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Quarta-feira, 28/10/2015
Blog do Carvalhal
Guilherme Carvalhal
 
Divórcio, de Ricardo Lísias

 

Um dos pontos que se nota nos rumos da literatura nacional nos dias de hoje é uma narrativa cada vez mais intrínseca à subjetividade de personagens e a um mergulhar em suas realidade. Um caso bem claro desses na literatura recente do Brasil está em Barba Ensopada de Sangue, em que há um mergulhar na individualidade do personagem principal com o mundo, sendo que seu problema de memória acaba participando do eixo narrativo, uma mostra de como essa individualidade do personagem acaba sendo a chance de se criar um estilo para a literatura.

O livro Divórcio, de Ricardo Lísias, leva essa ideia a extremos, criando uma ficção em torno de uma autobiografia, deixando pouco claro ao leitor onde uma se inicia e onde a outra termina. É a própria vida sendo transformada em história inventada, uma tendência dos novos tempos onde a vida privada cada vez mais toma conta do espaço público.

A história fala sobre ele próprio passando por uma crise de casamento, envolvendo uma traição da parte de sua esposa, o que culminou na separação. O livro retrata a tentativa do autor (ou pseudoautor) em superar o trauma, passando por momentos de fúria e de frustração durante esse incidente.

Aqui, o personagem narrador foi traído pela esposa, jornalista cultural que se envolveu com um diretor de cinema durante o Festival de Cannes. O baque é agravado quando ele descobre o diário dela, deixando claros seus sentimentos, que misturam o encanto dela pelo seu conhecimento e sua cultura e menosprezo por todo resto.

A tentativa de superação mescla passado e presente, com memórias de fatos passados que culminam no tempo atual, como a época de estudo universitário ou a participação em um campeonato de xadrez. Essa é uma das melhores características do livro, a precisão com que o autor mescla essa procura do passado e os fatos do presente, junto a outros elementos narrativos, como trechos do diário de sua esposa que pouco a pouco vão tecendo toda a trama.

Essa reconstrução pela via temporal, envolvendo as memórias e sua percepção do presente, é a maneira como o escritor vai expondo esse seu falso eu. A condução do enredo vai montando o emaranhado pessoal do autor-personagem, em uma exposição da individualidade, esboçando a raiva sentida pela infidelidade conjugal e até mesmo dúvidas com a própria sexualidade.

Se cada vez mais o espaço público se torna palco para o privado se expor, a literatura também se rende a essa proposta. Não é nenhuma novidade que a literatura esteja há séculos expondo muitas vísceras, mas dessa vez essa tendência ocorre em um mundo em que a extrema oposição cada vez mais dá a tônica de noticiários e meios de comunicação. Divórcio faz parte desse universo. Porém, a profundidade com que o autor realiza sua orba a distancia de qualquer lugar-comum corrente.

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Postado por Guilherme Carvalhal
28/10/2015 às 16h08

 
Ecletismo Musical

Dia desses ouvi uma pessoa fazer o seguinte comentário sobre música

- Sou eclética. Gosto de tudo. De funk, de pagode, de sertanejo, de pop rock.

Achei curiosa essa autoafirmação de ecletismo, principalmente pelos gostos afirmados. É uma listagem bem convencional, sustentando uma cultura musical ditada por meios de comunicação de massa e que por princípio deixa de fora uma grande quantidade de estilos que não se encaixam nos padrões comerciais. Acaba sendo algo como "gosto de tudo, excetuando as coisas de que não gosto".

Esse tipo de posicionamento tende a evidenciar algumas construções que temos, principalmente, a tentativa de almejar um gosto vasto, mas que apenas demonstra o quanto estamos distantes de conhecer aquilo que esteja um tanto mais além do nosso alcance. Fomos acostumados a um modelo musical peculiar, normalmente tendendo para o mais simplório e facilmente absorvível, e dificilmente aquilo que fuja desse lugar comum consegue se tornar palatável.

Estamos aptos a absorver uma produção musical culturalmente distante? Temos disposição para ouvir highlife da Nigéria, a orquestra Marimba de Concierto de Bellas Artes da Guatemala ou música tradicional japonesa? Ou nossos ouvidos apenas se manterão restritos a uma pequena parcela de tudo que a humanidade consegue ser capaz de produzir?

Nosso modelo de divulgação musical, que ganhou enorme propulsão após a criação de tecnologias que a alçaram mais longe juntamente a um esforço dos meios de comunicação na modelagem de gostos, não criou uma capacidade de capilarização, mas apenas de limitação. Esse novo modelo, que poderia parecer promissor, não se desvinculou do estilo imperialista reinante, criando uma globalização onde há poucos globalizadores e muitos globalizados.

