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Segunda-feira, 7/12/2015
Blog de Luís Fernando Amâncio
Luís Fernando Amâncio
 
Scott Weiland (1967-2015)

Na pré-adolescência, ao ouvir no refrão de "Ideologia", do Cazuza, o trecho "meus heróis morreram de overdose/ meus inimigos estão no poder", eu imaginava um decadente Batman jogado num beco com uma seringa espetada no braço. Do outro lado, Pinguim ostentava a faixa de presidente da república, o Coringa estava no controle de multinacionais do capital financeiro, enquanto o Charada dominava a mídia. Seria o caos em Gothan City.

Com o passar dos anos, conheci heróis cuja morte por overdose é bem mais factível (embora, a bem da verdade, com esses mesmos anos a ideia de herói ficou restrita aos quadrinhos e filmes para mim). Se o Scott Weiland foi mais um que sucumbiu à dependência química, não se sabe oficialmente. Sua luta contra o vício, porém, era bastante pública.

E sempre que alguém morre nessas circunstâncias, não faltam discursos moralistas criminalizando o morto. Dependência química é uma doença que causa muito sofrimento para usuário e familiares. Recriminar o viciado, definitivamente, não ajuda.

Deixemos as especulações e julgamentos para veículos como o TMZ. Ganhamos mais reconhecendo o legado que Weiland deixou. Que foi bastante razoável para quem morreu aos 48 anos. Embora, quando o Stone Temple Pilots surgiu, em 1992, com o álbum Core, não tenham faltado críticas sugerindo que a banda era uma cópia fajuta do Pearl Jam. A voz rouca de Scott Weiland em "Plush" fez muita gente achar que Eddie Vedder havia cortado o cabelo. É verdade que as gravadoras nunca jogam para perder e que a sonoridade alinhada com a "moda grunge" ajudou a banda a emplacar. Mas Stone Temple Pilots não era um grupo fajuto, tampouco grunge — sequer eram de Seattle, mas de San Diego, na California. Quem ouviu a banda para além dos hits pode perceber isso. Core e seu sucessor, Purple (1994), venderam muito bem, emplacando sucessos como "Creep", "Vasoline", "Interstate Love Song", além da já mencionada "Plush".



A partir daí, os abusos de Weiland com drogas e álcool se tornaram públicos e afetaram a trajetória da banda. O terceiro álbum, Tiny Music... Songs from the Vatican Gift Shop (1996), é o melhor deles, em minha opinião. Livres da comparação com a cena musical de Seattle — que já não era moda — o grupo se aventurou por uma sonoridade mais livro, muito em função do talento dos irmãos Robert (baixo) e Dean (guitarra) DeLeo. Scott, por sua vez, também alterou um pouco seu registro vocal, que ficou mais agudo. As letras do álbum são afiadas. Tiny Music merece ser ouvido na íntegra.



Os álbuns seguintes, Nº 4 (1999) e Shangri-La Dee Da (2001), não são ruins, mas mostram uma banda já sem o entrosamento dos tempos áureos. Algumas turnês precisaram ser canceladas por conta dos problemas de Scott com seu vício. Até que o Stone Temple Pilots acabou em 2002. Eles retornariam em 2008, lançando, dois anos depois, o sexto álbum de estúdio, que seria o derradeiro com Scott. Em 2013, o vocalista foi demitido da banda, que desistia de lidar com sua instabilidade.



Scott Weiland também integrou a banda Velvet Revolver, com ex-integrantes do Guns'n Roses. O grupo esteve ativo entre 2002 e 2008 e prestou bons serviços ao hard rock. O vocalista também lançou quatro álbuns solos, inclusive um trabalho bastante digno neste ano, Blaster, como Scott Weiland & the Wildabouts.



Nos palcos, Scott Weiland foi um grande frontman, um dos maiores do rock. Ele serpenteava pelos palcos, agitando o corpo com a falta de inibição que sua posição requer. Um monstro nos shows, entretendo o público mesmo quando a voz apresentava algumas falhas inevitáveis para quem não cuida dela.

Por mais que Scott tivesse problemas para ficar sóbrio, no fundo seus fãs cultivavam esperanças de que ele venceria a luta e retornaria ao vigor dos anos 1990. Não aconteceu e é uma pena. Algumas batalhas são vencidas pela trupe do Coringa, infelizmente. Mas o Batman há de seguir firme na guerra.

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Postado por Luís Fernando Amâncio
7/12/2015 às 11h35

 
À sombra da minha irmã

A julgar pela Bíblia, ter irmãos não é nada fácil. Os primeiros que habitaram a Terra foram os filhos de Adão e Eva. Caim foi possuído por ciúmes, uma vez que sua oferenda a Deus foi recusada e a de Abel, bem recebida. O rejeitado armou uma emboscada para o irmão mais novo e realizou o homicídio inaugural da humanidade. Também nas escrituras há ciúmes entre irmãos na Parábola do Filho Pródigo. Nela, o irmão caçula pede a herança do pai e extrapola na farra. Após torrar o dinheiro com bebida e mulheres, ele volta arrependido para casa e é recebido de braços abertos pelo pai. O irmão mais velho, porém, fica incomodado - por que o pai festejava o retorno do filho pródigo e para ele, disciplinado e presente, nem um brinde tinha?

