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Sábado,
26/11/2016
Blog da Mirian
Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
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Verde safira (série: sonetos)
Impulsos da torrente que acalento,
remo a perfurar veios esquecidos;
no silêncio pesando-me aos ouvidos,
memória a desdobrar panejamento.
Girando o dia feito catavento,
colho o instante roendo tempos idos,
nessa várzea dos amores havidos
que retornam de corpo e pensamento.
Brincando, a correnteza, nesse espaço
abrindo-se ao desejo, nos retira
do que somos entre tédio e cansaço.
Ao reencontro vive e inda respira
infinita chama em que me refaço
à fluida errância de verde safira.
(Do livro Roteiro de Mitavaí)
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26/11/2016 às 09h06
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Mbiá Mbiá (série: sonetos)
Dormindo a terra em tapete de folhas
revelam-se encaixes de macho e fêmea.
Sorvendo o amor, lábios de boca gêmea;
fruta-pão e mel dispondo-se a escolhas.
Se à tua sede águas explodem em bolhas,
e ao fogo encontrares a gula, algeme-a.
Que ao feixe de trigo, abrindo-se à sêmea,
pelas várzeas da tua fome acolhas.
Aos seios em ardentes pomos, vejo
tocar-me as coxas gesto repetido
do amado a lamber-me corpo e desejo.
Mbiá Mbiá, cresce o falo tangido
na carne da espera a engolir-lhe o pejo.
E a pele exalando gozo e gemido.
(Do livro Roteiro de Mitavaí)
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19/11/2016 às 09h03
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Contraditória face (série: sonetos)
Inda que soubesse eu d’além amor
vigílias no ermo do desencanto,
tanto mais eu teria amado tanto
doando-me de entranhas e louvor.
Se ao dardos da vida estivesse atado
ou preso ao medo que aos mortais espanta,
veria do martírio a parte santa,
no limbo me teria recriado.
Daria às vozes de frágil sonido
uivos de um amor que não se calasse,
tantas vezes mais houvesse eu sofrido.
E a crer em mim contraditória face
a refletir-se no gozo incontido
em luz mortal que nos ressuscitasse.
(Versão do soneto Contraditória face, que foi selecionado no Concurso Sonetos de Amor e de Oração / Ed Litteris)
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12/11/2016 às 09h07
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Imitação de Camões (série: sonetos)
De amores cantarei eternamente;
Que as noites e os dias descompassados
Possam unir corpos enamorados,
Festejar enfim a vinda do ausente.
Grande paixão liberte o descontente
Nas iras e senões enraizados,
Exaltando júbilos renovados
À grande alegria que os alimente.
Assim, Amor, do limiar funesto
De tanta lida cruel e ardilosa
Nada direi eu que de vós me aparte
E pera erguer vosso encanto modesto
Entre arroubos da pele prazerosa
Falta-me afã de poesia e arte.
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5/11/2016 às 08h43
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O tempo e a água (série: sonetos)
Coroado de brilho e desafio,
se ligeiro ou lento à sua captura
ou em fuga da hora que o fratura,
faces do tempo remoto ou tardio.
O que dele não sei, ao rodopio,
não sei das ilhas de luz em lonjura,
nem da água que ao fluir se enclausura
entre os limos do passado arredio.
E igual à cera ao redor do pavio
a gotejar negando-se à planura,
o tempo e a fonte encobrem o vazio.
Destinada à trama que os transfigura,
com eles compartilho o desvario
de querer eterno o que não perdura.
(Do livro Vazadouro)
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29/10/2016 às 09h45
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Água e sede
Visitante das profundezas,
ora te encontro adaga e abrigo.
Desejosa ambiguidade.
Antes da tua chegada,
eu nada tinha de meu.
Do nada ter, soubesse eu, antes.
Das transformações, eu soubesse
muito antes.
Tornei-me água.
Inventei a sede.
