - os títulos falam por si (mesmo em nossa língua): “Da Bauhaus ao nosso caos”; “A Palavra Pintada”; “Fogueira das Vaidades”...
Ele tentou ficar sério com os romances. Ou ser levando a sério. Ou ambos. Mas já era tarde demais...
Norman Mailer - um desafeto - explicou que algumas características o romancista só adquiria na juventude. Wolfe começou tarde. O Wolfe romancista, portanto, não merecia atenção...
Seja como for, a descrição da recepção oferecida aos Panteras Negras, por Leonard Bernstein, em “Radical Chique”, nunca mais saiu da minha cabeça - a ponto de eu não conseguir mais encarar Bernstein sem pensar no “Lenny” de Wolfe...
Lendo “Ficar ou não ficar”, aprendi a repetir vogais, e pontos de exclamação e interrogação, sempre em número ímpar. Fora outros truques que me ajudaram, mas que, com o tempo, eu abandonei, procurando um estilo mais sóbrio...
Sempre penso que os autores da antiguidade - os que nos chegaram - não abusavam dos pontos de exclamação, dos itálicos, das maiúsculas, nem das onomatopéias...
Ao mesmo tempo, conheci tanta gente que foi “mexer” com jornalismo por causa do Paulo Francis. (Eu, inclusive.)
Às vezes, falta uma personalidade. (Olha a nossa política...)
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Postado por Julio Daio Borges
16/5/2018 às 09h57
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Wild Wild Country
Conheci o Osho há pouco mais de 20 anos. Estava me formando na Poli, manifestava um interesse por Filosofia, e o tio de uma namorada, muito atencioso, me presenteou com um livro do Osho.
Meu interesse, na época, era por Filosofia Ocidental, e meu livro de cabeceira era “Uma História da Filosofia Ocidental”, do Bertrand Russell, que eu cotejava com as aulas de Filosofia Antiga, do professor Roberto Bolzani Filho, na USP.
Sem espaço para o Osho, portanto. Aquele livro, do tio da minha ex-namorada, eu só fui ler quase 20 anos depois, em outra situação. E o livro falou mais comigo pela lembrança e pelo carinho, do tio postiço, do que pela filosofia em si.
Fui assistir “Wild Wild Country” por curiosidade. Tinham falado muito, num dos grupos de WhatsApp de que participo. E havia lido um texto sobre a tal Sheela, em que a pessoa se dizia muito impressionada pela figura dela, apesar de todo o mal perpetrado etc.
O que me impressionou, nos primeiros capítulos, foi o sonho, recorrente, de fundar uma cidade, e de refundar a humanidade, no processo. Me ocorreram desde a República, de Platão, até a Utopia, de Thomas Morus, passando pela experiência de Robert Owen, que um professor de História nos contava na escola, até Brasília.
Como brasileiro conhecedor do experimento de Juscelino, eu sabia que Rajneeshpuram - literalmente a cidade do Osho (Rajneesh) -, fundada nos anos 80, no estado de Oregon, nos Estados Unidos, seria um fracasso desde o início.
Mas o Osho acreditou, e seus comandados - e levaram milhares de pessoas para lá.
A própria Filosofia nos ensina que, apesar da beleza - sublime - da sua “República”, Platão não foi bem-sucedido quando tentou implementar suas políticas em Siracusa.
E do pouco que conheço de filosofia política é infinitamente mais recomendável estudar as conclusões de Maquiavel, que simplesmente estudou a prática, do que embarcar num sistema “desenhado” (designed) sem base na realidade.
Se o projeto de Brasília pode soar discutível para alguns, eu convido os resistentes a examinar qualquer projeto de “utopia socialista”, sendo o mais próximo de nós, o do PT, sob cujas consequências estamos vivendo até hoje, 2018, final do mandato do Vice da Dilma.
Para qualquer brasileiro maior de idade, que tenha vivido no país, dos anos Lula pra cá, e que não tenha sua inteligência obliterada pela ideologia, considero autoevidente que qualquer tentativa de “refundar” a sociedade - à esquerda, à direita ou ao centro - seja um total disparate e que não merece a nossa consideração.
Mas Osho acreditou; e seus seguidores - e levaram milhares de pessoas pra lá...
Se eu me decepcionei com Osho? É claro que sim. Não basta ser um guru? Tornar-se sábio, ter seus livros publicados, ser consagrado até fora da Índia? Para que fundar uma cidade? Ainda mais nos Estados Unidos? E para que “refundar” o Homem? Que diabo que pretensão é essa? E que delírio?
