Digestivo Blogs

busca | avançada
32827 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> SESI São José dos Campos promove Roda de Conversa e Oficina sobre Terra Terreno Território
>>> Festival Curta Campos do Jordão divulga lista filmes selecionados para sua 10ª edição
>>> Coletivo Coletores - Museu Afro Brasil Emanoel Araujo
>>> Carmen Alves lança autobiografia sobre o desafio de vencer um câncer raro e incurável
>>> Sucesso nacional, “D.P.A. A Peça 2 – Um Mistério Musical em Magowood” chega ao Teatro Clara Nunes
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> Rafael Ferri no Extremos
>>> Tendências para 2025
>>> Steven Tyler, 76, e Joe Perry, 74 anos
>>> René Girard, o documentário
>>> John Battelle sobre os primórdios da Wired (2014)
>>> Astra, o assistente do Google DeepMind
>>> FSC entrevista EC, de novo, sobre a MOS (2024)
>>> Berthier Ribeiro-Neto, que vendeu para o Google
>>> Rodrigo Barros, da Boali
>>> Rafael Stark, do Stark Bank
Últimos Posts
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
>>> Editora lança guia par descomplicar a vida moderna
>>> Guia para escritores nas Redes Socias
>>> Transforme sua vida com práticas de mindfulness
>>> A Cultura de Massa e a Sociedade Contemporânea
>>> Conheça o guia prático da Cultura Erudita
>>> Escritor resgata a história da Cultura Popular
>>> Arte Urbana ganha guia prático na Amazon
>>> E-books para driblar a ansiedade e a solidão
Blogueiros
Mais Recentes
>>> A ilusão da alma, de Eduardo Giannetti
>>> Não terá a grandeza de Getúlio.
>>> Um Furto
>>> É descansando que se vai longe
>>> Como sobreviver ao Divórcio de Ricardo Lísias
>>> Neste Momento, poesia de André Dick
>>> Separar-se, a separação e os conselhos
>>> 15 anos sem Miles Davis, o Príncipe das Trevas
>>> Os mandarins musicais
>>> A crise dos 28
Mais Recentes
>>> Misericórdia de Lídia Jorge pela Autêntica Contemporânea (2024)
>>> Gabriela, Cravo E Canela de Jorge Amado pela Companhia Das Letras (2012)
>>> Sete Faces Do Humor de Marcia Kupstas pela Moderna (1982)
>>> Retorno A Reims de Didier Eribon pela Ayine (2024)
>>> Alberto de Oliveira Poesias Completas - Vol I de Marco Aurélio Mello Reis pela Núcleo Editorial Uerj (1978)
>>> Armindo Trevisan: o poeta harmonioso de Eduardo Jablonski pela Pradense (2017)
>>> Mestre dos Batuques de José Eduardo Agualusa pela Tusquest (2024)
>>> Yoga para 3º Idade de Beatriz Esteves pela Icone
>>> Os Tres Incriveis de Stella Carr pela Editora Moderna (1988)
>>> Histórias Da Bola: depoimento a Nilson Souza de Paulo Roberto Falcão pela L&pm Editores (1996)
>>> A Arte de Amar de Christian Dunker pela Record (2024)
>>> O Cérebro De Buda. Neurociência Prática Para A Felicidade de Rick Hanson pela Alaúde (2012)
>>> O Pobre De Direita: A Vingança Dos Bastardos de Jessé Souza pela Civilização Brasileira (2024)
>>> A Era Do Saneamento: As Bases Da Politica De Saude Publica No Brasil (saude Em Debate) de Gilberto Hochman pela Anpocs
>>> Rei Lear de William Shakespeare pela Penguin (2020)
>>> Depois Do Caos de Maria De Regino pela Editora Moderna (1966)
>>> Trois Contes de Gustave Flaubert pela Librio (1994)
>>> Viva A Republica - Col. Viramundo de Julieta De Godoy Ladeira pela Editora Moderna (1994)
>>> Educação Pela Higiene de Cadernos Cedes pela Cadernos Cedes
>>> Nunca Pensei Em Ser Atriz de Suzana Saldanha pela Ardotempo (2022)
>>> Pra Não Perder A Alma: o cuidado aos cuidadores de Roseli M. Kühnrich de Oliveira pela Evangraf / Criação Humana (2018)
>>> Geopolitica Da America Latina de Nelson Basic Olic pela Moderna (1993)
>>> Sete Faces Da Bravura de Fernando Portela / Júlio Emílio Braz / Veiga / Aquino / Yazbek / Miranda / Bandeira pela Moderna (1993)
>>> Contos Fantásticos de Teófilo Braga pela Pradense (2012)
>>> Os Dez Mandamentos Da Ética de Gabriel Chalita pela Nova Fronteira (2003)
BLOGS

