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Quinta-feira, 5/11/2015
Blog de Sonia Regina Rocha Rodrigues
Sonia Regina Rocha Rodrigues
 
Símbolos na literatura - segunda parte

Esta é a tradução de uma aula de Lance Eaton, cujo curso de literatura na universidade canadense North Shore Community College está disponível em inglês, pela internet, no youtube.

Fenômenos climáticos.

O meio ambiente nos influencia e impacta acontecimentos.
Daí o autor pode viajar, delirar no siginficado que quer dar ao clima em sua história.
Lembrando sempre que o uso de ironia no texto descontrói tudo o que foi dito acima.

1 - Chuva - Porque chove? Qual o propósito dessa chuva?

Algumas possibilidades seriam:
Democrática - cai sobre todos.
Aumenta as dificuldades do enredo.
Lava, limpa o personagem.
É importante para o enredo.

Inundações, garoa, chuva de verão, cada uma remete a significados um pouquinho diferentes:
limpeza, fertilidade, destruição, vulnerabilidade, envolvimento pessoal.

2 - Névoa - confusão, uma ponte para outra realidade.
Ex - As brumas de Avalon.
Nevoeiro é comum em contos de mistério.

3 - Arco-íris - é mágico, encantador, a manifestação de um poder mais alto. (o arco da aliança bíblico)
4 - Neve - limpeza, morte e perigo.

5 - Significados dos espaços.
Casa - para Jung, a casa é nossa casa mental , nossa saúde psíquica.
Nostalgia de tempos felizes, segurança, lembranças familiares ou de infância.

6 - Tuneis, canos e cavidades.

O útero é a primeira cavidade conhecida pelo ser. Pode significar um desejo de proteção ou de regressão.
O individuo caminha no escuro, portanto remete ao fato de se sentir perdido, em perigo ou aprisionado em uma armadilha, buscando a saída de uma situação obscura, tortuosa. Quando existem altos e baixos o significado e semelhante ao de estar em um mar agitado com ondas: os altos e baixos, a instabilidade dasituação.

7 - Direções (e aqui o significado é bem pessoal da cultura americana)

oeste = fronteira, pioneirismo, individualismo
este = civilização
sul = aventura (por causa do México)
norte = desafio (por causa do gelo)

Norte, em qualquer cultura, tem o significado e encontrar o que se busca, a bússola nos indica o norte.

8 - Estações do ano.
Primavera - juventude, alegria, fertilidade.
Verão - desabrochar, a vida adulta (O grande Gatsby, por exemplo, um romance sobre a vida adulta, passa-se no verão)
Outono - meia idade, o período das recompensas e das punições pelas escolhas feitas na vida.
Inverno - velhice, decadência, morte estagnação. A conclusão de um ciclo.

Eu, sinceramente, acho meio forçado alguns desses significados. O autor não deve e nem precisa escrever sobre velhos no inverno e nem fazer chover cada vez que seus namorados brigam. Jane Austen e Bridget Jones já banalizaram os pingos todos!





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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
5/11/2015 às 18h38

 
Hermann Hesse - um caso de amor à primeria palavra



Apaixonei-me por Hermann Hesse aos quinze anos de idade, ao abrir por acaso um de seus livros e deparar com as palavras:

Teatro mágico - só para loucos.

Comprei o livro, que devorei ansiosa, para descobrir o que era o tal teatro mágico, dentro do qual o personagem senta-se diante de um tabuleiro de xadrez para elaborar sua própria vida. O título era O Lobo da Estepe, e, na época, eu também era uma loba solitária, a uivar incompreendida pela vida. (por que será que, na adolescência, temos esta incrível necessidade de sermos rebeldes incompreendidos?)
Hermann Hesse influenciou profundamente meu pensamento adolescente. Copiei e colei na porta de meu quarto o poema chinês que ele colocou à entrada de sua casa, clamando por solidão e por paz, pois, em minha adolescência, eu tinha oitenta anos. (hoje tenho quinze, quem disse que a idade da alma á cronológica?) Em meio ao sofrimento do pós-guerra, este alemão revela a esperança do gesto solidário, esperança que brota de nossa própria atitude interior de tolerância e aceitação do outro, da vida.
Homem que muito sofreu, adquiriu sabedoria, pois o sofrimento é alquímico: a dor é a pedra filosofal que transmuta o barro da ignorância no ouro da espiritualidade.
Hesse foi um buscador e vários de seus livros são de cunho autobiográfico, mas daquela biografia interior, narrando as peripécias da alma em sua busca por um sentido.
'Esta foi a história de minha mocidade. Quando a relembro, parece-me que foi breve, curta como uma noite de verão. Um pouco de música, um pouco de amor, um pouco de vaidade - mas foi bela, generosa e colorida como uma festa do Elêusis. E apagou-se, rápida e miseravelmente como uma vela ao vento.'
É Peter Carmezind que mais me toca, a história do homem simples, obscuro, que não sabe expressar-se por palavras e contudo é cruelmente dilacerado pelo instinto da beleza, pelas emoções que ele não consegue ( e deseja desesperadamente) transmitir:

'Que significado tivera minha vida e por que tantas alegrias e tantas dores haviam pesado sobre mim? Por que tivera eu a sede do verdadeiro e do belo, quando continuava ainda sequioso?... E por que motivo Deus, cujos desígnios não compreendemos, colocara dentro de meu coração aquela ânsia abrasadora de amor, já que ele me destinara a uma vida de homem solitário e pouco amado?'