Não; não consegui admirar a Sheela. Para mim, ela nunca passou de um leão-de-chácara do Osho. Aquele capanga, ou personagem meio mafioso, que todo idealista, ou líder benevolente, tem, para fazer o serviço sujo, enquanto se mantém puro, limpo ou quase isso.
No documentário, Sheela tem ideias próprias: acha que, além de administrar Rajneeshpuram, pode interferir até no destino do próprio Osho - até que dá tudo errado, ela foge com seus comandados; ele não a perdoa, rompe seu voto de silêncio, de anos - e o mundo assiste a uma troca de acusações nada edificante.
Para mim, é o pior momento do Osho: quando ele tem de dizer que não teve nada com ela, nenhum envolvimento homem-mulher, que ela está drogada, usou drogas pesadas etc. E Sheela devolve, chamando Osho de “manipulado” - sob efeito de um novo círculo, que não quer o seu bem, até deseja a sua morte etc.
O bate-boca é suficiente para o governo dos Estados Unidos interferir e terminam ambos presos, mais pessoas próximas do círculo de Sheela.
No caso de Osho, ele aceita um acordo, assume a culpa por crimes ligados a imigração ilegal, enquanto retorna à Índia. Já Sheela cumpre prisão, sem atenuantes, e termina liberada na Europa, onde vive até hoje.
Osho termina tão desiludido da vida que quer ser esquecido. Desiste do próprio nome, “Bhagwan”. Quer ser “ninguém”. Não quer ter nome. Até que alguém sugere, justamente, “Osho” - que, em japonês, quer dizer “mestre”.
Bhagwan morre em 1990, mas Osho vira uma marca. Até hoje.
O documentário, da Netflix, não se decide por uma conclusão positiva ou negativa, do Osho e até de Rajneeshpuram. Termina com a Sheela, que montou um asilo. Arrependida?
Gurus foram moda, sobretudo nos anos 60. E até os Beatles caíram...
Quando resolveram ir embora da Índia, John Lennon resolveu testar o guru - Maharishi - para ver se ele sabia (por que eles iam). Lógico que ele não sabia.
Lennon fez “Sexy Sadie” para ele: “What have you done? O que você fez? You made a fool of everyone. Você fez todo mundo de bobo...”
Fast-forward para 2018. E as pessoas, no Brasil, continuam seguindo gente como “A Monja”, Karnal, Pondé... como se fossem gurus...
“Sexy Sadie. You laid it down for all to see... Você pôs tudo abaixo - para que todo mundo visse...”
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Postado por Julio Daio Borges
2/5/2018 às 09h02
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Carta do Brasil - 5/4/18
Dearest friend:
Ontem foi o julgamento do “HC” do Lula no “Supremo” e o Brasil parou pra assistir. Eu não podia parar, mas eu fiquei ouvindo pelo rádio. Alternando a CBN e a Jovem Pan 2 - porque, à tarde, tem uma locutora na CBN (eu ia escrever “uma louca”)... que eu vou te contar... a mulher até dançou no ar!
Resolveram chamar o João Marcelo Bôscoli para comentar umas músicas de 1900-e-guaraná-com-rolha - e ele ficou comentando um Roberto Carlos do passado recente, quando ninguém queria escutar aquilo, todo mundo só queria ouvir falar do tribunal...
A tal da Rosa Weber - a que seria o “voto de Minerva” (ou algo assim) - acabou se revelando uma heroína nacional - mas, na hora em que ela falava, ninguém entendia nada. Perguntei “essa mulher fala português?” - em dois grupos de WhatsApp -, mas ninguém respondeu nada.
Todo mundo entende de Direito agora, no Brasil, é o maior barato. Você precisava ver: as pessoas comentam as falas como se elas entendessem alguma coisa - mas, na verdade, acompanham como quem acompanha um jogo de futebol no escuro: se alguém grita “gol!”, todo mundo grita logo na sequência - para não ficar mal. E para não passar pelo burro que não entendeu a piada.
Afinal, no Brasil, nada é certo: nada é definitivo. É como naquela frase do Malan: tudo é incerto - até o passado. E depois da eleição do Aécio - que muitos comemoraram antecipadamente, depois “perderam” - ninguém quer comemorar mais nada. Todo mundo morre de medo. Até porque o Aécio se revelou aquela “coisa” que você sabe... De modo que não se sabe quem ganhou e quem perdeu, de fato. Até porque todo mundo perdeu. A Dilma tinha razão... Ou o Olavo tem razão... (Nem sei mais...)