Sexta-feira, 7/8/2020
Digestivo Blogs
Blogueiros
 
Num piscar de olhos

Do refluxo de lâminas d'água sobre
lâminas d'água, o retorno insensível do
mar ao oceano

No relâmpago das pálpebras,
imperceptível degrau da passagem do pré-
anestésico ao anestesiado...

[Comente este Post]

Postado por Metáforas do Zé
7/8/2020 às 12h22

 
Sexy Shop

Metáfora
é
um
fetiche
do
pensamento

[Comente este Post]

Postado por Metáforas do Zé
5/8/2020 às 15h09

 
Assinatura

Único
traço
para
toda
uma
florada

[Comente este Post]

Postado por Metáforas do Zé
5/8/2020 às 15h07

 
Agosto

Ventos
a
gosto...

[Comente este Post]

Postado por Metáforas do Zé
2/8/2020 às 18h41

 
Refrações

A arte se manifesta pela inconsciência
por isso não ouço o que toco, mas sinto a nota que vibra
Não leio o sentido da palavra, mas ouço seu rugido
Não traço a razão das figuras, mas percorro seus rabiscos desesperados...

[Comente este Post]

Postado por Metáforas do Zé
1/8/2020 às 21h48

 
UMA VISÃO PRAGMÁTICA

Não sou filósofo, sou um homem da planície, ex-advogado por vocação e formação — devo dizê-lo sem laivos de vaidade — e que, por circunstâncias diversas, fiz algumas incursões no território da Filosofia, de um modo superficial. Nada, além disso.

Na vida, sempre imponderável e aleatória, somos apenas peões, as primeiras peças a ser descartadas no tabuleiro do xadrez cósmico que não é senão uma metáfora da Vida contra a Morte, como no filme gótico “O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman, onde um cavaleiro medieval luta até o último fôlego pela sua vida, numa batalha que sabe de antemão perdida.

Qual o cavaleiro medieval, não me resta tanto tempo.

Então, serei breve na abordagem do tema que me propus.

Do ponto de vista pragmático, a meu ver, a vida resume-se, em síntese, a intuições, trocas, escolhas e perdas. Somente.

Intuições revestem-se de caráter polissêmico. Foi graças a elas, que Fleming descobriu a penicilina, num episódio histórico que todos conhecem.

Não fosse seu alto grau de percepção intuitiva, teria jogado fora um material mofado, mas, ao revés, levou-o ao microscópio e descobriu que aonde havia bolor o estafilococo não se desenvolvia, descobrindo então a penicilina, que continua salvando até hoje muitas vidas.

Grande parte das descobertas se deve às intuições, ao empirismo, como no caso da vacina antivariólica.

Já as escolhas, que a vida inteira somos obrigados a fazer, dada a força que as circunstâncias exercem sobre nós, como ressalta Ortega y Gasset, importam, grosso modo, em renúncias. Ao se escolher alguém ou algo, renuncia-se a outrem ou a alguma coisa.

Já as trocas remontam à Roma Antiga, quando o sal era uma mercadoria de inestimável valor, porque muito raro no interior da Europa. Pois bem, essa era a forma de pagamento dos soldados das legiões romanas, donde proveio a palavra soldo. Com o sal compravam-se roupas, alimentos, armas e outras coisas.

