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Quinta-feira, 30/4/2015
Blog belohorizontina
sonia maria de araujo sobrinho
 
Transe

Olhei, eu juro que vi
Corri, eu sei que foi uma fuga
Parei, eu sei que foi de medo

- temi o desconhecido

Senti, ele me tocou
Deixei me levar não sei pra onde
Andei, andei muito
Meus pés doíam
Minha garganta estava seca
Chegamos e eu descansei

O medo passou
O tempo também

A ocupação foi progressiva, lenta
E dava a idéia de infinito
Queria tocar mas não havia o direito ao toque
Apenas o contemplativo

Olhei, já conhecia
Corri, queria ficar

- temi o reencontro

Deixei meu corpo mecanicamente seguir
Andei devagar retardando a hora da decisão
Minha cabeça latejava e meu rosto molhado só via o chão
Chegamos e eu fiquei
Sozinha no escuro
Prometendo tudo
Sem ser ouvida por ninguém.


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Postado por sonia maria de araujo sobrinho
30/4/2015 às 15h29

 
Alerta

Tome cuidado, não se precipite
Pense bem, duas vezes
Evite explosões, os mais vividos sabem de tudo.
Previna-se também contra seus sentimentos
Você não tem sentimentos ?
Ironia, claro que você tem
É gentil, amável e se enquadra totalmente
Aos moldes, conceitos, não rótulo.
Objeto ?
Sem dúvidas posso agora caminhar
Aliviada pelas tensões, repressões
Sabendo perfeitamente aquilo que quero.
Mas, pra onde é que eu estava indo mesmo ?


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Postado por sonia maria de araujo sobrinho
28/4/2015 às 15h37

 
Abre-te Sésamo !

À medida que se anda, a vida vai abrindo suas portas. Acho até que algumas já estavam abertas quando nascemos (alguém deve ter aberto para nós, como estímulo). As primeiras que abrimos por nossa conta parece que são mais fáceis, aí a gente entusiasma, mas nada de afobamento, elas só serão abertas na época certa. Além daquelas que nos são destinadas, existem outras que são fechadas pelos outros (portas alheias que cruzam nosso caminho). Ouve-se um estrondo, alguém cai no chão, coitado, foi atingido. É difícil retornar e procurar de novo a porta certa. Muitos conseguem, outros não, ficam estirados ali mesmo servindo de exemplo e impaiando a passagem dos que querem (precisam) continuar. O ranger nos ensurdece como alguém agonizando. Algumas são baixinhas, a gente pula com agilidade de criança, que corre quando é apanhada roubando fruta no quintal do vizinho. Outras são fortes na aparência, amedrontam, parecem feitas de madeira de lei. No fundo são só imitação, devem ter arrancado à força, com raiz e tudo, num ritual bárbaro de dominação outras mais viçosas que estavam por perto. Foram entalhadas depois para se ter uma nova roupagem. Transparece assim mesmo a selvageria praticada (aquela mancha escorrida denuncia), árvore pelada, com casca colada, não dura muito tempo não.
Lá pelo meio do caminho, a tontura já nos faz delirar. Uma porta viram várias e não sabemos mais a qual procurar. Paramos em frente e apenas a olhamos, fracos e deprimidos, tão alta, intransponível, acho melhor voltar. Esta dúvida nos assola por horas, dias e até anos, anos e anos à espera. Ela não se abre sozinha só por ouvir nossas preces ou com a palavra mágica; só Ali Babá tinha este poder (gostaria de ser ele agora). Como opção, podemos deixar aquelas portas mais difíceis para depois; abriremos agora só as mais fáceis, para não parar o curso (ele será "só" desvirtuado), segue-se a vida com essa trava. Se a chave original for perdida, outra aparecerá (o segredo para abertura fica gravado na memória), mas isso só descobriremos mais tarde (eu não sei se todos tem essa segunda chance). A gente olha de longe aquelas portas esquecidas, enferrujadas e empenadas, em ruínas de tanta exposição ao sol e chuva anos a fio.
Num dia qualquer aparece em nossas mãos calejadas e trêmulas, uma cópia da chave. Mais por curiosidade do que por desejo, afobados e sem jeito, queremos agora abrir todas elas de uma vez só. Antes recostamos em suas costas procurando conforto (cada uma virada para um lado como que escorando a outra) e pergunto:
- por que tomamos caminhos opostos?
E a porta responde:
- por que você não insistiu na abertura na época certa ? eu teria cooperado...