Sei que o negócio acabou à uma hora da manhã. E, no intervalo da Hora do Brasil, tive de sintonizar a Jovem Pan no YouTube e consumiu todo o meu “pacote de dados”. Veio o aviso de 80%, veio o aviso de 100%, mas eu nem percebi. Quando percebi, já estava “na roça”, como dizem, com a internet à manivela, pior que a discada.
Soltaram fogos no meu bairro. Como eu moro no Morumbi, parecia que tinha sido gol de alguém, mas não era, não. Ou era, sim! Go-o-ol... *DU* BRAZIL!!! Claro que alguém repassou uma narração do Galvão Bueno. As pessoas repassam para serem as primeiras a repassar. Mas, depois que alguém repassou, ninguém se lembra de quem foi.
Só sei que fiquei tantas horas trabalhando e ouvindo, que, quando terminou, ou quando eu resolvi me levantar, estava petrificado. Na hora de deitar, eu estava como aquele bonequinho de Playmobil: quando ele sai da “posição sentado”, tem de empurrar as perninhas pra baixo, porque elas não vão sozinhas.
Uma hora me enchi e resolvi ler, mas não conseguia parar de ouvir as vozes dos ministros. E sintonizava de novo. E me enchia, novamente. E voltava a ler. Mas não aguentava esperar pelo resultado... Aí, sintonizava de novo! E me aborrecia... Um inferno!!! Até que alguém declarou que tinha “oficialmente” acabado. Acho que foi o Felipe Moura Brasil.
Acho que até sonhei com o negócio. O Brasil é um negócio que você não sabe se é pesadelo ou se é vigília mesmo. De manhã, estavam discutindo tudo de novo. Porque existem embargos não-sei-de-quê (sempre existem “embargos”). Poderia demorar mais um mês... E assim vai.
Hoje não consegui acompanhar mais nada. Não aguentava mais ouvir falar do negócio. Estou passando essas notícias, mas eu sei que estão “atrasadas” - só espero que não muito! Na realidade, eu espero que não tenha mudado nada... Porque, no Brasil, você sabe: nada é certo. Nem o passado ;-)
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Postado por Julio Daio Borges
5/4/2018 às 21h03
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João, o Maestro (o filme)
Eu confesso que tinha uma certa antipatia pelo maestro João Carlos Martins
Antipatia estética. Achava ele muito populista, nesta fase de maestro. Tocar com Chitãozinho e Xororó, para mim, foi o "ó"
Me parecia uma tentativa, barata, de conquistar certo público, pouco afeito às salas de concerto. Desconfio sempre quando a alta cultura tenta "se rebaixar". Alta cultura rebaixada deixa, imediatamente, de sê-lo
Com esse espírito, fui assistir ao concerto de 40 anos da Cultura FM, na Sala São Paulo, em Julho deste ano
Concerto encerrado pelo maestro que - tocando Mozart ao piano, sob regência de outro maestro, Júlio Medaglia - me comoveu
O que aconteceu? Não sei. Não foi apenas a execução, impressionante para quem tem tantos problemas nas mãos...
Talvez tenha sido porque ele relembrou que, quando resolver ser maestro, foi procurar Júlio Medaglia, e este igualmente se comoveu...
Ou talvez porque tenha sido uma noite especialmente comovente, para a Cultura FM e para a sua audiência. E João Carlos Martins soube respeitar isso. Não quis ser "a estrela"
Me comoveu tanto que, na saída, em direção ao banheiro, dei de cara com ele - e não consegui deixar de cumprimentá-lo e de reforçar o clichê (que tanto critiquei): "Parabéns, maestro, o senhor é um exemplo de vida"
Pois é. Não resisti. O maestro me pegou de jeito...
Também disse a ele que assistiria seu filme, cujo trailer já havia visto. E ele foi simpático: "Olha, no filme, sou eu quem toca tudo... Com exceção de algumas partes... que quem toca... é esta moça aqui!"
Estava com uma moça, claro. Como, aliás, tantas vezes no filme...
Apesar de superado o preconceito inicial contra o maestro, entrei meio desconfiado na sala de cinema, porque o filme era Globo Filmes. Ainda mais com um "toque" de Luiz Carlos Barreto e Cacá Diegues... (Só faltavam a Conspiração e a Natasha Records...)
E, de fato, o filme começa com aquela "sujeira limpa", típica das novelas da Globo - onde até as roupas velhas têm cara de novas (e bem passadas) e onde até a pobreza merece um rico tratamento estético
Resistindo, ainda no começo, pensei que estavam tentando transformar o João Carlos Martins, pianista, no Glenn Gould brasileiro...
