A melhor ceia de Natal da tradicional Vila das Mercês será muito especial neste ano! Pelo menos, esta a expectativa de Izilda (Kate Dias) e Zoroastro (Anselmo Dequero) com as compras no supermercado do bairro para o melhor jantar de toda a vizinhança. Como de costume, o casal sempre compra o que há de melhor para impressionar os convidados.
“Na verdade, os dois decidem romper a barreira do que realmente é necessário para poder impressionar os vizinhos do bairro. Por isso, compram diversos produtos, das melhores marcas, para garantir que todos fiquem surpresos com o poder aquisitivo do calas. E, claro, tudo isso garante o enredo dos episódios especiais de Natal”, completa Kate Dias.
A atriz explica que as confusões do casal mais popular da Vila das Mercês começam ainda no supermercado e chegam à ceia de Natal. “Izilda está sempre ligada nos 220 volts, enquanto Zoroastro parece movido a querosene. Esta falta de sintonia deixa tudo confuso e muito engraçado. Você não pode perder os episódios 22 e 23 do podcast”, diverte-se.
O PoloAC criou uma forma especial para que o ouvinte-internauta possa contribuir com o projeto cultural. Por meio do PicPay – aplicativo de pagamentos digitais – é possível fazer doações à manutenção e ampliação da série de humor, que, em breve, chegará aos palcos. Para isso, clique aqui! Siga as orientações e pronto! Sua ajuda é muito importante!!!
Para evitar as aglomerações nas lojinhas da região central, Izilda (Kate Dias) e Zoroastro (Anselmo Dequero) decidem antecipar as compras de fim de ano. Aliás, esta é uma tradição de Os Doidivanas desde que se mudaram para a tradicional Vila das Mercês. Por isso, Zoroastro colocou sua melhor roupa para conhecer as novidades do comércio!
“Trata-se de um evento de fim de ano para o casal que pouco sai de casa. Por esse motivo, essas compras se tornaram um dos ‘grandes eventos’ de Izilda e Zoroastro, o que provoca inveja entre os vizinhos. Mas, como de costume, o que era para ser uma simples compra acaba se tornando numa divertida aventura”, afirmou o ator Anselmo Dequero.
As extravagantes e imprudentes compras de fim de ano foram tema dos episódios 20 e 21 da segunda temporada de Os Doidivanas, disponíveis nesta quinta-feira, 17, aos ouvintes-internautas. “São dois episódios imperdíveis e especialmente elaborados para retratar as confusões de Izilda e Zoroastro. As surpresas não param”, finalizou o ator.
O PoloAC criou uma forma especial para que o ouvinte-internauta possa contribuir com o projeto cultural. Por meio do PicPay – aplicativo de pagamentos digitais – é possível fazer doações à manutenção e ampliação da série de humor, que, em breve, chegará aos palcos. Para isso, clique aqui! Siga as orientações e pronto! Sua ajuda é muito importante!!!
O empreendedorismo parece ter empolgado a todos na tradicional Vila das Mercês! Depois de acompanhar a iniciativa de Zoroastro (Anselmo Dequero), Izilda (Kate Dias) também decide montar seu próprio negócio: uma distribuidora dos Cremes Faciais Abrina de Fécula – grande personalidade da moda, segundo sua mais nova representante.
A primeira “grande” ação de Izilda é uma reuniãozinha – quase um brunch – para as futuras consultoras deste produto de beleza. “Ela ficou incomodada com o empreendimento de Zoroastro. Por isso, decidiu montar uma distribuidora de cremes faciais no mesmo local em que Zoroastro guarda os caixões do plano funerário”, disse Kate Dias.
A atriz explicou que o 19º episódio de “Os Doidivanas” é marcado pela confusão promovida pelo divertido casal da Vila das Mercês. “Os dois são extravagantes e muito imprudentes, principalmente quando o assunto em questão é dinheiro. Tenho certeza de que todos irão se divertir bastante com este episódio inédito do podcast”, concluiu.
O PoloAC criou uma forma especial para que o ouvinte-internauta possa contribuir com o projeto cultural. Por meio do PicPay – aplicativo de pagamentos digitais – é possível fazer doações à manutenção e ampliação da série de humor, que, em breve, chegará aos palcos. Para isso, clique aqui! Siga as orientações e pronto! Sua ajuda é muito importante!!!