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Postado por sonia maria de araujo sobrinho
24/4/2015 às 14h53

 
Drummond



"Se eu gosto de poesia ? gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo".

Carlos Drummond de Andrade

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Postado por sonia maria de araujo sobrinho
23/4/2015 às 14h52

 
Nossa inspiração/respiração

São muitas as letras de música que realçam a beleza, a graça e o temperamento feminino. Os homens são mais abertos no que diz respeito a coisas do coração, como cantar/contar para o mundo o prazer de um amor bem vivido. A explicação para isto pode ser porque eles tem ou já tiveram muitas aventuras. Passa este amor e vem sempre outro ou será que baixa neles, nesta hora, o espírito ''Dom Juan-artista-aventureiro'' de ser ?
A maioria das mulheres retratadas são ternas e vivem amores marcantes com seus parceiros. São inesquecíveis as Lígias, Lucianas, Ritas, Amélias, Mônicas, Marias, Luísas, Sônias, Terezas e Floras. Todas se identificam com aquela que está sendo cantada na música, sem ciúmes. Reportam-se à própria vida com o pano de fundo musical do momento.Fiquei pensando na ternura destes homens que conseguem colocar em versos amores felizes ou sofridos. Falam com desenvoltura no nome delas, mesmo que não sejam as atuais (estas sabem que também serão letra de música um dia; ou pelo menos vivem esta ilusão). As músicas das mulheres para os homens, normalmente são mais genéricas. Não se fala nos Marcos, Felipes, Emílios ou Williams. Os nomes são escondidos/subentendidos (só a letrista sabe quem é o homenageado). Neste clima de mistério e porque não de sedução, faz-se o jogo do amor feminino.
A entrega por nossa parte, normalmente é total e exclusiva. Só eu sei a alegria que você me dá e a falta que você me faz quando não está comigo; outros não entenderiam. Pra que cantar este lamento ? - não combina amor com dor, pelo menos para nós.Cantarei para você sim, no aconchego de nós dois. Meus dedos te tocarão como as notas musicais (o corpo todo funciona como a orquestra, afinada).É para você a pré-estréia, a estréia e toda a temporada (enquanto estiver no ar). Pode ser que a voz saia rouca e ofegante, questão de estilo. Pensarás na Elis, na Nãna ou na Maísa ? é um risco.Daqui a pouco te verei no camarim e sei que me trarás flores. Para comemorar, abriremos juntos, aquele vinho, reserva especial. No final do espetáculo, abraços, beijos e aplausos, muitos aplausos,você está escutando, não está ?.

(apagam-se as luzes e descem as cortinas).

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Postado por sonia maria de araujo sobrinho
23/4/2015 às 14h39

 
Bela adormecida

Poderia ser assim...
Pode ser que saiba que é bela; existe o espelho que reflete isto todos os dias e existem ouvidos para se escutar os elogios.
Mas como que por desdém passa direto (não podem estar falando com ela e nem sobre ela).
- Sou assunto desinteressante , pensava. Posso apimentar com o quê ?
Náo me ensinaram, apenas me educaram. Cabelos longos (parecem de ouro); olhos claros e as semelhanças param por aí. Seria estigma ? por ser bela deveria sofrer ? Penso que não. Se tiver que sofrer, sofra-se por viver, qualquer um. O roteiro estava lá: beleza, grandiosidade e poder. Só que acabaram com este script ; dragões e espinhos cresceram em volta deste castelo e a mantiveram presa por lá, anos, muitos anos.
Chegou a sair mas foi maltratada, enganada. Princesas não merecem ter estas desilusões, aliás ninguém merece, nem mesmo as que não são tão belas assim.
A grande cilada foi o dedo no fiar; precisava tocar ?
Era sedutor; máquina bela de fazer amor.
Triturou, moeu sentimentos e devolveu o bagaço ao castelo. Da janela da torre observa tudo, com medo de se aventurar, se atirar.
Nos dias atuais, isto não dá para tolerar. Nós seus leitores, expectadores e admiradores, de todas as formas recebemos sua mensagem.
Desça , por favor, abandone este castelo que a vida aqui fora te espera !!!
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Postado por sonia maria de araujo sobrinho
2/4/2015 às 19h30