Uma leitura complexa, enriquecedora. Experimente.

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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
4/11/2015 às 08h56

 
Lá na ponte de Avignon, todo mundo passa...

Além de receitas deliciosas e de paisagens incríveis, a França tem foclore Vamos falar sobre a ponte Saint-Benezèt - a famosa ponte d'Avignon.

Uma canção histórica
fonte: Danièle Badois, Mission de l'Inventaire Historique d'Avignon
Arquives Municipales d'Avignon
(à l'affiche de la pont Saint- Benèzet - fundada em 1117)

Visitando o Palácio dos Papas, em Avignon, França, temos acesso à famosa ponte da canção, e a um acervo de informações interessantes.
Há registros de canções sobre a ponte desde o seculo XV, mas as primeiras canções se perderam; eram chamadas 'complaintes des oreillers' (em ingles pillow songs)
É em 1503, em Veneza que se tem o primeiro registro, pelo editor de músicas Ottaviano Pettrucci de Fossombrone, que apresenta esta fórmula simples:

Sur la pont d'Avignon
Ma belle passe et repasse.

Em 1575, existe um manuscrito musical escrito pot Lucques, com a letra:

Sur le pont d`Avignon
J'ouys chanter la belle,
Qui en son chant disoit
Une chanson nouvelle.

Em 1602 há uma canção conhecida como La Péronelle:

N`a vous point vue la Peronelle
Que les gents d'armes ont amenée
Et où?
Sur le pont d'Avignon j'ay ouy chanter la belle
Qui dans son chant disait une chanson nouvelle
Et quelle?

Em 1711 é recolhido outra adaptação ao gosto da época chamada Brunettes et Petits Airs Tendres

Sur le pont d'Avignon
J'ay ouy chanter la belle
Qui dans son chant disait:
Et baise-moi, tandis que tu me tiens
Tu ne me tiendras plus guère

Em 1811, le pont Saint-Bénezet, que estava em ruínas devido às enchentes do Ródano, é restaurada e sua reinauguração é saudada pelos habitantes de Avignon com a canção tradicional remodelada:

Sur le pont d'Avignon
Désormais, sans bac ni bateau (bis)
A son aise on peut passer l'eau (bis)
Chacun salue à sa façon.

Les beaux messieurs font comme ça
Et puis encore comm'ça
Leur chapeau passa, repassa
Les belles dames font comm'ça


Le pont étant bien étrenné (bis)
Chez soi chacun est retourné


Em 1843, Du Merson dá ao texto a forma mais próxima pela qual a conhecemos nos dias atuais, em seu Chansons et Rondes enfantines:

Sur le pont d'Avignon
Tout le monde y danse, danse
Sur le pont d'Avignon
Tout le monde y danse en rond.

Em 2 de fevereiro de 1853, l'Opéra Comique de Paris, o compositor Adolphe Adam introduz a canção, fixando o ritmo e a letra em sua opereta, adaptação da peça Le Sourd ou l'Auberge pleine.
A seguir seguem-se diversas produções artísticas com sucesso internacional, em 1876, em 1937 (autoria de Liette de Lahitte com música de Jane Vieu), e 1958, com o compositor alemão Karl Marx.
Enfim, a música é hoje um patrimônio cultural mundial.

Quem foi Benezèt?
(informações orais do guia em Avignon)
Conta a lenda que Benezèt era um jovem pastor de 17 anos que um dia ouviu a voz de Deus lhe dizendo para construir uma ponte sobre o Ródano, com acesso ao palácio do Papa. O pastor foi até o papado, onde ao ser recebido em audiência, assombrou o papa Clemente V com sua estranha proposta. O Papa, atônito, ficou calado, mas todos os presentes gargalharam.
A ponte era necessária pois as pessoas da outra margem ficavam separadas pelas fortes correntezas do rio; o pastor, para provar sua missão divina, carregou sozinho nos ombros uma enorme pedra e a colocou no leito do rio - essa foi a pedra fundamental da ponte.
As enchentes do Ródano são extremamente fortes em certos anos, pois recebe água das geleiras na primavera, e a ponte foi parcialmente destruída muitas vezes; dos seus 22 arcos originais só restatam 4. Atualmente existe uma reclusa acima de Avignon, e uma nova ponte, mais moderna, substituiu a ponte Benezet na função de circulação rodoviária.
Benezet morreu durante a obra, aos 25 anos. Foi enterrado numa capela feita sobre o terceiro arco da ponte. Tornou-se o santo patrono de Avignon. Depois de quase 500 anos seus restos mortais foram removidos e estão na igreja de Saint Didier em Avignon.