Lara Oliver, Natasha Sahar e Kate Dias durante ensaio do espetáculo.
Um relato comovido de três artistas da noite sobre a violência policial; uma tentativa de impedir os atos de agressão que sempre resultavam em dores (e muitos constrangimentos). Este é o enredo de “Uma História para Elise”, do escritor e diretor Anselmo Dequero, com reestreia prevista para dezembro. A montagem e produção são do Polo Artístico-Cultural (PoloAC).
A tragicomédia descreve a investigação sobre o sumiço de uma das artistas da boate da Rua XII, colocando em dúvida o depoimento de Albertina (Natasha Sahar), Bernardina (Lara Oliver) e Campesina (Kate Dias), personagens coadjuvantes da casa noturna. “O espetáculo é resultado de uma oficina de montagem e pesquisa cênica”, comentou.
O escritor e diretor explicou que o espetáculo descreve parte do cotidiano vivenciado por três artistas homossexuais e transexuais de uma boate cujo mistério em relação ao desaparecimento da principal personagem revela a hostilidade e a violência praticadas por um oficial de Justiça; Antero da Redenção busca por respostas, mas ignora o respeito às profissionais.
“Este oficial de justiça acredita que as artistas possam esclarecer o mistério em torno do desaparecimento de Elise, que não deixou vestígios. Mas, para isso, usa do dito ‘rigor da Lei’ para conseguir todas as informações. Antero da Redenção é agressivo e parece não se incomodar com a violência, principalmente cometida contra Campesina”, disse Anselmo Dequero.
Elenco
A remontagem do espetáculo reúne as atrizes transexuais Kate Dias – Conservatório Carlos Gomes, em Campinas/SP –, Lara Oliver – formação em teatro burlesco por escolas de arte dramática de Paris – e a drag queen Natasha Sahar, referência no cenário LGBTQI+ no país. “Além do talento natural, todas conhecem a realidade deste cenário artístico”, afirmou.
Para Anselmo Dequero, a experiência profissional destas artistas pode ser considerada um diferencial nesta remontagem de “Uma História para Elise”. “Na prática, todas trabalham ou já trabalharam em casas e boates destinadas ao público LGBTQI+ do Brasil e exterior. Por isso, trazem, além da disposição, bagagem para falar sobre os percalços da profissão”.
Produção
A produção do espetáculo é de Anselmo Dequero e Vinícius Silva. O figurino, resultado de um trabalho de pesquisa do próprio elenco, contou ainda com o apoio de Mara Nunes. “A ideia é mostrar um cenário diferente ao observado por frequentadores de casas e boates LGBTQI+. Desta vez, queremos mostrar o que ocorre em um camarim”, comentou Vinícius Silva.
O produtor comentou que as personagens também estarão desnudas das produções utilizadas nos palcos. Afinal, a ideia e retratar os bastidores, nem sempre glamourosos como nos jornais e nas revistas. “Um grande espetáculo, com um elenco encantador. O texto levará o público à reflexão sobre a profissão destas artistas”, finalizou o produtor.
Primeira fase da iniciativa discute o pós-pandemia.
A Freestory, primeira plataforma do Brasil de histórias infantis em áudio e 100% autorais, lança mais um produto: a Freestory Educação. Com o lançamento, a startup de entretenimento tem a intenção de colaborar com escolas de todo o país no ensino de disciplinas extracurriculares, como empreendedorismo, nutrição e saúde.
Criada neste ano durante a pandemia de coronavírus, a Freestory é uma iniciativa da psicóloga Mariane Menegatti e do jornalista, escritor e roteirista Ibraim Gustavo, voltada ao público infantil.
A primeira fase da startup é baseada na série “Aventurados”, que relata o cotidiano de quatro amigos - Meg, Ed, Vic e Tom - em suas diversas aventuras. Segundo Ibraim Gustavo, que é Head de Criação e Inovação da Freestory, a plataforma está em sua terceira fase: “Depois de ‘Aventurados’, outros autores, de várias partes do Brasil, estão chegando para incrementar o menu de opções do assinante. E agora, estamos iniciando a terceira fase, que também são histórias autorais, mas voltadas à alunos do Ensino Infantil”, disse.
