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Quarta-feira, 28/12/2016
Blog de Aden Leonardo Camargos
Aden Leonardo Camargos
 
Caixa preta à pátina perdida





Imagem: La Bioguia

Você perdeu a caixa preta
Com dourado, à pátina
Lá deixei a voz com o pijama usado
Dormido com perfume,
Você perdeu o livro novo,
Perdeu o vermelho que amo
Como prova de descontrole
Perdeu meus palpites em tudo que me meto
Afundei num oceano

Morta, procurei seu inimigo
Soube histórias de vocês
Dessas de perder
encanto.
Sobrou escombros, buracos, um velho abandonado
Não sabia que morrer era tão simples.
Agora é lavar tudo,
Fazer um porta-nada
Lacrar a caixa
Com um aviso enviado
De ler na missa de sétimo dia

Sou um futuro buraco negro
Expelindo o contrário

Você perdeu.
Restou um corpo numa caixa à pátina
Ex-seu
Deus seja louvado
Você não viria mesmo viver


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Postado por Aden Leonardo Camargos
28/12/2016 às 22h08

 
Joguei esse dia triturado na pocinha azul, um céu





Imagem: Google + bagunçada por mim.

Hoje enquanto eu falava mentalmente pelas ruas orações afirmativas sem a palavra “não” – porque dizem uns loucos que nada no Universo saca o que seja “não” – você passou. Não sei o que acontece. Posso variar os horários, você passa. Talvez tenha sido implantado um chip de não em mim. E o Universo entende pataca. Eu também confundo.

O som da sua voz perguntando “quer que desliga de novo?” (na minha cara e foi você quem ligou), soa feito um pilão de milho, do sítio que a Dona Vitalina batia. A gente nunca sabe quando fica pronto. Quando é o fim. Acho que já é hora de recolher as coisas moídas. Sou um fubá saído da sua maldade.

Depois que te vi, ainda fervorosamente (e mais que antes) pensava em caixa alta...Tudo que eu quero transformar em fim. Uma moça com o rosto rosa de espinhas descia a Silva Jardim e me chamou de outro nome. Senti que sou uma ótima bruxa. Às vezes a mágica funciona. Não existe mais passado, nem futuro do pretérito.

Abri meu tarô hoje à tarde. Tudo que vi é que tudo é uma grande bobagem... A gente morre devagar.

Hoje depois de mover o destino pelas ruas, sentei de frente para o que falta. Imprimi o mapa de onde quero te esquecer. É um lugar de ficar perdido. Pega até trem para a saída certa. Lá o pilão de milho e sua voz "querquedesligadenovo” vão ficar desajustados com o ambiente.

Desenhei uma boneca de varetas. Umas lágrimas azuis formaram uma poça no pé. Um gatinho (que ninguém numa hora dessas pode ficar sem afeto) e uma música do Renato Russo, no absurdo que canto.

Hoje foi um dia muito difícil, pelas coisas que você não sabe... Amassei feito pão com muito fermento errado ou como presente de buscar. É difícil controlar o fermento sobrando. É difícil buscar o que é de ganhar. Joguei esse dia triturado na pocinha azul. Você vai pensar que é céu. E o céu é isso, uma mistura de Universos... Onde cresce a massa do impossível.



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Postado por Aden Leonardo Camargos
24/12/2016 às 17h31

 
Quando algo está para acabar, chove. Foi testado.



Imagem: Adilson Nogueira


Tem poucos dias que vi sua foto, circulando. Nesses ventos que sobem pelos de gatos e fotos desavisadas. Você foi naquela festa que combinamos de ninguém ir. Onde outras fotos existem. Mulheres plastificadas, com a vida que bem sabemos. Achei que eu tinha coisa melhor para fazer.

Daí por vingança, respondi um e-mail Spam. Só para contar que tenho mais o que fazer. Descobri que tenho sixteen million (million hein, não thousand) dólares para receber de um suposto parente meu que morreu em Hong Kong - Mr. Fong, o investigador, descobriu pelo sobrenome!