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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
26/10/2015 às 21h01

 
Um tema interessante.- símbolos na literatura - 1

Em minhas escavações pela internet, garimpei esta outra pérola, que traduzo, resumo e partilho com meus leitores.

Esta é a tradução de uma aula de Lance Eaton, cujo curso de literatura na universidade canadense North Shore Community College está disponível em inglês, pela internet, no youtube.

Portando, algumas coisas se aplicam ao modo de pensar americano, como, por exemplo, os pontos cardeais e estações climáticas, que no hemisfério sul são invertidas ou completamente diversas. Por outro lado, é bom lembrar a máxima de Freud: "Algumas vezes, um charuro é simplesmente um charuto"... o mesmo diga-se dos símbolos, que, algumas vezes, são apenas o que aparentam ser.

Símbolos - parte I

Isto é um símbolo?
Sim, mas símbolo do que?
(não existe significado fixo para um símbolo, exceto no caso das alegorias)
Ações e objetos podem ser usados para "ligar os pontos" do enredo.
Que sentimentos são disparados por esses símbolos?


Intertextualidade
As histórias não existem no vácuo. O leitor precisa saber do que você está falando! Um texto muito particular, tão hermético que somente seu autor entenda, não vai ser lido.
É necessário copiar, referendar, conectar as histórias com histórias anteriores, e, no processo, o texto enriquece, fica mais significativo.

Fontes populares de intertextualidade: autores clássicos; a Biblia (nomes de personagens, tempos históricos, profecias, lugares históricos); contos folclóricos e de fadas; mitologias com suas sagas, lugares e aventuras.

Sondando os símbolos:

1 - Comida - comer é compartilhar, relacionar-se. A refeição nos fala sobre o relacionamento entre aquelas pessoas. (no contexto literário!)
Existem curiosas interpretações psicanalíticas de comida e sexo, mas esse é outro campo.

2 - Vampiros - os reais e os simbólicos.
Vampiros reais tem implicações sexuais. Literalmente. Todo adolescente tem sua fase "leitor de vampiros", está ensaiando seu medo e seu fascínio pelo sexo.
Vampiros simbólicos retiram algo das pessoas em volta, drenam suas energias.

3 - Violência - as forças externas da natureza e as forças internas das pessoas.
Externas naturais - são referências literárias ao que é difícil de se alcançar ou obstáculos.
Internas - dizem respeito à natureza humana, e nos questionama sobre:
Como esta violência se expressa ou ecoa em nós?
Essa violência faz sentido ou atiça outro tipo de violência?
Essa violência se conecta a outras situações violentas?

4 - Política
Lembrando que autores canalizam sua própria cultura e expressam os políticos de seu mundo.
(muito cuidado ao ler política de outras culturas, com nossas lentes culturais!)
Temas políticos comuns: o homem na sociedade / os desafios das estruturas de poder / justiça / ficção científica / aceitar o outro apesar de suas diferenças

5 - Voar de avião - as leituras mais comuns são as do voo realizado e a do voo interrompido.
Siginificados mais comuns - retornar para casa, espiritualidade, sexo, amor, liberdade.

6 - Batismo em suas diversas modalidades = iniciação.
Possíveis meios utilizados (literal ou simbolicamente) - água, fogo, terra, chuva, neve.
Geralmente é um renascimento (percepção de um novo nível existencial) ou uma renovação (uma nova oportunidade)

7 - Sexo (sempre á sempre mais do que a censura percebe)
Atentar para a presença de símbolos clássicos da psicanálise - falos para o masculino e cavidades para o feminino.
Em literatura o sexo nunca á apenas sexo. Remete ao âmago do ser, à sua identidade profunda.
Se não for assim, é sensacionalismo mesmo.



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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
24/10/2015 às 12h06

 
Dicas para escrever melhor

Como é maravilhoso viver no século XXI! Centenas, milhares de livros, vídeos e notícias para garimpar no mundo virtual.
Atenção. eu disse garimpar. Não surfar. Surfando você se diverte mas fica na superfície. Nas profundezas há pérolas raras, a maioria em outro idioma. Uma dessas pérolas é o site Write to Done que oferece entre outras coisas, gratuitamente, um ebook de Mary Jaksch para baixar (ou seja, é domínio público)



Faço aqui uma sinopse do conteúdo, útil para quem quer melhorar sua redação para ENEM, vestibular, ou mesmo trabalhos acadêmicos e textos literários.

1 - Distancie-se de seu texto.
Imagine que você está a ler um texto de outra pessoa. Se você se sentir esquisito, saiba que muitos autores de sucesso também odeiam seus primeiros rascunhos.

