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Sexta-feira,
25/9/2015
Abrindo a Lata por Helena Seger
Helena Seger
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Lápis 2B
Eu me vi em cada rabisco
Cada rascunho
Cada linha cinza de lápis 2b
Eu me vi em cada riacho
Que chora abaixo
E escorre sem ao menos parar para comer
Cada linha torta
De mão que fraqueja
De insegurança no traço
De falta de certeza
Em cada carinho ansioso
Buscando um afeto
Um grito, de longe gracioso
De raiva do próprio poeta
O buraco sem fundo
O fundo do olho
O começo da alma
Fétido como repolho
A podridão da mentira
Da dúvida,
Da falsa alegria
Do sorriso para o padeiro
Até o beijo de despedida
A dor do começo
A dor do meio
A dor do fim
Como uma cobra de duas cabeças
Se enroscando nas fraquezas
Apertando as durezas
Se fazendo presente
Se fazendo um presente
Se fazendo o único presente
Se fazendo, intermitentemente, irrevogavelmente, o presente que te acorda todas as manhãs e te dá um beijo de boa noite logo antes de dormir.
Quem me dera, se isso fosse novela,
História para boi dormir,
Quem me dera, se isso fosse mentira
E pudesse simplesmente parar de sentir
Quem me dera, se isso fosse fácil como um botão
Que ao apertar, fosse explodir.
E cada destroço, cada pedaço, cada fragmento
Fosse virar confete
E numa bela manhã de carnaval,
Com o sol esquentando o coração,
Pudesse jogá-los para cima
E dançar até os pés dançarem para fora de mim, sozinhos, sem interferência de ninguém.
Quem me dera, se eu pudesse parar de fazer o sol nascer rabiscado de lápis 2b.
Helena Seger é autora do livro de poesias Enlatados disponível para compra no site da Livraria Cultura: aqui
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Postado por Helena Seger
25/9/2015 à 00h50
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Não Existe Chance Para Você
Quando você chegar
Vou abrir seus olhos de vidro
Beijar seus lábios ferinos
Passar meus dedos pelos seus cabelos de mar
Quando você chegar
Vou te fazer um carinho
Sou imune, por você vacinada
Sou livre para te amar
Em pensamento eu sei que
Além de casca existe ovo,
Além da espera existe o encontro,
Além de espuma existe o sal
E eu tenho certeza,
Que dentre os males do mundo,
Eu sei que te encontrar,
Apenas por um segundo
Você se desfaz do mudo
E eu fico livre para te explorar
Todos julgam as chances dadas,
Mas isso não é uma chance, meu bem,
É uma porta de entrada
Todos julgam, veem torto
Pois quem entra na vida,
Quem verdadeiramente entra,
Abre as suas janelas, afasta as cortinas,
Mora
Quero te encontrar
Na minha casa, no meu olhar
Quero te encontrar no meu sorriso,
No meu modo de andar,
Quero te encontrar em mim,
Assim como se eu te olhar,
Existe um pedaço meu,
Pronto para me saudar e dizer:
- Eu sou você até quando parte, eu te levo com ele, seu amor, seu abrigo, para onde quer que ele vá.
Não existe chance para quem mora em você
Helena Seger é autora do livro de poesias Enlatados disponível para compra no site da Livraria Cultura: aqui
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Postado por Helena Seger
28/7/2015 às 22h55
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Expansiva, a que for Maria
A vida é tão cheia de flores,
Maria não perderá nenhum cheiro.
A vida é tão cheia de cores,
Maria destoará de todos os tons.
A vida é tão cheia de verbos,
Maria não cala nem consente
A vida é tão cheia de amores,
Maria ama com os seus clamores.
Se expande, se completa,
Se completa, se expande.
Se limita, se retrai,
E se retrai, vem as dores.
Se existem cores para pintar,
Não se descobre monocromática,
Se existem amores para amar,
Não se descobre apática.
Se Maria for a Ucrânia, Miami ou São Sebastião,
Continuará sendo Maria
Se Maria for até a China,
Continuará sendo Maria
Se Maria for até a esquina, para o resto da sua vida,
Não será, nem de longe, a mais breve Maria.
