Em edição ‘familiar’ e homenagem à Tropicália, Festival João Rock chega à 17ª edição
No próximo sábado, 09 de junho, acontecerá em Ribeirão Preto o Festival João Rock, um dos maiores e mais importantes eventos de música do circuito nacional.
Juntando o binômio música e entretenimento, o festival une em três palcos grandes nomes do rock do país e estilos que lhe são familiares.
A programação deste ano, reúne no palco principal – João Rock – shows como o de Cordel do Fogo Encantado, na turnê de volta da banda, após oito anos afastados dos palcos; Skank, Supercombo, Gabriel Pensador, Pitty, Criolo, Raimundos, Natiruts e Planet Hemp.
Após homenagear a região Nordeste na edição passada com Zé Ramalho, Alceu, Lenine e Nação Zumbi, o Palco Brasil, este ano volta às suas energias em homenagear os 50 anos da Tropicália, em programação imperdível, com os maiores nomes do movimento: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Os Mutantes. O irmão de Bethânia virá para o evento com o show Caetano, Moreno, Zeca e Tom Veloso, que rendeu à família o álbum Ofertório, lançado no último mês de maio.
Gilberto Gil, após período recente de problemas de saúde, recuperado e refeito, para usar palavras que retomam o conceito caro para o músico, vem para uma dupla festa: de comemoração do Tropicalismo e dos 40 anos de lançamento do seu disco Refavela, em show idealizado pelo filho Bem Gil. O disco tem sua origem em uma visita feita pelo músico ao continente africano, no final da década 70, em que tocou em um festival na Nigéria. Esse momento o fez pensar nas suas origens africanas, bem como nordestinas, surgindo assim o sucessor do disco Refazenda [1975], segundo disco da famosa tríade de trabalhos chamada de Trilogia “Re” ; Refavela que tematizava o conceito de retomada/retorno e que termina com o LP Realce [1979], maior sucesso comercial do cantor. Além do filho participam do show Anelis Assumpção, Moreno Veloso, Chiara Civello e Mestrinho. Tom Zé e Os Mutantes fecham o line-up do palco daqueles que estavam juntos desde a gravação do disco-manifesto Tropicalia ou Panis et Circencis, em 1968, disco fundador do movimento.
No Palco Fortalecendo a Cena, entre as apresentações de Froid, Sinara, Rael e Convidados, Kilotones e a mexicana-brasileira Francisco El Hombre, temos a presença da banda Dônica, composta por Zé Ibarra (teclado e voz), Miguel Guimarães (baixo), André Almeida (bateria), Lucas Nunes (guitarra) e por Tom Veloso (compositor), filho de Caetano.
O evento ocorre novamente no Parque de Exposições Permanente de Ribeirão Preto, com capacidade de público previsto para 55 mil pessoas e ingressos ainda disponíveis para os diversos setores. A abertura dos portões acontece às 14h com início dos shows às 15h.
Festival João Rock Data: 09 de junho de 2018 Local: Parque Permanente de Exposições de Ribeirão Preto Palco João Rock: Banda Vencedora do Concurso de Bandas: Napkin, Pitty, Cordel do Fogo Encantado, Raimundos, Supercombo, Skank, Natiruts, Gabriel O Pensador, Planet Hemp e Criolo Palco Brasil – Edição Tropicália: Caetano, Moreno, Zeca e Tom Veloso; Refavela 40: Gilberto Gil, Bem Gil, Anelis Assumpção, Mestrinho e Chiara Civello, Os Mutantes e Tom Zé Palco Fortalecendo a Cena: Froid, Rael e Convidados, Dônica, Kilotones, Sinara e Francisco El Hombre
Neste final de semana, em São Paulo, na casa convencional do basquete paulista e brasileira - o ginásio do Ibirapuera - se celebra o maior evento esportivo do calendário brasileiro: o Jogo das Estrelas.
O adjetivo, no caso, não representa exagero de afirmação ou cunho propagandista dos organizadores do evento, a Liga Nacional de Basquete, sempre se notabilizou de dar um passo de cada vez, num salto pensado e, usando uma palavra da moda, sustentável.
Motivos não faltam para o sucesso do evento e da Liga:
1. A continuidade: Estamos na décima edição do evento, num país que está acostumado a descontinuidade de práticas, políticas e que por vezes, no campo esportivo, dependem cada vez mais de aporte público e da iniciativa privada.
2. Patrocínios e apoios: Caixa, Avianca, Penalty, Açúcar Guarani, Mc Donald's são alguns dos parceiros e patrocinadores, seja do campeonato nacional, o NBB, ou do Jogo das Estrelas propriamente. Além desta penca de patrocinadores, a Liga conta com o apoio da NBA, em acordo que visa não só o fortalecimento da Liga de basquete americana, mas também a troca de informações relacionadas à gestão do esporte e que facilitou também a realização de amistosos entre as equipes daqui e de lá.
3. Organização: O know-how da parceria, possibilitou uma enorme ferramenta na implementação do conceito de esporte-entretenimento. Se algumas equipes durante o campeonato de clubes já avançaram no item entretenimento, o evento de hoje é a culminância dessa mentalidade. Há durante todo final de semana, tendas e espaços em que os patrocinadores podem expor e explorar a relação da marca com o público, dando brindes, fazendo gincanas e etc. Há um ginásio anexo, em que os espectadores podem disputar partidas de um contra um. Em outro espaço se alguém acertar uma cesta de três pontos ganha um sorvete de casquinha.