2 - Deixe o texto dormir.
Enfie o texto em uma gaveta e olhe para ele somente 24 hotas depois. Principalmente se você escreveu no calor da emoção, evita situações constrangedoras, como aquela carta enfurecida para o chefe ... que poderia acabar com sua carreira.

3 - Mude a forma.
Coloque o texto em outro formato, Mude a fonte, o tamanho, a cor. Isso ajuda a corrigir falhas cimples de digitação, pois noss océrebro automaticamente "preenc e lac nas e corrige pequennos erross. Persebeu?"

4 - Mude o local de leitura.
Editar um texto pode toranr-se aborrecido. Ir para outro aposento, cadeira ou até movimentar-se durante o trabalho ajuda a melhorar a atençao.

5 - Eliminar distrações.
Atenção plena - foco - é esencial. Ao revisar seu texto, desligue telefone, feche todas as janelas de seu computador, fique sozinha e concentre-se.

6 - Pense em seu leitor.
Visualizar o leitor lendo seu texto afeta sua escolha de expressões, palavras e estilo. Escrever para o blog lido por seus amigos, para uma coluna de jornal ou pra uma banca acadeêmica requer linguagens distintas.

7 - Comece com uma visão geral.
Procure clareza, consistência e fluxo narrativo. Pergunte-se de que maneira cada parágrafo contribrui para a ideia central. Faça as modificações estruturais necessárias peguntando "qual é o ponto relevante?"

8 - Corte o supérfluo.
Seja brutal. elimine redundãncias e informações desnecessárias.
Em outras palavras, se você repete uma ideia, deixa a mesma coisa de maneira parecida, coloca adjetivos sinonimos para reforçar o que já disse antes...bem, leitor, você já entendeu e este parágrafo é totalmente inútil, certo?

9 - GPS gramatical.
Conheça seus maneirismos de linguagem. Todos temos expressões preferidas:
Pensando melhor...Realmente...O que eu quero dizer é...
Procure por palavras repetidas e enriqueça seu texto com sinônimos. Quanto à pontuação e gramática, eu, pessoalmente, não abro mão de consultar um professor de português, já que os senhores gramáticos insistem em judiar com reformas e mais reformas a coitadinha da língua portuguesa.

10 - Leia o texto de trás para diante.
Uma excelente maneira de verificar se aconclusão está tão carpichada como a introdução.

Seguir essas instruçòes simples vai poupar o redator de cometer enganos óbvios e deixar o texto agradável de ler.

Mãos ao teclado!

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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
22/10/2015 às 17h39

 
Poetas são diferentes



"Num dos raros sonhos meus
e tavez no mais bonito,
eu peguei nas mãos de Deus
e rezamos no infinito".

...declamou o poeta Antonio Colavite Filho, trovador há 35 anos, em uma festividade no Orquidário de Santos.
Aqueles que focam no espiritual envelhecem com bom humor, sabedoria e gratidão pela vida. A saúde mental consiste em focar nos sentimentos e pensamentos positivos: beleza, harmonia, amizade, solidariedade.
A saúde física acompanha as boas disposições do espírito. Sofre menos quem ama mais. Quem participou dos Jogos Florais de Santos pôde verificar que, entre poetas de todas as idades, os mais animados são os mais velhos, cujas trovas, como vinho, melhoram a cada ano. Colecionando prêmios e amigos, essas almas inspiradas viajam felizes pela vida e pela arte.
Desde bem moça eu vivo em meio de artistas. Pintores, músicos, atores e escritores. A criatividade acrescenta um encanto peculiar à vida. Ninguém se aborrece ao lado dos artistas. Eles têm a capacidade de reinventar a vida, fazem da monotonia a oportunidade de olhar com olhos novos o cotidiano.
Artistas dão à vida o melhor de si.
Cada arte tem a sua própria maneira de moldar o cérebro do artista. Os trovadores são os que mais me encantam. A alegria deles é contagiante. Se reclamam de algo, é com humor, com piada. Estão sempre a brincar com as palavras. São solidários e espalham carinho em festas voluntárias em asilos, escolas e instituições variadas.
Trova é citada como gênero menor, vende pouco, não é mais divulgada em almanaques e suplementos literários. O importante é que haja trovadores, perpetuando um modo de vida dos "velhos tempos que não voltam mais". O ponto é que os novos tempos podem ser até melhores!Depende apenas de cada um de nós.
Novos tempos para as gerações futuras. Novos tempos para nós mesmos.
Envelhecer com dignidade e deixar boa marca no mundo está ao alcance de cada ser humano, a escolha é pessoal.
"Nunca respeite ninguém pelos seus cabelos brancos. Os canalhas também envelhecem." é o alerta que nos deixou Victor Hugo.
O indivíduo que passou a vida no crime não vira santo ao envelhecer. A hipocrisia do mundo poucas vezes é tão nojenta como na visão do velho tarado, do corrupto inveterado, do mentiroso compulsivo, que, como escorpiões, envenenam qualquer membro da família que for tolo o bastante para apiedar-se dele.
Quem quer respeito, deve se respeitável e respeitador. Quem quer amor, deve ser amável e amoroso.
Certamente as punições por crimes não prescrevem porque o criminosos envelhece! A meu ver a idade avançada, inclusive, deveria ser um fator agravante! Viveu e não aprendeu? Ainda por cima dá mau exemplo? Pena em dobro!
Triste perceber que tantos passam a vida reclamando. Outros desperdiçam os anos perseguindo prazeres materiais e efêmeros.

