BLOGS
Quinta-feira,
3/3/2016
O Equilibrista
Heberti Rodrigo
|
|
|
|
|
Apresentação d'O Equilibrista
. Fonte: https://www.airbnb.com
Sempre quis fazer algo de valor em minha vida. Sempre sonhei fazer algo que fosse surpreendente, belo e ousado, que transgredisse regras sem prejudicar quem quer que fosse. Uma das primeiras manifestações desse desejo aconteceu aos treze anos quando, ainda na sexta série, resolvi que um dia cursaria o Instituto Militar de Engenharia, do qual fui desligado em 2002. Não que quisesse ser engenheiro. Queria apenas provar a mim mesmo, e mais tarde aos outros, que obteria êxito naquele que sempre me pareceu o vestibular mais difícil do país. Muita gente contradizia minha fé dizendo que eu não tinha chances, mas tive a felicidade de demonstrar o contrário. Fui aprovado no único vestibular que me interessava, tanto é verdade que não tinha plano B. Ou passava no IME ou não saberia o quê fazer da vida. Acredito que alcançamos algo quando há um impulso interior realmente forte e sincero que nos incite a buscá-lo. Anos depois, como disse, fui desligado daquela instituição. Embora não estivesse satisfeito com a minha condição de engenheiro e militar, sentia o meu desligamento como uma queda, e mais de uma vez contei uma história que me aconteceu pouco tempo depois àqueles que até ontem recebiam meus textos via e-mail. Vou narrá-la novamente pois a vida dá voltas e muitas vezes nos leva à mesma situação - estou novamente caminhando em cima de uma corda. Desta vez não acreditam que me torne escritor. Entretanto, não quero fazer outra coisa. Novamente, não há plano B. Mas voltando à história, desejo compartilhá-la com os que não me conhecem e que porventura venham a ter acesso a este blog:
Poucas semanas após meu desligamento, fui na companhia de dois amigos a um bar, em Botafogo. A lembrança daquela noite retornou-me inúmeras vezes ao longo dos anos e sempre ao mesmo momento, aquele no qual um de meus amigos me perguntou como me sentia em relação ao desligamento, já que meu futuro, ou melhor, meu presente havia se tornado incerto. Naquele momento não tinha muito claro o que iria fazer da vida, e ao respondê-lo algumas coisas começaram a fazer sentido para mim. Disse que minha impressão era de estar caindo, mas caindo em algo maior. Não tinha a intenção de expressar algo pior, embora a incerteza do momento gerasse considerável apreensão. Simplesmente sentia estar em queda, mas sentia também que essa queda fosse, em algum momento, levar-me a atingir um ponto mais alto do que aquele a que estava destinado a alcançar caso prosseguisse na carreira de engenheiro militar. Dito isso, gostaria de observar dois pontos. O primeiro é que um desses amigos atribui tudo o que aconteceu comigo no IME a certa teimosia de minha parte, uma teimosia que prefiro chamar de obstinação e que creio ser fundamental para realizar o que quer que seja de valor na vida. O segundo ponto é que somente comecei a escrever depois de começar a cair. Escrevo porque, às vezes, me desequilibro. Por isso, comecei a me apresentar neste blog com um pequeno texto que escrevi anos atrás, O Equilibrista, postado ontem.
[Comente este Post]
Postado por Heberti Rodrigo
3/3/2016 às 08h31
|
|
O Equilibrista
O Equilibrista, de Paul Klee. Fonte:http://http://www.icsedegliano.it/sezioni/studenti/1415/Circo.html Para os homens, a chegada do equilibrista costumava ser um mero acontecimento no qual tomavam parte para esquecerem o fastio e as chateações de suas vidas, mas as raparigas e as crianças olhavam assombradas e boquiabertas para aquele homem esbelto, com camiseta colorida colada ao corpo, de músculos definidos e olhar firme a equilibrar-se sobre uma corda estendida a seis metros de altura. Havia gelo no olhar dos homens, e um misto de pavor e admiração no das mulheres. Quanto às crianças, estavam irremediavelmente encantadas.
- E se ele cair, mamãe?, perguntou um menino. - Daquela altura, decerto morrerá, meu querido. - Então por que ele faz isso? - É o trabalho dele. - Mas o papai também trabalha e não corre tanto risco. - Seu pai não é um artista, meu filho. - Então ele é diferente do equilibrista? - Os homens não são iguais. Se fossem, uns não andariam acima da cabeça dos outros. - Os artistas andam sobre nossas cabeças, mamãe? - Alguns, mas à custa do iminente risco de no passo imediato perderem suas vidas. - Como o equilibrista na corda? - Sim, meu filho, como o equilibrista na corda.
Contato: [email protected]
[Comente este Post]
Postado por Heberti Rodrigo
2/3/2016 às 18h18
|
Julio Daio Borges
Editor
|
|