Mas nada se compara a organização dentro da arena o jogo. No momento em que você entra, além de camisetas e instrumentos que auxiliam a torcida, já tem disponível em todos os lugares uma revista com todas as informações, números e curiosidades do evento. Nada do que se passa na quadra, o público fica de fora. No quesito, entretenimento temos ainda o Jogo das Celebridades em que ex-jogadores de futebol e basquete, Youtubers, Atores e atrizes, modelos e celebridades em geral...
4. Show do Intervalo. Outro conceito importado dos esportes americanos, tem dado muito certo no Jogo das Estrelas. Ano passado com show do Jota Quest em palco montado num anexo bem próximo as arquibancadas funcionou muito bem. O intervalo deste ano tem evento marcado com Thiaguinho, além do ex-companheiro de grupo Péricles cantando o hino nacional.
No âmbito esportivo teremos o torneio de habilidades, de três pontos e o aguardado torneio de enterradas, finalizando com o jogo principal e nome do evento o Jogo das estrelas. Disputado pelas equipes NBB Brasil e o NBB Mundo, equipes escaladas com os melhores jogadores do torneio escolhidas pelo público em votação da internet divididas estre os melhores brasileiros e estrangeiros.
A Festa terá transmissão ao vivo pela TV Globo e SporTV.
Se você não conhece Boogarins, corra para qualquer lugar onde possa encontrar informações e músicas dessa banda de rock Psicodélico com toques de Progressivo, formada em 2012, em Goiânia, idealizada primeiramente por Fernando "Dinho" Almeida (vocal e guitarra), integrante de outra banda do mesmo estado chamada Ultravespa e e Benke Ferraz (guitarra solo e sintetizadores), Logo depois entraram Hans Castro (bateria) , substituído posteriormente por Ynaiã Benthroldo , ex-Macaco Bong, em 2014, e Raphael Vaz (contrabaixo) , do projeto Luziluzia.
A história é incomum. Fernando e Benke, amigos desde a escola, realizaram algumas gravações caseiras e enviaram um EP para diversos sites, selos e revistas nacionais e internacionais via internet. Sem obterem resposta imediata de interessados no país, surgiu interesse gringo, e assim conseguiram contrato com a Other Music Recording, famosa loja de discos americana que se transformou em gravadora. A distribuição ficou a cargo da Fast Possum Records de bandas como Black Keys e Iggy and the Stooges.
Este é um dos motivos para o fato de a banda ser muito mais famosa fora do Brasil que aqui - cantando em bom Português! Ano passado rodaram o mundo com média de um show a cada três dias, com quase 110 apresentações! Para se ter uma pequena noção, em junho passado, realizaram nos Estados Unidos cerca de 24 apresentações apenas nesse mês.
Então o quarteto entrou em estúdio, e em 2013, lançou o disco – em formato de vinil também - As Plantas que Curam e seguiu em turnê europeia tocando nos principais festivais do mundo como South by Southwest – o SXSW -; Rock In Rio, Primavera Sound, Bananada e Levitation.
De 2015 para cá, lançou o disco Manual, ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos, indicado ao Grammy Latino, foi notícia em diversas publicações como The Guardian, New York Times e, ano passado, fez uma apresentação completa na importantíssima rádio de música indie de Seattle, KEXP, nos Estados Unidos.
No início deste ano, lançaram o EP Desvio Onírico, ao vivo, com registro de apresentações da banda em diversos desses festivais pelo mundo. O trabalho conta com quatro músicas todas com mais de nove minutos, que são: “Tempo” , “Infinu” , “Auchma” , e “Manchaca” , uma jam-session realizada em uma casa/estúdio que o grupo teve estadia em Austin, no Texas. Por fim, de maneira totalmente surpreendente, a banda jogou no Youtube e em outras plataformas, sem aviso prévio, o disco Lá Vem a Morte, gravado no estúdio Manchaca Roadhouse, no Texas. Das novidades do álbum podemos listar, a presença do Ynaiã como compositor e a maciça presença de sintetizadores pilotados por Raphael Vaz.
Show poderoso ao vivo, lisérgico e com a sinestesia de um som colorido, a banda prolonga a música em verdadeiras jams que possuem uma ambientação sonora que transforma um ‘simples’ show em uma experiência quase ritualística, ou totalmente! Recomendo!
E hoje tem show no Sesc Belenzinho, SP, 21:30, vamos colar?!?!?!
Começou na última quinta-feira, 15, e vai até o próximo domingo, mais uma festa da imagem e do som: O Festival Internacional do Documentário Musical que aporta mais uma vez em algumas salas de cinema da capital paulista.
O In-Edit, como o evento é conhecido, chega à sua 9 edição com um verdadeiro desfile de registros de ritmos, cenas musicais e formatos para nenhum cinéfilo ou amante da música desgostar ou nem comparecer.
Neste ano serão exibidos 60 filmes pulverizados em vinte salas da cidade como CineSesc, Centro Cultural São Paulo, Olido, MIS, Cinemateca e Matilha Cultural, sem contar as 17 salas do circuito Spcine. Outro motivo relevante para não deixar de ir é que serão exibidos muitos filmes que simplesmente não entrarão em cartaz no circuito comercial brasileiro, isto é, oportunidade única.
Os homenageados deste ano são o Punk e Tropicália, movimentos musicais sobretudo que comemoram quarenta e cinquenta anos respectivamente. A Mostra 40 Anos de Punk reúne 11 títulos nacionais e estrangeiros que vão desde “Garotos do Subúrbio”, o primeiro filme de Fernando Meirelles (1983), “Botinada!”, de Gastão Moreira (2006), a “Rude Boy”, de Jack Hazan e David Mingay (1980,) “Rough Cut and Ready Dubbed”, de Hasan Shah e Dom Shaw (1982); sem contar o show, exclusivo para o festival, da banda Restos de Nada, pioneira do gênero que se reúne após muitos anos.