Os artistas são o contra-exemplo. Transformam as asperezas da vida em sonhos, textos inspiradores, cores deslumbrantes, formas ousadas, rimas preciosas.
Poetas dão ao material o justo valor enquanto buscam a eternidade.
Cada um, portanto, envelhece a seu modo.
A boa notícia é que você pode escolher como quer envelhecer. Tolo? Canalha? Generoso? Sábio?
Eu já escolhi. Quero envelhecer como os poetas.





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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
14/10/2015 às 19h11

 
Mês de outubro - vamos refletir sobre paternidade?

Um litro de continental
(conto integrante do livro É suave a noite)

- Afinal, o que é que vai levar?
_Já disse, um litro de Continental.
_- Freguês, decida-se. Vai o leite ou vai o cigarro?
- Acho que arregalei os olhos de surpresa. Desde a tarde anterior eu estava doido por uma tragada.
Naquela manhã eu estava tão desesperado para fumar que nem café tomei. Empurrei Míriam com brutalidade quando ela veio dizer que acabara o leite e pedir para inteirar uns trocados para a mamadeira. Virei bicho.
Nosso dinheiro é guardado em uma caixa, cada centavo cuidadosamente separado: para aluguel, luz, condução, meus cigarros, feira, gás, o leite do bebê e o resto sai do salário dela. Nada mais justo, já que o moleque é dela. Quando ela veio morar comigo, já estava de barriga.
Eu disse a ela que se virasse, pois se o dinheiro do leite acabara, ela o gastar em alguma outra coisa. Se ela não sabe cuidar do dinheiro, azar dela.
Eu era assim, grosso, estúpido - um ignorantão. Mas eu estava cheio de razão. Levanto de madrugada, me ralo de trabalhar, tenho direito a meu prazer, não é certo?
Assim convencido, e doido para fumar, respondi ao homem no balcão:
_Vai o leite.
_E o cigarro?
_Parei.
Minha voz estava baixa e triste. Que diabos! Eu queria e muito uma boa tragada!
Voltei para casa confuso, sentindo-me leve. Entrei na cozinha e falei:
_Taí o leite do menino.
Então pequei o bacorinho no colo e foi como se o visse pela primeira vez.
A voz da companheira saiu engasgada e tímida:
_Não carecia. O menino não é teu.
_Deixe de falar bobagem, mulher. Pai não é quem faz, não, é quem cria.
Deitei o menino no berço e fui buscar o resto do dinheiro do cigarro. Coloquei o rolo de notas em cima da mesa e expliquei:
_Este dinheiro aqui é para leite, fruta e alguma coisinha de que nosso filho precise.
Míriam mexia o mingau no fogão muito quieta, de olhos fixos na colher de pau.
_Sabe como é, mulher, já que eu vou fazer isso, é melhor fazer direito. - eu estava gaguejando, e aí saí-me com esta doideira - Eu faço questão de dar bom exemplo, e comecei hoje, parando de fumar.
Já se passaram três anos e eu nunca mais fumei. E quer saber? Foi a partir desse dia que eu acertei na vida.



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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
10/10/2015 às 20h24

