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Domingo,
11/2/2018
Blog da Mirian
Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
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Fio de Eros IV
Ancorando a casa, meu arcabouço
de laços e afetos.
Às mãos do visitante – as chaves.
E meu vazio.
Às espumas da carne – minhas portas.
Que não se fecham.
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11/2/2018 às 11h02
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Fio de Eros III
Nos meandros do tear, tessituras
abrindo-se em rendas. Ao acolher
olhar e visitante, saciados repousam
enlaçamento e intervalos.
E, molhadas, as nervuras teceram-me
novelos de pelo e gozo.
(Do livro Teia dos labirintos. Escrituras, 2004)
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27/1/2018 às 09h16
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Nei Lopes e Mirian de Carvalho: poesia e samba
Queridos amigos e leitores,
Não consegui anexar o convite do lançamento dos nossos livros.
A alguns enviei diretamente por e-mail.
Aos que não receberam, segue então:
O espírito afro-latino na poesia de Nei Lopes, de Mirian de Carvalho
e
O samba, na realidade... utopia da ascensão social do sambista
(Edição comemorativa dos 35 anos), de Nei Lopes
Sábado, dia 3 de fevereiro de 2018
a partir das 13 horas
na Livraria Folha Seca
rua do Ouvidor, 37
Centro, Rio de Janeiro
O espírito negro-africano na poesia de Nei Lopes
Visitando os poemas de Nei Lopes reunidos em Poétnica, muito ouvi e a tudo estive atenta nos meandros desse canto afro-latino. E o cantar espalhou-se nos ares. Fez-se canto dos orixás. Canto do povo. Canto das matas. Canto da resistência cultural. Para cantar na função poética, o poeta pediu as bênçãos de Exu. A dádiva lhe foi concedida. Então, nesses cantares abençoados, a liberdade esperneia, grita e sobrevive. E, poeticamente, se faz caminho aberto, que se inicia nesta reunião de poemas e prossegue muito além. Neste meu livro, registrei um pouco do que ouvi nos versos de Nei Lopes e imagens que vivenciei como se ─ ao ritmo de um samba-enredo a entrelaçar terras da África e da América Latina ─ acompanhasse o movimento das alas e o sentido das alegorias marcando na pele as sonoridades épicas da nossa africanidade.
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21/1/2018 às 11h58
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Fio de Eros II
Nervura de vazadouro universo
abrindo crescente planície de visgo.
Em volta da trama, pulsa-me a geometria
dos ciclos e marés do corpo. Ao redor
do meio, ao beijo se expandem costura
e tecido.
(Do livro Teia dos labirintos. Escrituras, 2004)
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14/1/2018 às 09h41
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Fio de Eros I
Ao vazado da teia de feminino talhe,
ressudando o centro de feminino púbis:
Que línguas de carne lamberam-lhe
as margens?
Que longilíneo cerne lhe conhecera
ao fundo?
(Do livro Teia dos labirintos. Escrituras, 2004)
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30/12/2017 às 09h21
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O que sei do tempo IV
Em meio à voragem da solitude,
erguem-se hastes da paixão renovada
emaranhando o que se quer
e o que não se quer de volta.
Perdi algumas colheitas.
Perdi algumas sementes.
Inúmeras datas.
Revisito as flores que me despertam
o passado. Nos recortes das lembranças
entreguei ao jardineiro os cuidados
do semear.
Eu me encontro ao burilar
direções dos ventos.
Eu me encontro ao imaginar
novos caules na aragem
das tardes insondáveis.
Imaginar o curso das perdas
evoca-me a dádiva do possível.
Então, ao leito do sono, desfaço-me
das roupas do visitante.
E me ponho a plantar o zelo
das horas passageiras.
(Do livro Nada mais que isto. São Paulo: Scortecci)
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9/12/2017 às 10h50
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O que sei do tempo III
No convívio amoroso com a pintura
ilumina-se o deslizar dos pincéis
bordando o linho. É lilás a cor
da memória, me diz o pintor.
Mas das tintas do vindouro
nada posso dizer. Nem as telas.
Quando morrem as luzes,
não sei para onde vão as vidraças.
Quando se ausenta o burburinho
das cores, existirá vida?
Sei apenas que há um tempo
de inexistente resposta.
De tanta lembrança, o mundo
se tinge de matizes.
Como se fossem pássaros, as cores
do quadro sobrevoam-me a casa.
Entre o lilás e a véspera, a memória
invade meu canteiro de violetas.
(Do livro Nada mais que isto, São Paulo: Scotecci)
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25/11/2017 às 10h40
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O que sei do tempo II
Para ressuscitar, nossos pássaros
reinventam motivos encantatórios.
Emplumados de cio, eles respondem
ao pólen da tarde aberta ao desejo.
Do tempo do pranto ao da fantasia,
entre lugares diversos, a caminhada
movimenta a solidão que me desgasta
as solas dos sapatos.
Ao preparo do unguento
que me suavizará as lacunas
da vida, mastigo flores.
Bebo as horas.
Debaixo do céu, para todos
os propósitos há um tempo.
Há intervalos do tempo.
À espera de sua passagem.
À espera de sua demora.
(Do livro Nada mais que isto. São Paulo: Scortecci)
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12/11/2017 às 14h08
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O que sei do tempo I
Na intimidade das gavetas, chora
ou alegra-se a alma dos guardados.
De tanta recordação, os miosótis
descoram seu azul. De tanta lembrança,
iluminam-se as velas do bolo.
Animiza-se o brinquedo.
Das cores da festa ao inconsolo
do funeral, lento ou acelerado
conforme a música, o ritmo da casa
se transforma.
Mas sinto que após a festa
o tempo descansa. Quase para.
Depois, nos pequenos objetos
ao alcance dos dedos, ele renasce.
Hoje de manhã, no couro
do meu porquinho de barro,
brotaram minhas margaridas
cor-de-rosa.
E renasceram folhas.
Que morreram na infância.
(Do livro Nada mais que isto. São Paulo: Scortecci)
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28/10/2017 às 10h51
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A lâmpada
“A lâmpada SUS
pensa, milagre [...].”
Orides Fontela
Sob elevada coisa de vida acesa,
o mundo se completa em nosso horizonte
do olhar em êxtase.
Se “o que brilha vê”, sou alvo deste olhar, vendo-me
de corpo e pensamentos no imaginário céu da cama.
Luz jorrando deste bulbo de vidro.
Lume a esmorecer em pequena infinitude.
Minha vida acesa nos filetes de metal
olhando o brilho que desce a desvelar-me
o interior dos armários ao sono
e vigília da casa.
Minha vida neste lacre de vidro
contemplando o descanso da morte.
Minha história atravessando vãos
das janelas e portas de sair.
Nesta cabana de ermitão, construo
sobre a cidade caminhos de cristal
enquanto bebo a fumaça
ao meu alcance.
(Do livro 50 poemas escolhidos pelo autor. Rio de Janeiro: Galo Branco, 2011)
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14/10/2017 às 10h07
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Julio Daio Borges
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