Como projeto inaugural dessa fase, a ser lançado no primeiro semestre de 2021, foi escolhido o tema Retorno às Atividades Escolares Presenciais, abordando junto aos alunos como será o mundo no pós-pandemia e, em parceria com os colégios, fornecendo as instruções necessárias para que os estudantes e seus familiares sintam-se seguros para o retorno das atividades presenciais.
“Dada a presente ocasião pela qual o mundo atravessa e a importância da discussão do tema por todos os membros da sociedade, a Freestory, em parceria com mentores e consultores, identificou esse conteúdo como o mais apropriado para a iniciar as atividades da Freestory Educação, em colaboração com escolas e instituições de ensino”, afirma Mariane Menegatti.
Tanto a saúde física quanto a saúde mental serão trabalhadas em sala de aula, porém com o auxílio do storytelling, “uma ferramenta poderosa para encantar e engajar as crianças. Com as histórias, podemos falar sobre diversos assuntos com os estudantes, atraindo a atenção de todos para pautas importantes da vida”, complementa.
As extravagâncias e imprudências de um casal de meia idade, que preferiu ocupar o tempo bisbilhotando a vida alheia, serviram de fundamento à produção da primeira série de podcasts realizada pelo Polo Artístico-Cultural (PoloAC), um coletivo de pesquisa das artes cênicas de Campinas/SP. Izilda e Zoroastro vivem na Vila das Mercês e parecem não aceitar as mudanças impostas pela sociedade.
Na primeira temporada, a série de podcasts conta com 13 episódios – criados entre agosto e outubro –, com média de oito minutos de duração. Os temas abordados tratam especificamente sobre as experiências vivenciadas pelo casal de meia idade – na verdade, ambos já ultrapassaram os 65 anos –, que simplesmente decidiu ignorar todos os acordos de convivência (mas com bom humor).
Izilda e Zoroastro são o resultado do projeto de pesquisa das artes cênicas desenvolvido no início deste ano pelos atores e produtores Anselmo Dequero (Zoroastro) e Kate Dias (Izilda) visando à construção de um espetáculo cômico – sem data prevista de estreia –, conforme linha de atuação definida pelo PoloAC. Para ampliar o projeto, no entanto, decidiram migrar para plataformas alternativas.
“No início, procuramos uma alternativa com o intuito de testar o conteúdo produzido para o espetáculo. A intenção era saber qual a reação do público acerca dos temas propostos nos primeiros textos, também fundamentados num trabalho de observação. Com isso, conseguimos chegar a um resultado que têm se demonstrado bastante interessante e divertido aos ouvintes”, disse Anselmo Dequero.
Segundo o ator, apesar de o tema parecer comum, a abordagem realizada em “Os Doidivanas” confere às personagens um caráter bastante lúdico, e por vezes até ingênuo, frente às diversas mudanças (principalmente comportamentais) que estão ocorrendo em nível mundial. “Toda esta vivência garante o entretenimento e a diversão que defendemos em nosso projeto artístico”, complementou.
Plataformas
Os 13 episódios produzidos para a primeira temporada de “Os Doidivanas” estão hospedados em anchor.fm – plataforma internacional de hospedagem e distribuição de conteúdo. Além disso, o conteúdo do PoloAC também está disponível em outras plataformas de podcasts, como Apple Podcast, Breaker, Google Podcast, Overcast, PocketCast, RadioPublic e Spotify.
Desde agosto, quando os episódios começaram a ser distribuídos, a Anchor contabilizou ouvintes em 10 países: Brasil (com 76% de acessos) e Estados Unidos (com 19%) representam a maioria. Também há registros de acessos na Alemanha, Espanha, França, Irlanda, Lituânia, Reino Unido, Rússia e Singapura, que representam 05% do total de acessos à plataforma entre agosto e outubro deste ano.
Apoio
O PoloAC criou uma forma especial para que o ouvinte-internauta possa contribuir com o projeto cultural. Por meio do PicPay – aplicativo de pagamentos digitais – é possível fazer doações à manutenção e ampliação da série de humor em áudio, que também chegará aos palcos. Acesse: PicPay. Siga as orientações e pronto! Sua contribuição será muito importante ao projeto.