Já a Mostra Meio Século de Tropicalismo reúne o imperdível clássico “Os Doces Bárbaros”, de Jom Tob Azulay, - com apresentação ao ar livre na Cinemateca -; “Tropicália”, de Marcelo Machado, e “Rogério Duarte - O Tropikaoslista”, de José Walter Lima assim como debates sobre o tema.
Parte do Panorama brasileiro, que faz um balanço do produzido recentemente do documentário musical do país, em curtas e longas, a aguardada Competição Nacional, selecionou 5 títulos inéditos. “O Piano que Conversa” , do diretor Marcelo Machado, nos leva a uma viagem ao mundo e sons por meio do “piano” de Benjamin Taubkin, “Perdido em Júpiter” , dirigido por Deo, é um filme sobre a figura de Júpiter Maçã, realizado através de pesquisas realizadas no Youtube; “Serguei, o Último Psicodélico” , de Ching Lee, Zahy Tata Pur’gte, reúne entrevistas de pessoas revelando histórias sobre um dos maiores ícones do rock nacional; “Sotaque Elétrico” , de Caio Jobim e Pablo Francischelli, fazem um panorama da guitarra elétrica no Brasil e como a identidade brasileira neste instrumento – que é difusa como a identidade nacional – se constrói. Completam a Competição “Eu, Meu Pai e Os Cariocas - 70 anos de música no Brasil” , de Lúcia Veríssimo, em que a diretora – e também atriz - conta a história de parte da música brasileira por meio do grupo de seu pai, Severino Filho, do grupo Os Cariocas.
O júri deste ano é formado por profissionais do cinema e da música como: Marcelo Costa, do Scream & Yell, editor e responsável pelo maior site de música independente do país; Roberta Martinelli, apresentadora de TV e rádio, criadora e curadora do Cultura Livre; Helena Ignez atriz e diretora, começou a carreira com Glauber Rocha e atuou em quase todos os filmes de Rogério Sganzerla e Duda Leite, cineasta e curador do Music Video Festival. O vencedor deste ano será o representante do Brasil na edição espanhola do In-Edit, em outubro, na cidade de Barcelona.
O blog trará indicações, resenhas e críticas dos filmes ao longo da semana, além dos horários em que os filmes indicados serão exibidos. Caso não queira esperar – rs - acesse a programação no site: http://br.in-edit.org/.
No último mês de maio, a cidade de São Paulo conheceu mais um espaço dedicado ao entretenimento. O novo lugar dedicado à música brasileira pretende oferecer um lugar ao público que alie conforto, sofisticação e qualidade musical apresentando nomes consagrados da MPB, novos talentos em um projeto que combina o ‘know-how’ de Paulinho Rosa, dono do Canto da Ema, e Edgard Radesca, criador do Bourbon Street Music Club, com a experiência da cantora e compositora Vanessa da Mata, juntamente com o patrocínio da Natura, por intermédio da Natura Musical.
A Casa Natura Musical, como é chamada, possui uma localização privilegiada, estabelecida na Rua Arthur de Azevedo, próximo da Avenida Brigadeiro Faria Lima, e poucos minutos da Estação Faria Lima e Fradique Coutinho do metrô. A casa possui um espaço para 710 lugares, parte destes em pé, oferecendo conforto e boa visibilidade de todas as áreas em que o espectador tentar acompanhar o show, além de muita proximidade do palco para os mais aficionados. Palco este com dois camarotes dispostos nos extremos superiores que proporcionam uma sensação de se estar dentro do próprio espetáculo.
A inauguração da casa deu-se no 9 de maio seguindo a premissa da casa, com talentos atuais e aclamados, e contou com Maria Bethânia, Xênia França, Mestrinho, Filipe Catto, Johnny Hooker e Vanessa da Mata.
Foto: Gabriela Canuto dos Reis
O blog pode acompanhar de Baby do Brasil, no dia 12, apresentando o seu novo projeto nomeado Baby do Brasil Experience em que os talentos de Franki Solari na guitarra, de Jorginho Gomes, irmão do ex-marido Pepeu Gomes na bateria, André Gomes no baixo, Dudu Trentin nos teclados e a guitarra base e violonista Daniel Santiago somando talentos numa equipe de virtuoses.
Foto: Gabriela Canuto dos Reis
Assim como a banda, a apresentação de Baby naquele dia foi elétrica. Esbanjando energia e carisma únicos a novo-baiana percorreu todo o tablado e seu repertório, desfilando uma penca de sucessos: Sem Pecado e Sem Juízo, Todo Dia Era Dia de Índio, Cósmica, Telúrica, Brasileirinho, Menino do Rio, A Menina dança, como também versões de Stand By Me, Desafinado, Is This Love, de Bob Marley e a inédita “Aquela Porada” , com Rafael Garrido, uma espécie de “guitarrista pessoal” da cantora, também presente no show. A nova composição estará presente no próximo disco de inéditas desde “Um” de 1997 em que retoma parceria com Pepeu Gomes e soma canções assinadas também com Pitty, Arnaldo Antunes, Rogério Flausino, Wilson Sideral e Luís Sérgio Carlini, lendário guitarrista da Tutti-Futti – que inclusive curtia o show da plateia.