 
A um aspirante a escritor




Todo médico conhece os princípios da cirurgia, mesmo que seja um clínico; sabe os fundamentos da homeopatia, mesmo sendo alopata; é capaz de fazer um parto, mesmo não sendo obstetra; e estudou a evolução das ciências médicas, embora não ande por aí a receitar cataplasmas ou a aplicar sanguessugas.
Quem já ouviu falar de um pintor que desconhece a perspectiva? Que não tem noção de anatomia? Que ignora a teoria das cores? Que não tem a menor noção de história da arte? Não importa a qual escola pertença, um artista conhece sua arte a fundo. Um pintor não precisa pintar como um impressionista, nem ao menos gostar do impressionismo, mas ele sabe do que se trata.
Diga-se o mesmo de qualquer arte, de qualquer ciência. Para conhecer, no entanto, é preciso estudar.
Não se concebe, portanto, um escritor que não leia e que desconheça a história da literatura. Quem escreve só para si não faz literatura, faz diário.
Sabe aquela história original que você imaginou, em que acordava transformado em um inseto? Pois bem, ela já existe, foi escrita por um autor genial, Kafka, e se você publicá-la, vão chamá-lo de plagiador. Quem conhece, evita o vexame de apresentar como idéia nova e sua algo que o mundo está cansado de saber; pelo menos tem a chance de reestudar a idéia, encontrar para ela uma roupagem nova, um novo sentido, um aspecto de modernidade.
Se você gosta de escrever, leia. Não se limite a decorar regras. Um soneto não é apenas determinado número de versos alexandrinos dispostos de uma certa forma, um soneto tem alma. Se você quer que seus escritos tenham alma, beba direto da fonte da imortalidade - os clássicos. Não é à toa que os imortais da literatura são assim chamados. Se você quer escrever como um imortal, faça amizade com eles, lendo, devorando suas obras.
Não se limite ao moderno. Não se restrinja aos autores de língua portuguesa. Leia tudo. Leia. Leia. Leia.
Leia os ingleses, os russos, os gregos, os latinos. À sua disposição estão vinte e cinco séculos de escrita e mais de uma centena de povos contribuindo para enriquecer a cultura do planeta Terra.
Seja um ávido e curioso leitor.
Não acredite que a inspiração resolve tudo. Se você tem o dom, lembre-se de que não é o único a tê-lo.
Um pintor que se limita a divertir-se com as tintas, um escultor que só deseja preencher o vazio das horas ociosas, não são artistas, são artesãos.
O médico que não vai além da aspirina nossa de cada dia é um reles curandeiro.
Não seja humilde. Tenha a ambição de tudo conhecer, de dominar fundo as possibilidades da palavra.
Pode ser que você não se torne um imortal, afinal de contas, nem todos nascem para Shakespeare, mas sem dúvida você vai romper seus limites e voar.
Eu lhe garanto que é divertido.
Voe!







para saber mais sobre a autora visite sua pagina

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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
7/10/2015 às 14h49

 
carta aberta a Anete Guimarães

A conhecida palestrante espírita Anete Guimarães fez uma palestra em que critica os ateus, segundo ela, perigosos materialistas que podem destruir nossas famílias. A crítica é motivada pela noticia de que a Grande Igreja do Espaguete Voador abrirá uma sede no Brasil. Critico aqui o uso que ela faz da palavra ateu, sem entrar no mérito nem na polêmica dos comedores de macarrão voador.

No que discordo de seu discurso, cara Anete, é sua definição de ateu.
Quem são os ateus?
O dicionário esclarece: aquele que não crê em Deus.
Cito um ateu famoso, esclarecendo sua opção em suas próprias palavras:

