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Segunda-feira,
2/3/2015
Blog da Mirian
Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
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Volver a los diecisiete
Volver a los diecisiete, mensagem de um amigo, via e-mail. Com ele comemoro o tempo virtual.
Voltar ao passado? Às vezes, quero. Cine Metro. Voz de Aznavour. Versos de Violeta Parra. Confeitaria Colombo. Teatro Municipal. Já naquela época, contrastes e mais contrastes no Rio de Janeiro. Rocinha. Maré. Outras favelas. Polícia truculenta. Desemprego. Muitos aguardavam Godot e revoluções.
Cuba libre, você se lembra? Desdobravam-se os sentidos da palavra "liberdade", muito além do nome do coquetel. Neruda e Lorca eram leituras de cabeceira. Houve mudanças. Mas o mundo mudou pouco. A cultura oficial virou mercado e release. Nada se aprofunda. Contracultura: termo antigo. A contracultura onde está? Tenho algumas pistas.
Retroceder no tempo. Aos dezessete? Aos treze? Sundae ou milk-shake? Queimei o caderno de poesias. Não sei se as publicaria agora. Ninguém imaginava o micro. Hoje, à espera de alguns versos, eu me dividindo entre palavras e imagens na tela. Amigos, muitos. Inimigos, alguns. Na caixa de entrada, toneladas de mensagens. Algumas nem leio. Depende de quem envia.
O sangue pulsa debaixo da sua jaqueta. Mãos dadas. Tenho sede. E a vida batendo à porta. No Amarelinho. Às oito, pode ser?
Via e-mail, Volver a los diecisiete, mensagem de um amigo. Com ele comemoro o tempo virtual. Tempo sem passado. Nem futuro. Tempo que surge e ressurge diverso. Surge e ressurge em fuga. Escorrendo-me pelos dedos. Matizando-me os olhos. Tempo de mim. Tempo do outro. Tempo de ninguém. Maiô ou biquíni? Moda e vocabulário mudando rápido. Não acho ruim. Me adapto.
Volver a los diecisiete. Mercedes Sosa, Caetano, Gal, Chico e Milton, reverberam na internet vozes e imagens. Dezenas de vezes abri a mensagem do amigo e poeta Francisco Marcelo. E o tempo se abriu. Se partiu. Se repartiu. Mas não ressuscitou. E a imaginação conduzindo-me ao que dói e não dói. E ao passado que morde e assopra.
Volver a los diecisiete. Ouvi primeiro na voz de Violeta Parra. Mas, naquele dia, não era preciso voltar. Rock, Adoniran ou Cartola? Pouco depois, ouvindo outra vez aquela canção, a mim pouco faltava a esse impossível retorno.
Uso pen drive. O vinil pode ser regravado em CD. Mas outras mil tecnologias batem à porta. Eu me perco nesse mundo da informação. E o tempo. Ah, o tempo não se pode gravar. Regravar o tempo, muito menos. Percorrendo a internet, os mesmos cantores burilando décadas de sonoridade e paixão. Cabelos embranquecem. Tinta ou tonalizante?
Em 2009 Mercedes se foi. Ficou a voz. O imaginário do amor. O de Violeta foi trágico. Mas foi amor. Sobre esse sentimento, resta-me "volver a ser de repente tan frágil como un segundo". O amor pula muros. O amor semeia nos desertos. O amor move montanhas. Frases bregas, mas gosto do kitsch. E o amor se alastra e se machuca na pavimentação das ruas.
Na cidade, onde a vida esverdeando pedras? Onde a morte encenada só no palco? E após a peça o ator tomando cerveja na Fiorentina? E o filé, malpassado?
"Volver a los diecisiete después de vivir un siglo". Às vezes, gostaria de viver e voltar. Mas quer mesmo saber? Falta-me o desejo de voltar. Basta-me a ficção. Mas o que fazer ante o leve peso do esquecimento? O que fazer sob o desatino da memória?
Champagne ou cachaça: dá no mesmo a ressaca. Minhas visitações ao passado? Meus passos retrocedendo? O relógio não caminha sobre flores. Circundando o mostrador, o tempo marcha marcha marcha, no mesmo ritmo.
Meu perfume preferido: Jasmim. Não me lembro a marca. Do amor, guardei imagens, chaves, livros. Guardei a canção de Violeta Parra e a voz de Mercedes Sosa. Guardei possibilidades. Violeta e Mercedes sabiam tudo do amor: "Y hasta la dura cadena con que nos ata el destino (...)."
Que pensava eu sobre o amor? Que penso eu daquilo que pensava do amor?
Ao fim do dia a tela do computador me trará outras perguntas e alguns versos que desconhecem o tempo. Então, poderei reverter os séculos. Serei antiga, medieval, renascentista, etc. De volta ao dia de hoje, continuarei a acreditar em revoluções culturais.
(Foto de Mercedes Sosa encontrada no Google sem indicação do nome do fotógrafo)
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Postado por Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
2/3/2015 às 21h50
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Julio Daio Borges
Editor
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