Atualmente recebemos uma enxurrada de conteúdo estrangeiro, que afeta diretamente nossa percepção sobre nós mesmos enquanto nação e sociedade. O espaço da música brasileira acabou influenciado, tanto recebendo influências positivas quanto negativas. Podemos nos orgulhar de música de boa qualidade influenciada pelo jazz e pelo rock ou podemos esconder a cara de vergonha diante da tentativa de reproduzir em terra brasileira determinadas expressões artísticas que são bastante sofríveis. É até curioso pensar que houve cantores brasileiros atendendo por nomes como Michael Sullivan, Mark Davis e Tony Stevens.

Não podemos deixar de pensar que toda essa situação é fruto de uma relação mercadológica. Essa via é dupla, na qual a indústria compreende o que o público espera e ao mesmo tempo influencia suas expectativas. O indivíduo influencia e é influenciado, não se podendo precisar se ele é mais uma marionete de uma estrutura maior que ele próprio ou se é gerador dos próprios gostos.

Se imaginarmos uma pessoa brasileira de 70 anos atrás, suas preferências musicais provavelmente seriam vinculadas a uma tradição musical brasileira, com algumas influências externas que permeiam o Brasil desde tempo anteriores, como valsa ou polca. À medida em que começou o processo de globalização, esse panorama começou a mudar e mais e mais nos vemos envolvidos por influências de fora.

Certa vez li sobre uma pesquisa que apontava que apenas 1% da população do Brasil já havia assistido a um concerto de música de câmara (ou música clássica, apesar de eu achar esse termo sofrível). Comentei isso com um amigo estudioso de cultura popular e ele falou quanto seria se contabilizássemos o contato com expressões culturais nacionais. Quantos de nós já assistiram a uma apresentação de baião ou de música gauchesca? O quanto conhecemos de música indígena ou de viola caipira?

Vivemos um modelo social em que a própria concepção de nação se tornou difusa, e isso falando de um país construído em um processo que nunca deixou claramente definido o que vem a ser povo brasileiro. Essa fragilidade de laços que nos unem gera uma incapacidade de valorizar a própria cultura e cria um tereno fértil para perda da própria identidade.

Ecletismo em um mundo de tanta variedade cultural é mais uma cenoura à frente do burro a instigar uma movimentação do que algo que se possa realmente alcançar. Há mais do que uma vida inteira possa conseguir alcançar e apenas uma mínima parcela do todo nos é ofertada no cotidiano. Talvez nos considerarmos eclético possa mostrar apenas o outro lado, o tanto que nós ainda não conhecemos.

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Postado por Guilherme Carvalhal
22/10/2015 às 16h24

 
Literatura e o gênero fantasia

O gênero de fantasia é um dos estilos mais dúbios e duvidosos que existem dentro da literatura. Isso porque aquilo que ela entrega em muitas casos não cumpre aquilo que sua proposta inicial diz, que é a de se aventurar por lugares e roteiros que sejam realmente inovadores e fantásticos.

Por princípio, o gênero fantasia deveria ser aquele que provê maior liberdade criativa ao autor. É quando a inventividade pode falar mais forte do que em qualquer outro, sem medo de atropelos, sem jamais poder ser taxada como exagerada.

Na literatura romântica, erótica ou policial, sempre há determinados elementos que precisam existir. Na romântica, tem que haver um casal apaixonado, na erótica tem que haver cenas picantes, na policial é preciso haver um eixo investigativo que prenda o leitor até a solução dos fatos. Já o gênero de fantasia é livre. Não há nenhuma regra prévia exceto o uso de criatividade. Bem, pelo menos deveria ser assim.

A humanidade contou com umas poucas dúzias de autores que realmente foram criativos nesses gêneros, como Isaac Asimov, J. R. R. Tolkien, Mary Shelley, Lewis Carroll, os irmãos Grimm, Lovecraft, Philip K. Dick, etc. Esses autores criaram esteriótipos narrativos de fantasia que se estabeleceram e se fixaram na mente do público leitor e dos novos autores, entrando de uma maneira tão forte que é pouco possível que se consiga sair dessa lógica.

Por isso que olhar lista de livros do gênero fantasia sempre vai parecer que se assiste a um apêndice de algum clássico da série, alguém que leu O Senhor dos Anéis e pensou "E se na verdade o Frodo fosse um adolescente em uma escola de soldados?", desenvolvendo a trama de um novo livro. Isso então gera uma espécie de paradoxo, pois o estilo literário que deveria ser o mais inovador acaba sendo um pastiche sequente de si mesmo.

O gênero fantasia é um dos que mais se aproximou do conceito de indústria cultural. Nos últimos anos, com o sucesso de adaptações cinematográficas como O Senhor dos Anéis e Harry Potter, além do mais recente fenômeno de Game of Thrones o público para essas narrativas tem aumentado, tanto que histórias desse gênero, principalmente aquelas com temáticas medievais, tem frequentemente entrado para listas de best sellers. Se for temática medieval com um adolescente em formação a chance de sucesso é maior.