Mas, aos poucos, fui sendo vencido... Primeiro, pela música
É difícil ignorar Bach no cinema. E a ligação de João Carlos Martins com Bach não é uma coisa que passa despercebida
Bach não foi um golpe de marketing, que ele usou para se lançar ou se promover, foi uma relação de vida inteira
Uma obsessão, como acusa uma de suas mulheres. Uma comichão (sim, comichão é feminino)
A Bach, ele retornava, nos piores momentos. Quando sua mão falhava, quando não conseguia tocar, quando sofria um golpe...
É com Bach que ele passa, também, os melhores momentos. Seja estudando, seja executando, seja gravando. Seja tocando as Variações Goldberg, de memória, num restaurante em Nova York, a pedido de ninguém menos que Leonard Bernstein...
Além da música, e de sua relação com ela, fui sendo conquistado pela obsessão do artista. A mesma que afastou suas mulheres
Afinal, João Carlos Martins não sofre um único acidente, mas *dois* - e leva sua carreira de performer até o limite físico
Sente dores antes do primeiro acidente, e vai perdendo o crédito na mídia em função deste. No meio de um projeto para gravar a integral de Bach, para teclado, sofre o segundo acidente
Passa a tocar no limite da dor. Até que a dor é tamanha... que ele finalmente aceita a operação. A mesma que sepulta sua carreira de pianista
Nasce o maestro
Mas nem tudo são flores. Começa a carreira de "pedinte", tão bem conhecida por quem realiza iniciativas culturais no Brasil...
Ser artista solo era muito mais barato. Para ser maestro, precisava ter orquestra...
Mas o homem que flertou com o suicídio, e poderia ter desistido tantas outras vezes, acaba conseguindo. E quando a Fiesp, através do Sesi, decide patrocinar não apenas um músico, mas a orquestra inteira, o maestro tartamudeia... e, imaginando sua emoção depois de tudo, emudecemos igualmente
No fim, João Carlos Martins, em pessoa, dá um descanso a Alexandre Nero - que está muito bem no papel - e aparece, regendo, na Sala São Paulo
Aí, eu chorei
Pois é, num filme da Globo Filmes, com um ator de novelas, cujo subtítulo é, literalmente, "uma história de paixão e de amor pela vida" - chorei, vai entender
Mas o Maestro merece
E eu fiquei com vontade de cumprimentá-lo novamente ;-)
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Postado por Julio Daio Borges
12/9/2017 às 17h24
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FHC embola o meio de campo
Como se não bastasse a hesitação do próprio PSDB, que se reúne desde o pós-Joesley, para decidir se sai ou não do governo (e acaba sempre ficando), agora FHC resolveu dar sua contribuição para o samba do tucanato doido
Primeiro disse que eleição direta, neste momento, era "golpe", mas, agora, apareceu para declarar que o presidente deveria "ter a grandeza" de "antecipar as eleições de 2018" para este ano
Primeiro disse que era preciso "cautela" antes de sair acusando o presidente, por causa daquela gravação do Joesley, mas, agora, diz que vivemos uma "anomia" e que falta "legitimidade"
Primeiro disse que o governo tinha de atravessar um "pinguela", mas, agora, disse que é melhor atravessar o rio "a nado" e "devolver a soberania ao povo"
Se você leu e releu a nota que FHC - para ver se era isso mesmo -, e ficou sem entender direito alguns trechos, não se preocupe: *ninguém* entendeu. Nem o PSDB
Em outras palavras: se o PSDB tinha em FHC um guia ou "farol", o partido acaba de perdê-lo - e os caciques, pós-FHC, tendem a se disputar pelo controle do espólio
Se o PSDB já soava esquizofrênico permanecendo no governo pós-TSE - mas recorrendo ao Supremo contra a decisão do mesmo TSE -, FHC conseguiu soar, mais que esquizofrênico, alucinado e alucinante
Se o PSDB havia passado relativamente incólume ao turbilhão da Lava Jato, agora vai sendo tragado, no mesmo redemoinho que engole PT e PMDB - e não só pelos desvios éticos, que começam a aparecer, mas porque sua bússola quebrou...
Silêncio, FHC
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Postado por Julio Daio Borges
16/6/2017 às 11h18
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E o Doria virou político...
Por que São Paulo elegeu João Doria? Vale recapitular:
Porque ele não tinha papas na língua. Falava o que pensava e se posicionava
Porque ele não era um político. Ou, ao menos, não era um político tradicional
João Doria era alguém "de fora". Alguém que tinha tido sucesso. Alguém com um "novo olhar". Alguém fora do esquema (ou "dos esquemas")...