Helena Seger é autora do livro de poesias Enlatados disponível para compra no site da Livraria Cultura: aqui
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Postado por Helena Seger
17/7/2015 às 21h17
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O Medo
O medo que protege do medo da dor surgir
O medo do medo que vem pra sacudir
A ilusão
De ser feliz
Tenho medo da dor
Se abrir o choro eu seco
Tenho medo do ardor
Como se me queimasse com ferro
O medo que protege do medo da dor surgir
O medo do medo que vem pra sacudir
A ilusão
De ser feliz
Eu saio pra não voltar
E não olho
No olho de quem me olhar
O medo de fazer cena
O medo de virar poema
Escondida no meio da pena
O medo de acordar de um pesadelo sem fim
O medo de acordar dentro de mim
O medo de seguir em frente sem ter lugar pra ir
O medo de não ir
O medo que protege do medo da dor surgir
O medo do medo que vem pra sacudir
A ilusão
De ser feliz
E se eu te chamo de amor
E depois de doze meses vem a dor
E se eu te chamo de meu bem
E o meu bem já for saudade
E se eu dormir nos braços do além
E seu acordar nos braços de ninguém
E seu me lembrar
Do que eu quis esquecer
O medo de chorar
O medo de não parar
O medo de sonhar
O medo de largar
O medo de sorrir
O medo de amar
O medo de me dar
O medo de acabar
O medo que protege do medo da dor surgir
O medo do medo que vem pra sacudir
A ilusão
De ser quem eu me tornei
Helena Seger é autora do livro de poesias Enlatados, disponível no site da Livraria Cultura: aqui.
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Postado por Helena Seger
16/4/2015 às 20h39
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Quebrando o Ciclo (e jogando ele fora)
Mais arruinamos no medo de arruinar, do que em simplesmente deixar seguir seu curso.
Palavras sábias, fáceis de entender, difíceis de metabolizar.
Nunca fui boa em me expressar, nem em me entender, nem em me explicar. Acho que por isso sempre me entreguei a poesia. Ela me deixa transcrever sentimentos tortos sem se ofender pelo que escrevi e deixando o sentimento se esvaziar em mim, a cada palavra posta para fora.
É muito fácil se arruinar.
É muito fácil deixar a podridão sambar pela língua até o ouvido de quem não merece ouvir.
É muito fácil estragar algo bom pelo fato de que nada é infinito. E se não é infinito, não deveria valer a pena.
É muito fácil culpar uma teoria e dizer que ela se aplica em todos os sentidos e momentos da sua vida, como se tudo que acontecesse estivesse fadado a seguir seu rumo do interesse absoluto para o desinteresse absoluto. E deixar o ciclo do fim tomar sua forma eterna e etérea.
É muito fácil querer bancar a vidente e fazer com que suas premonições tomem forma, mesmo sendo algo que te fará triste.
É muito fácil querer acabar com o bom mais cedo pelo medo do bom acabar quando ele virar intrínseco a mim.
Se tem uma coisa que eu aprendi enfiando o pé na jaca, é que vale a pena sim.
Vale a pena cada segundo de felicidade, mesmo que ela possa acabar.
Vale a pena cada "eu te amo" mesmo se um dia, eu não for mais amada.
Vale a pena cada beijo no rosto, mesmo se um dia ele não venha mais.
Vale a pena fazer com que ao invés de encurtar o bom pelo medo de sofrer, prolongá-lo, para impedí-lo de acabar.
E darei cada segundo da minha vida, para provar que eu sou mais do que palavras ferinas.
E darei cada segundo, ainda mais, para me fazer merecer a sorte de um amor como o dele.
Me darei por inteira, sem amarras, sem pesares, sem medos e sem fim.
Se ele me aceitar, é claro.
Ele é tudo que eu sempre quis.
E não existirá um pelo, em todos os ovos do mundo que me impedirão de amá-lo por completo.
A vida é mais do que um fim.
A vida é meio.
E ele, é meu eterno começo.
Quer mais?
Helena Seger é autora do livro Enlatados, garanta o seu no site da Livraria Cultura
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Postado por Helena Seger
14/3/2015 às 13h19
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Julio Daio Borges
Editor
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