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Sexta-feira,
26/6/2015
Blog de Sonia Regina Rocha Rodrigues
Sonia Regina Rocha Rodrigues
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Por que ler contos de fadas?
A infância é um período de alegria, brincadeiras e sonhos. Certo ? Por um lado, sim. Mas há um outro aspecto. A infância é também um longo período de sofrimento, frustrações e humilhações.
Que tal ter setenta centímetros de altura em um mundo onde os adultos parecem ter dez metros ? Sentir - se um anão entre gigantes ? Derrubar leite na toalha, migalhas no sofá, molho de tomate na roupa nova; sentir as calças molhadas porque não se foi suficientemente rápido para correr ao banheiro... e ouvir os inevitáveis : "Desastrado!", "Porco!", "Outra vez?", "Você só serve para dar trabalho!", "Eu já não te falei mais de mil vezes...", "Você não toma jeito, mesmo!".
Esta situação já é bastante constrangedora, mas às vezes existem outras complicações - irmãos mais bonitos ou que parecem perfeitos, e as dolorosas comparações: "Veja seu irmão. Por que você não faz como ele?", "Olha só como seu irmão é caprichoso", "Ele é tão corajoso, não chorou no dentista".
Deixemos de lado as situações dolorosas da vida - orfandade, pais alcoólatras ou espancadores. Fiquemos com a infância normal em lares estáveis, com filhos desejados e pais amorosos. Fazem parte da infância normal sentimentos perturbadores e terríveis, tanto que muitos adultos preferem esquecê - los ao crescer.
Por exemplo, o MEDO. A criança é um ser frágil que depende totalmente de outro para comer, abrigar - se, manter - se aquecida e limpa. Imaginemos por um instante. Não poder andar sozinho. Não poder comer sozinho. Pior - não conhecer o mundo e suas regras. É profundo e total o DESAMPARO da criança.
Quando a criança começa a falar e a pensar, depara - se com o problema mais doloroso da infância, que, mal resolvido, comprometerá todo a sua vida futura : a questão do valor pessoal. Como pode a criança afirmar - se em um mundo onde ela não conhece, não sabe e não compreende a maior parte das coisas? E onde lhe dizem o tempo inteiro : "isso não é assunto de criança", "isto você vai saber mais tarde", "quando você casar, passa", "quando você crescer eu explico". Frases que a criança traduz como : ninguém me leva a sério. É a REJEIÇÃO.
A criança faz progressos que são encarados sem muito entusiasmo pelos adultos, embora estas conquistas sejam obtidas através de muito trabalho - aprender a ler, aprender a andar, para citar as mais óbvias, exige imenso esforço e persistência por parte da criança, e, no entanto poucas vezes são recebidas com entusiasmo : "Que maravilha, meu filho!". Muitas conquistas importantes são ignoradas, deixando a criança com a impressão de que só uma pessoa muito boba poderia achar que fez alguma coisa de notável, afinal, todo mundo lê, anda, come sozinho e mantém - se limpo - todo mundo menos ela, a criança.
"Quando você crescer", para o pensamento infantil quer dizer nunca. A criança é toda agora.
Há, no entanto, um jeito de falar diretamente à alma da criança, dar - lhe consolo, esperança e, o mais importante, a fórmula para deixar de ser "bobo" e virar "rei". Adivinharam ? Sim, é o conto de fadas.
Típicas, por exemplo, são as histórias dos três irmãos, dos quais o mais novo é bobo, humilhado pelos irmãos, e sai pelo mundo abençoado pela mãe, sem dinheiro, e por ser bondoso com um animalzinho ou velhinho que encontra pelo caminho, é recompensado e descobre um segredo que o leva a um tesouro.
Estas histórias de aparência simples contém um complexo simbolismo que não é a intenção deste artigo desenvolver.
O que nos interessa aqui é encarar o desejo dos pais de protegerem a criança dos sentimentos maus e da violência, procurando para elas leituras neutras, sem emoções, ou, o que é pior, suavizando as histórias : "O Lobo Mau não comeu o porquinho, não, o porquinho fugiu"; "O caçador não matou o Lobo, só bateu no bumbum dele".
A emoção da criança é primitiva e selvagem, do tipo tudo ou nada. A criança ama ou odeia com todo o seu coração. Seu medo, simbolizado pelo Lobo Mau, só pode ser destruído pela morte. Sua imaturidade, simbolizada pelo porquinho que fez a casinha de palha, também. Só a morte pode acabar com o perigo que ameaça a criança : seu próprio medo, sua própria ignorância e outros sentimentos ruins, disfarçados de bichinhos. Nestas histórias, a morte não é violência; é o símbolo da transformação que torna a criança mais madura, mais sábia, mais corajosa. Deixe o seu filho gritar de alegria porque o Lobo Mau morreu. Isto não quer dizer que seu filho seja um nazista sanguinário em potencial. Quer dizer apenas que seu filho venceu o medo.
A seu modo mágico, os contos de fadas contam para a criança que ela traz em seu coração a chave da felicidade, é só acreditar em si e esperar pelo momento certo. Os contos de fadas também lhe dizem que ela não é a única a sofrer, lá está o pobre "Tolo" a ser humilhado pelos irmãos e desacreditado pelos pais - e a criança sente-se compreendida.
Se queremos trazer alegria à vida de nossos filhos, devemos começar por reconhecer a dor, a aceitá - la e a encará - la _ a dor profunda de ser desamparado, impotente e ignorante; o medo e a vergonha por sentir - se inferior . Então podemos começar a contar a nossos filhos como vencer a dor e encontrar o caminho da realização e da felicidade, um caminho longo e difícil que as histórias de fadas tornam atraente e encantador.