E comecei a conversar.

É muito bom saber que mais gente me acha otária. O Mr. Huo Fong entendeu que revelei meu verdadeiro nome: Chris Drummond. Nunca antes da história desse país, revelei. E me chama de “dear” baby. Deeeaaarrr. Tá?

Eu, que você nem sabe, nem nunquinha vai saber, porque a felicidade da sua foto nunca vai permitir: sou toda um fake. Acho a verdade patética! E com meu sixteen million vou ver a aurora boreal... Sem salvar seu contato. E claro, você vai ver nessas fotos por aí. Que faltam sei lá, thirty days for nothing.

Ver sua foto doeu mais que raio caindo numa tarde rosa. Mais que o gelo de hotel de iglu, de uma pessoa só olhando o céu num chão de neve, que faz barulhinho quando cai.

Sua felicidade também faz. Barulhinho. Aqui dentro... Quando algo já está para acabar, chove... Essas tardes coloridas tem cheiro de fim. Chove muito por aqui.



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Postado por Aden Leonardo Camargos
7/12/2016 às 21h23

 
Musgos verdes numa vila da lembrança, sou paisagem




Foto: Jian Quing (La Bioguia)

É algum ano lá na frente. Hoje é um dia comum e mal lembro qual é. Já não conto de dia três em dia três. Tudo sempre foi impossível e da saudade, acostumei. Li mais que meu medo permitia. Precisei para fingir que te esquecia.

Sirvo café. Sou velha. O tempo é o medo da vida. Tudo que não vivemos passou. Ficou nessa xícara que olho todas as manhãs, a borra fina da lembrança seca.

Seu rosto coloquei num quadro de flores coladas. Só me tornei aquelas escolhas melhores que você fez. Ainda tenho o gosto daquele dia que era noite. Que me restava um pedaço, sempre partido e ido de você. A palavra “acabou” saiu da minha boca ou mente, fui morrendo devagarinho. De onde saem as palavras? Estou morrendo por palavras. Morrendo por fim. De acabar com aquilo que não foi. Morte é palavra certa, tem uns olhos de passado, cheiro guardado.

Chegou mais gente, pediram café. Ligo a TV, mostro o jornal de São Paulo. Viro minhas costas curvadas onde guardei um desenho da coragem que você não teve.

Viver em silêncio foi a flecha mais heroica de te ver passar de vez em quando, ali, lá onde vive o certinho. Eu e a flecha desenhada, costuramos caminho inverso, anverso, transverso... Definido, pontilhado e só por si só e só por isso, me vi no caldo do café desperto. Desses todos dias longes.

Sorri, servi... meus pratos têm frases poéticas e cada café um autor. Para esses agora, gritei como me permite:__ Quero que seja feliz também, meu bem! Com Pessoa! PLIM. Tá pronto. Só pegar no balcão.

Vendo em minha casa pequenas felicidades, faturadas no cartão. As pessoas gostam do que me nasceu: musgos verdes numa vila da lembrança.Sou paisagem.



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Postado por Aden Leonardo Camargos
15/8/2016 às 09h44

 
A Mulher-mais-ou-menos



Imagem: Google


A Mulher-mais-ou-menos
Saiu dos quadrinhos e em tudo quanto é canto
Fez sua vida
Tinha super-poderes de encalacrar seu tempo
Sem que ninguém percebesse.
Tinha botas e unhas vermelhas, abdômen conduzido
Como qualquer herói ridículo.

Cuecas por cima da roupa linda de titânio,
Deixavam sua marca:
super-vulnerabilidade.
Como todo bandido

Tentou fazer justiça, mas sua fala era de balão
Seu três D da existência vazada
(como Chaplin na feirinha)
Fez com que comprasse livros de todos que passavam
E ela mesma começou a dizer bobagens
Sem jamais ser publicada.

Um dia, quando impostou os braços em riste
suas pulseiras deram raios
De incompreensão
Ela desistiu. Entrou de novo em tudo que não existe.
Recortou suas frases acima da cabeça.
Montou como pode, e mesmo rasgando escreveu
FIM.
Bem no cantinho do si.