A persistência, ao longo dos tempos, da palavra salário, é tanta que até hoje é usada como remuneração em dinheiro, ou seja, a quantia paga ao empregado pelo empregador, pelos serviços a este prestados.

Por derradeiro, falemos agora das perdas, desde as de coisas mais simples até as mais dolorosas e trágicas.

A valoração do sentido da perda, seja por furto, seja por caso fortuito, depende de cada pessoa. Perder-se algo de estimação ou uma coisa comum, quase sempre incomoda, ora mais, ora menos.

Somos todos finitos, bem o sabemos. Mas ninguém se conforma com a morte. É algo que nos contamina e nos envenena aos poucos desde que nos é dado existir e quando começamos a pensar.

Por que, nos perguntamos, o esforço de viver nos exige tanto para depois morrer? Não há resposta plausível. Apenas a falta de sentido de tudo isso.

Não ouso adentrar-me nesta vexata quaestio (perdoem-me o latinório, um velho vício de ofício).

A Filosofia não é uma ciência simples, como abrir uma porta com uma fechadura sem segredo. A Filosofia é multifária e complexa e ao abrir-nos muitos caminhos e descaminhos — sem bússola ou norte magnético, em sentido figurado, obviamente — torna-se fácil nos perdermos.

Esse caráter proteico das buscas e indagações filosóficas decorre necessariamente de sua adaptação à face mutável do tempo, sem o que a Filosofia iria perder o senso de realidade que a lastreia como ciência humana.

Para o bem ou para o mal, gosto de pensar, por tal motivo não vou botar a mão no vespeiro sem ser apicultor.

Divirjo, com o devido respeito, dos filósofos que sustentam que o empirismo e o racionalismo se contrapõem. Para mim, ambos se completam.

Na mitologia grega, por exemplo, a descoberta da figura do centauro num desenho rupestre decorreu de um ato empírico, mas a conclusão de que se tratava do simbolismo de um ser metade animal, metade homem foi fruto do uso da razão. O mesmo sucedeu nos primórdios da Filosofia: foi preciso, antes de tudo, descobrir o que existia em torno do homem pela experiência da observação, ou seja, o empirismo que foi, por assim dizer, o starter que acionou a rodagem da razão para que, a partir daí, a dinâmica filosófica se amoldasse à face do tempo naquele momento histórico do nascimento da Filosofia.

E assim persiste, até os dias de agora, o evolver da Filosofia, como uma ciência em aberto, suscetível de novos achados e descobertas, sem o mínimo intuito de angariar prosélitos, laica que é, por definição.

Isto, porém, não exclui a existência de Deus. Desde os filósofos da Antiguidade, sejam ocidentais ou orientais, sua quase generalidade acreditava na existência de um Ser Supremo, a teor de Sócrates, Platão, Aristóteles e, muito depois, Kierkegaard, que jamais nominou sua obra e vivia às turras com a igreja de seu tempo. Foi o filósofo Gabriel Marcel que batizou, por sua conta e risco, de existencialismo cristão a obra do sábio dinamarquês muito depois de sua morte. Conta-se que foi ele quem preencheu o vazio deixado pela morte de Aristóteles, sem embargo de outros tantos grandes filósofos terem surgido de permeio, como Kant, Hegel, Descartes, citados aqui a título meramente exemplificativo.

Basta dizer-se que a Suma Teológica, de S. Tomás de Aquino, o Doutor Angélico, embasou-se em Aristóteles.

A ideia da inexistência divina ressurgiu num grupo que se reunia no café de Flore, na Rive Gauche, autodenominado de existencialismo humanista, liderado por Sartre, casado com Simone de Beauvoir e por Camus, que se diziam ateus. Esse existencialismo humanista data de meados dos anos 50.

Mas a obsessão de negar sistematicamente a ideia da inexistência divina, a contrario sensu, acaba por transparecer que essa espécie de fixação era a expressão oculta de que existia mesmo um Ser Superior, criador do universo e de todo o infinito, enfim, do macrocosmo, enquanto nós, reles mortais, somos o microcosmo, os que pensamos ser senhores de nós — e não somos.