O ouvinte-internauta também poderá conhecer um pouco mais sobre todos os episódios de “Os Doidivanas” no site PoloAC. “A página também oferece acesso aos links de nossas redes sociais, como Instagram, que têm contribuído com a disseminação do projeto. A ideia é que possamos chegar a 50 episódios até o fim do próximo ano”, finalizou Anselmo Dequero.
Desde que chegou de Maravilhas, Tião não pôs o olho em mulher nenhuma. Viu Tonha, os amigos não perdoaram, desengonçada, não ligou.
Verão, estação das latinhas, fim do show no campo de futebol, ao atirar uma caixa de papelão no carrinho, errou a mão. A mulher praguejou. Acertar uma belezura dessa? — disse se desculpando. Ela acalmou, escondeu o sorriso atrás da manga, limpou o suor do rosto. Ele foi no carrinho, veio com uma garrafa e ofereceu um gole. Tão logo virou as costas, Tonha sumiu.
Do lado de fora do campo, os refletores apagados, Tião foi até ela, puxou conversa. Ajeitaram o que recolheram do show e desceram a rua juntos.
Debaixo do viaduto, esvaziando o carrinho, uma rajada de vento seguida de chuva mudou o tempo. Ele foi num monte de caixas e voltou com duas cobertas. Espalhando papelão no cimento, disse que o temporal ia demorar a dar trégua.
Com o tempo os companheiros acabaram aceitando Tonha. Conseguir um canto no vão do viaduto ao chegar do interior, foi difícil pra ele também. Nas primeiras noites ficava do outro lado do rio, debaixo da marquise, observando o movimento. Aos poucos, oferecendo gole, acendendo um foguinho, conversa mole, apanhou confiança.
Depois de alguns dias o céu abriu. Com o Pirata latindo no carrinho, os dois partiram pra buscar as coisas dela no depósito na Gameleira.
No que faltava um pedaço pra chegar, ele encostou. Do fundo do carrinho tirou uma toalha e sabonete. Ela não disse nada, fez cara feia e sentou no meio-fio.
Ele entrou no posto, o frentista apontou pros fundos.
Tião pôs a toalha e o sabonete no latão e ficou de short.
O frentista chegou, abriu a torneira do tanque, espichou a mangueira e deu uma esguichada nele. Tião começou a cantar e os lavadores caíram de gozeira. Passado um pouco, fez sinal pro cara baixar a mangueira e deu uma ensaboada. Mais uma esguichada, pegou a toalha, enxugou e vestiu a roupa.
Aquele filho de Deus era o único que fazia uma caridade daquela. Tinha vez, fazia um carinho no Pirata.
Na volta Tião encontrou Tonha, cara amarrada, a mão na barriga. No canteiro do posto, uma roda de vomito que Pirata cheirava. Disse que achava que estava prenha, a regra estava tardando, e que uma mulher na Cabana tirava.
Ele assobiou, Pirata pulou no carrinho.
Chegando no depósito, ela diminuiu os passos e baixou a cabeça. Tião achou que ela ia botar pra fora de novo.
— Alá ele.
— Ele quem?
— O que eu morava com ele. — Disse ainda que era melhor Tião ir embora que o sujeito era dos ruim e que sempre carregava uma faca.
O cara parou perto dos dois e com um safanão afastou Tonha. Tião partiu pra cima. Com um chute desarmou o cara, chutou a faca pra longe e pôs toda a raiva na mão.
De tardinha já estava do outro lado da cidade. Tinha que sumir por uns tempos.
Numa tarde de sábado, catando latinha num comício, ele levanta a cabeça e dá com Tonha.Ela fez que ia embora.
— Que pressa é essa, é o peste?
— Que peste? É sua filha, tá na hora dela mamar.
Tião caiu de joelhos e cravou os cotovelos no chão. A primeira coisa que passou na cabeça foi levar Tonha e a menina pra debaixo do viaduto e em seguida correr pro posto de gasolina e dar um abraço, um abraço apertado no cara que esguichava a mangueira nele.
