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Sábado,
27/7/2019
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Pelagem de flor V: BRANCO
Dançando valsas, vem à frente
meu pégaso de jasmins, a rememorar
bailados e histórias narradas
pelo jardineiro de folhas.
Evadido das florestas, esse animal
das flores mimadas transporta sela
de trevos, aguardando cavaleiro
que o conduza à dama do portão.
Pelagem de arminho dos cometas,
minha nuvem de cambraia se alteia
espantando vassouras e bruxas.
Cavalinho de lume acendendo
a noite. Meu pássaro da paz retorna
germinando bosques.
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Postado por Blog da Mirian
27/7/2019 às 09h09
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Dimensons
A música é a régua do silêncio...
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Postado por Metáforas do Zé
24/7/2019 às 23h06
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EU, MOBY DICK e Caçando Moby Dick
“Eu, Moby Dick”, espetáculo teatral em cartaz no Espaço Oi Futuro (no Rio de Janeiro), até 28 de julho deste ano de 2019, apresenta profunda e sagaz releitura do texto de Herman Melville, trazendo ao público questões relacionadas ao Brasil e ao mundo nos dias atuais.
Direção: Renato Rocha
Dramaturgia: Pedro Kosovski, a partir da obra-prima de Herman Melville
Assistência de direção: Rafaela Amodeo
Elenco: Márcio Vito, Gabriel Salabert, Kelzy Ecard e Noemia Oliveira
Tocada de modo intenso pela seriedade do espetáculo “Eu, Moby Dick”, me identifiquei com os sentidos contidos e incontidos na ambiguidade da baleia imaginada por Herman Melville, e redesenhada pela dramaturgia, traduzindo-se para o público por meio do trabalho precioso, irretocável e esperançoso dos atores.
Assim, gostaria de homenagear a todos que participam desse espetáculo, dedicando-lhes imaginário diálogo entre a baleia e o mar. Para isso, publico hoje Caçando Moby Dick, texto inteiramente inspirado em “Eu, Moby Dick”.
Obs. Entre aspas, trechos de Os Lusíadas e da fala dos atores, estes em negrito.
CAÇANDO MOBY DICK
Forjando cores que jamais conheci,
me seduz impossível ofício
de animizar a palidez dos ossos.
─ Sozinho, só perguntas me chegam à solidão.
Aos longes da vida, posso imaginar-te imenso.
Quem és, desconhecido verdeazul?
─ Sou aquele do corpo d’água.
Me chamam de mar.
E quem és, nessa tua constante solidão?
─ Sou arcabouço imóvel,
o que resta da morte,
o que cinge a eternidade,
o que conheceu a finitude.
Me chamam de esqueleto.
─ Que mais queres saber de mim, alva clausura?
─ Inda não me conhecias
nem sequer sabias meu nome,
por que me acolheste em tua profundeza?
Por que insistes em lavar-me o corpo descarnado?
─ Guardar e distanciar-me,
carícia e afastamento,
eis meu ofício.
─ Então és humano, mar?
─ Quem, pálido desalento,
pode se dizer humano?
─ O que te diferencia dos humanos, ó corpo d’água?
─ Dizem que os humanos pensam e agem.
E procuram vanglórias:
“Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!”
─ Posso te dizer, ondeante azulametista:
pensar e agir, eis a falácia da humanidade.
Pensar e agir, dois atributos
“que podem levá-los à própria destruição”.
Também eu, neste meu corpo fluido,
absorto em águas de severa profundidade,
total instável pensar,
posso ser destruído.
E posso destruir praias,
pessoas, barcos.
E até cidades.
─ Tal poder não tenho, mar.
Entanto, conduzo atributos da minha terrível estirpe:
presentificar a morte.
E o medo da morte.
─ Ó templo das luzes veladas,
quem foste no passado?
─ Fui baleia de carne e osso,
barbatanas e leite.
─ O que te transformou em arcabouço das cinzas?
─ As mãos e a ira dos arpões.
Existirá nas correntes marinhas
algo mais perigoso que os arpões?
─ As mãos que os fabricam.
─ Existirá, corpo d’água, algo mais perigoso
que as mãos que os fabricam?
