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Terça-feira,
28/4/2015
Blog de Aden Leonardo Camargos
Aden Leonardo Camargos
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Hoje todas as camisas brancas me descompassaram
Hoje não estou para lirismo. Corri. Todas as pessoas de camisa branca me descompassaram, desenharam sua metáfora.
Seu cigarro fez o desenho circular, como uma chave mediúnica, enquanto eu sacava dinheiro no Banco do Brasil. Um cheiro de flor. Fui embora sem orientação. Desci. Não lembrei o nome importado de algum charme oriental, indiano talvez. Mesmo assim pedi à moça, esse - apontei para a caixinha achatada. Dessa vez não quis o café forte sem doce. Fui olhada com espera do murmúrio dos viciados. Disse não. Hoje não.
Te esperei na esquina enquanto cada um abasteceu a vida de eventos cotidianos.
Meu coração arqueado fraquejou. Quis passar na sua frente exibindo a prisão mortificada. Ontem. Meus olhos de bicho capturado na floresta insistente dos erros seus.
Vesti tudo que me deu. Há um zelo proporcional de roupa preta com o fim vermelho. Não lembro se era ausência ou excesso de presença. Vermelho me cai bem.
Chegar tem sido morto. Mortal. Dentro dos seus braços fortes, debato em nada. Nada me detém. Toco seu rosto em um mundo que me sacaneia. A cada carinho: sua face agiganta, tornando impossível aquilo que se é. Não posso ser Midas num castigo cruel de tocar seu rosto que transforma em invisíveis pixels. Digo boa noite para um resto de você. A loucura repousa de lado, de lágrimas, arrancando toda roupa. Nossa.
É um pós-delírio de um sonho mal planejado. Solitário.
Hoje vou fingir me matar. Cair no mar. Aquele de domingo. Vou afogar no que nunca existiu. E é imenso o inexistente. Já que hoje e só hoje, não posso crer em tudo que não ocorre.
Os afogados têm a placidez da morte no rosto sufocado. Uma calmaria inflada.
A verdade: estou para lirismo. É verdade.
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Postado por Aden Leonardo Camargos
28/4/2015 às 08h47
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Chuvas
Nessa chuva dá vontade de ter um abraço pra enroscar... Que pena. Tenho um travesseiro, leve...
Já viu que quando chove, parece que já chove há muito muito muito tempo? No primeiro minuto tenho a impressão que já chove há eras, e nunca parou...
Deve ser porque sou ainda Neanderthal, e a chuva lembra aqueles momentos furiosos das placas tectônicas se acomodando e o céu caindo torrencialmente, eu para variar sem poder sair da caverna. Chuva pra mim é tão primitiva...
Sem opinião própria, sem amor próprio, no meu caso própria tristeza. A gente anda meio assim pra frente, porque nada importa a não ser pensar: trabalhando, abrindo planilha, tomando café, batendo cartão, saindo pro almoço, bebendo água...
Só um escolhido devorador de deuses tem a evolução de ser quem a gente ama! Que admiração por tanta elevação no topo da cadeia evolutiva... Darwin, obrigada... Você deu existência permanente e nome para o objeto da paixão... E nós, neanderthais, nós os tapetes do stand da feira de decoração, tão, tão, mas tão interessantes como um mosquito no calango, resta-nos ó, admirar e esperar por um olhar de piedade...
Piedade! Queremos apenas piedade, os seres apaixonados... Tenha piedade de quem ama... É assim que agimos... Suplicando uma única gota de amor. Que óbvio é negado... Não sei porquê!Porque não sei.
Porque sou sombra na caverna ainda... Não sei. Sei que daqui, olhando essas pedras afastáveis, ritualizo minha noite e espero que se movam por qualquer terremoto, para que eu morra soterrada, numa bela metáfora... Ah... Seres teatrais esses monstros incontroláveis atrasados no tempo...
Nada se compara à minha flor...
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Postado por Aden Leonardo Camargos
26/4/2015 às 21h13
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Dê Lírios
Dentro do ônibus. Dentro do concreto, dentro tudo que não vemos mais. Dentro da ausência, dentros dos eus. O choro contido do mundo vencido. Dentro das fábricas. Por dentro...o que há?
Do lado de fora, contorna o de dentro. Saiu uma flor. Brotou fragilzinha... o caminhoneiro não viu. A moça com prazo também não, os meninos das escolas, nem os que se drogam... não.
Só nas janelas distraídas poetas cinzas se atraem. Algum gorro noturno sacudiu sua tinta e enfrentou a secura humana, depois de um beijo, depois de um mergulho? Deixou molhado um rastro num muro de cimento. Vi pétalas e senti o cheiro da cerca aberta. Três cavalos fugiram. Foi um golpe rápido. Com a cabeça fora ventou na velocidade...
"Dê Lírios"... Pixou. Era um Quixote... Deixou. O dia ficou aceso...
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Postado por Aden Leonardo Camargos
10/4/2015 às 19h22
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Julio Daio Borges
Editor
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