Vivo um misto de apreensão e ansiedade. A apreensão vem da época em que vivemos, dura época. Não bastasse esse vírus que está acabando com vidas, tanto aquelas que partem como aquelas que ficam, ainda teremos uma disputa política cheia de revés. Espero que um dos casos (epidemia ou eleição) não anule o outro, prestemos atenção. A ansiedade vem da minha necessidade, desde pequeno, de ir ao cinema. Claro, não o farei até que surja uma vacina funcional, mas fica a expectativa de que isso ocorra logo.
Enquanto o dia não vem, fico entre o filmes que tenho em DVD e aqueles que são exibidos nos canais de TV. Falando nisso, gostei muito do que foi exibido em Gramado esse ano, achei Todos os Mortos (Caetano Gotardo e Marco Dutra, 2020) um filme sensacional, mas King Kong em Asunción (Camilo Cavalcante, 2020) fez por merecer o prêmio. Mas em uma retrospectiva de filmes que foram exibidos em Berlim (?), Assisti Não Estou Lá, de Todd Haynes, lançado em 2007. Gosto muito de Bob Dylan, principalmente no início de sua carreira, ver o filme, com brilhante atuação de Cate Blanchett, deu mais gosto a minha admiração.
Porém, Não Estou Lá traz uma certa melancolia. Embora aparentasse uma vida sossegada, como ele mesmo disse “um homem é um sucesso se pula da cama de manhã e vai dormir à noite, e, nesse meio tempo, faz o que gosta”, a vida Dylan sempre foi uma luta, hora contra o governo e o militarismo, outras vezes contra a sociedade. O fato é que no filme de Haynes existe um existencialismo aterrador, que tenta transmitir tudo o que o cantor passou em todos seus anos de existência, desde a sua infância até sua morte. Para aqueles que prestarem mais atenção aos detalhes, é um filme pesado, Mas essencial para quem gosta de um bom filme.
Mas como o filme é bom, deixou aquela sensação de frieza, a dita melancolia. Já sem muita esperança no mundo em que vemos (novamente!) acontecer tudo aquilo a que Dylan lutava contra, decidi seguir uma dica e assisti Wiñaypacha, filme peruano dirigido por Óscar Catacora. Esse possui um valor cultural e antropológico, apresentando um casal de idosos que vivem em uma região remota dos Andes. Uma produção sensível, que se não anima por sua história, bem escrita, porém triste, nos encanta com sua beleza de cenários e cores. Os protagonistas são em suas vidas aquilo mesmo que é mostrado pela câmera e mesmo sem saber até então o que era cinema, atuam de maneira primorosa.
Em poucas horas vivi um misto de emoções. Passei de um revolucionário a um homem sossegado do campo, um astro do folk a um traidor popular. Ainda enfrentei a solidão de uma montanha isolada e vi a magia de uma cultura que, infelizmente, morre a cinco mil metros de altura.
Isso é o que faz o cinema ser tão importante na vida de tantas pessoas. Um filme pode ser usado como um meio para muitas coisas. Pode despertar esse misto de emoções, ser usado como um protesto ou despertar a curiosidade cultural e/ou social de um povo. Uma história, se bem escrita, tem esse poder e hoje em dia descobrimos que podemos vê-la em qualquer lugar, claro que a tela grande é sempre a melhor opção, e que independente da situação, sempre vamos precisar delas.
“Quando a polícia siciliana finalmente quebrou a máfia no começo dos anos 90, prenderam alguém – esqueço o nome dele, mas era o segundo no comando – e um repórter italiano perguntou para ele se havia algum filme fiel sobre aquele mundo. E ele disse: ‘Ah, ‘Os bons companheiros’, na cena em que o cara diz ‘Você acha que eu sou engraçado?’. Porque essa é a vida que a gente leva. Você pode estar sorrindo e rindo num segundo e [estala os dedos] numa fração de segundo está numa situação em que pode perder a vida”.
Esse depoimento de Martin Scorsese é a melhor descrição e metáfora de seu filme, “Os bons companheiros” (“Goodfellas”), lançado em 1990. Um filme que se tornaria, como outros do diretor , um ícone do cinema por, dentre tantos motivos, a inventividade da linguagem e da representação.
Talvez, inventividade não seja a palavra certa. A película do diretor norte-americano é mais do que isso. Ela faz parte de um gênero e, ao mesmo tempo, o subverte; é linear, não sendo previsível; é sobre o poder, mas quem atira sempre é o instinto.