Vamos encher de sonhos a infância. Afinal, é como diz o ditado : "Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem".
Referência bibliográfica:
BETTELHEIM, Bruno - A Psicanálise dos Contos de Fadas , Ed. Paz e Terra
Revista Pediatria Moderna de agosto de 1996 - onde este texto foi publicado pela primeira vez.
A autora é médica pediatra e autora do livro O que você diz a seu filho? - programação neutrolinguística para pais e educadores - 1997
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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
26/6/2015 às 17h52
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Haicai & Poetrix
Você gosta de haicai, mas sente-se tolhido pela rigidez da forma?
Sente rompantes de exprimir-se em tercetos maravilhosos inspirados por kigos que os japoneses não reconhecem, com rima, pedindo um título, sem kigo ou com vários, com figuras de linguagem ou com aquela irreverência que os brasileiros tanto apreciam?
Seu mestre haicaísta tem razão, embora você se retorça de frustração: o que você escreveu NÂO é haicai.
Necessariamente, o haicai deve possuir 17 sílabas, divididas em 3 versos de 5, 7 e 5 sílabas; conter alguma referência à Natureza; referir-se a um evento particular e ater-se ao presente.
Mas não fique triste. O que você exprime é poesia, sim, e tem nome: poetrix.
Criados por Goulart Gomes , são descritos por seu criador como poemetos tropi-kais, leves como quem vive abaixo da linha do Equador. Confira aqui as regras do poetrix, conforme Goulart Gomes , em seu Manifesto Poetrix. E mãos à obra! Divirta-se!
1. No POETRIX, o título é desejável, mas não exigível.
2. Não existe rigor quanto ao número de sílabas, métrica ou rimas no POETRIX, mas o uso do ritmo e da similaridade sonora das palavras, sim.
3. O uso de metáforas e outras figuras de linguagemsão uma constante no POETRIX, assim como a criação de neologismos.
4. A interação autor/leitor deve ser provocada através da subliminaridade do POETRIX.
5. O POETRIX é necessariamente uma arte minimalista, ou seja, ele procura transmitir a mais completa mensagem com o menor número de palavras.
6. O POETRIX considera Passado, Presente e Futuro .
7. No POETRIX o observador (autor), as personagens e o fato observado podem interagir, criando condições suprarreais ou ilógicas ("non sense").
Haicai
Voa livre e longe
Andorinha pequenina -
Alma peregrina.
Sonia Rodrigues
Poetrix
Cogumelos frescos
Entre as pedras do jardim
Nascidos da noite.
Sonia Rodrigues
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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
21/6/2015 às 19h36
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Haicai - uma atitude perante a vida
Convido o leitor a fazer um mergulho na cultura japonesa e conhecer essa delicada expressão poética, a menor do mundo.
A essência do haicai (haikku, em japonês) é a percepção do momento presente, buscando na natureza os elementos para a criação individual.
Define-se o haicai como um poema de origem japonesa, sem rima, com dezessete sílabas, distribuídas em três versos com, respectivamente cinco, sete e cinco sílabas, contendo uma referência à estação do ano através do kigo — ou palavra da estação. Esta é a forma, apenas. A essência do haicai é contemplativa, manifestando gratidão pela admirável obra de arte que é a vida em todo o planeta, encontrando, no transitório, a essência do eterno. Em outras palavras, as flores da primavera são transitórias mas a primavera das flores é eterna.
Foi Bashô quem levou o haicai à plenitude artística. Seu nome verdadeiro era Matsuo Munefusa, e ele viveu no Japão no século XVII. Era filho de samurais agricultores e, aos 23 anos, abandonou o campo para dedicar-se à literatura. Mais tarde, tornou-se monge budista. Plantou à frente de sua cabana uma bananeira, em japonês, Bashô, daí advindo o seu pseudônimo. Foi Bashô quem tornou o haicai a poesia mais popular de sua pátria até hoje. Para Bashô, poesia é sinônimo de virtude e a verdade é a essência da arte; para atingir a verdade, é necessário que o poeta receba, através dos sentidos, a realidade tal qual ela é. Para exemplificar, cito um de seus haicais:
Nada mais gracioso/ pela estrada da montanha/ uma violeta silvestre.
Dizia o mestre: "o que diz respeito ao pinheiro, aprenda do pinheiro, o que diz respeito ao bambu, aprenda com o bambu."
Atrás do haicai existe a cultura milenar de um povo — a gentileza, a compaixão, a aceitação do imutável. É preciso adquirir esta atitude perante a vida para depois entender os poemas. Bashô elevou o haicai a uma filosofia, tornando-o um caminho de iniciação de disciplina e exercício espiritual. O haicai é uma conquista: é a realização da sabedoria. Neste contexto, viver sabiamente significa despojar-se de ambições e de vaidades, adquirindo a capacidade de simplesmente estar ali e perceber. É preciso que o leitor seja "tocado" por este jeito de ver a vida.
Diferentemente da poesia ocidental, o haicai não intelecualiza nem explica, ao contrário, em sua simplicidade e sutileza apenas sugere a idéia. O leitor portanto, ao buscar um significado que ficou implícito, participa do poema. Um haicai é um caminho que se percorre não sendo deste mundo, e sim estando no mundo.
Esta breve explicação permitirá que cada um de vocês agora leia estas pequenas jóias literárias com uma atitude observadora, serena, "apenas estando aqui", apreciando o momento, pois a vida está inteira em cada momento.