Foto: Gabriela Canuto dos Reis
Se apresentaram desde a estreia da casa: Lenine, Mart’nalia, 5 a Seco, Tom Zé, Clarice Falcão, Silva, além do porvir de Zeca Baleiro e a gravação do DVD da turnê e álbum “Estratosférica” de Gal Costa. A MPB em São Paulo tem nova Casa.
A festa deste ano trará palco dedicado à música nordestina
Organizado e estabelecido desde 2002 na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo, o Festival João Rock, alcança a sua 16ª edição, no próximo sábado, dia 10, mantendo o mesmo foco e demonstrando vigor de inovar em alguns elementos dos festejos a cada ano.
Neste ano, o evento acontece no Parque Permanente de Exposições, com aproximadamente 230 mil metros quadrados, em que as 18 atrações, divididas em três palcos, se apresentam sem que a música cesse um instante, em mais de 10 horas seguidas de atrações musicais, de entretenimento e esportes radicais.
No palco principal, João Rock, as atrações acontecem no sistema ‘non stop’, sem pausas entre as atrações já esperadas pelo público cativo do festival como CPM 22, Capital Inicial, Nando Reis e O Rappa/, que já se apresentaram outras vezes neste mesmo palco, Humberto Gessinger, Emicida e convidados, assim como Armandinho em apresentação inédita. Além disso o palco tem como destaque a apresentação da cantora Pitty que retorna aos palcos após se dedicar à maternidade desde o nascimento da filha, em agosto passado.
O palco Fortalecendo a Cena, que estreou ano passado, que tem como mote apresentar bandas brasileiras novas com certo destaque, nessa edição traz bandas inéditas no João Rock: Medulla, Selvagens à Procura de Lei, 3030, Haikaiss e Cidade Verde Sounds.
A novidade do ano fica por conta da introdução do Palco Brasil na programação do Festival. Com a chamada edição Nordeste, o João Rock prestará uma homenagem àquela região do pais em que nasceram os artistas confirmados para a festa deste sábado: Zé Ramalho, Lenine, Nação Zumbi e Alceu Valença. Um dos organizadores do evento Marcelo Rocci afirma que “Com esta iniciativa o Festival quer mostrar a riqueza, a diversidade e a pluralidade da música brasileira”.
Mantendo a tradição, o concurso de bandas revelou quem fará o show de abertura no próximo sábado e o que houve foi mais uma novidade. De maneira totalmente incomum, a organização decidiu por um empate técnico entre as bandas Machete Bomb, de Curitiba, e NDK, de Jundiaí, que farão uma exibição em formato de inusitado na festa, no palco principal, tocando individualmente e depois juntas:
“Foi uma quebra total de protocolo e uma disputa bastante concorrida. A final foi de altíssimo nível e houve um empate técnico [...] Agora demos o desafio para os dois vencedores compartilharem o palco e promoverem uma parceria criativa, seguindo a tradição de encontros que acontece nos palcos do festival. Eles foram convidados a ensaiarem juntos, em um estúdio local, e criarem um show digno do palco João Rock”, comenta Marcelo Rocci, diretor artístico do festival e presidente do júri.
O Festival que se projeta a cada ano como um dos grandes do país, chega a mais uma celebração mantendo sua relevância. Não esquecendo também a solidariedade, como no ano passado, por exemplo, quando foram arrecadados mais de 13.385 kg de alimentos, gerados pelas pessoas que adquiriram o ingresso solidário, – o público total foi de mais de 50 mil – que foram doados para o Fundo Social de Solidariedade de Ribeirão Preto que distribuiu as doações entre as famílias necessitadas e entidades assistenciais, ato que se seguirá para este ano, pois em se tratando de João Rock, as boas práticas permanecem.
Vídeo oficial do último João Rock.
Festival João Rock Data: 10 de junho de 2017 Local: Parque Permanente de Exposições de Ribeirão Preto Palco João Rock: Banda Vencedora do Concurso de Bandas, CPM 22, O Rappa, Emicida e convidados, Armandinho, Humberto Gessinger, Nando Reis, Capital Inicial e Pitty Palco Brasil – Edição Nordeste: Zé Ramalho, Lenine, Nação Zumbi e Alceu Valença Palco Fortalecendo a Cena: Medulla, Selvagens a Procura de Lei, 3030, Haikaiss e Cidade Verde Sounds.
Não, o carnaval na sua configuração atual não faria parte da minha paideuma (menos ainda de qualquer espécie de paidéia[1]). Esse Carnaval que conhecemos, principalmente, aquele mais divulgado na mídia, como os do sambódromo do Rio e de São Paulo, perdeu a sua principal característica de festa do povo e para o povo. Excetuo aqui o carnaval de "bloco" destes mesmos estados e o carnaval pernambucano que, em essência, e culturalmente, é lindo. De todo modo, não sou especialista em carnaval. O que me interessa são algumas composições que, estas sim, mereceriam figurar em uma lista por sua qualidade inegável e por serem representantes "não desvirtuadas" deste espírito carnavalesco: os sambas-enredo e marchinhas e etc.
Elenco aqui alguns que fazem parte da minha antologia: Aquarela Brasileira, composto por Silas de Oliveira, samba-enredo da Império Serrano, em 1964.
