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Sexta-feira,
6/3/2015
Blog de JOÃO MONTEIRO NETO
JOÃO MONTEIRO NETO
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MORTE E VIDA NO SERTÃO
João Monteiro Neto
02/11/2008 — PUBLICADO no Jornal do Commercio
Desatino de nossos políticos e governantes.
O Sertão é o do Alto Araripe. A cidade, Exu, em Pernambuco. A localidade, Sítio Mandacaru, vizinho ao Sítio Chapada, onde há muitos anos atrás viviam Raimundo Jacó e dona Odília, no início de suas vidas de recém-casados.
Todos esses sítios são circunvizinhos às cidades de Bodocó-PE, Granito-PE, Serrita-PE, Exu-PE e Moreilândia-PE.
Por nós essa região é denominada de Quadrilátero do Vaqueiro, devido a sua forte cultura popular -, com maior destaque para o artesanato, a poesia, a música, a dança (entre elas o forró) e a cultura do couro, a mais forte no Nordeste, por juntar força com a região fronteiriça do Cariri cearense (Juazeiro do Norte - do Padim Ciço -, Crato, Barbalha, etc.), cantada em versos e prosas por Luiz Gonzaga, amigo íntimo de dona Odília e João Câncio, fundadores e idealizadores da Missa do Vaqueiro, que se realiza em Serrita.
Após a morte de Raimundo Jacó, assassinado em 8 de julho de 1954, no Sítio Lajes, local onde se celebra a missa em sua homenagem, dona Odília foi residir no distrito de Rancharia, no município de Granito-PE. O que separa Rancharia do Sítio Mandacaru é um pequeno rio seco, que abriga a exclusão e a miséria, comum no explorado Semi-Árido nordestino.
Viveu ela ali sob violenta privação de alimentação e moradia, com a ajuda de alguns amigos que aquinhoavam auxílio nesse sentido pois, resignada e feliz, nada ela pedia.
Com Jacó, dona Odília teve um filho, chamado Vicente.
No Sítio Chapada, em boa parte de sua vida, dona Odília esperava até semanas pela volta de Jacó - maior vaqueiro do Nordeste, que vivia "perdido", dentro da caatinga, atrás de "boi fujão", para ganhar alguns trocados para levar o sustento de sua família. A paciência e a fé dessa mulher é o símbolo das nossas "Severinas" vivas...
São 10h20 da noite de 27 de janeiro de 2008. Dona Odília agoniza no seu leito de morte, definha desnutrida e fraca, praticamente só, como vivera. Esquecida, aos quase 90 anos de idade. É assim que morrem as nossas "Severinas"...
Que fazer!?...
Aqui rendo minhas homenagens a essa mulher, que foi um exemplo de vida. E não poderia jamais deixar de registrar o gesto do governador de Pernambuco, a se solidarizar com a família de dona Odília e a história, fazendo justiça.
Já são 17h40 da tarde e os inúmeros amigos de dona Odília presentes à pequena Igreja de São Francisco das Chagas não querem que ela se vá... mas é preciso... e no chão seco e sagrado do Sertão, na vermelhidão do ocaso sertanejo de despedida, se ouve a pergunta que não quer calar: "O caixão fica virado com a cabeça para a entrada ou com os pés?" De imediato, vem a resposta lá do canto do campo-santo: "Do jeito que sempre viveu. Do jeito que entrou!"
E assim dona Odília entrou no céu: "com os dois pés", como sempre encarou a vida.
Joao Monteiro Neto
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Postado por JOÃO MONTEIRO NETO
6/3/2015 às 14h27
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Julio Daio Borges
Editor
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