Chuva de primavera -
Todas as coisas
parecem mais bonitas.
Chyio-ni
Presentes de Ano Novo.
Até o bebê de colo
Estende as mãozinhas!
Issa
O rio de verão -
Que alegria atravessá-lo
De sandálias à mão.
Buson
Dia de primavera -
Os pardais no jardim
Tomam banho de areia.
Onitsura
A autora é haicaista e estudou com Teruko Oda, mestra do grupo de Haicais Caminho das Águas — Santos
Bibligrafia:
Palhas de arroz — Bashô — Aliança Cultural Brasil — Japão
Introdução ao Haicai — Teruko Oda e Francisco Handa - Aliança Cultural Brasil — Japão
Haicai, a poesia do Kigô - Masuda Goga, Teruko Oda e Eunice Arruda - Aliança Cultural Brasil — Japão .
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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
17/6/2015 às 19h56
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Saúde: bom e mau estresse.
Saúde é um estado que se adquire ativamente através de hábitos adequados de utilização do corpo.
Saúde é, antes de tudo, uma atitude. (saúde mental)
Há muito tempo se conhece as relações entre certas doenças e determinadas emoções, e sabe-se que, antes de instalar-se ou não em nosso corpo, a doença se revela através de palavras. Preste atenção a estas frases:
Que sufoco! Estou farta de engolir sapos!
Ouvir isto dá vontade de vomitar!
Esta dívida é um peso sobre meus ombros.
Esta reunião será uma dor de cabeça.
Encontrar com ele foi um soco no estômago.
Só de pensar nisto sinto um aperto no peito!
As frases que usamos esclarecem quais processos fisiológicos escolhemos para representar nossas emoções, e, também, como alteramos nosso equilíbrio rumo à doença.
Atitudes culturais mais tradicionais frente à saúde:
A saúde é uma guerra, a doença é o inimigo. (ocidental)
As pessoas que percebem a saúde como uma guerra, defendem-se das doenças combatendo os micróbios com armas poderosas como os antibióticos.
A saúde é o equilíbrio, a doença é um aviso. (oriental)
As pessoas que percebem as doenças como um sinal de desequilíbrio, percebem os sintomas como avisos para uma mudança necessária.
Repare que as palavras medicina e meditação tem, ambas, a raiz medi — meio. Atingir o saúde física ou espiritual e uma questão de manter-se no meio, ou seja, em equilíbrio.
Algumas palavras sobre estresse.
Estresse refere-se a um equilíbrio que ao ser ultrapassado determina uma deformidade permanente. Em medicina, estresse e o que determina a ruptura do equilíbrio orgânico, colocando o organismo em alerta, como ocorre em cirurgias, partos, emoções, exercícios e tensões.
Eustresse — é o bom estresse. E aquele que nos permite ultrapassar um limite e atingir um nível superior de funcionamento. O parto e um exemplo fisiológico. A competição esportiva, a concentração intelectual no aprendizado, também.
Distresse — e o mau estresse. E aquele que mantém o organismo em prolongado estado de alerta sem exercer a função de preparo efetivo para a ação. Situações de desemprego ou guerra, por exemplo. E também as pré — ocupações em que fixamos o pensamento em situações nas quais não podemos intervir.
Quando percebemos o estresse, podemos exercer algum controle sobre ele. O estresses percebido e saudável porque nos coloca em situação de escolha. Até mesmo nos campos de concentração, nos quais sobreviveram aqueles que escolheram manter a esperança em dias melhores .
O distresse abala o sistema imunológico do organismo, tornando-o frágil e susceptível a doenças. Nossa defesa — bom humor, alegria, hábitos saudáveis de alimentação e repouso, fé e respeito a natureza — incluindo respeitar a nossa natureza.
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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
13/6/2015 às 17h15
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A cultura como terapia e resgate da cidadania
Do grego vem a palavra 'catarse', que quer dizer purificação.
A arte é uma forma de catarse, em todas as suas manifestações: literatura, teatro, música, canto, dança, pitura etc. E toda catarse tem um aspecto terapêutico.
Para o artista, a arte é uma forma de liberação emocional, sendo a criação uma forma elaborada e complexa de transformar o sofrimento em beleza, o objeto artistíco sendo a forma de comunicação do mundo interno do artista. Em alguns casos extremos, a solução final: comunicar-se ou enlouquecer.
Também para o espectador, que se projeta na obra admirada, a catarse acontece. E a emoção do esportista, e do torcedor, também são poderosas formas de catarse. Na emoção do momento, protegido pelo simbolismo cultural, pode o indivíduo soltar as emoções represadas em seu cotidiano. Exemplo impressionante de catarse popular aconteceu quando do falecimento de Airton Senna. Todas aquelas lágrimas, seguramente eram mais do que a tristeza pela perda do ídolo. O símbolo culutal tem esta plasticidade de prestar-se a diversas interpretações em vários níveis de complexidade psicológica.
No caso específico da saúde, podemos observar pela época da aposentadoria a eclosão de diversas doenças, com destaque para as depressões, decorrentes do sentimento de inutilidade e pela percepção da proximidade da morte. Também as lutas sociais pelo poder, as frustraçõe e, as desilusões geram toda sorte de sofrimento moral e físico.
É quando FAZER arte pode consolar aquele que não pode TER e levá-lo ao equilíbrio psíquico por SER alguém.
Grupos que se reúnem por um interesse cultural comum e permitem-se CRIAR obtém excelentes resultados. Ao fazer versos, cantar, pintar, representar, o indivíduo percebe aptidões inexploradas, e, entretido na atividade catártica, abvandona o mau-humor, a depressão, esquece as dores, supera limitações e por vezes descobre talentos adormecidos.