Este, para mim, é o maior samba-enredo de todos os tempos. Por aliar um bom "andamento" e cadência à um certo didatismo, é uma verdadeira aula - geográfica, cultural- sobre o Brasil. Até hoje me arrepio somente por ouvir o início desse samba, seja a versão da Império ou mesmo do Martinho da Vila que o gravou depois. Letra logo abaixo:
AQUARELA BRASILEIRA
Vejam esta maravilha de cenário
É um episódio relicário
Que o artista num sonho genial
Escolheu para este carnaval
E o asfalto como passarela
Será a tela
Do Brasil em forma de aquarela
Passeando pelas cercanias do Amazonas
Conheci vastos seringais
No Pará, a ilha de Marajó
E a velha cabana do Timbó
Caminhando ainda um pouco mais
Deparei com lindos coqueirais
Estava no Ceará, terra de Irapoã
De Iracema e Tupã
Fiquei radiante de alegria
Quando cheguei à Bahia
Bahia de Castro Alves, do acarajé
Das noites de magia do candomblé
Depois de atravessar as matas do Ipu
Assisti em Pernambuco
À festa do frevo e do maracatu
Brasília tem o seu destaque
Na arte, na beleza e arquitetura
Feitiço de garoa pela serra
São Paulo engrandece a nossa terra
Do leste por todo o centroeste
Tudo é belo e tem lindo matiz
O Rio dos sambas e batucadas
De malandros e mulatas
De requebros febris
Brasil, essas nossas verdes matas
Cachoeiras e cascatas
De colorido sutil
E este lindo céu azul de anil
Emolduram em aquarela o meu Brasil
Lá rá rá rá rá
Lá lá lá lá iá
Ouça e veja aqui:
Se tratando de Império Serrano há ainda um outro samba de rara beleza e de grande conhecimento público, apesar de poucos saberem sua origem. Estou falando do samba-enredo chamado A Lenda das Sereias Rainhas do Mar que foi muito popular nos anos 70 na voz de Clara Nunes e depois com Marisa Monte, composto para o carnaval de 1976 por Vicente Mattos, Dinoel Sampaio, Arlindo Velloso.
A Lenda das Sereias Rainhas do Mar
O mar, misterioso mar
Que vem do horizonte
É o berço das sereias
Lendário e fascinante
Olha o canto da sereia
Ialaô, Okê, laloá
Em noite de lua cheia
Ouço a sereia cantar
E o luar sorrindo
Então se encanta
Com a doce melodia
Os madrigais vão despertar
Ela mora no mar
Ela brinca na areia
No balanço das ondas
A paz ela semeia (bis)
Toda a corte engalanada
Transformando o mar em flor
Vê o Império enamorado
Chegar à morada do amor
Oguntê, Marabô
Caiala e Sobá
Oloxum, Inaê (bis)
Janaína, Iemanjá
São Rainhas do Mar...
Veja:
A Império também tem o quase impronunciável, e acho que onomatopaico, samba Bumbum Praticumbum Prugurundum [Beto sem Braço e Aluísio Machado]. O samba tem um sabor metalinguístico e fala sobre os acontecimentos do carnaval e sensações advindas dele. Acompanhe!
Limitando-se somente em sambas-enredo que fizeram sucesso também na música popular brasileira, a escola de samba carioca União da Ilha possui dois belos exemplares: O Amanhã e É Hoje.
O Amanhã, composta para o carnaval de 1978, foi regravada pela cantora Simone e possui aquele conhecido refrão:
""Como será o amanhã
Responda quem puder
O que irá me acontecer
O meu destino será como Deus quiser".
Em 1982, essa escola veio com outro grande samba que já foi regravado por Caetano Veloso e fez grande sucesso com Fernanda Abreu. Quem nunca ouviu ou cantou esses versos:
"É hoje o dia da alegria
É a tristeza, nem pode pensar em chegar
Diga espelho meu!
Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu".
O Salgueiro entra nessa lista com o samba Peguei um Ita no Norte, de 1993, com os conhecidos versos: "Explode Coração! Na maior Felicidade! É lindo meu Salgueiro! Contagiando e sacudindo essa Cidade".
Desfile completo:
Outro antológico, e que foge à essa temática festiva, é o da escola de samba Em Cima da Hora, Os Sertões, livremente inspirado no livro homônimo de Euclides da Cunha e na Guerra de Canudos.
Aqui!
De temática social também é o samba-enredo da Mangueira, de 1988, 100 Anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão que como já expresso no título fala sobre a escravidão e questiona se ainda estamos, ou não, nesse período.
Lembro também uma das marchas mais conhecidas do carnaval, principalmente quando falamos de Pernambuco: Vassourinhas [Mathias da Rocha e Joana Batista Ramos]. Se você pensa que não conhece essa marchinha, engana-se pois geralmente quando vemos, em qualquer lugar, alguém dançando frevo geralmente é ao som deste frevo.Veja a Orquestra do Maestro Spok:
Ademais, para não ficar com apenas um representante do nordeste brasileiro, mesmo que ela não seja propriamente feita para o carnaval, ela é parte integrante de diversos trios elétricos na Bahia, desde o de Moraes Moreira ao Trio de Dodo & Osmar : Pombo Correio , de Moraes, aqui com introdução do gênio Armandinho na guitarra baiana.
Termino esta lista, contando com a participação de vocês, para lembrar de mais sambas/marchinhas e etc significativas e marcantes do carnaval.