A espécie humana é regida por duas pulsões: a pulsão animal e a pulsão racional. Só que a primeira quando despertada tem prevalência sobre a outra, daí os erros, as violências, a transgressões que cometemos — e só depois nos damos conta, culpando-nos. É que a pulsão animal age a priori e a racional a posteriori. E aqui voltamos à imagem icônica do centauro, pois a história da vida é cíclica, num ir e vir sem fim.

Enfim, cabe aos filósofos o enorme desafio de desfazer o nó Górdio sem a espada de Alexandre, O Grande...

Ayrton Pereira da Silva

[Comente este Post]

Postado por Impressões Digitais
1/8/2020 às 15h33

 
Película em negativo

Diante de uma
natureza exuberante,
portas e poros se encontram
obstruídos ante a necessidade
premente de fotofgrafá-la por inteiro
num cartão postal...

[Comente este Post]

Postado por Metáforas do Zé
29/7/2020 às 12h19

 
Partícipe

A vida não me leva
A vida é conduzida
Sem a mão de quem vive
O sol não cruza os céus
A lua nos trangride

[Comente este Post]

Postado por Metáforas do Zé
28/7/2020 às 23h25

 
O Que Todo Mundo Via Mas Não Imaginava


Foram dias que se transformaram em semanas, meses e até ano do jeito que está. E é a primeira vez desde a Segunda Guerra que a população passa por algo maior e mundial. Desse modo, é a primeira vez em 75 anos que independentemente de onde olhe, encontrará a mesma situação acontecendo em grandes ou menores escalas.

Assim, este evento, como o seu antecessor, transformou os assuntos que estavam vigentes e está mudando o destino de muitas vidas ao redor do planeta. Visto isso, é esperado que as últimas gerações não estejam acostumadas com as ocasiões de freada momentânea, ao contrário disso, cada vez mais foram estimuladas a colocar o pé no acelerador, correndo em direção a uma vida de sucesso pra qual já nasceram atrasados.

Portanto, as pessoas dessa época estão habituadas a viver num mundo burocrático e social que não está acostumado a parar, e quando se depara com uma brecada acidental como a que está acontecendo, prejudica a humanidade com o mesmo efeito de um carro que para repentinamente estando em alta velocidade. No entanto, se tratando de sociedade e burocracia, antes era mais simples de retomá-las. Pois agora são necessários muitos papéis, vistos, aplicativos, ideias, etc. pra que a vida volte aos eixos e nem todo mundo compreende ou está com os requisitos em dia pra que isso se dê tranquilamente.

Sendo assim, o que pode ser a melhor forma de controle e facilitação em alguns países, em outros é o motivo de caus e confusão. Contudo, desejando segurar o “novo normal” a tecnologia tentou e não conseguiu ser completamente eficaz, moldando um mundo atual de questões que se seguirão visíveis e irreversíveis daqui pra frente.

Por isso, após o olho do furacão que está sendo essa pandemia, haverá quem ganhe e terá quem perca. Porque no momento, não importa o que digam ou o quanto reclamem, todos como não há muito tempo estão humanamente igualados. Acreditem ou não, tem gente que somente agora em diferentes escalas e reações está agindo e se sentindo como humano, pois assim é a vida.

Entretanto, não restam dúvidas que o planeta à partir de hoje seguirá como num filme indicado pras próximas gerações com um enredo estranho e surpreendente que inevitavelmente aconteceu. Já havia comentado esse tema no remoto e ingênuo ano de 2016 sobre o mundo que só víamos nos filmes e um ainda desse ano de 2020 sobre combater os vilões da vida real.

Por fim, saiba que esse é principalmente um momento de reinvenção, perfeito pra nos darmos conta do quão frágil pode ser a vida humana, social e financeira sem reservas nem pensamentos futuros. Então, pense e repense sobre tudo o que tem feito e não se leve tão a sério, pois o que faz o tempo perceptível são os humanos, pra Terra é irrelevante, e mesmo machucada, ela sempre dá um jeito de cicatrizar as feridas e sobreviver sem precisar de alguém pra isso.

