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Sábado,
4/2/2017
Blog da Mirian
Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
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Visitação a Gregório de Matos (série: sonetos)
Ao Deus pudesse então lançar-me à sorte
Em busca de alívio aos pesares nossos,
Bem o sentiria entre a pele e os ossos,
Do tempo, paz e peso, que eu suporte.
Jamais vos direi que desejo a morte,
Em nada meu sentir ao Cristo imita,
Não lhe reviverei a voz contrita
E aqui espero amor que me conforte.
Não vos direi da existência sofrida,
Inda que fugaz, conforta-me o dia,
Fortuita luz a incendiar-me a vida.
Do eterno tempo nesta romaria
Ao instante que sem corte o divida,
Em busca do amor, não me apartaria.
(Soneto até então inédito)
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4/2/2017 às 08h31
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Nos pombais de Raimundo Correia (Série: sonetos)
Em pós daquela pomba, meu olhar
seguia atrás de outra e de outras mais,
rompendo madrugadas ancestrais
sem nenhum pouso certo onde chegar.
Ao conhecer-vos, luz do contemplar,
ante as tristezas que ora amenizais,
indo as aves e nuvens nos beirais,
buscava eu motivos para amar.
Como se fossem asas viageiras,
ao caminho incerto de um novo dia
minhas mãos logo seguiam ligeiras.
Tal fossem hastes em plena magia
os meus dedos floresciam roseiras
no vão onde o tempo se refugia.
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28/1/2017 às 09h03
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Inda não te conhecia (Série: sonetos)
Não te encontrei e te sei dia e noite;
inda longe, há muito te queria.
A esse tédio que tudo esvazia,
nenhum vazio haverá que me açoite.
A estranha voz do pássaro da noite
de tanto vibrar não trará o dia;
em sendo rouxinol ou cotovia,
que em teu corpo meu lábio pernoite.
Ante o mar de enluarada tormenta,
o desejo sem chave ou sem saída,
tão logo me avassala, me apascenta.
Aos olhos a sedução consentida,
bebamos a calma paixão sedenta.
O amor não pede tempo nem medida.
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21/1/2017 às 07h43
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Águas abertas ao mito
Varjão das aves, porta sem aldrava
ou chave, em águas abertas ao mito
da moça sem racha ante o amor predito,
que ao plano das alturas se lançava.
Se nas lendas o rio tudo lava,
do que se foi algo fica inaudito
sob as libações no tempo de um rito,
à gestação do grão dentro da fava.
Corpo de pedra verde e ave florida,
garça de pétalas de flor de lima,
ao casulo essa estirpe renascida.
Mas na origem a tudo a vida anima
ao que narro, ao que ouvi e ao que não vi.
Borboletas nadando águas acima.
(Do livro de minha autoria "Roteiro de Mitavaí", que tem como temática mitos e lendas do Brasil interiorano, a partir do romance "Manuscrito Holandês", de autoria de Manuel Cavalcanti Proença)
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14/1/2017 às 16h55
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Perdedor
“Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!”,
teu perfume exala o cheiro das feras,
a farejar em mim esse que esperas
dentro da trama que o outro inaugura.
Oh! Oblíquo cristal! Oh! Água impura!,
quando em mim pressentes o da inquietante
face de ambígua eternidade e instante,
sou todo dissimulada clausura.
Entre enganos, quem em meu rosto entalha
distância e mudez do amor exaurido,
no desejo não viu frágil dilema
Jamais tocou o corpo ensandecido
do perdedor que declara seu lema:
“Perde-se a vida, ganha-se a batalha!”.
(Soneto classificado no Concurso Literário: “Um soneto para Machado de Assis”, tendo como proposta completar os dois versos deixados por esse escritor)
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7/1/2017 às 05h09
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Sombra (série: sonetos)
Caminhante da ferina memória
distante e irrefletida em ti: Quem sou?
Se de mim foges ante a tua sina,
mais te persigo os passos e a história.
Ao lavrar-te o pejo, lenta e mordaz,
a esgueirar-me pelas pedras e medos,
ao retirar-me de onde nunca estive,
da luz me desvencilho mais e mais.
Desfeito todo o meu corpo em meu passo:
Quem sou eu que de mim perdida estou
e sem chão ou alento me desfaço?