OK, João Doria era contra o PT. Alguém com coragem para atacar Lula de frente. Um antipetista convicto
Mas o que aconteceu com João Doria, de uns tempos pra cá?
Não, não estou falando do marketing - que ele continuou fazendo até dominar as redes sociais
Nem estou falando do seu governo, que tem feito boas parcerias com a iniciativa privada - numa prefeitura falida -, apesar de uma ou outra ação mais controvertida (não quero discutir a Cracolândia ou os grafites...)
Estou falando desse "novo" João Doria, que surgiu de umas semanas pra cá. O "PSDBista". Querendo oferecer seu "lastro" a um partido que insiste em apoiar um governo morto-vivo...
Recordemos. O presidente prevaricou. O presidente mudou o ministro da Justiça, como Dilma, para controlar a PF (em vão). O presidente voou no jatinho do "falastrão" (primeiro disse que não voou; depois fingiu que não sabia de quem era o jatinho...)
Pior: o presidente acha que tem razão. E insiste em ficar. Em "não renunciar". Afronta o Ministério Público (acha que não tem de dar satisfação). Comemora sua "absolvição" pelo TSE (como se fosse inocente). Suspeita-se de que o presidente espione ministros do Supremo enquanto se prepara para ser julgado por ele...
Contra o presidente, pairam acusações de obstrução da Justiça, formação de quadrilha, corrupção passiva...
Mas este era um texto sobre João Doria, não é mesmo?
E o que Doria tem feito?
Primeiramente, Doria encampa o discurso de PSDBistas - e diz que se deve preservar a "estabilidade"...
Que estabilidade, cara pálida? O Brasil pós-Joesley perdeu toda a estabilidade. Com malas de dinheiro, prisões, delações... Diariamente... E de gente cada vez mais próxima ao presidente...
Que estabilidade um governo "balança-mais-não-cai" pode oferecer???
Em nome das "reformas"? Um presidente contra quem pesam acusações graves, e que precisa - diuturna e "noturnamente" - se defender, tem condições de "aprovar" o quê? E com que moral???
Mas o pior de tudo, João Doria, foi você dizer: "Nós temos de lembrar que somos contra o PT". Ou "o nosso inimigo é o PT"
Pois bem, João Doria, e nós temos de *te* lembrar que - aqui fora - nós somos contra a corrupção. A nossa inimiga é a corrupção (mais que o PT)
Porque não adianta nada ser "contra o PT" e fazer vista grossa para a corrupção do PMDB "et caterva" (você sabe de quem estou falando...)
João Doria: não vire um político agora - não "do pior jeito" e não "no pior momento"...
Nós *não precisamos* de mais um político que tampe o sol com a peneira; que finja que nada está acontecendo; que resista em desembarcar de um navio que afunda "diuturna e noturnamente"...
Eu lamento pelo seu partido e lamento pelo (ex?) presidente do seu partido. Mas lamento mais por você
Não faça como ele. Não traia o voto dos paulistanos que confiaram em você. Não faça como ele fez com o voto dos brasileiros...
Não jogue fora seu capital político. E se não ficou claro ainda: não seja conivente com quem conspira contra a Lava Jato
Seja *menos* político. Não seja mais um tucano - para dizer o óbvio - em cima do muro
São Paulo precisa de você. O *Brasil* precisa de você
E não de mais um "cacique". E não de *mais um* político...
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Postado por Julio Daio Borges
13/6/2017 às 10h05
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As crises e 'a' crise
(Para você que não sabe mais quem apoiar)
Das grandes crises, de que eu me lembro, talvez a primeira seja a dos anos Sarney - do meio para o fim da década de 80 -, com hiperinflação, uma sucessão de planos econômicos e uma crise de abastecimento depois do plano Cruzado
Na sequência, a crise do Collor, no início dos anos 90, com confisco da poupança, escândalo de corrupção e impeachment
Em meados da década de 90, o Real, com Itamar, foi uma revolução - mas a desvalorização, no final da mesma década, foi um choque (quem apostou numa economia "dolarizada", praticamente quebrou)
Os desastres da era Lula, na década de 2000, começaram a aparecer em 2005, com o escândalo do Mensalão
O Brasil, ainda assim, se deixou levar - e elegeu Dilma, duas vezes seguidas, até que o Petrolão revelasse um escândalo muito maior que o anterior (por meio da Lava Jato, a partir de 2014)
Mesmo tendo vivido uma ou duas crises a cada década, desde os anos 1980 até os anos 2010, não me lembro de uma crise como a de agora...