A trajetória de Henry Hill ( Ray Liotta ) de menino a homem encantado com o mundo da máfia, nos é mostrada em uma narração que parece nos trazer os elementos perfeitos de mais uma história de gangsters. Mas Scorsese não se trai.
“Pensei no filme como uma espécie de ataque” (“Conversas com Scorsese”, de Richard Schickel), diz ele. Essa fúria é a grande marca desse frenesi imagético. Scorsese quer que o espectador, como Joe Pesci (Tommy), sinta o coice da Magnum 44 romper, inesperadamente e, ao mesmo tempo, em slow motion, paralisar você. Pow! Pow!
Isso pode parecer um elogio à violência gratuita e, como nos filmes conhecidos de gangsters, transmitir uma sensação de onipotência e glamour. Mas o filme não é apenas um contraponto desse gênero. Ele é, principalmente, a ascensão e derrocada desse mundo. Não é uma tragédia, e não é uma expiação.
Scorsese conta sobre o espanto da plateia ao exibir o filme para o elenco do seu “O aviador” (2005). O que impressiona, diz o diretor, é seu aspecto violento, mas de uma violência que mais se oculta do que se mostra.
Sob esse aspecto, “Goodfellas” seria exatamente o oposto do filme de 1931. Mas, o que está em jogo, além da exibição dessa violência “escondida”, é, como em os “Os bons companheiros”, ambos os protagonistas mergulham (não submergem, é diferente) nessa vida impulsiva e se deleitam com o poder. É, demasiadamente, humano.
É isso que confere a essa obra um de seus fascínios. Esse filme não apenas quebra a ideia do gênero filmes de gangsteres, como se convencionou mencionar. É a mão do narrador que confere a ele o status de obra de arte.
Como diz Edward Buscombe em “A ideia de gênero no cinema americano”, “a principal justificação do gênero não é a de que permite a diretores meramente competentes fazer bons filmes (embora possamos estar agradecidos por isso), mas a de que permite a bons diretores tornarem-se melhores ainda”.
Scorsese, como sempre, imprime sua mão, para lembrar uma expressão de Walter Benjamin utilizada aqui, provavelmente, de modo indevido, na argila de sua experiência. Sua história é a de ítalo-americanos, mas seu filme é sobre o viver indomável.
Na edição especial em DVD do filme, Thelma Schonmaker, sua montadora, ilustra, em sentido próximo, esse aspecto. Diz ela: “esse foi um daqueles filmes que montamos como um cavalo. Foi tão bem escrito e moldado por Pileggi (autor do livro, “Wiseguy”, que deu origem ao filme e também roteirista da película junto com Scorsese) e Marty (Scorsese), que tinha sua própria energia, sua própria força. Enquanto Marty o criava, já sabíamos que seria incrível. Era muito forte e tinha muito ritmo”.
Força e ritmo. É a síntese dessa linguagem que atravessa todo o filme. A cena dos corpos exibidos em diferentes lugares é guiada pela música; o close em Jimmy Conway (Robert De Niro) no balcão destaca seu contido cinismo. Sim, forma e conteúdo. É impressionante que, hoje, isso pareça, cada vez mais, algo raro.
Basta ver, por exemplo, outras duas sequências icônicas, a da entrada de Henry no Copacabana em uma única tomada usando uma steadicam (novidade na época) e o final frenético do neurótico personagem. Inventividade não é a palavra certa.
“Os bons companheiros”, como grandes obras, foi tão imitado, copiado, citado e, como sempre, na maioria das vezes, das piores formas, que, talvez, jovens cinéfilos acreditem que Tarantino tenha criado o contraponto imagem/trilha sonora.
A clássica cena, “Você me acha engraçado?” em que Joe Pesci e Ray Liotta improvisam só pôde ser realizada exatamente porque forma, conteúdo e ritmo formam um único elemento fílmico.
Inimitável, porque moldado em força e ritmo, a obra prima de Scorsese ainda espanta, encanta e vibra. Como a vida na qual “você pode estar sorrindo e rindo num segundo e [estala os dedos] numa fração de segundo está numa situação em que pode perder a vida”.
Relivaldo Pinho é autor de, dentre outros livros, Antropologia e filosofia: experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia, ed.ufpa. Site: Relivaldo Pinho [email protected]