São exemplos a despoluição com menos carros na rua, o silêncio em lugares que sempre estiveram tumultuados, animais aparecendo onde antes era impossível... E mais uma vez parece que conseguimos, continuaremos aqui, mas até quando? Portanto, não deixe que o destino da Terra seja sobre a questão da árvore que cai e se torna nula porque ninguém estava lá pra ver.



[Comente este Post]

Postado por Blog de Camila Oliveira Santos
28/7/2020 às 23h08

 
Beethoven 250 anos: gênio contra a tirania




Quando “Egmont” e “Fidelio” foram feitas, Beethoven já era, aos seus moldes, um herdeiro do Iluminismo . Repudiava a tirania. Qualquer tirania. Na trajetória de Beethoven, a liberdade, essa dimensão tão cara ao humano, é, em cada compasso, o fim de um déspota.

Não se pode esquecer, é verdade, que Beethoven, em seus períodos iniciais em Bonn e, posteriormente, na Viena dos Habsburgos, se mantinha próximo da nobreza, do seu mecenato e tenha dedicado à essa aristocracia várias de suas obras.

Mas, também, não se pode ignorar que essa relação obedecia aos vários caminhos pelos quais, em maior ou menor tom, sejam pessoais ou ecos de sua época, o compositor fora “empurrado” para essas relações.

Há pouco tempo, a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP) executou a introdução de “Egmont” e “Fidelio”. Miguel Campos Neto, o regente, não condescendeu e fez jus, com toda a orquestra, ao vigor, à força e ao ritmo que marcam os compassos Beethovenianos.


Beethoven pela OSTP no Theatro da Paz. Foto: Maíra Belfort


Beethoven fora influenciado muito fortemente pelo Iluminismo francês, que ecoava na Alemanha de modo diverso. Sem guerras, mas nas trincheiras da arte. Quem nos conta isso é a monumental e célebre biografia, “Beethoven" (516 pgs), de Maynard Solomon.

Já na infância, o compositor conheceu os métodos tiranos, através de seu pai, Johann van Beethoven. Certa vez, sob as vistas paternas, o jovem Beethoven resolveu sair dos acordes formais de uma composição. Na sala, seu pai se voltou para ele ordenando-o, rispidamente, a tocar o que estava programado. Beethoven retrucou: "mas não é lindo?". Seu pai diria, para um dos maiores gênios da humanidade, que ele ainda não estava preparado para aquilo.

Na verdade, Johann, decadente, possivelmente projetando no filho aquilo que ele não foi, não estava preparado para o brilhantismo que, em seguida, se revelaria de modo fulgurante no jovem músico.

O maior compositor de sinfonias da história estava tateando o que iria, posteriormente, realizar. Alguns anos depois iria se dedicar à sua conhecida fase heroica, em favor do espírito livre.

Espírito livre. Talvez, por ver déspotas nascendo, Beethoven iria acreditar no consulado napoleônico e iria, na conhecida história da obra, dedicar a “Eroica” a ele. Quando o líder francês se proclamou imperador e rompeu com os ideais que o músico acreditava, ele apagaria, de forma abrupta, a inscrição “Bonaparte” da composição.

Maynard Solomon, em perspicaz interpretação, se distancia, consideravelmente, dessa “simples” interpretação e busca razões contextuais e, não sem brilhantismo, conflitantes na atitude do compositor.

Mas, sem ironia, não é demais lembrar que, quando a ópera “Fidelio”, posterior à “Eroica”, foi apresentada, ela teve sua estreia obliterada pela invasão, das tropas napoleônicas, de Viena.



Fidelio, na verdade Leonora, é a esposa disfarçada que tenta libertar o marido, Florestan, encarcerado em uma masmorra de uma tirania insaciável. Toda a tirania é insaciável. A esposa salva o marido graças à intervenção de um deus “ex machina” (Don Fernando), mas, sobretudo, pela sua inabalável vontade e impetuoso heroísmo.

Longe de atribuir a essa subversiva fantasia do herói e de resgate uma incondicional absolvição ao período de terror da Revolução Francesa, em Beethoven, “os temas da fraternidade, devoção conjugal e triunfo sobre a justiça da ópera são básicos para a ideologia do compositor, mas não assinalam sua devoção a uma perspectiva jacobina.”