Já deixo a minha contribuição com uma bela e paulistana marchinha de Adoniran Barbosa e Marcos Cesar, na performance dos Demônios da Garoa:
Vila Esperança
Vila Esperança, foi lá que eu passei
O meu primeiro carnaval
Vila Esperança, foi lá que eu conheci
Maria Rosa, meu primeiro amor
Como fui feliz, naquele fevereiro
Pois tudo para mim era primeiro
Primeira rosa, primeira esperança
Primeiro carnaval, primeiro amor criança
Numa volta no salão ela me olhou
Eu envolvi seu corpo em serpentina
E tive a alegria que tem todo Pierrot
Ao ver que descobriu sua Colombina
O carnaval passou, levou a minha rosa
Levou minha esperança, levou o amor criança
Levou minha Maria, levou minha alegria
Levou a fantasia, só deixou uma lembrança...
E vocês, alguma sugestão?
Bom Som!
Mauro Henrique.
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[1]. Paidéia é, segundo Jaeger, em livro de mesmo nome; o sistema educativo que visava formar o homem individual, e mais ainda, o cidadão.
Prestes a entrar em estúdio e gravar o primeiro álbum de inéditas da banda desde Brasil afora (2009), Os Paralamas do Sucesso fazem mini turnê desde a última quinta-feira (10) e vão até este sábado (14), no Sesc Pompéia.
Oportunidade única pra quem conseguiu comprar os 800 ingressos disponíveis por noite e que se esgotaram em poucas horas, que assistiram o show que será realizado na comedoria do espaço, onde se pode assistir aos shows em pé – não tão comum em se tratando de Sesc – e muito próximo da banda.
A informação de que o Power Trio brasileiro se organiza para entrar em estúdio foi veiculada no blog Notas Musicais do ótimo jornalista musical e xará Mauro Ferreira: Veja aqui.
O que se sabe, por enquanto, é a presença no álbum da música Sinais do Sim cantada em shows da turnê recente e que a banda pretende iniciar a temporada de shows no segundo semestre deste ano.
Sinais do sim
(Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna)
Meu
Sei que o teu coração é meu
E a honra que te convenceu
De que o melhor está por vir
Sim
Se deixe levar por mim
Peço perdão por insistir
Mas se já chegamos até aqui
Você vai ver que um novo dia
Não parece tão ruim
Há muito tempo só se via
A poeira da dor
Nos sinais do sim
Não se afaste tanto dos seus sonhos
Sem ser ousado, eu te proponho
Relaxe, se deixe sonhar
Pois um dos encantos desta vida
É não ter peso nem medida
Pra restringir o imaginar
Você vai ver que um novo dia
Não parece tão ruim
Há muito tempo só se via
A poeira da dor
Lô Borges, ao contrário do que os 65 anos, completados na última terça-feira (10), podem indicar, segue a carreira com ritmo admirável e com novidades.
Ano passado lançou CD do projeto em conjunto com Samuel Rosa, do Skank, - com músicas dos dois e parcerias inéditas -, DVD ao vivo do álbum, gravado no ano anterior em Belo Horizonte, além de vários shows da dupla e da sua carreira solo. E quando, poderia se imaginar, que o início deste ano do cantor, compositor e multi-instrumentista mineiro seria de descanso, descobrimos que o pensamento trata-se de um engano.
E a novidade em questão diz respeito a um clássico. Explico: Lô inicia temporada do cultuado e icônico LP homônimo, de 1972, feito logo após ter dado lume, juntamente com o coletivo de Minas, ao mítico Clube da Esquina. Se você nunca ouviu falar do disco, talvez basta dizer que me refiro ao Disco do Tênis, chamado assim, por conta da capa, do fotógrafo Cafi, responsável pela capa do Clube também, que estampa o calçado usado do outrora primo de Lô que o ganhara depois de propor uma troca ao parente.
E qual seria o elemento novo de um disco gravado em 1972? Após gravar o Clube da Esquina com Milton, Beto Guedes, Novelli, Flávio Venturini, Toninho Horta, os letristas Fernando Brant, Ronaldo Bastos entre outros, Lô Borges, com recém completados 20 anos, recebeu a oportunidade de gravar um disco. O tempo era exíguo. Compunha pela manhã, o compositor e irmão Márcio Borges, era responsável pelas letras à tarde, as gravações e arranjos eram feitos durantes a noite.
Lançado o trabalho, que ao contrário da prática de trazer o rosto do artista, trazia um par de tênis usados de símbolo, o jovem mudou-se para a Vila de Arembepe, na Bahia, com objetivo de fugir dos holofotes e se desenvolver como compositor e, portanto, nunca estreou o show do LP.
A empreita de reconstituir a sonoridade do Tênis, partiu do compositor mineiro Pablo Castro, especialista neste tipo de trabalho. Ensaiou cerca de três meses com sua banda composta pelos jovens músicos Guilherme de Marco (violão, guitarra e local), Marcos Danilo (violão, guitarra, percussão e vocal), Alê Fonseca (teclados), Paulim Sartori (baixo, bandolim, percussão e vocal), D’Artganan Oliveira (bateria, percussão e vocal e apresenta de sexta (13) a domingo (15), no Sesc Vila Mariana, o Disco do Tênis com arranjos originais e ingressos esgotados há mais de uma semana.
No repertório, canções que vão do psicodélico ao experimental e forte lirismo como Não foi Nada, O Caçador, Aos Barões, Fio da Navalha, assim como seus clássicos Girassol da Cor do Seu Cabelo, O Trem Azul, Clube da Esquina, Paisagem da Janela, Para Lennon & McCartney e Nuvem Cigana. Grande oportunidade de ouvir, pela primeira vez ao vivo, essa estreia aos 45 anos!
Os últimos momentos do ano de 2016 nos reservaram ainda as estreias do segundo e terceiro volumes da trilogia As Mil e Uma Noites, O Desolado e O Encantado. Para quem não pôde assistir ao primeiro capítulo da obra, o Belas Artes, em São Paulo, exibe As Mil e Uma Noites Volume 1 – O Inquieto, para que possamos apreciar a sua integralidade.