Há outros exemplos, na Bíblia e na história contemporânea, vide a eterna desavença entre os irmãos Gallagher, do Oasis. Convenhamos, é uma situação que tende a ter seus incômodos. O primogênito sempre se queixará de dividir a atenção dos pais com o irmão que chega. Este, por sua vez, se sentirá prejudicado ao ser medido pelos êxitos e fracassos do mais velho.

Eu sou filho caçula e posso advogar pela causa da categoria: não é fácil. Sobretudo porque minha irmã veio ao mundo elevando os padrões e chamando o protagonismo para si. Na vida escolar, eu era acompanhado do rótulo "irmão da Maria Angélica". Minha irmã desenhava bem, escrevia melhor ainda, tinha notas altas nas disciplinas, era bonita e carismática. De mim, esperava-se o mesmo - exceto pela parte da beleza, pois era notório que essa batalha eu já havia perdido.

Meu erro talvez seja ter feito escolhas parecidas com as delas. Seria mais fácil ter sido uma antítese da irmã mais velha e evitado as inevitáveis comparações. Eu deveria ter focado na matemática ou encarnado a rebeldia do James Dean... Mas não. Eu também era estudioso (o que na nossa escola era um grande diferencial) e escrevia. Não por acaso fizemos cursos de graduação parecidos, ela Letras, eu, História. Mas o que era realmente frustrante era que, não importasse quão bom eu fosse, minha irmã havia impressionado primeiro.

Como o leitor pode ver, há ingredientes suficientes nessa história para fomentar uma acirrada rivalidade. O ki-suco ferveria na Bíblia por muito menos. Existe uma tendência em nossa cultura de transformar tudo em competição, como se ter um rival fosse o que nos impulsionasse para frente. Desde Senna e Prost, Beatles e Rolling Stones a Ash e Gary, de Pokémon.

Na minha casa, a situação foi outra. A fraternidade nos fez apoiar um ao outro. A rivalidade entre nós se resumia aos jogos entre São Paulo e Corinthians. Festejar os êxitos da minha irmã mais velha foi bem melhor do que invejá-los. Tem sido muitas festas ao longo dos anos. E, embora em alguns momentos crescer à sombra dela possa ter me incomodado um pouco, eu logo percebi que andar pela sombra é bem mais fresco.

A verdade é que eu tenho uma ótima irmã. Dialogar com ela desde que cheguei ao mundo foi fundamental em minha formação. Sinto muito, leitores, vocês não saberão o que é ser irmão da Angélica Amâncio (o "Maria" caiu após os tempos escolares). Mas vocês podem conhecê-la como poetiza. Amanhã, 03 de outubro, ela lançará o livro Adagio ma non troppo e outras canções sem palavras (Editora Multifoco, 2015). O evento será na Biblioteca Infantil e Juvenil de Belo Horizonte (Rua Carangola, 288), de 10h às 13h. Para quem não puder comparecer, fica o aviso de que o livro é muito bonito e está à venda AQUI



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Postado por Luís Fernando Amâncio
2/10/2015 às 12h40

 
7 coisas que aprendi

Nessa semana, participei do projeto 7 coisas que aprendi, dos blogs Escriba Encapuzado e Vida de Escritor, de, respectivamente, T.K Pereira e Alexandre Lobão. A proposta é que escritores, iniciantes ou veteranos, compartilhem suas experiências em sete tópicos.

No meu texto, aproveitei a equivalência numérica com os pecados capitais e os relacionei com meus aprendizados. Caso queiram conferir a postagem original e a contribuição de outros autores, é só acessar o Escriba Encapuzado

1 — Vaidade. Convenhamos: um escritor não busca o anonimato. Há maneiras mais eficientes para isso — não escrever, por exemplo. Quem escreve quer ser lido, é uma equação simples. E não há nada de mal nisso. Escrever é compartilhar, dialogar com a imaginação dos leitores, que vão construindo seus textos a cada linha. Não é errado ficar feliz com o reconhecimento.

Alguns escritores, entretanto, se perdem por aí. São levados pelo que entendem ser o sucesso (para uns, uns milhares de acessos no blog, para outros um Jabuti) e acabam virando personagens de si mesmos: escritores caricaturais que se creditam mais do que seria de bom tom. Se o sucesso chegar para você (e tomara que ele venha para todos nós), segure a onda. Vaidade é um tóxico que não ajuda na qualidade de seus textos.

2 — Preguiça. No que diz respeito ao ofício literário, não há espaço para a preguiça. Tirando a parte dos insights, quando as ideias brotam na sua cachola, as demais etapas do nosso trabalho não são lá das mais emocionantes. É preciso sentar na frente do computador, desligar das tentações do mundo ao redor, da internet e desenvolver o texto. Porém, a parte mais difícil vem depois: ler, reler, revisar. E é fundamental.