A corrida atrás do dinheiro, a luta pela sobrevivência embota aos poucos a sensibilidade. É na aposentadoria que muitos se permitem liberar , ou descobrem pela primeira vez, a criatividade pelo prazer, desvinculada de qualquer vínculo prático ou monetário, e, como a criança, que vive intensamente o presente, o indivíduo recupera o amor pela vida, ingrediente principal da saúde.
A CULTURA COMO RESGATE DA CIDADANIA
Pelo exposto acima, concluímos que a cultura, em todos os seus aspectos, artísticos ou outros, tanto de criação, quanto de admiração e divulgação, tem como resultado fortalecer a identidade pessoal e social do indivíduo, bem como de integrá-lo em sua família e em sua comunidade, fornecendo-lhe, através do bem estar mental e social, condições de bem estar no mundo, ou seja, de saúde, em latu sensu.
O indicíduo comprometido com a cultura é feliz, portanto, pois sua vida adquire um significado útil.
Este é — ou deveria ser — o objetivo da sociedade humana: o bem estar do grupo alicerçada na felicidade de cada um.
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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
31/5/2015 às 13h45
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Cultura - uma ponte entre gerações
O fazer e o admirar a arte, utilizando-a como fator de integração social e formador de identidade, é comportamento transmitido de pai para filho, e começa no berço, ao som das primeiras cantigas de ninar e das primeiras histórias de fadas.
Muito há que se falar sobre as histórias de fadas, a linguagem que os adultos incontram para penetrar no universo infantil.
As histórias de fadas oferecem muito mais do que magia e encantamento à mente de crianças de todas as idades.
Os contos de fadas, trabalhados há séculos por gerações e gerações de crianças, têm uma sabedoria própria e são o veículo ideal para introduzar a criança em seu contexto cultural.
As histórias infantis refletem-se no psiquismo infantil em vários níveis, conscientes e inconscientes. A utilização destas histórias permite uma ampla abordagem da problemática infantil por várias razões:
a - a mais óbvia é a razão estética: sendo agradável, capta a atenção da criança.
b- é uma atividade lúdica que permite o desdobramento do tema utilizando a criatividade e a participação ativa ca criança, podendo ser transformada em dramatização simples, peça teatral elaborada, pintura, letra de música e brincadeira de faz-de-conta.
c- contar uma história estabelece e/ou fortalece os vínculos afetivos entre quem conte e quem ouve. Através das interações não verbais que se estabelecem entre o narrador e o ouvinte, cria-se uma cumplicidade, uma empatia que fortalece a sensação de segurança e compreensão do outro por parte do narrrador quanto do ouvinte.
d- ouvir histórias auxilia a criança a sentir-se incluída no mundo e integrada à realidade. Como os pais contam para ela que na sua idade ouviam histórias contadas pelos avós, e que ela poderá, por sua vez, contar a seus filhos, a criança pode identificar-se com os pais, projetar-se no futuro, modelar seus comportamentos e perceber-se como um elo vivo na cadeias de gerações.
e- as histórias ampliam o vocabulário infantil e transmitem por estímulos subliminares todo tipo de informação cultural e conhecimentos teóricos sobre a história, a geografia, a religião e os costumes dos povos.
A criança, ao aprender algo com o avô ou outro idoso, adquire respeito pela sabedoria adquirida, admira o outro, valoriza a tradição e deseja para si esta sabedoria enriquecida pelos anos. O ancião, por sua vez, ao ensinar, renova seu conhecimento , ao percebê-lo através dos olhos infantis; revive as boas lembranças, consolida sua auto-estima. No contato entre velhos e jovens verifica-se um enriquecimento mútuo: os velhos melhoram a atenção, a memória, a saúde e o humor; os jovens ganham em paciência e em humildade. Através da cultura, o conflito pode transformar-se em parceria, a tolerência dar lugar à integração dos novos passos no mesmo caminho antigo.
Uma cumplicidade estabelece-se entre pessoas de todas as idades e de todos os extratos sociais frente a uma manifestação cultural. Por meio de um elo invisível, já não se trata mais de ser rico ou pobre, branco, negro ou mestiço, rural ou urbano — trata-se de SER brasileiro, e neste termo 'brasileiro', ao som do Hino Nacional, todos sentem-se iguais.
A identificação dos diferentes segmentos da coletividade frente a uma equipe esportiva, defendendo o nome do país nos Jogos Olímpicos, em um campeonato mundial, ou frente a um filme que concorra a uma premiação internacional, cria um forte vínculo ante o qual desaparecem as diferenças menos significativas. Em torno do ideal cultural é possível unificar toda uma nação e motivá-la para um importante trabalho de desenvolvimento social — lembremos o que ocorreu em diversos países após a Segunda Grande Guerra.
No Brasil existem atualmente diversos grupos isolados trabalhando a cultura com a intenção de integrar à sociedade segmentos marginalizados — menores, doentes e idosos. No caso do idoso, os cursos e clubes de lazer para a Terceira Idade são um importante fator de melhora de qualidade de vida.
A solução cultural é a melhor arma de que dispomos para combater os graves problemas socioeconômicos de nosso país, pois a cultura interfere na autoestima de maneira surpreendente, atribuindo valor, identidade, disciplina e motivação para mudar. A cultura proporciona prazer em SER, FAZER e PERTENCER, sendo este o prazer sadio do bem viver, força capaz de contrapor-se ao medonho prazer das drogas e da tendência autodestruição para que se dirigem os excluídos sociais.
