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Sábado,
25/4/2015
Blog de José Carlos Moutinho
José Carlos Moutinho
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Momento ótimo para refletir
No 30º ano da sua redemocratização, o Brasil vive momentos de intensas mobilizações e reflexões sobre seu presente e o seu futuro enquanto nação, e com destaque no cenário mundial. Como o Brasil está se vendo hoje? Como foi antes? Como pretende entrar para a história? Será que nossa democracia amadureceu?
A partir da promulgação da Constituição Cidadã (de 1988), a democracia brasileira passou a ser testada, e sempre enfrentando o fantasma do retrocesso democrático. É o que tem ocorrido nas recentes manifestações, quando uma parcela pequena da população (que outrora apoiou o
golpe de 1964) ou por jovens incautos (que não viveram o
referido período de exceção) a reivindicar
intervenção militar. Esse tipo de proposta extremista de direita, aliada a uma parcela (também pequena) de extremistas independentes, poluíram as recentes manifestações, desde 2013.
Neste 2015, novas manifestações se realizaram, animadas pelas notícias de corrupção na Petrobrás, bem como pelas propostas de redução de direitos trabalhistas pelo
Governo Federal.
A democracia brasileira está enfrentando um novo teste, que está sendo "digerido" por todos os brasileiros, tanto nos Três Poderes como pela população em geral.
O esquema corrupto no interior da Petrobrás foi como um balde de gasolina lançado numa brasa quase apagada das manifestações de 2013. Os efeitos dos protestos estarão presentes por longos dias e passarão a testar a maturidade da democracia brasileira.
Não só os Poderes da União, mas partidos políticos e suas lideranças e movimentos sociais organizados terão a obrigação (democrática) de procurar responder aos clamores (justos) das ruas.
Ficou evidente nas manifestações o desejo pela consolidação da democracia, ou seja, mais participação do cidadão, independente de extrato social e ideologia. Todos têm o direito de se manifestar. É bom para a democracia o choque de ideias, e sem violência e golpismo.
Estamos num momento ótimo também para o cidadão brasileiro (político, empresário, empreendedor ou trabalhador) tirar ensinamentos desse momento rico para a democracia brasileira e refletir sobre a prática do famoso "jeitinho
brasileiro" e do patrimonialismo com a coisa pública, que respectivamente burlam as normas em benefícios particulares?
Preocupado com os diversos padrões nas práticas sociais, entre eles o "jeitinho" e o patrimonialismo, que ainda imperam no Brasil desde os tempos remotos, o renomado sociólogo Sérgio Buarque de Holanda* concluíra:
"O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particulares, de que a família é o melhor exemplo. Não existe, entre o círculo familiar e o Estado, uma gradação, mas antes uma descontinuidade e até uma oposição. A
indistinção fundamental entre as duas formas é prejuízo romântico que teve os seus adeptos mais entusiastas durante o século XIX. De acordo com esses doutrinadores, o Estado e as suas instituições descenderiam em linha reta, e por simples evolução, da família." (HOLANDA, 2009, p.141)
"No Brasil, pode dizer-se que só excepcionalmente
tivemos um sistema administrativo e um corpo de funcionários puramente dedicados a interesses objetivos e fundados nesses interesses. Ao contrário, é possível acompanhar, ao longo de nossa história, o predomínio constante das vontades particulares que encontram seu ambiente próprio em círculos fechados e pouco acessíveis a uma ordenação
impessoal. Dentre esses círculos, foi, sem dúvida, o da família aquele que se exprimiu com mais força e desenvoltura em nossa sociedade". (HOLANDA, 2009, p.146)
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(*) HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes
do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
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Postado por José Carlos Moutinho
25/4/2015 às 18h46
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Ágora de Leitores Blogueiros
Assistimos atônicos
níveis altíssimos de violência, no Brasil e no
mundo. O que tem ocorrido no Morro do Alemão, no Rio de
Janeiro, entre outros casos de violência, nos entristece muito
- famílias dilaceradas pelo tráfico de drogas,
bem como por ações desastrosas daqueles que deveriam
proteger a vida do cidadão. Tem ceifado vidas inocentes, a
velha política de segurança (ultrapassada) que trabalha
no curto prazo (estado de guerra) e não no preventivo (impedir
a partir das nossas fronteiras a entrada de drogas e armas).
Precisamos de mais inteligência, não há a menor
dúvida.
Os casos de violência no Brasil e no mundo jamais caberiam num artigo ou
tratado sobre crimes e atrocidades que temos assistido. Coisas
horrendas acontecem diariamente, seja nas cidades brasileiras e no
Oriente Médio, com os assassinatos cruéis pelos grupos extremistas e exércitos regulares. Preocupa também os governantes de Israel, ao tentarem impedir um acordo de paz entre Irã e as potências. São muitos casos (complexos)
que merecem nossa reflexão.