É bastante evidente que a produção de histórias assim se adéqua a uma lógica mercadológica e os autores e as editoras pretendem atender a um público específico. Justamente por isso, a literatura de fantasia deixa de ser de fato fantasia, mas apenas retrata uma história de relações humanas que se passa em um território inventado. Não é de fato algo inovador, mas algo banal contando alguns elementos que não encontram apelo no nosso mundo factível.

Podemos pegar alguns clássicos do gênero para avaliar. Em Frankenstein, Mary Shelley promoveu uma avaliação sobre a relação do ser humano com a natureza, questionando se havia limites éticos entre sua capacidade de influenciar e domesticar o mundo querendo imitar Deus. Lewis Carrol em Alice no País das Maravilhas traça uma complexa e criativa fauna de seres que levam o leitor a um longo questionamento. Asimov levantou a relação entre homens e máquinas e levantou a discussão sobre as possibilidades dos homens serem dominados pelas máquinas. Foram autores inovadores e que conseguiram ir além do mero lugar comum.

A literatura de fantasia atual tem se prendido muito a um modelo próprio, focando-se em um público juvenil, muitas vezes com uma proposta de formação de novos leitores. Essa proposta é válida, mas ela não esgota todas as possibilidades, até porque inovação é necessária por mais que seja pouco palatável ao grande público.

Talvez seja esse o ponto em que a literatura de fantasia encontre maior dificuldade: não encontrar um público que consiga aceitar uma literatura que fuja de qualquer tipo de relação com o mundo factível. Uma obra de fantasia precisa de elementos que a aproximem do mundo tangível, até mesmo como forma de situar o leitor. Daí o herói derrotando o vilão, bem versus mal, a mocinha sendo salva e se apaixonando, o ajudante atrapalhado, o mago misterioso e todos os elementos que levam as pessoas a interpretarem aquela história e a tornam algo inteligível.

O gênero fantasia tem produzido quantidades consideráveis de obras. Porém, são livros que tem caráter muito maior de produto de consumo do que de arte propriamente dita. Os fundadores desse estilo conseguiram colocar seu nome na história da literatura. Aos que vieram em seguida, é pouco provável que seus nomes prevaleçam por mais de duas gerações.

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Postado por Guilherme Carvalhal
11/10/2015 às 19h14

 
A Loucura da Guerra



Joseph Heller participou da Segunda Guerra Mundial na Força Aérea dos Estados Unidos. Ele fazia parte da tripulação de um bombardeiro que realizou missões na Itália e essas suas experiências deram origem a uma das melhores sátiras literárias do século XX, o livro Ardil 22.

Na história, o Ardil 22 é um mecanismo que supostamente permitiria a soldados que fossem loucos retornar para casa. O problema é que caso o soldado se declare louco, ele estará dando uma mostra de lucidez ao reconhecer a própria loucura, então esse mecanismo deixa o indivíduo preso na guerra até o fim.

Se pode parecer esdrúxulo, essa ardil serve como base para toda a história sem sentido, que acaba sendo uma crítica bem direta à loucura de uma guerra. E esse livro tem um peso grande pelo sucesso obtido durante a Guerra do Vietnã.

A história tem vários personagens inseridos nas batalhas na Itália durante a guerra. O principal deles é Yossarian, que tenta escapar da guerra utilizando o dito ardil. Dentro da caserna, ele se envolve com diversos outros personagens, cada um deles com suas próprias características, mostrando uma capacidade criativa muito significativa por parte do autor junto a uma verve crítica muito refinada. Youssarian se encontra também em um grande dilema, pois sempre que está prestes a alcançar o número de missões totais que o permitiriam regressar para casa, ele se depara com um aumento, o que vai o deixando preso no ambiente de guerra.

Alguns personagens são bastante emblemáticos. Um deles é o Major Major Major Major. Na verdade o nome dele é Major Major Major, porém, ao ser convocado pelas Forças Armadas, deram-lhe essa patente apenas para combinar com seu nome, sendo ele completamente incapaz de exercer qualquer comando sobre seus subalternos. Ou então o Chefe White Halfoat, índio que ameaça cortar a garganta do companheiro de guerra capitão Flume, e esse, paranoico, chegou a dormir com um pé de coelho na torcida de que não fosse atacado. Ou então um ferido todo engessado e que não fala nada, que acaba sendo taxado como gente boa por um dos soldados amalucados.

Muitas cenas beiram o surreal. Por exemplo, quando os bombardeiros recebem a ordem de atacar uma vila exclusivamente para se realizar uma foto aérea com boa composição. Ou então a hipótese de que o indivíduo engessado tratava-se de uma massa de gesso oca, sem ninguém de fato lá dentro.

Joseph Heller lançou uma das mais profundas sátiras contra o sistema belicoso reinante no século XX. Essa obra serviu de base para outras produções em várias mídias que lançaram um olhar cômico sobre os conflitos. Além da relevância da obra, ele deixou também um marco de inventividade em suas páginas.