─ As mãos que os acionam
e me relembram versos:
“Deixa intentado a humana geração.
Mísera sorte, estranha condição!"
E existirá, pálido ermitão das cavernas abissais,
algo mais terrível ainda?
─ O comum acordo das duas faces da moeda
na razão do ouro matando a carne
e queimando o óleo das baleias.
E comandando uma nave cega.
─ Então, extinta luz, defendes a des-razão?
Exaltas o delírio?
─ Diante do pensamento repetido
a girar em torno do próprio umbigo,
acolho o delírio que nos salva
da razão doente.
─ Existe, esqueleto, algo pior que a razão doente
comandando uma nave cega?
─ Sim, imenso verdeazul,
o capitão que pensa conduzir a nave cega:
aquele que mata os rebanhos marinhos
incendeia tuas correntes d’água.
E almoça com os vendilhões do estaleiro.
─ Um tirano, esqueleto?
E o que poderá nos salvar do tirano
conduzindo a nave cega?
A razão?
─ Se a razão estiver amordaçada, mar,
ela jamais nos salvará da morte.
Eu que fui um dia
livre navegador do teu mundo líquido
e livremente escolhi caminhos de ir i vir,
sei que sozinha, doente, muda e atada,
a razão nada pode.
─ Eis que me pergunto, esqueleto,
pode o capitão da nave cega nos salvar,
já que é ele quem conduz a morte?
─ Não, “ele não”.
─ Ficaremos então, ó alva presença,
à mercê do delírio em busca da vida?
─ Posso te dizer, mar, que o delírio
nos conduz à arte de sobreviver.
Com ele escrevemos poemas e panfletos.
E, da utopia, fazemos realidade.
─ Não temes “sucumbir em nome do delírio”,
imóvel presença?
─ Não percebeste, mar, o alcance do delírio?
Ele nos acende o desejo.
É ele quem nos anima a fala.
E dá vida à poesia.
─ Mas podes sucumbir em nome do desejo da poesia,
esqueleto.
─ Eu, restolho do desejo da morte,
diante da razão fraca e vazia,
assumo o delírio que luta contra o arpão
e contra o tempo,
porque o tempo
tudo pode.
E nada pode.
─ Existe algo que nos possa livrar, Moby Dick?
Alguma coisa que nos livre dos arpões?
Algo que nos permita dobrar o irresoluto tempo?
─ Pressinto, verdeazul-corpo-d’água,
que “todos estamos num barco,
lutando com nosso monstro particular”:
Eu e meu monstro?
E quem é esse monstro, me pergunto?
E me respondo: o que não sabemos de nós.
E o que deixamos o outro decidir por nós.
─ Nós? Mas o eu não é coletivo, esqueleto.
Em sincronia, ambos são um e outro,
indivíduo e multidão entre águas e areia:
“A branca areia as lágrimas banhavam,
Que em multidão com elas se igualavam.”
─ Por enquanto, mar,
só tenho perguntas e dúvidas.
E vivo fugindo da razão do caçador
que persegue meus descendentes:
─ Partejamos petrificada solidão
ante as ameaças, esqueleto.
O que então nos percorre o existir?
─ O desejo de vencer o tempo,
a vontade de vencer o arpão.
─ O que é o tempo, Moby Dick?
─ O tempo é muitos.
Pode se tornar arpão da morte urdida pelo tirano
ou vontade do tirano executando o castigo da quilha.
─ Renovo a pergunta: haverá, baleia, algo pior
que a nave cega conduzida pelo tirano?
─ O súdito que coroa e aclama o tirano.
E àqueles que aplaudem o séquito do tirano,
rememoro outros versos de além-mar:
“Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!”
─ O que nos resta, Moby Dick?
─ Por enquanto, em volta de nós,
águas abissais.
Razão doente.
Nave cega.
Mas há o palco.
O desejo de entrar de entrar em cena.
O desejo de escrever e dirigir o espetáculo.
E o desejo de atuar.
Para isso nos basta o delírio.
E mais: o corpo e a palavra.
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Postado por Blog da Mirian
24/7/2019 às 21h26
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Pelagem de flor IV: AZUL
Acariciado por madressilvas no lugar das rédeas,
o cavalo azul encontrou par. E em cópula
atravessou a noite.