O Brasil e o mundo estão desesperadamente precisando de Paz. A mensagem de John Lennon está cada vez mais viva: precisamos dar uma
chance para a paz!
Não entraremos aqui em detalhes sobre a violência que campeia, pois
nosso objetivo (honroso), por ora, é saldar o Digestivo
Cultural, notadamente os Blogs dos Leitores. O Digestivo
Cultural está inaugurando uma espécie de Ágora
de Leitores Blogueiros, democratizando a comunicação
e valorizando a liberdade de expressão.
A leitura é uma das formas mais eficazes de promoção da cultura e da paz, vencer a ignorância. Pela cultura contribuiremos para
combater a insanidade. Leitura, educação e cultura são
formas poderosas de melhorar o presente e construir um futuro melhor.
É o que tem demonstrado a História da Humanidade. Foi
pelo domínio da tecnologia (graças ao uso do polegar),
da comunicação, da escrita que o homem conseguiu
grandes conquistas, minorando a ignorância, a violência e
no ganho de qualidade de vida.
Precisamos levar esperança ao cidadão, mostrá-lo que a vida tem valor, que vale a pena lutar por ela. Os sentimentos de impotência,
tristeza e fraqueza parecem estar instalados, ante a força da
violência. É urgente mudar tal quadro. O contrário,
é barbárie.
É com muita honra que venho participar dessa Ágora [blogueiros do Digestivo Cultural], trazer um pouco da minha visão modesta, com respeito a todos colegas do DC, ética,
fraternidade, solidariedade e autocrítica.
Ainda no tema combate à ignorância e violência, gostaria de
saudar o colunista Gian Danton (aqui do DC)
pelo artigo Intervenção militar constitucional,
que, com muita propriedade, quebrou tal consigna presente nas
recentes manifestações no Brasil. Tal proposta golpista
só mergulharia o país na infelicidade total, que nem
podemos aventar.
Não é por meio da intervenção militar que corrigiremos nossos problemas político-institucionais. É
pela inteligência e maturidade democrática que faremos
do Brasil um país melhor.
Transcrevo a seguir as declarações daqueles que dedicaram (e dedicam) suas vidas no estudo e na aplicação da Constituição Brasileira, os ex-ministros
do Supremo Tribunal
Federal (STF) Carlos
Ayres Britto e Carlos
Velloso. Em
entrevista ao Fantástico,
da Rede Globo,
em 16/3, analisaram as
consignas nas
manifestações ocorridas no dia 15 de março,
notadamente, os pedidos de
impeachment
da presidente da República
e intervenção
militar.
"Pedir o impeachment, enquanto manifestação livre
de vontade, tudo bem. Agora, concretamente, vamos convir, a
presidente da República no curso deste mandato (que mal se
inicia) não cometeu nenhum crime, o que é pressuposto
do impeachment. Seja à luz do artigo 85 da Constituição,
seja à luz da Lei 1079/1950, que versam sobre crimes de
responsabilidade e o consequente impeachment, não há a
mínima possibilidade de enquadramento da presidente da
República nessas normas", conclui Ayres Britto.
Para Carlos Velloso pedir intervenção
militar seria "algo inusitado, fora da lei, fora da
Constituição, ao arrepio da lei. No momento em
que a violação da lei prejudica alguém, e nos
colocamos em silêncio, amanhã poderá sermos nós
aqueles atingidos por quem está violando a lei".
Por fim, quero agradecer muitíssimo a minha acolhida pelo Digestivo
Cultural, notadamente o seu editor Julio Daio Borges,
pessoa de grande cultura, energia, dinamismo e organização.
Estar nos quadros de blogueiros do DC é uma honra e um
desafio muitíssimo interessante para todos nós
leitores.
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Postado por José Carlos Moutinho
8/4/2015 às 18h56
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O leitor digital adquire conhecimento?
A história da Internet dá conta de que esta surgiu primeiramente nos meios militares norte-americanos, no auge da Guerra Fria, sendo estendida para os meios acadêmicos. Desde os seus primórdios (Arpanet), a Internet visa o processamento e transmissão de grande quantidade de informações (dados), para a formação de conhecimento.
A Internet, a partir de 1994, ganhou diversidade tecnológica, agilidade e interface que facilita a operacionalidade do internauta no acesso à informação, entre outras facilidades. Como resultado de anos de trabalho (global) de armazenamento de dados (digamos assim), a Internet se constituiu num imenso banco de dados disponível a todo cidadão, em qualquer parte do mundo.