A expectativa de manutenção da aristocracia pela via de um príncipe “iluminado” se reencanta em “Fidelio” à procura de um herói, ou de um heroísmo, e se desencanta, destruída, pelos idos da época do terror.

Em 1814, em sua terceira versão, a ópera já emitia os brados de um outro momento histórico. “A nova versão pôde ser facilmente percebida como uma celebração da vitória sobre as forças napoleônicas pelos aliados, e como uma alegoria da libertação da Europa das agressões do tirano/usurpador”.

Nesse ano, ao contrário de sua estreia fracassada, em uma das apresentações de “Fidelio”, Beethoven, após o primeiro ato, foi entusiasticamente chamado ao palco e, finalmente, ovacionado por aquela que teria sido uma das suas mais atribuladas composições. O esforço e a virtude premiam o herói.

A figura do herói, do bom príncipe ilustrado, que grassou nas fantasias do Século XVIII, está, também, na “Música incidental para o “Egmont”, da peça teatral de Göethe , finalizada em 1810 e apresentada no Teatro Hofburg em Viena.



“Egmont” é a história de um nobre que luta contra a invasão dos Países Baixos pela Espanha. Egmont é uma localidade. O Duque de Egmont luta contra a tirania da dominação.

Na introdução da obra, Beethoven descreve, assinala, pontua e expande toda a ação do nobre. Aí está força, coragem, destemor, virtude. Sim, honra, liberdade.

Escute a composição beethoveniana e se transporte para a luta do nobre holandês que sacrifica a própria vida pela liberdade, mas também entenda que é mais um libelo do compositor contra as vontades políticas despóticas de domínio e opressão. Beethoven é nosso contemporâneo.

A força dessa luta está nos contrapontos de “Egmont”, mas está, acima de tudo, no tom heroico, imponente e, fundamentalmente, triunfante que parece representar a batalha, a condenação, mas, principalmente, a vitoriosa honra e coragem que não se dobram.

Esses sentimentos, como virtude, esperança e liberdade, prenunciam o romantismo do compositor e estarão presentes em muitas de suas obras. Eles poderão ser vistos, em toda a sua pungência, por exemplo, na sua famosíssima “Nona sinfonia”


OSTP tocando Beethoven. Foto: Maíra Belfort


Lembremos da abertura de “Fidelio”, executada pela OSTP, na qual os violinos se intercalam subindo e descendo seus arcos, conflitando-se, na pungência da paz. É a paz de Beethoven. Tiranos não ascenderão. Sempre, em Beethoven, devem cair.

“Egmont” começa com o tom acentuado, de ovação; “Fidelio” se inicia com o tom heroico, fortíssimo, em um crescendo. Viajamos por duas das maiores composições da história. Nessa história, cada compasso é o fim de um tirano. Viva “Fidelio” e “Egmont”!



Para meu tio Elias, “in memoriam”

Este texto foi publicado em 22/07/2020 no Diário Online

Relivaldo Pinho é autor de, dentre outros livros, Antropologia e filosofia: experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia, ed.ufpa.

Site: Relivaldo Pinho
[email protected]

[Comente este Post]

Postado por Relivaldo Pinho
24/7/2020 às 17h42

Mais Posts >>>

Julio Daio Borges
Editor

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Revoluções Científicas 605
Isaac Epstein
Ática
(1988)



O Trabalho Sob Fogo Cruzado
Marcio Pochmann
Contexto
(1999)



Guia Do Mochileiro Das Galaxias 386
Douglas Adams
Arqueiro
(2009)



Verdades Secretas
David Lodge
Best Seller
(2001)



O Pecado de Anne
Lyn Stone
Harlequin
(1999)



Famosos Por 15 Minutos meus anos com Andy Warhol
Ultra Violet
Civilização Brasileira
(1991)



O Lobo Das Planícies
Conn Iggulden
Record
(2010)



Carnaval
João Gabriel De Lima
Objetiva
(2006)