Que se tornou leito enluarado.
Chegando das selvas de junco,
o deus de anil repousa do coito ininterrupto.
E em campo de feno, ganha forças
do desejo em recomeço.
Plumas de pavão envolvendo-lhe o corpo;
atravessando rios, ele domina a sede,
para galopar dia e noite o corpo da fêmea.
Patas azuis, olhos de andorinha
cavalgando hortênsias. AZUL, ele veio do mar.
Às origens do êxtase, sempre retornará.
(Do livro O camaleão no jardim )
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Postado por Blog da Mirian
17/7/2019 às 08h41
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Pelagem de flor IV: AZUL
Acariciado por madressilvas no lugar das rédeas,
o cavalo azul encontrou par. E em cópula
atravessou a noite.
Que se tornou leito enluarado.
Chegando das selvas de junco,
o deus de anil repousa do coito ininterrupto.
E em campo de feno, ganha forças
do desejo em recomeço.
Plumas de pavão envolvendo-lhe o corpo;
atravessando rios, ele domina a sede,
para galopar dia e noite o corpo da fêmea.
Patas azuis, olhos de andorinha
cavalgando hortênsias. AZUL, ele veio do mar.
Às origens do êxtase, sempre retornará.
(Do livro O camaleão no jardim )
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Postado por Blog da Mirian
17/7/2019 às 08h41
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Pelagem de flor IV: AZUL
Acariciado por madressilvas no lugar das rédeas,
o cavalo azul encontrou par. E em cópula
atravessou a noite.
Que se tornou leito enluarado.
Chegando das selvas de junco,
o deus de anil repousa do coito ininterrupto.
E em campo de feno, ganha forças
do desejo em recomeço.
Plumas de pavão envolvendo-lhe o corpo;
atravessando rios, ele domina a sede,
para galopar dia e noite o corpo da fêmea.
Patas azuis, olhos de andorinha
cavalgando hortênsias. AZUL, ele veio do mar.
Às origens do êxtase, sempre retornará.
(Do livro O camaleão no jardim )
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Postado por Blog da Mirian
17/7/2019 às 08h41
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É cena que segue...
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Cena do filme 'O Filme da Minha Vida', Selton Mello, 2017 |
Já se passaram dois anos desde que iniciei este blog, mas ainda me faço a mesma pergunta após cada sessão: Como escrever sobre esse filme? Muitas vezes me peguei ensaiando sobre a influencia do cinema em nossa realidade, ou o contrário. Outras vezes apenas dissertei sobre o que foi visto apenas como uma forma de entretenimento. Mas o que eu tive certeza em todo esse tempo (e muito antes disso) é que enquanto o cinema existir, hei de escrever sobre ele. Algumas vezes, terei mais sessões, quase dez por semana, em outras bastará uma ou duas, ou até mesmo nenhuma. Faz parte da vida de um cinéfilo.
Mas nem tudo que digo é verdade, tão pouco mentira. Cada espectador diante da tela grande assiste o seu filme. Desde Einstein poucas coisas podem ser definidas como certas ou erradas. Mas é fácil, também necessário, falar sobre o que amamos. O espectador se vê diante de um filme, como Tony Terranova olha para Luna em muitas das cenas de 'O Filme da Minha Vida', o amor é instantâneo, quer dure durante a sessão, quer passe por anos de reprises. Olhamos a tela do Cinema como se fosse uma janela. Nela vemos vida e histórias que anseiam por finais, mesmo que nem todos sejam felizes.
E foi dentro e fora da tela que nesses últimos dois anos vivi experiências incríveis. Conheci personagens e lugares sensacionais. Algumas vezes estive por ruelas estreitas em A Palestina Brasileira, outras em uma lanchonete perdida em alguma esquina de Vitória, sempre em boa companhia, com boas histórias para viver e contar. Foram festivais de cinema dos quais nunca imaginei participar, filmes que me trouxeram muitas surpresas e decepções. Mas é importante a análise de ambos os casos, é tudo uma questão de entendimento.
