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Sábado,
6/7/2019
Blog da Mirian
Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
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Pelagem de flor III: AMARELO
Das sementes da papoula floresceu
o pelo-de-topázio. Carregando fardo ameno,
ele resfolega atento ao que lhe pulsa
entre as veias e as costas.
Molhando-lhe o dorso, escorre a seiva
da amazona de lírios, que ao repouso
lhe roça o falo com sedução.
E lábios de pétalas.
Vindo do Leste, ele acorda os pássaros.
Meu cavalo da manhã despertando
para o coito.
Meu cavalo de sol carregando
a vida. Que o recebe em berço
de gozo.
(Do livro O camaleão no jardim
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6/7/2019 às 08h48
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Pelagem de flor II: NEGRO
Nas manhãs nunca fora visto.
Nunca fora visto nas tardes do jardim.
Chegara o visitante notívago. Meu animal lendário
exibindo pelagem de negrume.
Da escuridão, ele chegara. Mas os hábitos
das flores noturnas não o queriam fúnebre.
Nem a madrugada em seu corpo
o queria temido.
Descendo-lhe o dorso de sombras,
o manto de narcisos luzindo sedas.
Luzindo texturas de carícia.
Ao bicho dos eclipses, as cores
da noite o faziam lânguido.
Acendendo-me desejos.
(Do livro: O camaleão no jardim)
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23/6/2019 às 08h59
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Pelagem de flor I: VERMELHO
Em alameda livre, saltam meus cavalos
de carmim. Saltam com narinas afeitas
ao que vive ao redor da casa.
E ao redor dos limites do portão.
Eriçando a pele, meu cavalo de rosas
respira. Do mundo da fábula, chegou-me
este centauro de corolas abertas. Afoita cauda
correndo atrás do vermelho da crina.
À procura de pouso e fêmea,
meu cavalo do verão se olha
no lago das chuvas.
Lambendo a imagem desfeita,
ele ergue imenso falo. E a tarde
o amansa às horas de lascívia.
Do livro O camaleão no jardim.
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8/6/2019 às 09h29
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Direções da véspera V
Ao longe, o aeroporto se reconta
nos mitos dos roteiros permanentes.
Ansiando merecido pouso, minha aeronave de papel
retorna do trajeto diurno.
Olhando as ruas, projeto aterrissagem
em terra amiga. No fundo dos mares
ressonam estrelas. E náufragos.
“A canoa virou / Deixaram ela virar”.
No relevo da cidade, farejo travessias.
Ao desajeito dos meus versos, canto
utopias e cantigas de roda.
(Do livro Travessias
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28/4/2019 às 09h59
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Direções da véspera IV
Fora-se o brilho dos tempos dourados.
Em esquiva das penas, o viajante sorvia
insânia. E se alimentava da própria carne.
Naqueles lugares de angústia, – entre mortos
e feridos – salvou-se a Arca de Noé.
Os homens? Se salvariam?
Alguns perderam a memória. Outros,
na pele gravaram lembranças.
No calendário, mudaram-se as datas.
Mas, que vestígios são esses
no miolo do pão, esfriando sempre?
(Do livro Travessias
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6/4/2019 às 09h12
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Direções da véspera IV
Fora-se o brilho dos tempos dourados.
Em esquiva das penas, o viajante sorvia
insânia. E se alimentava da própria carne.
Naqueles lugares de angústia, – entre mortos
e feridos – salvou-se a Arca de Noé.BR>
Os homens? Se salvariam?
Alguns perderam a memória. Outros,
na pele gravaram lembranças.
No calendário, mudaram-se as datas.
Mas, que vestígios são esses
no miolo do pão, esfriando sempre?
(Do livro Travessias
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6/4/2019 às 09h12
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Direções da véspera III
Da terra de origem, guardei objetos
e imagens. Travesseiro. Cartas.
Minha figura-de-proa carregando emblemas.
Contando estórias de garrafas.
Ressuscitando moribundos.
Valeu a pena esse rosário de travessias
desbravando as entranhas? Valeu a pena
esse rosário de navios desbravando becos?
Meu reino e meu cavalo por um verso!BR>
Fugindo da cólera dos deuses, a poesia
se arrebenta nas calçadas. Sobrevive?
(Do livro Travessias)
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17/3/2019 às 10h40
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Direções da véspera II
Do exílio, ficou o gosto das travessias.
O ermo das ruas aguardando os notívagos.
Ficou a tela da TV – mostrando guerras
e delícias – em compactos segundos.
Nosso reino pelo Cavalo de Tróia.
Nosso reino por um chope gelado.
Minha face por um castelo de festas.
Minha bolsa pelo aluguel do quarto.
Meu espelho pela minha imagem.
Nesse desajeito dos meus cabelos,
enlouquecem delírios de realidade.
(Do livro Travessias)
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24/2/2019 às 17h23
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Direções da véspera I
Foram-se os dourados da década travestida
de ouro. Por angústias, os dias se ressarciam
nas aventuras e músculos do Sheik de Agadir.
Nesse tempo, o anjo torto ensimesmou-se.
Nesse tempo, ser gauche tornou-se crime de guerra.
Mais tarde, disseram-me que:
saiu-de-moda. No desajeito da fala,
procuro meu verbo perdido.
Naufragando em papel, minhas palavras.
No desajeito destes versos, vagueiam
sonâmbulos da cidade prometida.
(Do livro Travessias)
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10/2/2019 às 18h08
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Direções da véspera (Introdução)
Às mãos do pai, vinha o endereço da casa
de aluguel, na ruazinha cheirando a peixe.
Enfim, ao meio dia recolhia-se o lixo.
Mas, ao giro das chaves, nada me respondia.
Do outro lado da fechadura, meu olhar galgando
calçadas. Quarto de todos era a sala de oração.
E, ultrapassando o umbral, as moscas
rememoravam a última praga do Egito.
Porta de entrar e sair, quem te abriu
ou te fechou nas direções da véspera?
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28/1/2019 às 11h01
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Julio Daio Borges
Editor
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