 
No meio da noite, no meio do dia

Como posso falar da noite se sempre tive medo dela. Não sei mas as pessoas que varavam a madrugada na rua, para mim eram esquisitas, libertárias demais.
Bebia-se muito, flertava-se muito e eu via muitas caras solitárias e tristes, como se esperassem que á meia noite, as bimbalhadas dos sinos anunciassem uma reviravolta em suas vidas, onde tudo seria melhor.
A esperança e a reflexão são nítidas nesta hora. Agarra-se ao último foco de luz para não deixar sumir o brilho da noite, o brilho da vida.
Tudo é tão luminoso, furta cor. Todos parecem se conhecer e serem amigos; - ou seria só cumplicidade ?
Muitos que não fumam passam a fumar, os que bebem pouco, bebem um pouco mais e riem, riem alto, ás gargalhadas. Tudo fica engraçado. Olha só sua cara, está grande, parece torta. Seus olhos parecem saltar e percebo agora sua falha de dentes, bem na frente. A gente ri tanto que dá vontade de fazer xixi e na toalete as mulheres definem quem ficará com quem. Formam-se os pares, alguém vai sobrar... Já passaram das duas da manhã e daqui pra frente o resto tudo vale. O garçom entrega bilhetes; pendura contas e vai enchendo mais o copo. Olhares furtivos, passos trôpegos, fala embolada. Será que é comigo mesmo que ele está falando? Na volta pra casa, muitas juras, carícias audaciosas, troca de telefones; telefones trocados de propósito.

- é da casa do Luiz?
- não, minha filha, não existe nenhum Luiz neste telefone
- desculpa, foi engano

E agora, eu não peguei o nome completo dele.

A roupa que parecia linda na noite anterior, agora parece ridícula demais para esta manhã. Toda amarrotada, ás vezes sem botão ou o zíper não funciona mais (sobe só até o meio).
Vou me deitar e aviso antes pra Maria.

- não me chame, por favor. Se eu acordar no meio da noite/no meio do dia, deixa que eu me viro. Viro pra um lado, viro pro outro. Aperto meu travesseiro, que assume contornos de parceiro. Me recuso nesta hora a ouvir o toque do despertador, a campainha, o telefone. Faremos nossa própria distinção de horário.
Daqui pra frente nosso estômago nos avisará a hora de comer, nosso sexo e coração a hora do amor, em sintonia, e nosso corpo nos levará para a cama, relaxar, recuperar energias. Eu me alimento e reservo, esticando sensações, revivendo tudo; só assim consigo esperar nosso próximo encontro.
O próximo encontro aconteceu de uma maneira nada convencional, alguns meses depois. Sabe aqueles dias onde parece que se tem amnésia? as coisas são lembradas pela metade, como um sonho interrompido.
Tínhamos uma reunião com fornecedores para escolha de determinado produto e para meu espanto, lá estava ele, impecável, em terno de linho claro. Chegou como se estivesse atrasado, cumprimentando a todos apressadamente. Foi como se não me conhecesse ou tivesse talvez uma vaga lembrança. Também procedi como tal. Ao final deste encontro nos despedimos cordialmente com um até logo, até um dia.
Passado tanto tempo, eu me pergunto o que se encontra nestas noites. Será que ainda tem tanto brilho ? brilho falso, brilho fugaz, um calor que nos esquenta quando se tem frio. Apenas isto.
No dia seguinte o tempo já estava fresquinho de novo, podia-se usar menos roupas (não preciso de tanto para me aquecer).
Vou sair um pouco, passear, tomar sorvete.
Agora a luz é natural e é assim que eu me encontro.
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Postado por sonia maria de araujo sobrinho
10/3/2015 às 12h56

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