Tua fonte guardando-se
em minhas vísceras.
(Do livro Vazadouro)
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22/10/2016 às 09h17
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Também isso
“Tá lá o corpo estendido no chão.”
Aldir Blanc
Do tempo reticente ao contido
esquecimento, contemplo o fantasma
que oscila entre tédio e tédio na alegria virtual
das cores no vídeo.
Neste fio de cabelo segurando
a vida a brincar de cabra-cega,
ou jogando paciência, resta-me
esperar novo anúncio.
Fácil seria aos olhos burlar as imagens
da tela e cenas ao vivo focalizando
as mortes do dia.
Daria no mesmo fechar a janela
ou desligar a TV.
Entanto,
desmascarando o olho que não vê,
não ouve, não pensa e não fala,
a poesia se descobre
também isso:
um espinho no pé
um poema na garganta.
(Do livro 50 poemas escolhidos pelo autor)
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15/10/2016 às 09h08
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Pano de Despir III, IV, V
III
Despido meu manto, encontro-me
neste solo de espera e sossego.
No cais, aportaram navios e pássaros.
Dentro de mim, despertam memórias.
Monossílabos. E o sêmen.
Daquelas árvores no quintal,
herdamos os frutos.
E a doçura.
Legados do viajante.
Entre a carne e a pele, o mundo
se mostra menor que este manto.
IV
Despido meu manto, depois do exílio
o mundo renasceu na cópula dos amantes.
Relembrando palavras do profeta, eu rezara
as rezas sagradas. Mas, nas barbas do profeta,
cofiaram-se os ritos profanos.
À flor da pele, minhas rosas de carne.
Minha mandrágora. Meus bulbos nascentes.
Todos os caminhos convergindo no leito.
À sela do manto, meu fauno de pano.
Ao repouso do tecido, nossas coxas
abrindo asas ao encontro.
V
Despido meu manto, dentro de mim
desperta o amado. Com cheiro de flor,
a casa estremece nas águas do espelho,
refletindo o que vê. E o que não pode ver.
Vão-se as luzes. Retém-se o reflexo.
Vão-se as barcas. Fica o navegante.
Trazendo esse cheiro de mar
que ondula as entranhas.
À casa, habito meu leito.
Entre o macho e a fêmea,
desfia-se o tecido das roupas.
(Do livro Travessias)
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8/10/2016 às 09h50
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Pano de despir I, II
I
Despido meu manto, envolveu-me as ancas
a transparência da espera. Pela casa,
espalhei turíbulos festejando o dia.
Das estrelas, sabiam os videntes.
Desse encontro, sabemos nós,
ouvindo ausentarem-se
as palavras dos presságios.
E, a luz, na tinta das paredes.
À fábula, a travessia dos lábios.
Se, do corpo, mais ousamos que os magos. . .
Sabemos dádiva o suor da pele.
II
Despido meu manto, nele reconheço
o leito desejado. No tecido, me encontro
amorizando a terra. E o código das marés.
No bojo da mala, distanciaram-se
os dias das trincheiras. Do afeto, eu sei.
Do afeto, traduzimos a carne que
nos concede a vida. No afeto,
esquecemos o pecado original.
Nas mãos, as travessias dos braços.
Se, mais que o verbo, sabem os lábios,
na língua se move o gosto da fábula.
(Do livro Travessias)
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1/10/2016 às 15h05
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Insone
A lua nova rastreia o quarto adormecido.
Pela escuridão encontro frestas no eu
que sobrou da véspera.
Acho o que não procurava:
o acaso é parte de mim.
Insone, preparo a festa do dia vindouro.
Aconchegada ao leito, misturo ao mel da manhã
o perfume das violetas.
E recolho numa fotografia
a cabeleira do sol a roçar os ombros
do mundo.
(Do livro 50 poemas escolhidos pelo autor)
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Postado por Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
24/9/2016 às 08h28
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