A tríade foi concebida como um projeto único, contudo todas possuem unidade e coesão, não prejudicando quem, por ventura, testemunhar apenas uma ou outra. Se valendo da máxima atribuída a Tolstoi: “se queres ser universal, comece a falar da sua aldeia”<, o cineasta se apropria do histórico recente do seu país, entre agosto de 2013 e julho de 2014, momento em que Portugal, sub o jugo de um “programa de austeridade imposto pelo governo sem senso de justiça social” e pelos órgãos financeiros internacionais, que empobrece ‘quase’ – bom frisar esse quase – toda população portuguesa. Essa premissa traz um ar de atualidade com Zeitgeist, além do país lusitano, de outras nações como Espanha, Grécia, Brasil e etc.
Seu diretor, o português Miguel Gomes, do excepcional Tabu [2012], teve, portanto, não mais que três anos para realizar o seu projeto de recriar, à sua maneira, a história árabe, que em que pese tome para si o nome do preclaro livro, não se trata de uma adaptação cinematográfica, embora se inspire na estrutura fabular, como expresso no início do filme.
Apesar da unidade da obra, a primeira parte d’As 1001 Noites é a que possui carácter mais experimental. A maneira de Fellini, em 8 ¹/², a personagem interpretada por Gomes demonstra certo esgotamento e impossibilidade de realizar o seu ofício, em que o próprio diretor, a maneira do italiano, se aproveita da dificuldade de se realizar um filme como uma força criativa para ajudar na construção e estruturação do filme. Desse bloqueio de levar à tela o problema que seu país, seja financeiro ou ético, Gomes usa o artifício de convocar para o seu filme provavelmente a maior contadora de histórias que se tem notícia.
Xerazade, como sabemos, personagem literária d’As Mil e Uma Noites, coletânea de histórias originadas principalmente no Oriente Médio, em que o rei Xariar, após descobrir um caso de fidelidade da esposa e matá-la, decide passar todas as noites com uma mulher diferente e ordenar que a matem na manhã seguinte, escapando assim de qualquer caso de infidelidade. Depois de certo tempo, Xerazade pede ao pai, o Vizir, para ser entregue como noiva ao rei, pois tinha um plano para frear a gana do rei em matar. Ela passa a noite contando uma história ao rei e suspendendo-a meticulosamente ao amanhecer, prometendo termina-la assim que anoitecer. O rei sedento por saber o final da história poupa-lhe a vida, esperando até o final do dia para saber o desfecho do que passou a noite ouvindo. Xerazade narra histórias como forma de subsistência, narra para não morrer.
Concebo a Xerazade como um espelhamento do diretor, ao menos do diretor em crise, aquele exposto no início do primeiro filme. O cineasta levou por volta dos mil dias para realizar os três filmes, desde o final de Tabu ao lançamento dos três filmes, assim como o empreendimento de Xerazade deu-se em período semelhante. Se o diretor sofre de bloqueio criativo no filme, ela foge do castelo e passa pelo mesmo processo agônico e de instabilidade, julgando-se incapaz de continuar narrando histórias, noite após noite, ao seu esposo – acompanhamos boa parte da sua aflição ao som da música Fala escrita por Luhli e João Ricardo, em performance do grupo Secos e Molhados.
A tese de que o cineasta passava por uma angústia criativa encontra consonância com Diário de Fabricaçãodo filme, disponibilizado à imprensa, que exprime, dia a dia, o processo de construção do filme, em que nem mesmo o diretor sabia o que viria a seguir e que, "encontraria" o tom da sua obra no seu desenvolvimento:
21 de novembro
Tento colocar-me no lugar de Sayombhu Mukdeeeprom, o director de fotografia tailandês queaceitou vir viver para Lisboa durante um ano para fazer este filme. Dissemos-lhe que tínhamos garantido durante doze meses uma câmara de 16mm e um jogo de objectivas anamórficas apesar de não fazermos a mínima ideia do que iríamos filmar[...]
25 de novembro
Mas que (...) andamos aqui a fazer? Sinto-me o Ed Wood! De manhã ensaiámos com 73 actores e distribuímos dildos [N.E: pênis de borracha] a todos (rodagem de Os Homens do Pau-Feito para a semana. Almoço a ver fotos de camelos. À tarde vejo vídeos com depoimentos de desempregados em Aveiro para o filme de fim do ano (O Banho dos Magníficos?): deixam-me prostrado. A
produção está nervosa com a ideia de reservar hotéis para o ano novo e quer saber pormenores. Eu também mas ainda não há argumento. Peço que me construam uma baleia. Aconselho qualquer realizador a mandar construir uma baleia quando estiver em sarilhos [N.E: situação complicada][..].
25 de fevereiro
É preciso dizer alguma coisa ao Thomas Ordonneau, o produtor francês, que está à rasca porque tem de organizar a rodagem do episódio com Xerazade em Marselha. Vemos pelo google Earth o que há por lá. Mar e ilhas. Que seja! A Xerazade ganha uma casa (na verdade um Castelo): o Château d'If. O que vai ela fazer por lá?Não faço a mínima ideia.[...]