"As religiões nunca serviram para aproximar os seres humanos. As religiões serviram sempre para dividir. A história de uma religião é sempre uma história do sofrimento que se inflige, que se autoinflige ou se inflige aos seguidores de outra e qualquer religião. E isto parece-me de tal modo absurdo que creio mesmo que o lugar do absurdo é por excelência a religião. () O mundo seria mais pacífico se todos fôssemos ateus.
José Saramago, As Palavras de Saramago - Cia das Letras."> Um ateu não é mau. Não é materialista. Nem ganancioso. Um ateu não deseja eutanásia, eugenia ou riqueza à custa da exploração alheia. Peço a Anete que reveja seu conceito, pois em uma palestra recente, falando sobre a Grande Igreja do Espaguete Voador, a cara colega (também sou médica) delirou. Ateu é simplesmente quem não acredita em Deus. alguns, como Saramago, apresentam excelentes motivos para sua opção.
Compreendo sua apreensão quanto ao grupo de cientistas ateus que representam uma influência forte para crianças e jovens, com suas idéias materialistas. Veja bem: idéias do Espaguete Voador, e não de todos os ateus do mundo! Seria o mesmo que condenar todos os cristãos pelas fogueiras da Inquisição!
Não entro no mérito da palestra, excelente, enfocando bem a necessidade das pessoas ditas religiosas serem coerentes em seu comportamento, sob o risco de serem contestadas em argumentos lógicos pelos seus filhos, coisa que aliás sempre aconteceu, independentemente de grupos que façam pouco das religiões. Muita gente se diz religiosos "não praticante", um absurdo, pois, se não pratico a religião, não sou seguidor. A outra hipótese, citada por Anete, é a hipocrisia. Convenhamos, a hipocrisia dos pais afeta mais o comportamento dos filhos que um grupo de gente estranha, pelo menos os pais estão em contato diário e têm como influenciar enormemente os pequenos.
Conheço algusn ateus que não cito porque não são famosos e não podem servir de contra exemplo. Posso citar um caso na contra mão de seu discurso, do escritor e psiquiatra Augusto Cury, que ao procurar dismitificar Deus, estudou a personalidade de Cristo e se tornou cristão.
Portanto, uma primeira categoria de ateu se apresenta: o ignorante. Ao estudar, percebe uma outra realidade e se converte, espontanamente.
O caso de José Saramago é outro, eu diria que é o da maioria dos ateus que conheço: é o indignado. Ele é genoroso, preocupoa-se com seus semelhantes e depara-se com um mundo hostil. Os personagens de seus livros são pessoas que enfrentam com dignidade as adversidades de um mundo caótico. Por exemplo, em Ensaio sobre a cegueira, uma cidade inteira é redimida da estranha doença que se abateu sobre eles pela única personagem que não foi afetada e que mostrou empatia pelo sentimento dos demais. Saramago estimula a solidariedade, do tipo que a senhora chamaria de caridade verdadeira.
Saramago é importante, famoso, rico. Nem sempre foi assim. O dinheiro não o deformou. ele é um ateu generoso que predere acreditar no ser humano, que pode consertar com amor o mudno caótico sem deus, porque ele raciocina assim "se houvesse um Deus, Ele não permitiria tanta maldade".
Há ateus generosos, que fazem o que é preciso ser feito, que amam, que oferecem auxílio a desconhecidos em dificuldades, apenas porque é o certo a ser feito,, afirmando "se eu estivesse no lugar dele, gostaria de receber apoio". Simples e coerente.
Sarmago investiu muito de seu dinheiro em cultura, incentivou jovens escritores, reconstruiu a cidade de Maputo destruída por uma inundação. e o escritor Mia Couto divulgou um depoimento tocante a respeito de como ele enviou um cheque vultoso e quando chamado para ser homenageado na inauguração de um posto de saúde construído com uma parte do dinheiro enviado parecia constrangido, e ficou comovido com o fato de darem ã construção o nome de um de seus romances, Levantado do chão.
Esse ateu Anete,e tantos outros, não cabe no saco de gatos onde a senhora os colocou, rotulados de "perigosos materialistas". Perigoso? Saramago? Não acredito. Perigosos, a meu ver, são os fanáticos religiosos, os fundamentalistas, os inquisidores, gente de mente fechada que chama cientistas de bruxos e queima gente viva, que "em nome de Deus" faz guerra. Espere aí. Deus disse "não matar"em todos os credos religiosos - Torah, Evangelho, Alcorão, sutras budistas e por aí vai.
Religiosos matam outros religiosos porque acreditam em um diferente livro sagrado. Nunca ouvi falar de um ateu que proclamando guerra para destruir os que acreditam em algum deus.
Fica o convite, Anete, para a senhora repensar sua definição. Amplie seu conceito de ateu. ao lado de quem só pensa em lucro e prazeres materiais, grupo em que há, sim, uma minoria de ateus em um universo de hipócritas, há outras categorias. Os desinformados, como Augusto Cury. Os humanitários inconformados, como Saramago, cujo coração amoroso sofre com o sofrimento do próximo e se desespera por não perceber lógica no discurso das igrejas oficiais.
Anete, você tem razão quando diz que os crentes devem setr coerentes e ter argumentos para responder a materialistas influentes o bastante para ordenar a matança de outros seres humanos. Ouso afirmar, no entanto, que os ateus humanitários serão os primeiros a combater tal comportamento.
Ateu humanitário? Sim, Anete, eles existem e são numerosos. Ateu não é sinonimo de malvado. Ateu significa apenas: aquele que não crê em um deus.

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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
5/10/2015 às 10h29