É preciso lapidar, reestruturar, inverter. E corrigir, evidentemente. Às vezes, aquela mudança que torna mais harmônico seu poema vem lá pela décima quinta leitura. Pode ser o diferencial do texto. Por mais que haja uma visão romântica do artista como a cigarra da fábula, há muito trabalho de formiguinha no ofício literário.

3 — Gula. Sobre a prática da leitura, não tenha dúvidas: seja um guloso. Devore clássicos, tenha contemporâneos para a sobremesa e não ignore as surpresas, que podem ser um ótimo aperitivo. Ler outros autores só vai ajudar no seu desenvolvimento como escritor. Aumenta seu léxico. Te faz mais feliz.

4 — Luxúria. Seja um pervertido, um insaciável no que diz respeito a buscar inspirações em outras artes. Não é porque jogamos no time dos escritores que vamos ter reservas de dialogar com artes plásticas, cinema, futebol, o que for, né? O mundo mudou, não dá para ser um pudico. Inclusive, no nosso próprio campo, seja um devasso e experimente novos gêneros, novas temáticas. A luxúria literária pode ser um belo pecado no seu desenvolvimento como escritor.

5 — Avareza. Viver de literatura é possível. E não me refiro somente aos escritores que tem bons contratos com grandes editoras. Eles não representam a maioria dos casos. Tem muita gente nova batalhando, doando seu máximo para sobreviver no cenário literário, atuando de uma forma mais ampla no mercado editorial.

Eu, particularmente, não me encaixo nessa categoria. Como todo autor, quero ser lido, mas por escolhas pessoais não tento viver do que escrevo. Mas, observando experiências alheias, posso dizer: é possível viver de literatura. Só não acredite que será uma trilha simples, com tijolos amarelos, que o levará para lançamentos em livrarias-cafés de Paris.

6 — Inveja. Possivelmente você verá companheiros de ofício literário obterem maior reconhecimento do que o seu. E vai pensar, "poxa, eu também gostaria de estar ali". Não os inveje. Inveja é um péssimo sentimento, que não acrescentará em nada na sua formação. Já a humildade, a consciência de que você não é um predestinado e, em consequência, tem muito a aprender, só vai contribuir. Deixe a rivalidade para Saramago e Lobo Antunes, Vargas Llosa e García Márquez. Faça do sucesso alheio um aprendizado, resumindo.

7 — Ira. Nem sempre as coisas sairão como desejado. Talvez seu original não consiga aprovação em algumas editoras, ou, se já publicado, não repercuta como você gostaria. É difícil ser um escritor que não é consagrado. São inúmeras as portas fechadas que encontramos. Somos muitos e o lugar ao sol é disputado. Frustrações ocorrem e acessos de ira, vontade de chutar tudo para o alto e levar uma vida comum, longe da criação literária, serão provações. Resista a elas. Deixe a ira para seus personagens.

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Postado por Luís Fernando Amâncio
1/9/2015 às 10h29

 
Esse mundo é um busão

Fonte da imagem: http://www.megacurioso.com.br/

Sabem aqueles engarrafamentos à paulistana, onde os carros andam um metro e ficam parados por 5 minutos? Onde as nuvens passam, mudam de forma, voltam à forma anterior e você ainda não saiu do lugar? Então, dá para se sentir bem com eles. E até ficar feliz. Verdade. É só você estar do lado de fora do engarrafamento, fazendo uma caminhada despretensiosa, de preferência perto de casa.

Pois os carros proporcionam status, simbolizam a entrada na vida adulta para uns, a bonança financeira para outros, conforto e mobilidade. Isso sem falar em como automóveis são fetiches para homens e mulheres... Porém ali, enfileirados, impedidos de fazer aquilo para que foram projetados, a saber, andar, os carros são um tanto inúteis. Aí, não importa painel de madeira e bancos de couro. Você, caminhando na calçada, todo esculhambado, de chinelo e camisa de candidato para vereador da eleição de 2008, será mais feliz do que um dono estressado de uma BMW, buzinando loucamente só para aliviar a tensão.

Os carros têm suas vantagens, não desdenho deles. Mas eles também são um indício do quanto nossa sociedade se aprofunda em soluções individualistas para problemas coletivos. Sabemos bem que o transporte público é sucateado na enorme maioria das cidades brasileiras e do tanto que seu usuário sofre com ele. Logo, qual é a solução? Comprar um carro. O meio ambiente não agradece. As montadoras, sim.

Mas, vejam, eu defendo que a convivência com o transporte público tem uma função educadora para os cidadãos. Afinal, ele é uma simulação de nossa sociedade. Sigam meu raciocínio. Ônibus e metrôs quase sempre estão lotados - o mundo também está. Neles encontramos gente de todos os tipos: educada, grossa, folgada, falante, desrespeitosa, fedida, cheirosa... Gente que você não queria que estivesse lá, no assento desejado (pode confessar, aquele alto, em cima das rodas do busão). Gente mais velha, por quem você será gentil cedendo seu lugar. Ainda que ficar em pé, sacolejando no ônibus, pois o motorista tem pressa, não seja legal - ser gentil é.

