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11/8/2019
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Grito primal II
Quando a vida concedeu-me o acalanto dos madrigais,
desde aquele dia, quaisquer ouvidos
ouvem-me a exaltada canção
do nascer de mim mesma.
Canto para as paredes. Canto para
o jardineiro. Ao moldar versos de argila,
minhas mãos repercutem meu grito.
Aos rituais da terra, há sonoridades da fúria.
Às vozes da fúria, há cantigas de docilidade.
Evocando o som das bacantes
meu grito repercute no barro,
moldando seios nas esfinges,
moldando falos nos sátiros.
Mas à reunião do macho e da fêmea,
a réplica do andrógino não os divide
em dois. Nem os dispersa.
Um só corpo.
Minha ambiguidade.
Minha fé.
E a meus pés, o asfalto distendendo-me
esta rua bem maior que o mundo.
(Do livro Nada mais que isto)
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Postado por Blog da Mirian
11/8/2019 às 12h52
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Calcanhar de Aquiles
Quanto mais inflexível de idéias
mais sensíveis os tendões...
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Postado por Metáforas do Zé
10/8/2019 às 11h59
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Expressão básica II
A estética é a expressão visual da ética
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Postado por Metáforas do Zé
1/8/2019 às 23h42
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Expressão básica
A música é a expressão sonora da matemática
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Postado por Metáforas do Zé
1/8/2019 às 23h23
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Hábitos perdidos
Assim como as crianças recolhem conchas na praia
escrevo pensamentos em minha caderneta
Antigos bolsos
Velhos diários...
Entre os Acumuladores do Bem
há Guardadores de rebanhos
de conchas
e até de nuvens...
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Postado por Metáforas do Zé
1/8/2019 às 11h25
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Infância
Linguagem esquecida
Sagrada escritura...
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Postado por Metáforas do Zé
1/8/2019 às 11h19
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Grito primal I
Meu grito gritando.
E recoberto de malícia meu corpo
em pele de bicho a rir-se muito muito
das amenidades da vida.
Meu grito gritando.
E ao descascar tangerinas, meus dedos
riem-se dos talheres de prata. Depois,
à hora do banho, o corpo inteiro escarnece
das roupas. Satiriza os enfeites. E ri
das proibições da nudez.
Meu grito gritando.
Porque há um tempo de gritar.
Porque antes das repercussões sonoras
canta em silêncio meu pássaro incriado.
Meu grito gritando.
Dos nervos ao púbis, realizo
variações em torno de um tema.
Meu grito beijando-te.
Minha rosa de carne. Meus lábios d’água.
Ao jardim e ao corpo pertence
o que só os pássaros veem.
(Do livro Nada mais que isto)
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Postado por Blog da Mirian
27/7/2019 às 09h27
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Pelagem de flor V: BRANCO
Dançando valsas, vem à frente
meu pégaso de jasmins, a rememorar
bailados e histórias narradas
pelo jardineiro de folhas.
Evadido das florestas, esse animal
das flores mimadas transporta sela
de trevos, aguardando cavaleiro
que o conduza à dama do portão.
Pelagem de arminho dos cometas,
minha nuvem de cambraia se alteia
espantando vassouras e bruxas.
Cavalinho de lume acendendo
a noite. Meu pássaro da paz retorna
germinando bosques.
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Postado por Blog da Mirian
27/7/2019 às 09h09
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Dimensons
A música é a régua do silêncio...
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Postado por Metáforas do Zé
24/7/2019 às 23h06
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EU, MOBY DICK e Caçando Moby Dick
“Eu, Moby Dick”, espetáculo teatral em cartaz no Espaço Oi Futuro (no Rio de Janeiro), até 28 de julho deste ano de 2019, apresenta profunda e sagaz releitura do texto de Herman Melville, trazendo ao público questões relacionadas ao Brasil e ao mundo nos dias atuais.
Direção: Renato Rocha
Dramaturgia: Pedro Kosovski, a partir da obra-prima de Herman Melville
Assistência de direção: Rafaela Amodeo
Elenco: Márcio Vito, Gabriel Salabert, Kelzy Ecard e Noemia Oliveira
Tocada de modo intenso pela seriedade do espetáculo “Eu, Moby Dick”, me identifiquei com os sentidos contidos e incontidos na ambiguidade da baleia imaginada por Herman Melville, e redesenhada pela dramaturgia, traduzindo-se para o público por meio do trabalho precioso, irretocável e esperançoso dos atores.
Assim, gostaria de homenagear a todos que participam desse espetáculo, dedicando-lhes imaginário diálogo entre a baleia e o mar. Para isso, publico hoje Caçando Moby Dick, texto inteiramente inspirado em “Eu, Moby Dick”.
Obs. Entre aspas, trechos de Os Lusíadas e da fala dos atores, estes em negrito.
CAÇANDO MOBY DICK
Forjando cores que jamais conheci,
me seduz impossível ofício
de animizar a palidez dos ossos.
─ Sozinho, só perguntas me chegam à solidão.
Aos longes da vida, posso imaginar-te imenso.
Quem és, desconhecido verdeazul?
─ Sou aquele do corpo d’água.
Me chamam de mar.
E quem és, nessa tua constante solidão?
─ Sou arcabouço imóvel,
o que resta da morte,
o que cinge a eternidade,
o que conheceu a finitude.
Me chamam de esqueleto.
─ Que mais queres saber de mim, alva clausura?