Tal situação, sem sombra de dúvida, aumentou em muito a produtividade do ser humano (cidadão ou indivíduo) na busca de informações, bem como na realização de tarefas cotidianas, como pagar contas, baixar manuais técnicos para resolver problemas em seus equipamentos, baixar arquivos de configuração de computadores e seus periféricos, entre tantas outras utilidades profissionais e de lazer.
Na Internet, também é possível baixar (legalmente) livros históricos, como por exemplo, no site do governo brasileiro - http://www.dominiopublico.com.br/. Neste site, o internauta (estudantes, professores e público em geral) poderá baixar livros (best selles) liberados para a distribuição gratuita, por terem alcançado o prazo legal de 30 anos da sua publicação. Assim, os estudantes (e pesquisadores) têm a possibilidade de acesso rápido (e sem custo) às obras fundamentais para a formação do conhecimento. Além disso, a Internet (pela sua diversidade, rapidez, interatividade e instantaneidade) contribui muito para a socialização do conhecimento. No entanto, a grande rede tem suscitado diversos debates (anos a fio) sobre sua capacidade de contribuir para a formação do pensamento, conhecimento e inteligência.
Em 20/09/2010, o diário Folha de S. Paulo publicou uma entrevista com Nicholas Carr, sob o título "Internet obriga a pensar de forma ligeira e utilitária, diz Nicholas Carr". Carr acaba de lançar o livro "The Shallows: What the Internet is Doing to Our Brains" (ou "O Raso: o que a Internet Está Fazendo como Nossos Cérebros"). A Folha de S. Paulo, no primeiro lide da entrevista, destaca que o autor manifesta preocupação com o poder que a Internet tem de distrair as pessoas, o que pode estar nos tornando estúpidos. O livro suscitará um bom debate. Vamos acompanhar. Mas é preciso não confundir, por exemplo, conhecimento com inteligência.
Pelo dicionário da Língua Portuguesa Aurélio, conhecimento é o "ato e efeito de conhecer. 2. Informação ou noção adquirida pelo estudo ou pela experiência. 3. Consciência de si mesmo. [...]". Pelo dicionário Michaelis, conhecimento é o "ato ou efeito de conhecer. 2. Idéia, noção; informação, notícia. 3. Consciência da própria existência. 4. Ligação entre pessoas que têm algumas relações. [...]".
Assim, a Internet, entre outros meios digitais, contribui muito para o acesso (rápido) à informação e ao conhecimento do leitor digital. Mas isso tudo é apenas um passo para a pessoa adquirir outra faculdade (a mais importante) em direção ao sucesso na vida e ajudar o próximo: a inteligência ("Faculdade de entender, pensar, raciocinar e interpretar; entendimento, intelecto. 2. Compreensão, conhecimento profundo. 3. Pessoa de grande esfera intelectual. [...]"). Esse é o desafio que está ocupando especialistas em Educação no Brasil. Ou seja, fazer com que o brasileiro deixe de ser analfabeto funcional - a pessoa que lê textos, mas não consegue entendê-los e interpretá-los.
Em síntese, não se pode, por exemplo, fazer da Internet uma vilã para o aumento do número de analfabetos funcionais, pois estes já existiam antes da Rede Mundial de Computadores. O indivíduo que utiliza a técnica do copiar e colar (copy & past) na realização de seus trabalhos está enganando a si mesmo, mais do que ao próximo. É uma questão de educação e de caráter, que não depende das mídias digitais. Cabe aos professores e pais, entre outros cidadãos, fazer com que o leitor digital saiba tirar proveito eficiente da Internet, adquirindo conhecimento e desenvolvendo a inteligência.
Para finalizar, é importante que o leitor digital entenda a Internet como um grande banco de dados, onde o cidadão fará a busca e seleção (sistematizada, e de boas fontes) das informações que lhe interessam em determinado momento da vida. O importante, como por exemplo destacou o professor e escritor Mike Ward (1), é que na web há mais informações do que seria possível conseguir ler ou querer ler de outra forma. "Portanto, uma das primeiras coisas que se deve aprender é ser seletivo". O leitor digital pode sim adquirir conhecimento, mas com esforço, força de vontade e, sobretudo, honestidade consigo mesmo e com os outros.
Nota:(1) WARD, Mike. Jornalismo Online? São Paulo: Editora Roca, 2007.
Artigo publicado na Primeira Coletânea Encontro de Escritores - Prosa e Verso. Academia de Letras do Brasil. Vila Velha (ES): Above Publicações, 2013.
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Postado por José Carlos Moutinho
2/3/2015 às 20h22
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Julio Daio Borges
Editor
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