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Postado por Guilherme Carvalhal
7/10/2015 às 15h35

 
Marcha Sobre a Cidade

O Grupo Um é uma das maiores iniciativas musicais já realizadas no Brasil. Formado pelos irmãos Lelo Nazário e Zé Eduardo Nazário, ele elaborou um som complexo e rico, sendo jazz de altíssima qualidade com um certo toque de ritmo brasileiro.

Com a estrutura típica de uma orquestra de jazz, eles bebem de muitas variações, como do free, do bebop e do fusion. Sua sonoridade é bastante livre e beira o estilo atonal, apesar de não ser um som extremado e manter bases relativamente fixas.

Mesmo com todo essa influência estadunidense, é fácil notar como há uma pegada brasileira, principalmente no ritmo e no uso de percussão. O talento individual fala alto em diversas vezes, como em longos solos de bateria e de teclado. Outra característica bastante presente é a do experimentalismo.

Marcha Sobre a Cidade foi o primeiro álbum lançado pela banda. Esse é um dos maiores trabalhos já compostos na música brasileira, tendo ficado durante certo tanto no ostracismo, tanto por não haver relançamento quanto pelo pouco conhecimento do público sobre essa banda. Além desse, a banda também lançou Reflexão Sobre a Crise do Desejo (1981) e Flor de Plástico Incinerada (1982).





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Postado por Guilherme Carvalhal
4/10/2015 às 21h26

 
Da casa grande para a senzala



Não é nenhuma novidade que as artes brasileiras sempre tiveram um pé (os dois, para ser mais preciso) fincado no interesse de levantar discussões referentes ao país. E dentro dessa aspecto as divisões sociais e a pobreza são temas principais e que sempre serviram de base pra grandes obras. Aluísio Azevedo começou mostrando as agruras de uma sociedade que se construiu em cima de ampla desigualdade e os conflitos que advinham dessa situação em O Cortiço. Alguns anos depois Euclides da Cunha retratou os conflitos do arraial de Canudos e Candido Portinari usou a pobreza como um dos principais temas de seus quadros.

Essa visão social continua nas obras dos dias de hoje. O livro Passageiro do Fim do Dia, de Rubens Figueiredo, é um exemplo moderno das condições sociais do país, sendo uma das melhores descrições da miséria reinante nas cidades grandes do Brasil. Os dois filmes da série Tropa de Elite foram mais um caso, apesar da presença do capitão Nascimento e sua alçada ao posto de super-herói brasileiro acabar reduzindo um pouco a proposta crítica.

O filme Casa Grande entra para esse grupo, sendo uma análise de relações sociais tendo o ponto de vista de dentro de uma casa de classe alta. É uma clara alusão à obra de Gilberto Freire, sendo que a atual relação entre casa grande e senzala está nas diferenças entre moradores de bairros nobres e periferia.

A história centra no adolescente Jean, um garoto de 17 anos, filho de um pai investidor e que estuda no colégio São Bento. Sua rotina de vestibulando é quebrada pelos típicos feitos de um adolescente, como sair para festas ao fim de semana e namoros.

O dia a dia de um rapaz de classe alta se mostra por um lado vantajoso pelo poder aquisitivo possuído por ele junto às muitas restrições. Um tanto quanto sonhador, Jean deseja estudar produção musical na faculdade, enquanto seus pais querem que ele estude direito e economia em uma faculdade pública, sendo assombrados pelo fantasma da reserva de vagas. Quando deseja sair, o garoto tem horários limitados, assim como seus trajetos. Querendo escapar dessa rigidez familiar, ele fala que voltará de ônibus para casa após uma balada, mas seu pai insiste em buscá-lo de carro.

Durante a noite, Jean sempre comparece escondido ao quarto de Rita, a empregada nordestina que reside em um anexo da casa. Sempre tentando partir para cima, ela o corta, apesar de provocá-lo constantemente, como na ocasião de pedir para que ele passe creme em suas pernas. Jean também mantém uma relação curiosa com Severino, motorista da família que o leva diariamente à escola. Se com o pai o rapaz sempre encontra resistência para conversar, é Severino a pessoa que o escuta e o aconselha, sendo o referencial paterno.

Essa relação familiar e com os empregados fazem uma clara ilusão a Casa Grande e Senzala, de onde vem a inspiração do título. Se no livro de Freire ele fala dos rapazes que visitam os leitos das negras ou das negras que amamentavam os filhos das senhoras, aqui vemos essa mesma relação adaptada aos tempos modernos. É a relação da carteira de trabalho e do salário o que fixa a dependência e a senzala se transforma no quartinho da empregada, tendo uma cena muito simbólica em que a família almoça na mesa e Rita come solitária em um canto, havendo um muro invisível a separá-los.