Amigos, nossa vida é uma roleta russa de situações envolvendo outras pessoas. Nem todas são agradáveis - roletas russas não envolvem uma bala no revolver? Ainda assim, é o que tem pra hoje. O mundo é diferente daquilo que você deseja para ele. Suas fronteiras são mais amplas do que suas concepções estúpidas.

Acredito que quem se aliena desses ambientes, esses autoexilados que usam o carro para ir na padaria, vai criando "nojinho" de conviver com outros seres humanos. Ao menos com aqueles que fogem de seu círculo social. Aí, criamos esse pessoal que dividem o mundo entre "humanos direitos" (seus amigos) e meliantes.

Andar de ônibus ou de metrô faz bem para a sanidade mental/ social das pessoas. Nos faz ser mais gente e menos esses avatares que postam comentários na internet.

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Postado por Luís Fernando Amâncio
13/8/2015 às 20h29

 
A vitória da pochete

Fonte da imagem: http://www.tiarabolsas.com.br/

Eu tento, com alguma periodicidade, sentar na frente do computador e escrever um bom texto para o blog. Penso num tema interessante e, partindo dele, procuro estabelecer uma narrativa agradável e, dentro dos meus limites, inteligente. Não sei se consigo, mas a intenção é boa.

A realidade, porém, é cruel. Por mais feliz que eu possa ser na elaboração do texto, ele será só um barquinho de papel à deriva nesse oceano profundo e revolto que é a internet. De blogueiros bem (e mesmo mal) intencionados, a web está cheia. O Digestivo Cultural, inclusive. Nós, blogueiros, somos iguais ao demônio naquela célebre passagem da Bíblia e à banda do Renato Russo: formamos uma legião.

Mas não é aí que a realidade dói, amigos. É na seguinte constatação: por melhor que meu texto possa ser (e mesmo que eu fosse o Hemingway aqui), uma foto de um animal com um chapéu sempre será MUITO mais compartilhada do que ele. Se o animal for um filhote, então, vai ser uma goleada em acessos. Maior do que Brasil x Alemanha. Não é um lamento, amigos, é uma constatação.

A internet tem muitas distrações mais agradáveis do que ler um texto do blogueiro Zé Ninguém (vídeos, charges, jogos, tirinhas, redes virtuais...). Escrever é ser antiquado. Pré-histórico. Ficamos nessa de "ui ui, sou antenado, não preciso publicar em papel e posso ser lido no Japão, ui ui" e não percebemos que somos obsoletas peças de museu. Ninguém quer ler textos com mais de 140 caracteres.

E por que não estou lambuzando as teclas do meu computador com o sangue dos meus pulsos enquanto escrevo este texto? Por causa das pochetes. Quer coisa mais esculhambada do que uma pochete? Há décadas são malditas, taxadas de brega. Acho que elas devem ter sido tendência durante dois meses nos anos 1980 e, a partir de então, foram condenadas a uma eternidade de restrições.

De fato, são feias as coitadas. Os homens (público que geralmente se sujeita a esse acessório) já têm uma tendência de abrigar uma pochete natural - a barriga. Com a artificial fica ainda mais estranho. Pochetes até teriam a defesa de serem funcionais, não houvessem inventado antes um outro acessório, os bolsos das calças. Já se imaginou usando uma pochete num encontro com os amigos sem ser festa à fantasia? Não consigo pensar num acessório ou peça de vestuário mais depreciado do que a pochete. Mas, por acaso, numa rápida passagem pelo centro de BH (rápida mesmo, cerca de 05 minutos num ônibus) pude contar 04 pessoas usando pochete. QUASE UMA POR MINUTO. Amigos, amigas, apesar dos esquadrões de moda na internet (outra coisa que dá mais audiência do que textos, a lista é longa) e na tv, com seus jargões fashionistas tipo "esse modelo está um arraso", "essa combinação é super tendência" e "eu adoro", que naturalmente condenam a pochete, ela SOBREVIVE. E talvez num armário mais perto de você do que imagina.

Nós, blogueiros e escritores em geral, somos as pochetes. Antiquados, pré-históricos, de gosto duvidoso. Mas, sobretudo, resistentes. O mundo zomba de nossa impopularidade, mas nós continuamos aqui, postando contos, crônicas e poemas. Mesmo que ver um vídeo do Porta dos Fundos seja muito mais divertido - já viram o da "Santa Ceia"?

Eis a nossa virtude: sobreviver. Não ache que é pouco, os dinossauros não conseguiram. Somos mais fortes, os blogueiros e as pochetes.

E você, sobreviveu ao meu blá blá blá? Então, segue uma recompensa - quem sabe assim você anima de indicar esse texto entre seus amigos, nem que seja pela simpatia do coelho? .

Fonte da imagem: http://hellogiggles.com/animals-wearing-tiny-hats-officially-lifes-greatest-joy/2/



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Postado por Luís Fernando Amâncio
31/7/2015 às 09h31

 
O 'país de me***' de Thaila Ayala

Fonte da imagem: Instagram da atriz Thaila Ayala

Saiu no site da Revista Quem, no dia 13 de julho de 2015, uma nota sobre a revolta da atriz Thaila Ayala, após ser taxada pela Receita Federal ao entrar no Brasil com um computador não declarado. Segundo ela, foi um erro do funcionário que escreveu sua declaração.