Nos anos 80, o Sarney já era tão ruim quanto agora, ou pior, mas acho que havia a esperança da redemocratização - e os debates presidenciais de 1989 continuam disponíveis no YouTube, para demonstrar que o nível só vem caindo de lá pra cá...
Nos anos 90, o Collor foi um anticlímax, mas, pelo menos, acabou com a reserva de mercado, e a indústria brasileira foi obrigada a sair do tempo das diligências...
Ainda nos anos 90, mesmo com a desvalorização do Real em 99, nós tínhamos uma moeda, começávamos a ter uma economia e havia algum alento com a chegada do novo milênio...
O desânimo, para mim, começa com a vitória de Lula, em 2002 - que eu já pressentia como um desastre -, mas com Palocci (e Meirelles?) conseguiram enganar o mercado, e a economia, a ponto de reeleger Lula e - pasmem - Dilma, um pesadelo indisfarçável
Mas, mesmo com Dilma, nós havíamos perdido a eleição com o Aécio em 2014... E o bom trabalho que o PSDB havia feito com o Real - em 1994 (e depois) - indicava que uma volta dos "tucanos" ao poder *poderia* colocar o Brasil (ou, ao menos, a economia) nos eixos novamente...
Foi o que Temer tentou fazer, desde o impeachment de Dilma: ser um novo Itamar, reorganizando a economia, com o mesmo Meirelles, fiador dos governos Lula, num suposto governo de "união nacional"...
Só que Temer não contava que o "fio da meada" puxado pela Lava Jato atingiria, igualmente, seu governo, seu partido, seus aliados, seus assessores... e a ele próprio
Então Temer não se revelou muito diferente de Dilma, para se manter no poder: tergiversando, contando meias-verdades e até mentindo de maneira deslavada...
E o PSDB, emprestando seus "economistas" ao PMDB, na travessia da "pinguela", também foi atingido nas delações, a ponto de ter a imagem de seu presidente destruída... Aquele mesmo Aécio, que ia nos "salvar" da Dilma (e do PT), conspirava, nos bastidores, contra a Lava Jato e recebia, igualmente, propina...
O que estamos assistindo agora - e que culminou com esse julgamento farsesco do TSE - nada mais é que a tentativa, canhestra, do establishment político de "frear" a Lava Jato - porque se ela continuar, não vai sobrar nada nem ninguém...
A crise de agora não se compara com as anteriores que eu vivi porque não é um presidente, ou um partido, que está caindo, ou ruindo - é todo um sistema, governo & oposição, que se alternam no poder, mas que se revelaram irmanados nos mesmos "esquemas"...
O "suposto" governo e a "suposta" oposição se juntam - como nunca antes... - para combater o inimigo comum: a Lava Jato, que os está desnudando...
Para não cometer o mesmo "erro" de apoiar um novo "Aécio", o que temos de fazer - agora - é continuar apoiando a Lava Jato
Com todos os "erros" da operação - "açodamentos", "arbitrariedades", "abusos" (expressões que os detratores adoram utilizar) -, a Lava Jato é o que temos "pra hoje"
Entre a Lava Jato, Dilma, Lula, Temer e Aécio, com quem você prefere ficar? Entre a Lava Jato, o PT, o PMDB e o PSDB-abraçado-ao-PMDB, com quem você prefere ficar? Entre a Lava Jato e o Gilmar Mendes, com quem você prefere ficar?
Acho que não preciso responder. E acho que isso responde à nossa dúvida existencial - pós-TSE - sobre quem devemos apoiar...
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Postado por Julio Daio Borges
10/6/2017 às 18h28
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Chris Cornell
Chris Cornell era a maior voz de Seattle
Evito usar o termo "grunge" porque acho reducionista. Ainda mais no caso de Cornell, que sempre cantou mais que a média dos roqueiros (eu disse roqueiros e, não, "metaleiros")
Kurt Cobain, do Nirvana, era o letrista. Eddie Vedder, do Pearl Jam, talvez seja o maior astro pop. Jerry Cantrell, do Alice in Chains, é o maior guitarrista. E Cornell, do Soundgarden, o melhor cantor
Além da sua morte precoce, é impressionante que em quase todas essas bandas tenha morrido alguém de forma trágica. Cobain se suicidou com uma arma. Tinha 27 anos. Layne Staley foi encontrado já em estado de putrefação (depois de uma overdose). Tinha 34 anos. E Cornell se enforcou num banheiro de hotel, na última quarta, depois de um show. Tinha 52 anos
O Nirvana estourou. O Pearl Jam de Eddie Vedder teve sucesso a médio/longo prazo. Talvez mais que qualquer outra banda de Seattle - porque caiu no "gosto médio" (Vedder sempre fez sucesso entre as menininhas...)