O trâmite de Jean da casa grande para a senzala vai se mostrando continuamente no filme. Além de ter essa convivência natural com os "de baixo", a relação freudiana com seu pai alimenta uma forte revolta. Seu pai está em processo de falência e isso serve de combustível para implicâncias na escola. A interferência dele em um relacionamento com a jovem Luiza é o ponto definitivo de conflito, mostrando que ele prefere o convívio com os pobres do que com seus iguais.

Um dos pontos principais de Casa Grande está nesse olhar por dentro das famílias de classe alta do Brasil, mostrando sua visão da pobreza. Se o habitual é vermos nas novelas a classe alta fechada em si mesma com suas idiossincrasias e seus dramas, aqui o foco está nesses contatos externos, na rede de relações existentes entre as múltiplas classes.

A análise de lugares comuns muitas vezes passa a impressão de ser um amontoado de clichês amarrados em um único fio narrativo. É o jovem criado no condomínio que não sabe sair sozinho de casa, a revolta dos que se consideram self made men contra a política de cotas raciais, o nordestino que vai ao forró, o garoto que é levado durante a adolescência para a zona para perder a virgindade, os trotes forjando sequestros e uma série de pontos do cotidiano popular que residem na obra. Porém, o talento do diretor quebra essa ideia de clichês pela maneira como conduz a filmagem, como nos momentos em que demonstra o medo da violência ou então as brigas dentro de casa por questões financeiras. Seu olhar é significativo para não deixar o filme soar como uma costura de ideias avulsas e sim como uma história forte e instigante.

As artes brasileiras andam em união carnal com a sociedade e com sua mazelas. O ambiente artístico sempre teve esse papel de mobilizar junto à sociedade determinados debates sobre esses problemas. Casa Grande cumpre esse papel, sem deixar de lado seu valor artístico. Foi uma das maiores obras do cinema nacional recente e merece seu lugar de destaque.

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Postado por Guilherme Carvalhal
30/9/2015 às 12h59

 
Diário de Bordo: Festival Doces Palavras



(Crédito da foto: Thais Tostes)

Participei nessa quinta-feira, dia 24 de setembro de 2015, de uma mesa de discussões com o tema "Literatura de Facebook - Os impactos das redes sociais na produção literária". Essa mesa fez parte da programação do Festival Doces Palavras, que está sendo realizado de 23 a 27 de setembro na cidade de Campos dos Goytacazes, tendo como tema discutir e promover a literatura, sendo realizada na sede da OAB de Campos dos Goytacazes. Também participou do debate a escritora Paula Vigneron e a mediação foi feita pelo jornalista Maurício Xexéo.

Essa mesa foi interessante para promover uma discussão referente aos impactos que as redes sociais tem causado na literatura, tanto no âmbito de quem produz quanto no de quem lê, e, de igual importância, na maneira como ocorre a intermediação entre esses dois elementos.

Algumas das ideias expostas no debate foram referentes ao aspecto ainda um tanto quanto nublado de como as redes sociais afetam a literatura. Um dos pontos que abordei seria o de que não existem grandes impactos estéticos, mas principalmente de mediação. Não há inovações na maneira de se escrever, pelo menos não na literatura que recebe maior destaque pela crítica (e que tende a funcionar como um norte para a produção literária). O diferencial tem ocorrido no contato entre o leitor e seu público, havendo uma maior possibilidade de se quebrar o modelo editorial através de um contato direto.

Entretanto, pensar a internet enquanto uma revolução na maneira como se consome literatura não é uma realidade completa. As casas editoriais ainda estão de pé e muitas de suas publicações são as que caem no gosto do público. Ou então o escritor que começa a se destacar via internet acaba aportando dentro de uma editora. Esquema de jogador de futebol: começa na várzea, mas quando um olheiro descobre seu talento, leva para um time grande. Tudo muda para continuar como está.

Novamente caímos no fator mediação. O público leitor ainda necessita de figuras com maior conhecimento literário (caso do jornalista cultural) que sirvam como referências para o que vale a pena ler ou não. E com o fechamento de tantas mídias dessa área, como a Bravo e o caderno Prosa e Verso, esse processo acaba caindo nas mãos de blogueiros. Novo caso de redes sociais mediando, sendo que existe uma necessidade de autoridade ao se falar desse assunto. Ou um blogueiro anônimo tem maior relevância ao falar do tema do que José Castello?

Um dos pontos mais relevantes desse debate é entender o impacto que as redes sociais produzem no acesso das pessoas à literatura e à leitura. Abordei a ideia de que existe um maior contato do público com a literatura, porém esse contato carece de qualidade. O modelo que encontramos atualmente tende a propulsar autores de literaturas muito próximas a um modelo pop, com temas muitas vezes simplórios e previsíveis, matando um aspecto da arte que é o de abalar o leitor.