─ Inda não me conhecias
nem sequer sabias meu nome,
por que me acolheste em tua profundeza?
Por que insistes em lavar-me o corpo descarnado?
─ Guardar e distanciar-me,
carícia e afastamento,
eis meu ofício.
─ Então és humano, mar?
─ Quem, pálido desalento,
pode se dizer humano?
─ O que te diferencia dos humanos, ó corpo d’água?
─ Dizem que os humanos pensam e agem.
E procuram vanglórias:
“Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!”
─ Posso te dizer, ondeante azulametista:
pensar e agir, eis a falácia da humanidade.
Pensar e agir, dois atributos
“que podem levá-los à própria destruição”.
Também eu, neste meu corpo fluido,
absorto em águas de severa profundidade,
total instável pensar,
posso ser destruído.
E posso destruir praias,
pessoas, barcos.
E até cidades.
─ Tal poder não tenho, mar.
Entanto, conduzo atributos da minha terrível estirpe:
presentificar a morte.
E o medo da morte.
─ Ó templo das luzes veladas,
quem foste no passado?
─ Fui baleia de carne e osso,
barbatanas e leite.
─ O que te transformou em arcabouço das cinzas?
─ As mãos e a ira dos arpões.
Existirá nas correntes marinhas
algo mais perigoso que os arpões?
─ As mãos que os fabricam.
─ Existirá, corpo d’água, algo mais perigoso
que as mãos que os fabricam?
─ As mãos que os acionam
e me relembram versos:
“Deixa intentado a humana geração.
Mísera sorte, estranha condição!"
E existirá, pálido ermitão das cavernas abissais,
algo mais terrível ainda?
─ O comum acordo das duas faces da moeda
na razão do ouro matando a carne
e queimando o óleo das baleias.
E comandando uma nave cega.
─ Então, extinta luz, defendes a des-razão?
Exaltas o delírio?
─ Diante do pensamento repetido
a girar em torno do próprio umbigo,
acolho o delírio que nos salva
da razão doente.
─ Existe, esqueleto, algo pior que a razão doente
comandando uma nave cega?
─ Sim, imenso verdeazul,
o capitão que pensa conduzir a nave cega:
aquele que mata os rebanhos marinhos
incendeia tuas correntes d’água.
E almoça com os vendilhões do estaleiro.
─ Um tirano, esqueleto?
E o que poderá nos salvar do tirano
conduzindo a nave cega?
A razão?
─ Se a razão estiver amordaçada, mar,
ela jamais nos salvará da morte.
Eu que fui um dia
livre navegador do teu mundo líquido
e livremente escolhi caminhos de ir i vir,
sei que sozinha, doente, muda e atada,
a razão nada pode.
─ Eis que me pergunto, esqueleto,
pode o capitão da nave cega nos salvar,
já que é ele quem conduz a morte?
─ Não, “ele não”.
─ Ficaremos então, ó alva presença,
à mercê do delírio em busca da vida?
─ Posso te dizer, mar, que o delírio
nos conduz à arte de sobreviver.
Com ele escrevemos poemas e panfletos.
E, da utopia, fazemos realidade.
─ Não temes “sucumbir em nome do delírio”,
imóvel presença?
─ Não percebeste, mar, o alcance do delírio?
Ele nos acende o desejo.
É ele quem nos anima a fala.
E dá vida à poesia.
─ Mas podes sucumbir em nome do desejo da poesia,
esqueleto.
─ Eu, restolho do desejo da morte,
diante da razão fraca e vazia,
assumo o delírio que luta contra o arpão
e contra o tempo,
porque o tempo
tudo pode.
E nada pode.
─ Existe algo que nos possa livrar, Moby Dick?
Alguma coisa que nos livre dos arpões?
Algo que nos permita dobrar o irresoluto tempo?
─ Pressinto, verdeazul-corpo-d’água,
que “todos estamos num barco,
lutando com nosso monstro particular”:
Eu e meu monstro?
E quem é esse monstro, me pergunto?
E me respondo: o que não sabemos de nós.
E o que deixamos o outro decidir por nós.
─ Nós? Mas o eu não é coletivo, esqueleto.
Em sincronia, ambos são um e outro,
indivíduo e multidão entre águas e areia:
“A branca areia as lágrimas banhavam,
Que em multidão com elas se igualavam.”
─ Por enquanto, mar,
só tenho perguntas e dúvidas.
E vivo fugindo da razão do caçador
que persegue meus descendentes:
─ Partejamos petrificada solidão
ante as ameaças, esqueleto.
O que então nos percorre o existir?
─ O desejo de vencer o tempo,
a vontade de vencer o arpão.
─ O que é o tempo, Moby Dick?
─ O tempo é muitos.
Pode se tornar arpão da morte urdida pelo tirano
ou vontade do tirano executando o castigo da quilha.
─ Renovo a pergunta: haverá, baleia, algo pior
que a nave cega conduzida pelo tirano?
─ O súdito que coroa e aclama o tirano.
E àqueles que aplaudem o séquito do tirano,
rememoro outros versos de além-mar:
“Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!”
─ O que nos resta, Moby Dick?
─ Por enquanto, em volta de nós,
águas abissais.
Razão doente.
Nave cega.
Mas há o palco.
O desejo de entrar de entrar em cena.
O desejo de escrever e dirigir o espetáculo.
E o desejo de atuar.
Para isso nos basta o delírio.
E mais: o corpo e a palavra.
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Postado por Blog da Mirian
24/7/2019 às 21h26
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