O contratempo fez Thaila desceu do salto no próprio aeroporto e esbravejou sua revolta num aplicativo de celular. "Parabéns Brasil. Parabéns você que mora nesse país de me*** e é parada na Receita Federal e tem que pagar pela segunda vez seu computador! (...) Você chega já desesperada para ir embora porque é um país de muita injustiça! Simplesmente somos assaltados diariamente! Toda vez que eu chego no Brasil no percurso aeroporto para minha casa eu coloco o passaporte dentro da minha calça porque se eu for assaltada ele pode roubar tudo, menos o passaporte, para eu vazar!", declarou a atriz.

Veja a nota original no site da Revista Quem

Em 1958, antes da Copa do Mundo, Nelson Rodrigues analisou as chances da seleção brasileira naquela competição na memorável crônica Complexo de vira-latas. Para o autor, o brasileiro, que tinha talento de sobra, teria êxito se superasse a inferioridade em que voluntariamente se colocava na relação com o resto do mundo. "Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol", escreveu o dramaturgo carioca. Esse conceito de "complexo de vira-latas" foi explorado na interpretação da identidade brasileira por outros autores, extrapolando o âmbito esportivo. Em 1968, com o país já bicampeão mundial de futebol, Nelson Rodrigues volta a tratar da insegurança do brasileiro, na crônica "A vaca premiada": "o brasileiro tornou-se um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: - não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima".

Nelson Rodrigues. Imagem tirada do site Diário do Centro do Mundo

Nelson Rodrigues segue atual, como todo clássico. Eu diria que o "complexo de vira-latas" gerou uma variação que, em homenagem à Thaila Ayala, chamarei de "complexo de país de me***". Que é quase a mesma coisa. Há uma descrença enorme nas instituições, uma desesperança sufocante de que algo possa melhorar. O sentimento é de que nossa crise é a pior, nossa corrupção é a maior da galáxia e o Estado saqueia o cidadão de bem.

Só que no "complexo de país de me***", não há o sentimento de viralatismo. Geralmente, o autor dos impropérios "contra tudo isso que está aí" se sente no mais alto dos pedigrees. A culpa é sempre do outro: do corrupto, da Receita Federal, da incompetência. O revoltado, porém, tem raça e se sente especial o suficiente para querer "vazar daqui". Ele é melhor do que o Brasil.

Não se trata de fazer o jogo do contente e achar que nosso país é o melhor da forma que está. Nossas cidades estão impregnadas de desigualdades gritantes, ostentação e mendicância convivem e nem nos ruborizamos por isso. Deputados constroem um Shopping Center no Congresso enquanto o governo federal corta o investimento da educação. Há muito para ser criticado.

Mas, vejamos as notícias que o site da Revista Quem nos apresenta como relacionadas à nota que citamos no início deste texto:
Thaila Ayala arrasa com look branco total e tênis: "Prezo pelo conforto"
Thaila Ayala, Sophie Charlotte e Fiorella Mattheis tem encontro de amigas
Thaila Ayala brinca com bonecas e causa polêmica
Poderosa! Thaila Ayala posa cheia de estilo em cima de Ferrari em Veneza: "E quem disse que Veneza não tem carro?"

E é assim, prezando pelo conforto e look branco, com hastags revoltadas nas redes sociais, polemizando com bonecas, que nossa sociedade vai internalizando seu discurso de "país de me***". De olho no próprio umbigo, soberano em Veneza.

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Postado por Luís Fernando Amâncio
15/7/2015 às 20h06

 
1994: a Copa que foi uma festa

Por Luís Fernando Amâncio


Striker, o mascote que ganhava nossa simpatia por parecer personagem da Hanna Barbera.

A Copa do Mundo de 1994 foi realmente um evento e tanto. Principalmente para nós, brasileiros. Um país que se orgulhava de ser uma referência na evolução do futebol não poderia ficar 24 anos sem um título mundial. O jejum caiu em Pasadena, numa tarde de 17 de julho, junto com a bola isolada por Roberto Baggio.

Sugestão: dá o play nesse vídeo, trilha sonora do texto

24 anos sem algo acontecer, para quem começara aquela Copa com 7 de idade, soava como algo próximo a todo o tempo da história da humanidade. Eu sabia pouco sobre a contagem do tempo e, sobretudo, a respeito do que era futebol. Para se ter uma ideia, eu não entendia a diferença entre os jogos que aconteciam no campo próximo à casa do meu avô e as partidas que eram transmitidas na TV. De fato, quando ia ao Canto do Rio (nome do bairro e do time amador de Três Corações), ficava procurando as câmeras, estranhava não ter narrador dizendo o nome dos jogadores e perguntava se um dos times era o Corinthians.

Foi com a Copa dos Estados Unidos que eu aprendi algumas coisas sobre o esporte bretão. A principal: que o futebol podia ser uma grande festa. Porque aquele campeonato já começou bem: fomos liberados mais cedo na escola para ver a abertura do evento em casa. Geralmente você tinha que quebrar o nariz ou algo similar para isso acontecer.