Não se pode culpar o modelo de redes sociais como se ele tornasse a relação com a literatura pouco complexa ou rasa. Somos historicamente um país de baixa leitura, de altas taxas de analfabetismo completo há até pouco tempo e com altíssimas taxas de analfabetismo funcional hoje em dia. Então o modelo de democratização acabou levando uma grande quantidade de pessoas com uma base de educação fragilizada a ter contato com a literatura, de onde surge essa aproximação que carece de qualidade.

Esse posicionamento não é uma questão de elitismo nem de querer reduzir a importância desses autores que conseguem envolver leitores que estariam fora do ciclo da leitura, algo que é de suma importância. Esse posicionamento visa a atingir um panorama educacional que permita às pessoas conseguir apreciar modelos mais sofisticados de literatura, da mesma maneira como é desejável que as pessoas conheçam sobre qualquer outro tipo de ciência.

Uma outra intervenção se referia ao impacto das redes sociais esteticamente na literatura contemporânea. Mais do que isso, se havia um processo lento de influências que aos poucos produziriam um novo modelo textual, formando uma linguagem diferente ao longo do tempo.

A literatura hoje em dia tem sido bastante influenciada pela globalização. Um efeito lógico do mundo, tendo em vista que a arte, por mais abstrata e fantasiosa que possa ser, está relacionada com seu mundo. Basta lembrar a ficção científica da década de 1960: é uma história de fantasia que mostra como aquele período imaginou o futuro. Essas relações sempre são intrínsecas à arte.

Ao pegarmos livros de hoje em dia, vemos como termos em inglês são corriqueiros, juntamente a referências culturais, como música e seriados. A influência de um autor não se limita apenas a autores brasileiros, sendo corriqueiro ver entrevistas de autores que citam Cormac McCarthy, Philip Roth e Karl Ove Knausgård como referência. Outro fator importante é o peso da linguagem cinematográfica na literatura, o que muitas vezes torna um livro semelhante a um roteiro de cinema. Ou seja, a linguagem literária atual não é meramente um derivativo das redes sociais, mas de toda uma influência da globalização e da cultura de massas na qual as redes sociais se inserem.

A mesa foi bastante produtiva para essa troca de ideias, sendo formada basicamente por autores de cidades de interior, em um evento que visa justamente promover o fomento da produção e do acesso das pessoas à literatura. O Festival Doces Palavras é uma realização da Academia Campista de Letras (ACL), da Associação de Imprensa de Campista (AIC) e da Prefeitura de Campos.

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Postado por Guilherme Carvalhal
24/9/2015 às 22h59

 
Once More 'Round The Sun, do Mastodon



O Mastodon conquistou nos últimos anos uma posição de destaque no meio do heavy metal de forma dúbia. A banda apresentou um som pesado, mas sempre se alinhou a uma tentativa de composição mais elaborada. Seus discos são um festival de riffs pesados e harmonias complexas, precisando de mais de uma audição para serem realmente apreciados. Ao mesmo tempo em que a banda consegue destaque e atinge boas vendagens, não tem se tornado um referencial tão grande no meio do rock.

O disco de estreia da banda, Remission (2002), já apresentava qual a pegada da banda: som ágil, pesado, gritado e com harmonias mais elaboradas, por vários momentos tentando dar uma cara de metal progressivo. Esse disco já traz músicas bem bacanas, como "March of the Fire Ants" e "Where Strides the Behemoth". O segundo trabalho, Leviathan (2004), tem um cuidado maior com as melodias. O disco é mais detalhado e possui mais nuances, o que em definitivo o aproxima do termo metal progressivo. Diferente do Remission, que era mais gritado e cru, esse disco possui um acabamento maior, tentando também trabalhar a ideia de conceito, com o tema do livro Moby Dick. Esse costuma ser cotado como seu melhor trabalho.

Em Blood Mountain (2006) a banda apresenta o mesmo estilo de Leviathan, mas sem atingir a mesma qualidade sonora. Os mesmos elementos estão presentes: belas composições, destaque às melodias diferenciadas, baterias alucinantes e vocais gritados. É um grande disco, mas não tão grande como o trabalho anterior. Já no disco Crack The Skyes" (2009) a banda apresenta um estilo completamente alterado. As músicas possuem uma cadência mais lenta, diferenciando bastante dos discos anteriores. Se receberam o rótulo de metal progressivo, esse trabalho é a maior justificativa. As músicas apelam bem mais para pegadas melódicas, mantendo os arranjos complexos, algumas em um ritmo mais arrastado.

The Hunter (2011) mescla a guinada de Crack The Skyes com os outros discos da banda. Se o som do Mastodon no início de carreira era dúbio pelo estilo pesado e nervoso com arranjos complexos e assim podia afastar alguns ouvintes, nesse álbum a banda encontrou uma fórmula mais palatável, com sons mais digeríveis, o que não quer dizer necessariamente melhor que os demais. As faixas são realmente mais agradáveis, mas não há a mesma energia dos primeiros e nem chega ao nível de Leviathan. A faixa "Curl of the Burl" até apresenta refrão repetido.