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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
26/5/2015 às 16h59
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A cultura e a identidade social
Quem mais?
A consciência de SER pode gerar solidão caso não haja a consciência de PERTENCER, ou seja, de compartilhar a existência com outros. Assim, o conhecimento de que outros também fazem, divulgam e apreciam o mesmo que o indivíduo, é o meio de integrá-lo à sociedade. Ser poeta é bom, mas ser um poeta brasileiro entre outros poetas brasileiros é melhor. A comparação inevitável com os outros é desafiadora e motivadora. Diga-se o mesmo para qualquer outra modalidade cultural. Ao prazer de criar, soma-se o prazer de cultivar um estilo próprio. Já não se trata mais de criar, divulgar ou apreciar arte, mas de criar, divulgar ou apreciar sob uma ótica diferente, peculiar, personalizada.
Esta identidade cultural, em diferentes níveis, vai alicerçando a consciência do povo. Fala-se e vivencia-se uma música brasileira, porém há ritmos baianos e, dentro da música regionalista baiana, aprecia-se esta ou aquele determinada tendência. Nem por isso deixamos de sentir que existe uma musicalidade comum a todos os povos e a todas as eras, pois, além de universal, a música é transcendental, ou seja, dá-nos a sensação de união com a divindade.
Esse sentimento de transcender o espaço e o tempo está presente em todas as formas de manifestação cultural. É um sentimento atávico, inerente à espécie.
Este atavismo é decorrência da necessidade de comunicação, pois quem vive, comunica-se, e o homem que se comunica, o faz necessariamente através de certos meios e símbolos. Ora, a existência de meios e símbolos de comunicação são, em si, o alicerce da cultura — o jeito de ser — de um grupo.
A formação cultural de um grupo estabelece-se alicerçada nos fatores climáticos e geográficos inicialmente, passando pelas atividades de sobrevivência mais adequadas àquele grupo, pelo tipo de alimento disponível, e a seguir pela religião e atividades de lazer que se estabelecem em decorrência das priemiras condições citadas.
Assim, onde há frio, lê-se muito, come-se grande quantidade de gordura, a solidariedade é sin6oniimo de sobrevivência. Onde há calor exercita-se o corpo, come-se frutas frescas, impera o espírito de aventura. Há uma psicologia das montanhas diversa da psicologia das planícies; o montanhês sente segurança e proteção onde os nativos das planícies percebe perigos desconhecidos; o montanhês sente-se exposto e vulnerável na amplidão que, para o nativo das planícies é a essência mesmo do seu bem-estar no mundo. É o meio influenciando o homem e moldando-o à sua imagem, sendo a seguir também moldado e modificado por ele. A mídia e as facilidades tecnológicas modernas diminuíram os contrastes sem anular as diferenças. A comunicação entre os povos estimula a compreensão e o respeito mútuo, e enriquece a humanidade.
Parte integrante da monografia:
A importância da cultura na formação do cidadão
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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
17/5/2015 às 12h21
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A cultura e a identidade pessoal
Quem sou?
A identidade alicerça-se em capacidades e em valores, no que somos capazes de compreender do mundo e no significado que damos às nossas vidas. Destaco a seguir quatro processos de a cultura influir na identidade personalizando a atuação individual:
O agente cultural:
O artista, seja ele escritor, pintor, cantor, compositor - e também o esporitsta - sente-se alguém. Alguém que é respeitado pelo que á capaz de realizar, e, na velhice, mesmo se incapaz de criar, por limitações decorrentes da idade (mãos trêmulas, declínio da voz, fraqueza muscular etc) é amiúde solicitado a transmitir suas vivências aos mais jovens. Desta forma, o indivíduo sente-se útil e é gratificante recordar as glórias passadas sentindo que contribui ainda para estimular e incentivar o ideal de uma vida.
O propagador cultural:
Há indivíduos que não criam, mas apreciam o belo, dedicando suas vidas a promover cultura. Assim, diz-se que 'o crítico literário é um autor frustrado', aforisma que pode ser estendido aos comentaristas de arte e de esportes, bem como às demais atividades críticas. Os mecenas são outra categoria de pessoas que extraem prazer estético da arte que promovem e não são capazes de criar.
Há que citar os que comercializam a arte, vendendo ou comprando os produtos culturais, grupo hoje em dia acrescido dos profissionais da mídia, com o poder de promoverem no mercado o que lhe convém, à revelia da qualidade. Ainda que interesses de lucro interfiram ou entravem a promoção dos produtos bons, em última análise esses entraves ecnômicos agem como um desafio motivador, e o julgamento de valor fica para a posteridade: o joio e o trigo separam-se aos olhos da geração futura e osgrandes gênios, que em vida passaram privações e até morreram esquecidos, recebem seu reconhecimento a posteriori. A História está cheia de exemplos de 'vitórias' fugazes, hoje relegadas ao esquecimento, e de autores e pintores geniais desprezados em vida.
Assim, agentes culturais diversos dão siginificado a suas vidas organizando, promovendo e divulgando eventos vários.
O espectador cultural:
E finalmente, há aquele que não cria nem promove e que no entanto aprecia intensamente a arte. Indivíduos assim identificam-se entre si e organizam-se em fãs clubes, cuja penetração varia desde o bate-papo informal com os amigos até a distribuição de zines e elaboração de congressos ou entidades mais ou menos sofisticadas, com a finalidade de admirar e cultuar o ídolo. Cito como exemplo o grupo de admiradores da série Jornada nas Estrelas.