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Postado por Aden Leonardo Camargos
29/7/2016 às 07h04

 
Se você soubesse que venho inventando em segredo!



Imagem: La Bioguia



Sábado depois da aula, vou acabar a minha quarta tatuagem. Se você soubesse era para ir comigo. Ah... às vezes amanheço mal com as coisas de casa. Chateiam deixando meu sorriso curto... De manhã é tão complicado esquecer tudo!

Se você soubesse eu poderia te ligar logo cedo e dizer que mamãe falou pela décima sexta vez no mosquito da dengue, que vai fazer calor e na televisão de canais ruins disse que não vai chover. Também pede para comprar alguma coisa que sempre esqueço... Se você soubesse que sou uma repetição de esquecimentos!

Te diria que ela tá velhinha. Falava também de filho e da rotina de todo dia. Se você soubesse.

Se você soubesse tudo que venho inventando em segredo. Saberia que olho viagens. Uma ilha bem longe para eu criar coragem de te buscar em casa, ou deixar as passagens. Seu telefone que salvei serve para ter medo.

Hoje tive medo. Não sei mais. Imprimi sua foto de perfil e colei na janela do bangalô e me desenhei como desenhos de criança: eu chegando com um lanche estranho, daquele país distante, que meu inglês ainda texano provavelmente nos colocou numa salada de polvo com camarão com queijo mofado.

Se você soubesse, meu amor, da gente no píer mal acabado, eu te contando que tenho pena de comer camarão. E das coisas que temos que tirar os braços e as pernas. Tenho muita aflição... por fora também.

Acho que você não entende o que falo. Tudo vai bem nas fotos pregadas que nem minhas são. Eu atropelei umas coisas na vida, eu te contaria. E a bagunça que ficou na minha sala.

Ainda no píer eu diria sim para sempre, até ficar velhinha falando dos mosquitos da dengue. Se você soubesse.





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Postado por Aden Leonardo Camargos
12/4/2016 às 20h41

 
Lembranças de uma catadora imaginativa



Imagem: Adilson Nogueira



A gente andava pela praça, bem tempo atrás. Bem. Os mesmos adolescentes de hoje que são nossos clones melhorados, por certo... Mas com aquela mesma alegria de bando que só em bando justifica ser feliz e ter pequenos fogos de artifícios incontroláveis em público...

Era assim: sempre em bandos de adolescentes meninas que um senhor com um sorriso peão, numa bicicleta vermelha ou azul, Monark ou Caloi, Aro gigante – tenho certeza disso, fazia “bi – bi” com a boca mesmo e nos abordava.

O bibi imagino ser carência mesmo de dinheiro, um sininho custaria alguns pãezinhos e quem tem boca vai a Roma pedindo licença... Vinha então a abordagem. Nada disso que tem hoje. Nada de ô lá em casa. Meninas lindas. Ah, se eu pudesse e meu dinheiro desse. Nem aquelas orações que a gente não entende nada - graças a Deus- nossa senhoooora pixui pixui pixui. Não.

Ele fazia o bibi, separando o bando em gritinhos, colocava o pé no chão (freio) e carinhosamente perguntava pra gente:

_ Cês tão amando muito?

Bibi e sorrindo com certa fuligem no rosto ou nos dentes, ou nos cabelos não lembro bem... nos deixava pra lá a pensar, a rir e a esquecer... porquê nem sei se a gente amava muito, acho que não.

Foi eleito vereador. Foi um ato de protesto. Talvez grotesco. Minha cidade pode ser irônica. Era um mal momento. Quase foi presidente da Câmara, que por desvio dos mais espertos não permitiram um semi-analfabeto presidir a casa.

Comprou o sininho depois que tudo passou... e seu discurso mudou: tem amado muito, flor?

(Quase tudo é verdade, não sou historiadora, sou catadora imaginativa)





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Postado por Aden Leonardo Camargos
11/3/2016 às 21h08

 
Sem açúcar, bebo fria minha morte.