Livro Literatura Estrangeira Se Eu Ficar
Gayle Forman/ Amanda Moura
Novo Conceito
(2014)



Livro Água Mole Em Pedra Dura Tanto Bate Até Que...
Clovis Tavares
Gente
(2001)




>>> Abrindo a Lata por Helena Seger
>>> A Lanterna Mágica
>>> Blog belohorizontina
>>> Blog da Mirian
>>> Blog da Monipin
>>> Blog de Aden Leonardo Camargos
>>> Blog de Alex Caldas
>>> Blog de Ana Lucia Vasconcelos
>>> Blog de Anchieta Rocha
>>> Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
>>> Blog de Angélica Amâncio
>>> Blog de Antonio Carlos de A. Bueno
>>> Blog de Arislane Straioto
>>> Blog de CaKo Machini
>>> Blog de Camila Oliveira Santos
>>> Blog de Carla Lopes
>>> Blog de Carlos Armando Benedusi Luca
>>> Blog de Cassionei Niches Petry
>>> Blog de Cind Mendes Canuto da Silva
>>> Blog de Cláudia Aparecida Franco de Oliveira
>>> Blog de Claudio Spiguel
>>> Blog de Diana Guenzburger
>>> Blog de Dinah dos Santos Monteiro
>>> Blog de Eduardo Pereira
>>> Blog de Ely Lopes Fernandes
>>> Blog de Expedito Aníbal de Castro
>>> Blog de Fabiano Leal
>>> Blog de Fernanda Barbosa
>>> Blog de Geraldo Generoso
>>> Blog de Gilberto Antunes Godoi
>>> Blog de Hector Angelo - Arte Virtual
>>> Blog de Humberto Alitto
>>> Blog de João Luiz Peçanha Couto
>>> Blog de JOÃO MONTEIRO NETO
>>> Blog de João Werner
>>> Blog de Joaquim Pontes Brito
>>> Blog de José Carlos Camargo
>>> Blog de José Carlos Moutinho
>>> Blog de Kamilla Correa Barcelos
>>> Blog de Lúcia Maria Ribeiro Alves
>>> Blog de Luís Fernando Amâncio
>>> Blog de Marcio Acselrad
>>> Blog de Marco Garcia
>>> Blog de Maria da Graça Almeida
>>> Blog de Nathalie Bernardo da Câmara
>>> Blog de onivaldo carlos de paiva
>>> Blog de Paulo de Tarso Cheida Sans
>>> Blog de Raimundo Santos de Castro
>>> Blog de Renato Alessandro dos Santos
>>> Blog de Rita de Cássia Oliveira
>>> Blog de Rodolfo Felipe Neder
>>> Blog de Sonia Regina Rocha Rodrigues
>>> Blog de Sophia Parente
>>> Blog de suzana lucia andres caram
>>> Blog de TAIS KERCHE
>>> Blog de Thereza Simoes
>>> Blog de Valdeck Almeida de Jesus
>>> Blog de Vera Carvalho Assumpção
>>> Blog de vera schettino
>>> Blog de Vinícius Ferreira de Oliveira
>>> Blog de Vininha F. Carvalho
>>> Blog de Wilson Giglio
>>> Blog do Carvalhal
>>> BLOG DO EZEQUIEL SENA
>>> Blog Ophicina de Arte & Prosa
>>> Cinema Independente na Estrada
>>> Consultório Poético
>>> Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
>>> Cultura Transversal em Tempo de Mutação, blog de Edvaldo Pereira Lima
>>> Escrita & Escritos
>>> Eugênio Christi Celebrante de Casamentos
>>> Flávio Sanso
>>> Fotografia e afins por Everton Onofre
>>> Githo Martim
>>> Impressões Digitais
>>> Me avise quando for a hora...
>>> Metáforas do Zé
>>> O Blog do Pait
>>> O Equilibrista
>>> Relivaldo Pinho
>>> Ricardo Gessner
>>> Sobre as Artes, por Mauro Henrique
>>> Voz de Leigo

busca | avançada
32827 visitas/dia
1,9 milhão/mês