Uma categoria em especial destaca-se por sua importância no resgate cultural de certas épocas ou certos ídolos: os colecionadores. O prazer de colecionar começa pela identificação com o ídolo, passa pelo orgulho de possuir objetos raros e culmina na satisfação de deter e divulgar conhecimento. Colecionadores contribuem significativamente para a preservação e para o resgate cultural de uma época ou arte específica.
Assim, na questão da identidade, a cultura elabora a identidade de quem faz, de quem divulga e de quem conhece um aspecto determinado dessa cultura. Enfim, ser alguém capaz - seja de fazer, de divulgar ou de conhecer arte - estabelece uma identidade pessoal que efetivamente enriquece uma existência.
O alienado cultural
Este é um agente às avessas, alguém que denuncia a incapacidade daquela sociedade em particular promover a integração de certos segmentos ou indivíduos. Freqüente nos governos ditatoriais, o alienado cultural evidencia a exclusão social, a opressão e a manipulação de segmentos menos poderosos nem por isso menos numerosos da sociedade.
Se a alienação cultural é um sintoma, o é antes de um doença social do que individual. Freqüentemente o alienado cultural expressa-se por meiso próprios alternativos, através de uma sub-cultura, que as elites dominantes desvalorizam, desprezam e que podem adquirir proporções de verdadeira rebelião cultural. Foi o caso do movimento Impressionista na pintura, na França, e da Semana de Arte Moderna de 1922 no Brasil. E nesses casos pode ocorrer o fenômeno da 'contra-cultura'.
Atualmente temos grafiteiros, descedentes diretos de pichadores marginalizados, que se autodenominam 'cultura de rua'. E também os raps, as danças de rua, entre outros.
Esta polarização entre a elite e os excluídos dá origem a um movimento pendular entre os extremos da comunidade de tal sorte que a História da arte é a história de uma seqüência de movimentos de polaridade: depois do romantismo segue-se o realismo, após longos períodos de valorização do espiritual, segue-se um longo período de valorização do carnal etc.
Parte integrante da monografia:
A importância da cultura na formação do cidadão
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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
12/5/2015 às 08h41
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O charmoso quadrado japonês
Seguindo a trilha das cerejeira, no mês passado, em um vilarejo chamado Shiragawago, encontrei pela primeira vez o simpático Furoshiki. (pronuncia-se furoshikí)
Foi minha amiga Helena, sansei, que exclamou:
- Ah! Um furoshiki! Como o de vovó!
Trata-se de um quadrado de pano, no qual as pessoas embrulham tudo: presentes, caixas, garrafas, livros, panelas com comidas quentes. Nós artísticos fazem a diferença nos pacotes, que podem ser carregados como cantil, bolsa de mão ou a tiracolo, ou viram flores enfeitando um mimo. Os presentes são embrulhados em seda. Para uso familiar, qualquer tecido serve. Os japoneses capricham em tecidos elaborados com padrões adequados para cada estação do ano. Na primavera, por exemplo, flores e filhotes de animais são os preferidos.
O furoshiki teve origem no período Nara (710 - 784 d.C.) para transportar os bens do Imperador. Depois, no período Heian (794 - 1185) a nobreza utilizou amplamente esse recurso para acondicionar roupas. Nas casas de banho, esse era um modo prático de separar os pertences de cada um. (Lembrando que os japoneses gostam das saunas coletivas.)
No século vinte o uso do furoshiki diminuiu por conta da popularidade dos plásticos e embalagens artificiais. Contudo, em 2006, o Ministro japonês do Meio Ambiente, Yuriko Koike, lançou uma campanha para promover o uso do origami de pano, outro apelido do furoshiki. O motivo é simples - seu uso é ecológico, evita o despercídio de sacolinhas plásticas.
Comprei a idéia e repasso. Qualquer toalha de mesa, guardanapo ou pedacinho estampado de chita, até mesmo uma canga de praia pode ser facilmente transformada em bolsa ou embrulhar um presente de forma especial.
Fica o convite ao leitor para que conheça as formas, da mais simples até a mais elegante, de amarrar o furoshiki no vídeo abaixo.
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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
3/5/2015 às 15h53
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Entrevista com a escritora Carolina Ramos
Quem é Carolina Ramos
Mais conhecida como trovadora, esta escritora santista tem um vasto currículo e 16 livros publicados.
Professora, pintora e musicista recebeu inúmeras premiações no Brasil e no exterior nos gêneros Poesia, Conto, Trovas e Crônicas. Membro de várias academias, seus principais títulos e obras estão citadas no fina do artigo.
1 - Como descobriu a sua vocação para a poesia?
Nem sei dizer. Simplesmente, aconteceu! Comecei a fazer poesias quando minha segunda filha nasceu. Deu-me um "baile" de quase 5 meses de noites mal dormidas. E, aproveitando as horas insones, sem mais nem menos, comecei a fazer versos. Tomei gosto! Como a minha tendência era para o verso acadêmico, comecei a estuda-lo com afinco. E... acabei virando poetisa. Mas, entendo, que não foi a técnica que me fez assumir essa condição e, sim, qualquer coisa que já vinha comigo e que só precisava de um pretexto para aflorar. O mais apenas ajudou!
2 - Quais os principais prêmios conquistados?
Todos os prêmios, têm sua importância, quando nos chegam. Recebo cada um deles com a mesma alegria, como se fosse o primeiro e com especial carinho, como fosse o último. Os internacionais sempre causam um "frisson" extra. E assim também acontece com a diversidade dos gêneros literários, que, de certa forma, têm peso diferente! Depois de algumas premiações em poesia, a premiação de um conto, seja lá aonde for, é algo que faz um bem especial à nossa autoestima, principalmente quando esse prêmio vem de Portugal, onde nossa língua é a mesma, porém o uso que dela fazemos nem sempre é aprovado por lá. Assim, quando meu conto, "A Cadeira Velha" , deu-me um 1º lugar num Concurso, em Lisboa, exultei!