Com os jogos do Brasil, então, a coisa era mais animada ainda. Ia gente da família e amigos ver o jogo lá em casa - ou éramos nós que íamos até a casa deles. E, não bastasse ter companhia de outras crianças para brincar, ainda tinha comida boa e refrigerante. Até então, eu achava que isso se chamava "aniversário".

Por outro lado, não posso mentir, as quase duas horas de duração de um jogo era tempo demais para mim. Lembrem-se do primeiro parágrafo: 24 anos soavam uma eternidade, eu não sabia de nada. Se pensar bem, eu não devo ter assistido nenhum jogo inteiro. Por exemplo, no emblemático confronto com a Holanda, pelas quartas-de-final do torneio, eu vi o Brasil fazer dois a zero, fui jogar bola na rua (onde eu também não sabia muito bem o que estava fazendo, o que não mudaria com o passar do tempo), voltei e encontrei todo mundo sofrendo com o jogo empatado e, ufa, ainda deu tempo de festejar aquele golaço de falta do Branco.

E falando em rua, quando o Brasil ganhava (isso aconteceu cinco vezes naquela Copa, mais a final, que foi empate com vitória nos pênaltis), minha família entrava no fusca do meu pai e íamos para a principal praça de Três Corações. Lá, uma algazarra só, música e gente para todos os lados. Camisas verdeamarelas em todo mundo, carros buzinando. Eu tinha uma corneta verde e uma recomendação: pode fazer barulho à vontade. Isso era raro. Para mim, o nome de algo assim era "carnaval". Era muita novidade para uma Copa só.

Anos depois, mais entendido, descobri que aquela seleção brasileira nem era das melhores. Praticava um futebol pragmático, dizem, com muita marcação e pouca criatividade, abusando da boa fase de nossos atacantes. Isso é o que dizem os sabichões do futebol. Para mim, aquele time sempre será mágico. Pô, no meio-campo tínhamos uma dupla que combinava demais: Zinho e Mazinho. Nossos zagueiros, Aldair e Márcio Santos tinham mullets e o reserva, Ricardo Rocha, um bigode que só nos faz pensar na palavra RESPEITO. Isso era zaga, não babacas posando com a língua pra fora. O Dunga ~favor não confundir com o atual técnico da seleção~ era uma versão boleira do Guile, do Street Fighter. No penteado e na cara de quem vai por ordem na bagunça, nem que fosse necessário aplicar uns Sonic Booms.

Romário e Bebeto merecem um parágrafo à parte. O Baixinho era o cara, seus dribles curtos e eficientes, chutes certeiros e cabeçadas (AQUELE gol contra a Suécia na semifinal!) fizeram dele um dos maiores artilheiros da história. Romário era rei, era o máximo, era o cão. O Bebeto foi, talvez, nosso melhor coadjuvante em Copas. Veloz e também matador. Que time, amigos. Certamente maior do que a seleção de 1970, que por mais que pudesse ser excelente, cometeu o erro imperdoável de acontecer antes do meu nascimento.

O tempo passa, a gente envelhece e o futebol já não me faz festejar tanto. Também, pudera, hoje em dia não é mais qualquer corneta verde e pedaço de pizza que me compram. Não há festas como aquelas de antes dos 10 anos. E, com uma geração de futebolistas mais hábeis no manuseio de redes sociais do que em suas profissões, relembrar o passado é o que há de melhor no momento. Porque o nosso presente é de infinitos gols da Alemanha.

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Postado por Luís Fernando Amâncio
3/7/2015 às 16h45

 
O enigma da família tradicional

Por Luís Fernando Amâncio

Sabe quando te convidam para aquela festa familiar e você, louco para não ir, fica filosofando sobre o que é, de fato, uma família? O deputado federal Anderson Ferreira, do Partido da República (PR) de Pernambuco, resolve (ou não) o seu dilema, com um conceito bem mastigado do que é família. Tal conceito está num projeto de lei de 2013 que institui o Estatuto da Família. A definição está no artigo 2º e é a seguinte: "define-se entidade familiar como o núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher (o negrito é do deputado), por meio de casamento ou união estável, ou ainda por comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes". Definição bem menos complexa do que aquela construída metafisicamente por você para fugir do aniversário de cinco anos daquele seu primo peste de 4º grau, né?

Bom, cá entre nós, eu não tomaria o projeto do deputado Anderson como modelo. No artigo 3º, o texto dele mostra o quão desnecessária é o estatuto da família ao dizer que "é obrigação do Estado, da sociedade e do Poder Público em todos os níveis assegurar à entidade familiar a efetivação do direito à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania e à convivência comunitária". Porque a Constituição já garante todos esses direitos aos cidadãos brasileiros - organizados em entidades familiares ou não.

Ora, então qual a razão de propor uma lei instituindo um estatuto para assegurar direitos já assegurados por nossa carta magna? Bom, há aqueles que acreditam em ameaça fantasma, extraterrestre, intraterrestre, de sereias... e há aqueles que acreditam que há uma ditadura gayzista-feminazi-cristofóbica-esquedopata corrompendo os valores sagrados da família.