Imagem: Katia Chausheva

Hoje fiz um café forte. Não sei mais onde andam meus fantasmas. Eles também são tristes como a morte que vivem: no presente. Sento para colocar ou tirar a roupa, eles se parecem com meu cansaço. Sento no fim para emergências, para chorar do nada. Não sei se fantasma é algum nada. Já foi morto? O que vive nele?

Era um café. Podia ver meu reflexo negro. Tristeza e demora são irmãs. Vi que meu olho é escuro e se perdeu no mundo. Ou na xícara?

Era tão escuro ouvir seu nome. Esse seu nome de calar. Foi uma espera silenciosa me matando devagar. Enquanto tudo esfria e não bebo o que fiz.

Hoje mais cedo chovia. E tem ficado tão perto daquele dia que choveu e você veio, que saio logo do quarto que você dormiu. Por isso cuidado ao vestir e tirar roupas. E beiradas e urgências. Posso me jogar.

Se eu caio no vazio que você deixou, desde o dia que você veio... Nada mais sou. Um fantasma da dor.

Misturo todos os verbos e tempos. Sem açúcar, bebo fria minha morte, que se jogou no abismo do amanhã desse fim terrível, naquela rua do rio do beijo que você me deu. É lá que vou me jogar. Sim, seu castigo de danação eterna sou eu.

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Postado por Aden Leonardo Camargos
29/1/2016 às 05h49

 
Eu era uma castanha branca com sujo de rua

Imagem: L'Âme du Monde



Não sei o que aconteceu. Abaixei um pouco, meu coração sofreu. O ar sumiu.

No chão estatelou um eu bem seco. Eu era uma castanha branca com sujo de rua. Um dos meus dois melhores segredos o cachorro cheirou. Gostou só de um. Saiu dono de si com meu farrapo de você na boca... o bordado com iniciais balançava tão inútil! A gaivota que bordei não voava.

Daí que eu virei estrela esparramada no chão? Ficou tão de noite! As pessoas que passavam não entenderam. Falavam nada de poesia comigo. Saíam de mim? Tem hora que não sou poemas. Queriam me colocar de pé, pedindo números. Responder o quê para esses loucos?

_ O cachorro levou meu mundo? Era um embrulhado com cuidado, um guardado! Agora você quer número? Que importa número? Tem aqui tatuado! Olha aqui, esse maldito número!

Tudo que sobrou foi um pedaço quebrado, que uma gentil senhora oferecia de volta, molhando com água doce para que eu voltasse um ser amado.



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Postado por Aden Leonardo Camargos
18/12/2015 às 07h31

 
Eu disse: para sempre, ao contrário.



Imagem: Veronica Almeida Siqueira


Hoje perdi meus chinelos. No escuro sem querer, toquei você para apoiar minha olhadela debaixo da cama... Ah! Você se enrolou no meu braço e fiquei presa como nas aulas de pilates. Na penumbra do nosso quarto fiz o possível para adaptar minha volta puxando o lençol, só pra não te acordar, nesse meu voltar te arrastei um pouco pra mim.

Seu olhar, cadê, fechou de mim? A boca tão linda! Impossível dizer. O relógio da matriz bateu. Nossos meninos precisam de nós. E como se abraço aos pedaços pudesse ser inteiro... Você foi mais.

Tenho sorte de ter manhãs assim. Por acidente, por evento chinelo-cabalístico, aconteço em "eu te amo". Como se tudo não fosse um sonho.

Esse seria um dos nossos dias, em algum dia se tudo tivesse sido. Mas na janela do meu quarto o tempo constrói seus impedimentos. Olho todo crescimento. Sou vinhedo sem frutos do lado de dentro.

Sou um diário das coisas não acontecidas. Por isso te invento desde que não veio e eu disse para sempre ao contrário. Esse é o significado de "inventário". Que é FIM. Quase nosso aniversário.



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Postado por Aden Leonardo Camargos
30/11/2015 às 07h10

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