Como, foi também uma emoção muito grande ter recebido, em sessão da Acad. Bras. de Letras, das mãos do seu Presidente, Austregésilo de Athayde, a Medalha conquistada pelo meu poema, "A lagarta e a borboleta" , que ele me trouxe de Setúbal, Portugal, sendo-me entregue pessoalmente, em Sessão pública da Acad. Brasileira de Letras, em 30/12/65.
Também o acirrado Concurso do Rotary do Rio, cujo prêmio era a cobiçada "Lira de Ouro" , verdadeira joia, disputada por 10.000 trovas, num tempo em que não havia limite para o envio delas, considero uma vitória que se destaca das demais, assim como a que me deu o título de Magnifico Trovador", conquistado em Nova Friburgo/1974. Mas, repito, todos os prêmios são bem-vindos! Confesso, que tenho como hobby participar de Concursos. Para ganhar, se possível! E, também, para perder com humildade, capaz de aplaudir quem vence, com o mesmo entusiasmo! O importante é saber que, o maior prêmio que o concorrente ganha de início, é ter feito aquela poesia, aquele texto, ou aquela trova que aquele Concurso motivou, estimulando-o a compor! O mais, é pura emoção passageira.
3 - Pode dar um exemplo de trova lírica, filosófica e humorística?
Pensando que pede trovas minhas. Aqui vão:
Lírica:
Fecho os olhos... e me invade
um torpor de nostalgia...
- abro os braços à saudade
e ela aos teus braços me guia...
Filosófica:
Guarda sempre esta mensagem
da própria vida, que diz:
- É feliz quem tem coragem
de acreditar que é feliz!
Humorística:
Bichinho cheio de manha,
terno e manso quando quer...
mas, zangado, morde e arranha...
É gato?! - Não! É mulher!
4 - Os temas trabalhados em trovas devem ser baseados em valores e sentimentos? (caridade, amor, etc.) Ou qualquer tema é passível de ser abordado pelas trovas?
A trova é uma espécie de caixa, quadradinha, que se pode transformar num porta-joias, aceitando qualquer "coisa" que, bem trabalhada pelo artífice, pode ser transformada em algo de muito valor! Os temas podem ser infinitos, e, dependendo do talento e habilidade do trovador, todos, absolutamente todos, podem caber numa trova, quer seja ela de natureza lírica, filosófica ou conceituosa, religiosa, satírica, mordaz, humorística e mesmo mista, englobando, ou mesclando, duas ou várias destas classificações.
5 - Por que a Trova é modalidade poética pouco divulgada pela mídia?
Expliquei no livro "A TROVA - Raízes e Florescimento - UBT" que a Trova, embora cultivada,"en passant", por quase todos os poetas que deixaram seu nome nos anais da nossa literatura, não conseguiu que eles se fixassem nela, porque, na verdade, a trova para ser boa exige simplicidade, humildade e caráter popular que chegue à alma dos simples, não oferecia os mesmos focos de luz que um soneto ou um poema bem elaborado. E que os catorze versos de um soneto poderiam dizer mais do que aqueles simples quatro versos de uma trova, que desprestigiada era classificada de simples quadrinha. Desconheciam o fantástico poder da síntese da Trova e os achados, que tanto a valorizam e que se constituem nas maiores dificuldades que enfrenta o autor ao compor uma trova. Em outras palavras, a Trova não lhes dava Ibope.
A partir da criação da UBT por Luiz Otávio, a Trova ganhou terreno, bons poetas por ela se interessaram e aos poucos foi aceita nas Academias de Letras. A Trova estendeu-se, do Brasil à Europa num rumo inverso o que muito nos lisonjeia! E quem, ainda hoje, não lhe dá o devido valor é porque está por fora do que, na verdade, acontece na nossa literatura. A poesia trovadoresca é a que mais perto chegou da alma do povo brasileiro que, fugindo ao preciosismo, ao hermetismo e até a um certo pedantismo que algumas vezes lhe oferecem outros gêneros, aceita a Trova como um
pingo de mel que adoça seus lábios e lhes chega ao coração levando-lhes lirismo, ensinamentos, filosofia, ou seja, o infinito que ela carrega dentro de si! A mídia, infelizmente, ainda não descobriu isto!
Jogos Florais de Santos, 2014
6 - É possível viver no Brasil, como escritor, mais especificamente, como poeta?
Acho muito difícil "viver no Brasil" (e em outro lugar também) como escritor e muito mais ainda, como poeta. Claro, que devem existir exceções!
Mas é preciso nestes casos que estejam presentes, não apenas o talento do escritor ou do poeta , mas ,também, uma série de circunstâncias muito especiais, difíceis de se casarem com os desejos de quem espera ascender, sem combustível suficiente ou, então, alguém que ajude a sua ascensão.