Aqui pode-se encontrar uma grande variedade de gêneros. Partimos de um bom western para aquele drama que acaba com um nó na garganta. Ou até uma típica comédia da sessão da tarde para um intenso Bergman. A Lanterna Mágica é exatamente aquilo que diz, breves comentários sobre a sétima arte, mas a questão persiste: Como escrever sobre esse filme?
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Postado por A Lanterna Mágica
14/7/2019 às 11h36
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Imagens & Efeitos
De espelho para espelho, mais certo que a imagem
são seus reflexos... deflexos... inflexos...
Entre ambos um grande amplexo
de onde cada qual se ressinta perplexo
diante de seu próprio complexo...
Concretas miragens
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Postado por Metáforas do Zé
11/7/2019 às 10h05
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O Mundo Nunca Foi Tão Intenso Nem Tão Frágil
O mundo nunca foi tão intenso nem tão frágil! Essa é a conclusão imediata que se tem ao assistir “Years and Years”, série da HBO que retrata um futuro próximo em constante e abundante transformação. Dessa forma, a história parte dos dias atuais e vai seguindo ao retratar uma família com diversos personagens que sempre foram tabu na sociedade de fundo sexual, individual, no conflito de gerações e incrivelmente se deparando com “Terra Planistas”, que defendem uma vida retrógrada e renegam fatos comprovados da ciência.
Sendo assim, a série abusa das possibilidades do que virá a seguir e chega num primeiro momento a conclusão que de tanto evoluir, o mundo está voltando a seus primórdios e apesar de toda a tecnologia, ninguém deixou de ser humano, agindo com toda a visceralidade dos primeiros dias de existência. E mesmo como uma obra de ficção, “Years and Years” aponta os caminhos do futuro imaginado, onde não surpreendentemente a tecnologia impera cada vez mais na vida das pessoas, excluindo a maioria, causando dependência e solidão.
Quanto a cenografia, ninguém vive a la “The Jetsons”, com carros voadores e casas suspensas, mas os robôs estão presentes em praticamente todas as áreas e as pessoas querem existir para sempre como consciência na nuvem. Algo que não é aprovado por toda a população, dessa maneira a sociedade entra em conflito, numa guerra política e ideológica, onde culmina num quase fim de mundo com bombas nucleares e a população numa balburdia do “salve-se quem puder”. Tudo isso só no episódio piloto onde são 6 ao todo. O que virá por aí os próximos capítulos podem prever, mas como no acertado nome da série, o que acontecerá de verdade só os anos e anos dirão.
Fazendo uma análise do seriado trazido aos dias atuais, podemos perceber facilmente que a modernidade atrelada a tecnologia e a burocracia, ironicamente estão dificultando o desenvolvimento da sociedade como um todo. Não que seus avanços sejam ruins, mas o fato de não atingir a todos que desejam desfrutar de seus benefícios.
Desse modo, praticamente nenhum sonho hoje em dia é simples, para uma população que vive em países dilacerados pela fome e a guerra. Onde até as mais abastadas nações têm grandes ambições, muitas vezes inalcançáveis, sofrendo um eterno desconforto e insatisfação com as realizações da vida. Ninguém tem culpa disso, nem está errado em querer algo melhor, pois toda a mídia e marketing se fazem cada vez mais presentes sob todas as formas e de fato conseguem girar a economia universal.
Porém, tudo isso faz com que pessoas se lancem em perigosas e irresponsáveis aventuras, arrastando crianças exaustas pela mão e quase sendo mortos na próxima esquina. Tanto esforço para acabar como potencial alvo das estatísticas da violência ou para que no fim esteja sujeito as guerras de líderes inescrupulosos que podem encerrar o jogo num apertar de botão ou da própria natureza louca e descontrolada pelos feitos do homem.
Por fim, segue a reflexão de que progredir, avançar e inovar não é errado, pois a humanidade possui inteligência, criatividade e muitos outros atributos justamente para isso. O que está errado é a forma como é feito e distribuído no geral. Formando para o futuro uma geração de despatriados, descrentes e frustrados, que se sobreviverem a tudo, para onde irão? Será que o caminho avança ou retrocede em busca de valores descabidos? O filme “A Vila” de M.Night Shyamalan tem uma interessante concepção sobre o assunto.