O Alice in Chains alcançou, em francês, o que se chama de "succès d'estime" (sucesso entre iniciados). Já o Soundgarden foi o que teve menos sucesso - e talvez fosse, musicalmente, o grupo mais sofisticado. Basta ouvir "Badmotorfinger", de 1991
Maior que essa injustiça toda é o fato de que, talvez, Chris Cornell foi o maior músico da geração Seattle
Ele teve a voz de um bluesman e o próprio Soundgarden soava como uma mera banda "de apoio" para seus vocais. Afinal, o Soundgarden nunca passou de uma versão "anos 90" para o primeiro Black Sabbath. Com a diferença de que Cornell cantava muito mais que Ozzy Osbourne. E, muito provavelmente, se ombreava com Ronnie James Dio - embora, musicalmente, fosse mais versátil
Quando Michael Jackson morreu, a melhor versão de "Billie Jean", na praça, era uma acústica de Chris Cornell. E eu poderia falar de sua versão para "Nothing compares 2 U", de Prince - mas prefiro lembrar de Brad Mehldau, um pianista de jazz, tocando "Black Hole Sun" (do último disco do Soundgarden que vale a pena, "Superunknown", de 1994)
No início dos anos 90, quando o grunge estourava, já se falava na "carreira solo" de Chris Cornell. Mas, embora conseguisse bom espaço na imprensa, para suas turnês solo, sua carreira solo nunca decolou de fato
O mais perto que esteve do mainstream, depois do grunge e do clipe de "Jesus Christ Pose", foi com "You know my name", da trilha sonora de "Cassino Royale", o "remake" de 2006
Uma das maiores fatalidades é um grande talento não encontrar o sucesso de fato...
Primeiro, Cobain com aquele fiapo de voz rouca. Depois, Staley, que, praticamente, só gritava. Na sequência, a consagração "pop" de Vedder. E, por último, Dave Grohl, com o Foo Fighters - que, como baterista do Nirvana, até enganava; mas, como cantor, é, convenhamos, "o sub do sub"...
Se somar todos, não dá um Chris Cornell. Que sua morte precoce, ao menos, sirva para redimensionar sua importância
O grunge, como modismo, era uma bobagem. Mas a geração de Seattle, de fato, foi a última do rock
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Postado por Julio Daio Borges
29/5/2017 às 14h24
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Antonio Candido
Antonio Candido era mais citado do que lido, como sói acontecer com algumas figuras da vida intelectual brasileira
Não li Formação da Literatura Brasileira, o que talvez seja um pecado mortal para alguém que se atreve a escrever um texto sobre ele. Mas o fato é que encontrei o livro, para vender, uma ou duas vezes na vida. E arrisco dizer que esteja "fora de catálogo", como sói acontecer com muitos clássicos brasileiros também
Li, outrossim, Textos de Intervenção, mas confesso que achei OK - nada de mais, nem de menos. Não era assim uma "Brastemp" (nem, muito menos, um "Antonio Candido")
Minha impressão é de que, em torno dele, foi construída uma aura meio santa - no sentido de que tudo o que citavam dele era considerado "a última palavra" em matéria de literatura brasileira (como se fosse uma espécie de Harold Bloom dos trópicos, tendo escrito seu Cânone Ocidental Brasileiro)
Nem era o meu crítico literário favorito. Prefiro Wilson Martins, de quem não consigo ler História da Inteligência Brasileira - mas de quem já li dois volumes da série "Pontos de Vista" com enorme prazer
Justiça seja feita: republicamos dele, no Digestivo, uma "memória" de Mário de Andrade - que é tocante, mesmo para quem não gosta de Mário (ou não sabe nada sobre ele)
Lembro mais *desse* Antonio Candido - do comentário breve, do improviso, do "causo" - do que do Antonio Candido "canônico"
É o mesmo de documentários recentes e de "aparições" breves na USP - já que estava afastado, havia muito, da "lida"
Historicamente, fez parte da santíssima trindade da revista "Clima" (outra mais citada do que lida), junto com Décio de Almeida Prado (na área do teatro - talvez mais legível e mais disponível que Antonio Candido em livro) e Paulo Emílio Salles Gomes (esse na área de cinema - reeditado fartamente pela Cosac Naify)
Para dessacralizar, cito a expressão de Oswald de Andrade, que apelidou os três de "chato boys". Oswald não perdoava ser criticado. E, embora fosse maldoso nas piadas, a expressão deve fazer algum sentido (caso contrário, não teria graça)
Last but not least: Antonio Candido foi membro-fundador do PT - o que, por esse "feito", o coloca no mesmo "panteão" de Sergio Buarque de Hollanda (para a intelectualidade brasileira "de esquerda")
Aliás, é de Antonio Candido - para uma das edições comemorativas de Raízes do Brasil - um trecho que selecionei e usei como epígrafe na minha coletânea de "A Poli como Ela é..." (meu primeiro texto mais conhecido)
E é irônico que, junto com a citação de Candido, eu tenha escolhido uma do Diogo Mainardi...