Sabem, aqueles que se apaixonam e se entregam às letras, que a melhor "remuneração" que um escritor, e, principalmente, um poeta, pode esperar como resposta aos seus esforços e dedicação é a sentir que sua mensagem encontrou verdadeiramente ressonância no coração de alguém. Esta é a suprema gratificação! O mais, é ilusório e fugaz, que pode amaciar o ego e aquela vaidadezinha, inevitável, que lhe serve de berço e lhe dá certo status mas que absolutamente não lhe garante o pão e nem o sustento dos filhos. Salvo exceções, que no momento não me ocorrem, o escritor que vive confortavelmente, e, sem preocupações econômicas, tem atrás de si uma estrutura anterior, que lhe assegura e resguarda o bem estar, permitindo-lhe viajar, gostosamente, pelo Mundo das Letras. É então o que se pode chamar de um artista privilegiado. E para que se possa beneficiar, tirando partido disso, é preciso que, conscientizado e sem se deixar arrebatar, seja capaz de, manter fluente, essa substancial fonte de rendas que o sustenta, em paralelo às demais, que, mais atrativas, alimentam seus sonhos.
7- Atualmente, como é o seu dia a dia? Como divide o seu tempo entre escrever, ler...
Sou mulher e a mulher dificilmente se aposenta, a não ser por auto deficiências que lhe dão um basta, quando ainda talvez desejasse continuar. Aposentadoria, só no papel! Filhos criados, divido meu tempo com o marido, os afazeres domésticos que não delego a ninguém, contratando alguém de 15 em 15 dias para me ajudar. Claro que não sou mais aquela dona de casa que eu era, e entre uma vassoura usada com menor frequência, eu diria que prefiro, não a caneta, ultrapassada, mas o teclado do computador, que é mais ágil e me ajuda a pescar as ideias que tecem os meus escritos, que hoje, não querem mais saber de rascunhos.
Criei meus filhos sem deixar de compor. Meus três primeiros livros pertencem a esse tempo. Escrevo muitas vezes, mentalmente, enquanto trabalho. E depois despejo tudo no computador. Durante o dia minha escrita é entrecortada de interrupções. Assim tornei-me boêmia das madrugadas varando noites, quando o que tenho a escrever exige maior concentração. Sou consciente de que isto me prejudica. Mas, fazer o quê?!
Quanto à leitura, posso dizer sem erro, que hoje escrevo mais do que leio. Mesmo assim, geralmente leio de dois a três livros ao mesmo tempo, dependendo de onde os deixo. Por vezes, confesso, percorro algumas páginas centrais obliquamente, porque, hoje, minha visão, algo precária, tornou-me obrigatoriamente seletiva. Em jovem, fui leitora voraz! Jornais, em geral, só pela manhã!
8 - Falando em e-books, hoje, com novas tecnologias, muito se ouve falar sobre esse mercado. Como escritora, como você vê essa tendência?
Ainda não estou bem afeita a essas "novidades" que às vezes me atrapalham um pouco quando tento abraça-las, já que as considero pertencentes a um tempo que ainda é meu. Embora considere uma surpresa bem cômoda, ler um livro numa tela iluminada, sem ter de busca-lo numa biblioteca, causa-me maior prazer, lê-lo, página por página, sem sentir meus olhos violentados pelo brilho de uma tela. E, depois de saboreado o seu conteúdo, fechar este livro, com carinho, dando-lhe um lugar numa estante, sabendo-o sempre ao alcance da mão, quando o quisesse reler, para mim, pelo menos, não tem preço! Festejo as novas conquistas eletrônicas como dinâmicos meios de divulgação, mas não creio que venham a fazer sombra aos livros editados normalmente, ao menos para os que os aprenderam a ama-los, tendo-os como companheiros fieis durante toda a sua existência!
9 - Fique à vontade para deixar um recado aos leitores do site.
Que posso dizer àqueles que, pacientemente, leram minhas considerações? Um recado? Que seja este:
- Mais amor, menos ódios, mais fraternidade, respeito, compreensão e fé! O mundo está sumamente carente de tudo isto! E, no entanto, só através de tudo isto é que alcançaremos a tão desejada PAZ! Só assim poderemos ter certeza de que a poesia, hoje em perigo, não morrerá! E o Homem, que aos poucos se embrutece, conscientemente, há de voltar a ser gente!
Livros publicados:
"Sempre" de Poesias, 1968
Cantigas feitas de Sonho ,Trovas, 1969
Rui Ribeiro Couto - Vida e Obra (Biografia)
Trovas que Cantam por mim
Interlúdio (contos)
Paulo Setúbal - Vida e Obra , (biografia) co-autoria/Cláudio de Cápua
Feliz Natal (contos natalinos)
Príncipe da Trova (Biografia e História da Trova no Brasil)
Saga de uma Vida (biografia)
Um Amigo Especial (ficção para a juventude)
Júlia Lopes de Almeida (biografia)
Liberdade - Sonho de Todos (prosa e verso) EditoraAção, 2010.
Destino , 2011
Títulos, prêmios e agremiações:
Membro da Academia Cristã de Letras de S. Paulo.
Acad. Santista de Letras
Acad. Fem. de Ciências, Letras e Artes de Santos
Acad. Peruibense de Letras
IHGS - Instituto Histórico e Geográfico de Santos (que presidiu por 7 anos), Pres. da UBT-União Bras. de Trovadores/Seção/Santos
Título de "Magnífico Trovador".
Homenagens e Prêmios Honoríficos recebidos por sua atuação cultural: Medalha do Sesquicentenário de Santos
Medalha de Honra ao Mérito " Brás Cubas"/Câmara santista
Medalha José Bonifácio, do IHGS - Instituto Histórico e Geográfico de Santos
Medalha "Luiz Otávio", comemorativa do Centenário do Poeta.(UBT - Seção Porto Alegre)
As fotos desta entrevista foram montagens feitas a partir de originais cedidos pelo jornalista João Paulo Ouverney
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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
27/3/2015 às 20h46
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