Na justificativa do projeto de lei, o deputado aponta "questões complexas" que estão afetando a família: epidemia de drogas, violência doméstica, gravidez na adolescência e "até mesmo a desconstrução do conceito de família, aspecto que aflige as famílias e repercute na dinâmica psicossocial do indivíduo". Para combater esses problemas, Anderson Ferreira propõe, dentre outras políticas públicas, a criação da disciplina escolar "Educação para a família".

Ele não entra em detalhes sobre o que seria o conteúdo desta atividade. Mas não é difícil imaginar algumas aulas de história, sociologia e filosofia serem sacrificadas da grade escolar para que as garotas aprendam a ser passivas e tementes à seus maridos e para, aos meninos, ser ensinado que os machos precisam ser justos, mas imponentes no âmbito familiar. Todos vestidos à moda dos anos 1940, para ficar mais bonito.

Supera minha capacidade racional compreender essa linha de causa/ consequência que liga famílias não tradicionais a epidemias de drogas ou a libido das adolescentes. Não vejo um garoto ter problemas psicossociais se ele for criado por duas mães e nenhum pai. Ele irá sobreviver sem uma figura masculina ensinando-o que pode urinar fora do vaso ou a distribuir "gracejos" às mulheres na rua, mesmo elas não pedindo a opinião deles sobre suas bundas. E acho que uma menina criada por dois homossexuais sobreviverá à primeira menstruação - eles podem chamar uma amiga do casal para falar com ela sobre o assunto, se estiverem desconfortáveis.

Definitivamente, eu devo ser um bocado burro. Pois para mim o conceito de família é algo muito simples: pessoas que se importam, que se preocupam umas com as outras, independente de elos de parentesco, gênero ou orientação sexual. Quando estamos crescendo, precisamos que haja uma voz mais experiente nos dizendo "leva um casaco". Não importa se quem disser isso for uma travesti. A mensagem é a mesma, o amor implícito na frase não vai mudar.

Mas sorte a do Brasil que, em minha ignorância, fico aqui escrevendo estes devaneios, só na tela do computador. Enquanto isso, um pessoal mais gabaritado aprova a redução da maioridade penal para solucionar nossa criminalidade e defendem nossas famílias rezando no Congresso contra a liberdade de expressão dos homossexuais na Parada Gay.

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Postado por Luís Fernando Amâncio
18/6/2015 às 22h58

 
Sobre o tempo e Faith No More

Por Luís Fernando Amâncio



Pra quem gosta de certezas, segue uma bem cruel: ninguém está ficando mais novo neste nosso sucessivo acordar/ comer/ sair de casa/ fazer uma porção de coisas/ voltar pra casa/ deitar de novo que a gente chama de vida. Não importa o quanto a ciência avance, ainda não conseguiram enganar o fluxo dos ponteiros no relógio.

Mas não é só de criar rugas e criar gosto por dominó que o envelhecimento é feito. Mais importante do que isso, a gente acumula experiências e vai se transformando. O que geralmente é bom - não foi para o Michael Jackson. E uma boa medida das mudanças pelas quais passamos são as músicas que vão se alternando em nossos playlists. Assim como o homem engatinha na infância, caminha na vida adulta e usa bengalas na velhice, há aqueles que escutaram Xuxa quando crianças, Guns'n Roses na adolescência e agora vão embalando seus filhos ao som de Gal Costa.

Bom, eu nunca fui desses. Minha trilha sonora até que muda, mas lentamente, sem alterações bruscas. Assim, é contemplando a discografia de algumas bandas que posso observar meu processo de envelhecimento. É o caso do Faith No More, banda californiana que se formou em 1981 e teve alguma popularidade no Brasil na década seguinte, impulsionada pela criação da MTV nacional. Enquanto o grupo lançava o "épico" The Real Thing, em 1989, disco recheado de sucessos, eu estava mais preocupado com o embate entre He-Man e Esqueleto no planeta Eternia.

Avançando alguns anos, posso dizer que a primeira canção de uma banda de rock que ouvi - e gostei - foi a versão que o Faith No More fez de "Easy", dos Commodores, que encerra seu álbum seguinte, Angel Dust (1992). Tudo bem, só conheci a música porque estava na trilha sonora da novela "Mulheres de Areia" - minha casa só tinha uma Telefunken, fazer o quê?

Apesar de gostar da "Easy", não foi aos 06 anos que eu virei roqueiro. Demorou um pouco mais e nem sei ao certo quando isso ocorreu. O que eu lembro é que, uma década depois do lançamento do Angel Dust, quando o Faith No More já era uma banda oficialmente separada, eu economizava no dinheiro do lanche na escola para juntar uns trocados. Guris sem mesadas precisam recorrer a essas artimanhas. Foi com essa economia que pude comprar King for a Day... Fool for a Lifetime (1995), cd de uma fase já decadente para o grupo, ao menos para o grande público. Porém, o álbum soa poderoso para ouvidos mais apurados, puxado pelo single "Digging the Grave". Valeu a pena fazer caixa 02 com a minha verba do lanche.