Pela vida em evasiva mudez,
se de mim te vais - te persigo mais.
Se me segues - te abandono outra vez.
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31/12/2016 às 10h08
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Volta d'África (série: sonetos)
Ao que se esperou d’ Alcácer-Quibir,
fez-se noturno sol que em nada estranho,
seguindo luas que se unem em rebanho
nas terras de quem o queira seguir.
Àquele que ao chão ninguém viu cair,
deu-lhe então o mito poder tamanho
e desde o Tejo aos passos que acompanho
dom bem maior estaria por vir.
Fez-se da volta um sino a ressoar
a esperança que lhe incutiu a fome
de retorno ao grande berço sem par.
Vindouro ele elegeu por codinome;
no eterno ungiu-se o tempo de voltar,
pois a esperança nunca se consome.
(poema até então inédito)
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24/12/2016 às 16h12
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Meus caminhos no Centro do Rio
Prezados leitores,
No dia 12 de dezembro deste ano de 2016, fui agraciada (1º lugar) com o Prêmio João do Rio – Poesia 2016 da Academia Carioca de Letras.
A ACL me concedeu também a Medalha José de Anchieta. Por isso, interrompendo hoje a série “Sonetos”, escolhi para publicação o poema Meus caminhos no Centro do Rio que foi apresentado naquele concurso literário.
Ruas de ontem e de hoje seguem meus passos.
Nalgumas, danço samba. Noutras, declamo rap.
Indo ao passado, meu corpo a girar no lundu:
“A lua vai saí e eu vô girá.”
E Chiquinha Gonzaga ao piano.
Na Sete de Setembro, reencontro meu pai
comprando verniz pra algum quadro que pintou.
E pra outros jamais realizados. A papelaria:
caixa de luzes que ora me colorem o tempo.
E o Rio nas telas de Heitor dos Prazeres.
Pelos jardins sagrados, Dom João Evangelista
cantando poemas de Cecília Meireles. Ah! Cecília
e o mar! De então, rumo à Praça Mauá, desço
o morro de São Bento, como quem desce
a ladeira do mundo para ganhar o porto aberto
a todos os versos que vão dar nas águas.
E Bentinho a passeio no Largo da Prainha.
Pavões. Cotias: ─ Parece cachorrinho!
Foi no parque junto à rua de Santana.
Lenço no cabelo, minha madrinha e mamãe.
Até hoje na fotografia o sol nos ilumina o rosto.
E os roteiros de Tiradentes e João Cândido.
Das vielas às avenidas, meus devaneios.
Na Almirante Barroso, ainda ergo palanque
no saguão do prédio que não mais existe.
E em meus lábios flui a palavra “utopia”.
Trilhas da cidade, destino que me chama.
Pés amorosos aos caminhos que escolhi.
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17/12/2016 às 17h13
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O santo e el-rei (série: sonetos)
Para Álvaro Alves de Faria
Quem vem lá? Quem vem lá? E reverbera
d’ El-Rei a voz dizendo sem lamento:
Quem sozinho venceu o mar cinzento
ressuscitou na lira d’outra era.
Ah! Saber do tempo eu tanto quisera
e dele o timbre fez-se a meu contento,
quando lavrou-me além do pensamento
a orla que se pensara quimera.
Em claras águas nesta verde mata,
Às terras de um Rio finda a clausura.
E eis que da morte o triste se desata.
Se ao criador urde-se à criatura,
ao Santo e ao Rei festeja-se a bravata.
E ao nosso chão a Ibéria se mistura.
(Poema até então inédito)
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9/12/2016 às 23h55
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No rastro de Augusto dos Anjos (série: sonetos)
Da asquerosa hemorragia ao bacilo,
o que poderia nascer não vive,
não guarda motivo que ora o cative
não conheceu nem leite nem mamilo.
Do feto, o que gorou sem redimi-lo
ao gosto do fel que o alimentou,
o que poderia ser não vingou
quando o refúgio exilou-se em sigilo.
No rastro dessa vida que amesquinhas,
ó medo, o coração se fragmenta,
debatendo-se no sangue das rinhas.
E no vazio que a pedra alimenta,
soletra a poesia as entrelinhas
lendo da sorte o que nos atormenta.
(poema inédito até então)
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3/12/2016 às 09h20
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Julio Daio Borges
Editor
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