Once More 'Round The Sun é seu mais recente lançamento. Nesse disco se vê a banda com o mesmo estilo apresentado em The Hunt. O som não apresenta a mesma energia de Remission e nem chega ao nível de composições de Crack The Skyes ou Leviathan. O som da banda caminha mais para a tentativa de um som comercial, sendo um prato cheio para trilha sonora de vídeo game.

Esse disco novo se alinha bastante ao trabalho anterior. Possui algum peso, mas não o suficiente para agradar fãs de metal mais exigentes. As harmonias são interessantes, mas quem ouve os trabalhos anteriores da banda sente falta de algo mais. Agradar até agrada, mas não empolga de fato. Como ponto alto, há belos solos, como na faixa "The Motherload".

Músicas como "High Road" e "Feast Your Eyes" recuperam o apelo dos melhores momentos da banda. A melhor do disco é a faixa-título. É a mais original, agregando as melhores qualidades do Mastodon. É harmonicamente perfeita, pesada e bem estruturada. Os belos riffs, uma das suas principais características, estão presentes em músicas como "Asleep In The Deep" e "Ember City".

A sensação que Once More 'Round The Sun passa é de que o Mastodon apresentou um belo trabalho desde o início, mas que não consegue mais apresentar grandes inovações. Ao mesmo tempo, não agrada tanto a fãs mais tradicionais de rock pesado, então se apega mais a algumas fórmulas musicais para se aproximar de outros ouvintes.

O disco não é ruim, mas o Mastodon já apresentou uma qualidade maior e acabou caindo em alguns lugares comuns. É bem trabalhado e tem bons solos, que definitivamente são o principal diferencial. Mesmo assim, não se torna uma disco realmente fantástico. A audição vale a pena, só não se deve manter muitas esperanças com o produto.

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Postado por Guilherme Carvalhal
20/9/2015 às 16h26

 
Breve análise sobre Umberto Eco



A produção literária de Umberto Eco pode ser definida através de duas características. Uma delas é o excesso de conteúdo apropriado pelo autor ao longo de sua vida, o que torna seus livros de ficção uma aula de história, filosofia, religião e demais ciências. A outra é a densidade de informações que ele apresenta em seu trabalho, que muitas vezes pode tornar a leitura enfadonha.

O nome desse escritor italiano ficou famoso pelo notável O Nome da Rosa, um livro que mistura histórias de detetive com um drama religioso se passando na Idade Média. Essa sua estreia no campo da ficção (ele é autor de diversos livros técnicos na área de humanas) deu a tônica de como seria toda sua produção, a mistura de conteúdo de estudos filosóficos, históricos, etc, junto a elementos da cultura de massa.

No caso de O Nome da Rosa, o elemento da cultura de massa é o enfoque detetivesco. Aqui, o frade William de Baskerville (ou Guilherme de Baskerville) segue para uma abadia onde os monges se dedicam a preservar pergaminhos antigos e a copiá-los. Lá dentro ele tenta solucionar uma série de crimes que vem ocorrendo, todos eles ligados ao misterioso livro Finis Africae, de autoria de Aristóteles.

William de Baskerville é um superdetetive ao estilo Sherlock Holmes ou Hercule Poirot. É um profundo conhecedor de ciências e crítico árduo de tudo ao seu redor, levando-o a se recusar a ouvir confissões para não precisar guardar segredo de suas investigações. Ele é acompanhado pelo jovem Adso de Melk, que está ao seu lado em todos os momentos. O sobrenome Baskerville é uma referência ao livro O Cão dos Baskervilles, do ciclo de Sherlock Holmes, e Adso aparenta ser uma referência ao fiel Watson, que acompanhava o detetive inglês. Uma outra de suas referências é a Jorge Luís Borges. Jorge de Burgos, o frei cego que se embrenha dentro da biblioteca, é referência direta ao escritor argentino.

O Nome da Rosa é um enorme referencial à Idade Média e ao espírito desse tempo. O clima de isolamento da abadia e a dedicação dos monges ao trabalho edificante é uma mostra dessa época, em que a humanidade cresceu pouquíssimo e o desenvolvimento estagnou. Da mesma maneira o termo Idade das Trevas se mostra evidente, seja pelo clima de terror imposto pelas relações religiosas, seja pelas noites em que muita coisa acontece no interior do mosteiro.

O frade William de Baskerville é uma representação do espírito iluminista, crítico, racional e questionador. Em meio aos muitos dogmas das fé ele busca uma explicação razoável para o que acontece, não temendo o contato com o livro Finis Africae, que todos consideram amaldiçoado.

De igual viés é o livro O Pêndulo de Foucault, a mais densa obra do escritor. Esse livro é de difícil leitura porque nele Eco coloca boa carga do seu conhecimento, criando uma obra repleta de informações e discussões.