O tempo passou e a internet revolucionou o acesso a músicas e às informações sobre as bandas. Eu podia ler que o Mike Patton (vocalista) seguia uma carreira bastante extravagante, refutando aproximações com sua ex-banda. Os outros membros também seguiam suas vidas profissionais, como Mike Bordin (baterista), que tocou por anos com Ozzy Osbourne.

Mas a Terra gira. E, não sem muita surpresa, testemunhei a reunião do grupo, em 2009, comparecendo a um show em Belo Horizonte. Vi os caras novamente em 2011, em Paulínia, no festival SWU. E agora, em 2015, presencio o lançamento do novo álbum da banda, Sol Invictus, depois de um hiato de 18 ANOS - o último havia sido Album of the Year (1997), antes da separação. 18 anos, amigos, não são 18 dias.

Enfim, o tempo passou para mim e passou também para o Faith No More. Para os caras, as últimas décadas foram o suficiente para lançarem cds antológicos, acabar com a banda, voltar com a banda e ainda retomar a discografia neste ano com um álbum bastante digno - vale mais a pena escutá-lo do que ler esta crônica, aposto que já perceberam.

E eu, bom, espero que meu envelhecimento esteja mais produtivo do que simplesmente acumular cabelos brancos - porque nisso eu sou até bom. Provavelmente não farei nada tão grandioso como a abertura do The Real Thing, com a música "From Out of Nowhere".Não faz mal. Eu me contento em ser parte da audiência.



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Postado por Luís Fernando Amâncio
26/5/2015 às 16h24

 
Musashi e a Política

Por Luís Fernando Amâncio

Estou lendo o livro Musashi, de Eiji Yoshikawa (1892-1962). Tem sido uma experiência bastante agradável. O livro narra, de forma romanceada, a história de Miyamoto Musashi, lendário espadachim que viveu no Japão entre 1584 e 1645. Para o leitor ocidental, o contato com a cultura nipônica é um desafio. Deve-se compreender a divisão da sociedade e o papel dos samurais (classe guerreira) no Japão daquele período, bem como não esperar o fervor romântico de uma telenovela na forma como os sentimentos amorosos são vivenciados pelos personagens.

Ainda assim, o leitor que não se intimidar com o volume de páginas será envolvido no ritmo da narrativa, que apresenta os elementos universais de uma boa aventura. E engana-se quem imagina que só de choques de espada as batalhas são compostas. Desde o princípio da trajetória de Musashi, percebe-se que a grande batalha de um guerreiro é consigo mesmo. Nesse sentido, o livro está repleto de ensinamentos do zen-budismo.

Há um interessante contexto político em Musashi. O Japão feudal vivia o princípio do Xogunato Tokugawa (1600-1868), no qual, através de inúmeras batalhas, o poder foi centralizado na cidade de Edo (atual Tóquio). O país permaneceria com o clã Tokugawa na chefia máxima militar (xoguns) até 1868, quando se iniciou a Era Meiji.

Não foi só no Japão e tampouco é algo que não continua a acontecer, mas é curioso que guerras ocorram de forma recorrente com o fim unificador. Aconteceu no Brasil, durante o Império (sobretudo no Período Regencial, 1831-1840), quando insurgentes foram combatidos, o que explica em parte nosso território continental. E costumeiramente tensões do tipo rompem no cenário internacional. Quando há discordâncias, opiniões divergentes, a violência funciona como "voto de Minerva". A guerra pacifica, pois submete os derrotados à vontade dos vencedores. Inclusive nas pequenas esferas: a palmada como instrumento pedagógico nada mais é do que a aplicação desse princípio. Na falta de acordo, o mais forte é quem está certo.

Vivemos um período bastante tumultuado no cenário político do Brasil. "Futebolizaram" nosso debate sobre política: cidadãos defendem posições e partidos como quem argumenta que seu time é melhor. Sobra paixão, mas falta respeito e disposição para ouvir quem tem opinião diferente.

Nesse cenário de tantas discordâncias, talvez apenas uma batalha, o extermínio do outro, poderia pacificar o debate. E não nos enganemos: é o que está acontecendo. Só que as armas dessa guerra não são espadas, nem lanças. As batalhas acontecem à base da disseminação de "informações" equivocadas (factoides), manipulações de dados e, sobretudo, através de muita intolerância, ódio e, sobretudo, arrogância. A cada "coxinha" e "petralha" que ouvimos por aí, presenciamos um novo capítulo de uma guerra que se constrói em cima da difamação alheia.

E com tanta exaltação, vale seguir o exemplo de Miyamoto Musashi, que se tornou o melhor espadachim do Japão com uma postura humilde de querer aprender sempre mais. Um samurai arrogante era incapaz de observar as próprias falhas e, em consequência, era alvo fácil de ser abatido.

A arrogância no debate político é igualmente danosa. Todavia, não é, necessariamente, o outro lado quem ganha: é o bom senso quem perde.

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Postado por Luís Fernando Amâncio
27/4/2015 às 15h09

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