 
O menino - um conto premiado



A noite caíra trazendo consigo uma garoa fininha.
O menino, encolhido no banco ao lado do ponto de ônibus, escondeu o rosto entre os joelhos. Seu corpinho sacudia - se todo, de frio e de choro.
A mulher olhou pela janela e exclamou :
- Ainda está lá. No mesmo lugar.
- Que coisa mais estranha ! - respondeu o marido - Passou o dia inteiro aí ?
- Sem arredar pé. Eu não vou conseguir dormir com esta criança congelando na noite.
Assim dizendo, abriu a porta e foi ao encontro do menino, o marido em seus calcanhares:
- Cadê sua mãe ?
- Eu não sei. Ela mandou eu esperar aqui, que ela voltava logo.
- Venha para minha casa. Amanhã nós procuramos a sua mãe.
O menino não saiu do lugar.
- Você está com fome, não está ? Que tal uma sopa quente ?
A sopa decidiu a questão. O menino pôs - se de pé e, num fio de voz :
- Preciso ir ao banheiro...
- Claro, rapaz - e o homem deu - lhe a mão, dirigindo - se apressado para casa - vai tomar um banho enquanto a patroa esquenta a sopa e eu arrumo uma roupa limpa para você.
Pois o pequeno fedia. Ele e a roupa há muito que não viam água.
Depois do banho, parecia menor e mais pálido. Devorou a sopa, o pão e o leite quente, esfaimado.
- Quantos anos você tem ?
- Sete.
Parecia ter quatro.
- Aonde você mora ?
O menino disse.
- Mas isso é lá em Santos! Em plena zona! - exclamou o homem.
- Jesus! - benzeu - se a mulher.
- E sua mãe veio jogar você aqui, em Vicente de Carvalho... O que ela faz, a sua mãe ?
- Me bate. - e a criança arregalou uns olhos que eram puro medo, no rostinho esquálido.
- Vamos dormir. Temos um colchonete e você se acomoda na sala por esta noite.
No dia seguinte, toca Dona Maria a procurar a mãe do garotinho.
Atravessaram o mar de catraia, cruzaram pelo cais e adentraram pelas ruas sujas do submundo da cidade.
- É aqui - apontou o menino.
A mulher estremeceu, benzeu - se e mandou o menino chamar.
Apareceu à janela uma montanha de músculos toda tatuada, cabelos desgrenhados e peito peludo. A tremer, o garotinho escondeu - se atrás das nádegas generosas de Maria.
Uma mulher igualmente desmazelada e imunda, usando um agasalho apesar do sol quente, escancarou a porta e despejou um arrazoado de impropérios sobre quem vinha importunar o seu sossego. E arrematou :
- Leve esse moleque embora daqui que meu homem não quer saber de pirralho enchendo as picuínhas . Como é que esta porcaria me consegue voltar para casa? Some daqui, diabo!
Maria abraçou a criaturinha trêmula desfeita em lágrimas que se agarrara a ela e tratou de por - se ao largo, conhecedora que era daquele tipo de gente de pele esverdeada e pupilas em pontinhos que precisa esconder os braços em pleno sol. Quanto àquela caricatura de marinheiro Popeye, o mais prudente era guardar distância.
Quase a correr safaram - se daquele labirinto de vielas sórdidas.
Maria ligou para Manoel.
- O jeito é ir à polícia. Encontro vocês em frente à chefatura em vinte minutos.
Meia hora depois estavam em frente ao delegado.
- Pois bem, eu intimo a mãe a comparecer aqui amanhã e resolvemos o caso. Voltem amanhã com o menino.
Manoel retrucou:
- Isso é que não. O menino não é responsabilidade minha. Não é meu filho. Eu o abriguei uma noite por caridade, mas o caso agora sai das minhas mãos. Que resolva o curador de menores.
- O senhor não ficaria com ele por mais um dia?
- Nem um minuto a mais.
- Fale com o curador, ele estava aqui inda agorinha.
O curador, um homem elegante e de olhos tristes, sentou - se ao lado de Manoel :
- O senhor sabe aonde este menino vai ficar alojado?
- No juizado de menores, suponho.
- Venha, vou - lhe mostrar.
E Manoel acompanhou o curador, que o fez espiar através de portas teladas os aposentos repletos de jovens de aspectos os mais estranhos : meias na cabeça, trancinhas, carecas só pela metade, corpos cobertos de tatuagens e cicatrizes.
-Aí ficam juntos assassinos, drogados, estrupadores, gays, débeis mentais e menores abandonados. Não tenho outro local para colocar este menino. É claro, a lei não o obriga a ficar com ele nem mais um minuto.
Manoel voltou pensativo para junto da esposa, olhou para o pequeno e disse ao delegado :
- Fico com ele, mas é só até amanhã.
Na tarde seguinte, compareceram perante o delegado Manoel, Maria , o garoto e a mãe, em tão lastimável estado alucinatório, após um farto coquetel de álcool com drogas, que mal sustinha -se em pé.
- Esta mulher possui várias passagens pela polícia. Prostituição, latrocínio, tráfico de drogas pesadas... No momento será recolhida a uma instituição que recupera drogados - ou tenta. Declarada incapaz de manter o filho, que será recolhido a um orfanato assim que possível. Seu Manoel... Dona Maria... estão dispensados. Caso encerrado.
Manoel ficou rodando os polegares. Falou pausadamente :
- Não é um caso... É um menino.
Maria perguntou :
- Que vai acontecer com ele ?
- Vai ficar na cela com outros menores até aparecer uma vaga na FEBEM e aí ele ficará até os dezoito anos ou até ser adotado ou tutelado por alguém.
- Não tem família ?
- Pai desconhecido. A mãe é órfã, cria da FEBEM.
- E se... - ela olhou ansiosa para o marido.
- E se nós pedirmos a tutela ? - completou Manoel.
O garotinho mantivera - se jururu a um canto, filosofando sem palavras no bem estar dos dois últimos dias, durante os quais conhecera a suprema delícia de não sentir fome nem frio e descansara o corpo das pancadas. Seu cérebro desnutrido não acompanhara o sentido das palavras mas seu instinto lhe dizia que sua vida nunca mais seria a mesma, longe da mulher que lhe dera o corpo. Pelo calor do abraço de Maria, ele compreendeu que voltaria para ela, que comeria todos os dias, que dormiria bem e até poderia, sim, ser aceito, acalentado e amado.
Então, o menino chorou.

Este conto foi classificado no concurso do site LeiaBrasil em 2005, vencedor na categoria Amor.

É parte integrante do livro É suave a noite.

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Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
3/10/2015 às 08h36

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