Dividido em 10 capítulos, cada um denominado por uma das sefiras da árvore sefirótica da cabala judaica, esse livro retrata diversas teorias da conspiração envolvendo sociedades secretas como os Templários. Um capítulo se passa no Brasil e aborda a umbanda.

O Pêndulo de Foucault tem uma característica interessante que é a grande quantidade de informação que ele carrega. O livro é uma enorme aula sobre todos os tipos de estudos humanistas, como semiologia, história, religião, filosofia e muitas outras coisas. Ele é um claro percursor das obras de Dan Brown.

A Ilha do Dia Anterior é um livro mais fantasioso. Nele temos o personagem Roberto que naufraga no oceano Pacífico, nas proximidades da Oceania. O local onde ele se vê perdido, um navio encalhado próxima a uma das última ilha do mundo a leste, de onde se considera possível ver o dia anterior por causa da rotação da terra, é palco para uma solitária aventura ao estilo Robinson Crusoé.

Nesse livro novamente vemos ideologias do passado revisitadas, dessa vez em um período mais recente, na era das grandes navegações. Um dos pontos curiosos do livro é a maneira como Umberto Eco coloca a visão de mundo da época, coisas que hoje em dia soam estranhas, como utilizar um sino para caminhar embaixo d'água pela crença de que a água não entrará pela parte debaixo, ou então a própria ideia de que se pode enxergar um tempo passado além do horizonte.

Baudolino é outra obra fantasiosa na Idade Média, mas aqui o enfoque está nas relações senhoriais e em uma cultura mais próxima ao popular, não aquela encerrada nos portões da abadia de O Nome da Rosa. Nessa história, o personagem principal que dá nome à obra é filho adotado do imperador Frederico I. Baudolino, um grande contador de histórias por natureza que com sua habilidade de enganar os outros parte em uma viagem atrás do mítico reino do preste João no oriente.

Esse livro tem como aspecto interessante a recriação da Europa e do Oriente Médio com muitos mitos e ideologias da época. São as cabeças de João Batista que o herói encontra, sua ideia de encher um boi com cereais quando se encontram cercados, a geleia alucinógena, sem contar o exército de criaturas fantásticas em combate.

Baudolino é menos pretensioso do que O Nome da Rosa e justamente por isso não é um livro tão apaixonante quando o primeiro. Se em O Nome da Rosa tudo o que se passa gira em torno dos crimes cometidos na abadia, aqui a história é mais solta. Há muitas referências variadas, como ao misticismo, às cruzadas e a muitas outras coisas, mas não equipara ao estilo acadêmico de O Pêndulo de Foucault.

O lado ficcionista de Eco é muito valioso. Ele consegue aliar seu conhecimento acadêmico com histórias de ficção, todas elas embasadas em teorias e apresentadas como alegorias. O lado negativo é que o excesso de academicismo muitas vezes torna a leitura maçante e difícil, apesar de que levar um livro de Eco até o final seja sempre de grande valia. Ele pode não ser dos mais palatáveis, mas proporciona momentos de muito conhecimento para o leitor.

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Postado por Guilherme Carvalhal
16/9/2015 às 19h26

 
Uwe Boll e o boxe

Uwe Boll costuma ser chamado de o pior cineasta do mundo da atualidade. Já ganhou prêmio Framboesa de Ouro e costuma mandar muitos xingamentos em direção a seus detratores. É aquela falta de educação que parece programada para repercutir, até porque ele tem sido mais notícia pelos discursos do que pelo trabalho artístico (sic).

Esse diretor costuma lançar adaptações de videogames para o cinema como BloodRayne e Alone in the Dark, todos sempre recebendo críticas negativas. Assisti BloodRayne e é coisa mal feita produzida por gente com talento pra fazer o mal feito: os efeitos especiais são toscos, a história é risível e nada justifica perder tempo vendo (eu assisti na TV Bandeirantes durante uma noite de insônia). Transportar o universo de extrema fantasia de videogame para o cinema costuma resultar mais em fracassos do que em bons filmes, excetuando-se Tomb Raider, que conquista pelo seu aspecto ao estilo Indiana Jones.

O festival de bizarrices de Uwe Boll atingiu seu ápice recentemente quando resolveu chamar seus críticos para uma luta de boxe. E o mais absurdo é que teve gente que aceitou subir no ringue para enfrentá-lo. O detalhe é que o diretor já foi lutador de boxe, o que por princípio já mostra a natureza tosca da ideia, quando um lutador enfrenta alguém que não sabe lutar.

O registro das lutas foi feito e está disponível no YouTube. É mais uma daquelas produções de um mundo em que a polêmica muitas vezes tem se sobressaído ao talento. O lado positivo é que os polemicistas não costumam deixar muita memória para a posterioridade.



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Postado por Guilherme Carvalhal
12/9/2015 às 11h38

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