Um que ajudou a fundar o PT; o outro que ajudou a *afundar* o PT
Um que deu "adeus" à literatura. Outro que, no Brasil, virou quase sinônimo dela
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Postado por Julio Daio Borges
15/5/2017 às 16h16
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Chuck Berry
"Se o rock tivesse outro nome, ele seria 'Chuck Berry'."
~ John Lennon
Todos os roqueiros têm uma dívida impagável com ele. Ainda que fosse, oficialmente, o pai do rock, era negro, de origem humilde e de maneiras simples
Se o rock tivesse pagado royalties a Chuck Berry, ele seria bilionário. Como Paul McCartney, Mick Jagger e Ozzy Osbourne
O primeiro a faturar em cima do rock foi, obviamente, Elvis Presley, embora sua inspiração maior fosse Little Richard, o pianista de "Lucille" - que, brincando, se dizia "a mãe do rock" (era homossexual com laivos de religiosidade)
Sim, o rock teve um pai, uma mãe, um rei e até um príncipe. Todos hoje mortos, com exceção de Little Richard
Berry e Richard vieram ao Brasil, se não me engano, em 1994. E tocaram no então Palace. Cada um fez o seu show. No final, tocaram, juntos, "Roll Over Beethoven", de Berry, que os Beatles regravaram
Chuck Berry, um descuidado, veio ao Brasil sem a sua famosa guitarra, uma Gibson semi-acústica. Marcelo Nova, que tinha uma igual, foi logo acionado: "Se é para Chuck, eu empresto", declarou pelo rádio
Chuck não parecia ter consciência da lenda à sua volta. Seja tocando ao lado de John Lennon, seja tocando com Keith Richards, ambos no YouTube, era sempre o mesmo. Contando até quatro, como os Ramones - "one, two, three, four" - e esperando sua vez de entrar, como um nadador, em sua raia, afoito
Tinha mãos enormes, como Jimi Hendrix, a quem, obviamente, inspirou, envolvendo o braço da guitarra com os dedos, tocando despreocupado e saltitante
Suas apresentações, desde as primeiras até às últimas, são rigorosamente iguais. Entrava, executava seu número e saía
O rock, para ele, não era um negócio, era um meio de vida. Existem histórias de que não entrava sem receber antes (trauma de quem, provavelmente, tocou de graça)
O rock foi tão assimilado - como gênero - que ouvir Chuck Berry hoje, em estúdio, parece não nos acrescentar nada...
Mas ele foi o pai do riff. E o ritmo - o rock, que se dança - foi Chuck Berry quem imprimiu, com sua guitarra, acompanhado de uma bateria bem marcada e de um pianinho ao fundo
Seu jeito de cantar, com voz forte, quase estourando a caixa, fez escola. Desde os Beatles em "Twist and Shout", como o próprio título já indica, até o Led Zeppelin que, sem querer, inventou o heavy metal, passando pelos punks, os roqueiros nunca primaram por tocar e cantar em decibéis "normais"
Mas nem só de ritmo e de garganta viveu Chuck. Sob muitos aspectos, ele foi o primeiro "guitar hero". Seu jeito de bater nas cordas, arrancando sons estridentes, à beira da desafinação, podem ser considerados os primeiros "solos" - que ele executava nas introduções ou quando não estava cantando
E tinha, como precursor de Elvis e Michael Jackson, sua própria coreografia. A maneira de usar a guitarra como anteparo, se relacionando fisicamente com ela, antecipou Hendrix e Jimmy Page, entre outros
Chuck Berry era uma força da natureza
Se o rock inglês é, frequentemente, lembrado como mais "sofisticado", ele não existiria sem o original, sem o rock americano, sem o rock de Chuck Berry
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Postado por Julio Daio Borges
20/3/2017 às 15h23
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