O procedimento de construção das histórias também é parecido. Se no livro os personagens que participam das histórias, voltam a diante em outras, no filme há casos como o de Catá que é a ligação dos capítulos “Floresta Quente” e "O Inebriante Canto dos Tentilhões”, bem como os de outros atores que ao ir e vir interpretando diversos personagens ao longo do longa-metragem trazem à obra uma fluidez narrativa interessante. Se esta inovação na articulação das histórias pode ser creditada à Xerazade, Gomes não se faz de rogado, de maneira que pôde aprofundar algumas escolhas narrativas ao longo dos mais de 380 minutos da trilogia.
Utiliza como recurso de narração a linguagem instantânea dos SMS, quebra a quarta parede ao utilizar personagens que interagem com a câmera – sobretudo com crianças interpretando adultos -; tudo isto acontece apenas no primeiro volume, somando-se a isso também a metalinguagem em relação a incapacidade do diretor. O segundo volume – O Desolado apesar de ser mais convencional do ponto de vista narrativo, possui a melhor história de toda obra, "Lágrimas da Juíza", que a partir do julgamento de um caso corriqueiro em que uma senhora se apodera de móveis de uma casa alugada a juíza se vê envolta em uma rede de crimes, sejam eles econômicos ou de outra natureza, machismo e culpa que permeia toda sociedade portuguesa e que a impedem de julgar de maneira justa.
O volume 2 é o mais resolvido, no sentido de estabelecer de maneira mais nítida a distância entre o real e o imaginado, neste escolhido como representante português para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Entenda-se convencional não como mesmice, neste diretor que possui um texto e imagens de elegância ímpar. Nas três histórias desse volume 2, o diretor expõe de maneira crítica o complexo momento social que se vivia ali, sem perder o humor e o sarcasmo. A primeira história intitulada “Crônica de Fuga de Simão ‘Sem Tripas “, em que mesmo decidindo praticamente narrar em off toda o conto realiza um grande cinema, ressaltado pelo surpreendente final da história do homem que a despeito dos crimes que cometeu, cativou toda população por enganar o governo.
A história seguinte é a já comentada acima, Lágrimas da Juíza, em que tendo novamente como mote o empobrecimento da população causado pelo programa de austeridade do governo português, os acusados são levados à Justiça – também instituição portuguesa – que por fim, se sente incapaz de julga-los. O interessante é que o tom de farsa dado ao julgamento está no texto e revelados por outros elementos como a roupa do Gênio – semelhante a uma fantasia carnavalesca – e uma vaca feita de papel que conversa com oliveiras.
Aliás, um aspecto recorrente nos três filmes é a relação do homem com os animais, da comunicação do homem com o animal. Se permitindo a utilizar fartamente deste expediente, por ser adequado a sua estrutura fabular, Miguel Gomes, em O Inquieto nos revela a história de um galo que é levado à julgamento por cantar fora de hora. No desenrolar da história percebemos que o bicho estava tentando se comunicar, para indicar um delito, mas ninguém se interessou por decifrar o aviso. A vaca, do mesmo modo, nos ajuda a elucidar de alguma maneira, um crime. Enquanto no derradeiro episódio deste volume “Os Donos de Dixie” vemos a história de um cão que muda de dono diversas vezes, similarmente por conta do desarranjo financeiro do país.
Penso que essa questão da [in]comunicabilidade com os animais, isto é, de tentar ouvir ou decifrá-los, liga as três partes, como sustenta o roteiro do volume final, O Encantado. O tom muda completamente, ainda que não perca totalmente o tom de fábula, o registro é claramente documental, em que se tem como foco o povo português simples. Além, de ser uma atitude transgressora em relação ao original, posto que a narrativa árabe retrata predominantemente nobres e enredos que em algum momento o elemento mágico se faz presente. O ato é insubmisso também, por exemplo, em “O Inebriante Conto dos Tentilhões”, em que homens numa espécie de comunidade secreta, tentam ouvir pássaros, cria-los, reproduzir seu canto de uma geração à outra e leva-los para competições. Transgressão, por que desafiam a autoridade, para fazer essas ações que são proibidas pelo governo, ‘apenas’ para ouvir os pássaros.
Este episódio poderia ter se condensado um tanto mais, para preservar o ritmo geral da obra, no entanto, sem prejudicar a dramaticidade total da obra. Não que esse episódio destoe dos outros, muito pelo contrário, vê-se claramente uma habilidade do realizador português em entrar e sair das histórias, como no episódio "Floresta Quente", que inicia e termina entre o conto dos "Tentilhões...", assim como utiliza a música como contraponto aos momentos mais contemplativos do filme, como temos na música dos Secos e Molhados, bem como no clipe de Samba da Minha Terra, , dos Novos Baianos – que surge em um momento em que a comunidade árabe e os portugueses se queixavam de saudades da nossa terrinha – bem como das diversas versões da música Perfídia, bolero de Alberto Dominguez, levadas à tela em momentos diferentes. Esta música, diga-se de passagem, se adequa ao contexto do que vemos na tela. Além de revelar uma incompreensão de entendimento, semelhante à falta de comunicação ou dos sentimentos alheios serem inatingíveis, centraliza a mulher como detentora de poder de comunicar diretamente com Deus e com outros elementos, como o mar, que após a Xerazade ir se banhar, para conhecer o mundo, pois vivia enclausurada, enamorou-se do Peddleman, nativo, mas um parvo.
Por esse poder de comunicação, escolhas narrativas refinadas e acertadas para dar conta de um mundo pós-moderno em que não existem grandes narrativas totalizadoras que dão conta de explicar tudo que acontece em nossa volta e se aproximar de uma personagem mítica para abordar a história recente do seu país, Miguel Gomes se inscreve na categoria dos grandes contadores de histórias do cinema moderno.