Lembrando que, em tempos mais simples, o mundo era explorado por viajantes e aventureiros sem muros que o conquistaram e o construíram para quem o divide agora. Só uma de muitas e intensas questões unindo passado, presente e futuro.
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Postado por Blog de Camila Oliveira Santos
8/7/2019 às 21h37
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João Gilberto
Se existe uma música popular brasileira - e, no mundo inteiro, ela pode ser reconhecida como tal - devemos isso à bossa-nova, portanto, devemos isso a João Gilberto.
Ele não gostava do termo - e preferia falar em samba - mas é inegável que, como intérprete, João Gilberto foi um divisor de águas na música brasileira.
Para quem duvida, basta ouvir os registros das canções de Tom Jobim no tempo do samba-canção. João Gilberto precisava de um compositor, é fato, mas Tom Jobim também precisava de um intérprete - e sem esse encontro, e sem as letras de Vinicius de Moraes, estaríamos ainda presos aos “boleros” e não haveria o que chamamos de “MPB”.
São conhecidos os relatos de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre outros de sua geração, sobre o acontecimento estético que foi a audição de João Gilberto. Se não fosse por ele, Caetano Veloso teria continuado a fazer cinema; Chico Buarque teria insistido na arquitetura; e Gilberto Gil permaneceria funcionário da Gessy Lever.
E nem é preciso ser fanático por música brasileira para perceber o talento de João Gilberto para reduzir o “samba” a um mínimo de elementos. Se pudéssemos comprimir a trilha sonora do Brasil em uma cápsula - e lançá-la no espaço-tempo -, esta cápsula seria a música de João Gilberto.
Sua síntese é tão essencial que suas interpretações não envelhecem - e seus registros continuam modernos, há mais de meio-século. Não podemos dizer o mesmo da própria MPB - e, muito menos, do que veio depois dela...
A forma definitiva que João Gilberto deu a algumas composições se tornou um desafio para intérpretes depois dele. Os mais inteligentes, como Elis Regina e Wilson Simonal, não se atreveram a se ombrear com ele - e seguiram pela rota oposta: a dos cantores que cantavam “para fora”; a dos cantores “com voz”.
Os críticos vão dizer que João Gilberto abriu caminho para cantores “sem voz”, mas a culpa é tanto dele quanto é do microfone ou do registro fonográfico. Ou do século XX, ou da “indústria”...
O lado ruim do seu gênio obsessivo é que nos deixou, relativamente, poucos registros. (Ou, talvez, isso seja um mérito.) E os conhecedores são unânimes em afirmar que toda a sua arte está contida nos três primeiros LPs.
Justamente aqueles que não estão mais disponíveis - pois, contra sua versão em CD, João Gilberto se insurgiu, na década de 90, e eles ficaram “fora de catálogo” desde então. Por mais perfeccionista que João Gilberto seja (e por mais que tenha razão na contenda): Que perda para o gosto musical das novas gerações!
Todo o folclore sobre a sua personalidade “sui generis”, digamos assim, foi explorado mais do que o recomendável. (E devemos silenciar a respeito.) Já seus amores - ou desamores - se tornaram um capítulo final triste, na disputa pelo seu espólio.
Pensando em Vinicius, que nos deixou em 1980, e em Tom, que nos deixou em 94, talvez devamos guardar, de João Gilberto, não os seus últimos anos, em manchetes nada musicais, mas, sim, seu último registro em disco, o “Voz e Violão”, de 1999.
Entre versões de Caetano e Gil - talvez por insistência do próprio Caetano, que era o produtor -, João ainda nos brindou com uma pérola de Tom Jobim, “Você vai ver”, polida por ele, naturalmente. E, mais uma vez, afirmou: “Eu sou do samba, pois o samba me criou”. Fechando com “Chega de Saudade”, o começo de tudo...
Tom Jobim costumava dizer que o Brasil precisava merecer a bossa-nova. Pois, antes dela, o Brasil precisa merecer João Gilberto.
Para ir além
"João Gilberto na Casa de Chico Pereira" e "Basta João" ;-)
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Postado por Julio Daio Bløg
8/7/2019 às 12h20
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Julio Daio Borges
Editor
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