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Sexta-feira, 28/4/2023
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Belém, entre a cidade política, a loja e a calçada


Mean Streets II. Foto: Relivaldo Pinho


É tarde de 31 de dezembro de 2022. Em uma loja de conveniência, em um dos cruzamentos mais movimentados de Belém , uma senhora sozinha, de aproximadamente 80 anos, pergunta ao balconista se eles vão abrir no dia seguinte. Ele diz que sim, “funcionaremos normalmente”. Ela, então, agradece e caminha lentamente, provavelmente, de volta para casa. Eu não a conheço, mas vou chamá-la de “Andreia” (coragem, em grego).

A dois quarteirões, próximos dali, um grupo de pessoas, em sua maioria idosos, reúne-se em frente a uma casa, como faz todos os dias. As calçadas largas da rua, a aparente tranquilidade e um hospital que fica em frente devem promover, ainda mais, os olhares e as conversas, e favorecerem a manutenção desse hábito, já residual na grande cidade.


Homem ao final da tarde. Foto: Relivaldo Pinho


A cidade parece proporcionar formas de convívio diferentes. Pessoas sozinhas, não necessariamente solitárias, e pessoas que em grupo parecem dividir os mesmos interesses.

Belém, nesse sentido, no aspecto de reunir pessoas, é uma comunidade. Mas poderia, ainda, a cidade ser considerada uma comunidade política?

Aquela em que a sua principal finalidade (estou transpondo, com certa indisciplina, a ideia de cidade-estado para uma ideia moderna de cidade) é promover um bem, lembrando, distantemente, a definição de Aristóteles , no famosíssimo início da obra “Política”?


Busto de Aristóteles, do escultor grego Lysippos, ao lado de uma cópia do livro Ética a Nicômaco do século XIV. Fonte: https://www.netmundi.org/filosofia/2017/aristoteles-cientista-da-antiguidade/


A concepção naturalista da cidade (cidade-estado, pólis ) aristotélica, como se sabe, propõe que os indivíduos se unem porque a natureza assim os impele, para sua própria sobrevivência e permanência.

Não apenas isso, a cidade precede o indivíduo, já que, para o grego, a parte apenas se define pelo todo. É o viver na coletividade política (na cidade-pólis) que define o homem.

Daí que para Aristóteles viver na cidade-estado não é apenas viver em conjunto, mas viver bem. Isso significa que a natureza da cidade, do estado, como nós ainda adotamos, é a promoção do bem comum, essa é sua definição.

O indivíduo, que tem o dom da fala, ao contrário dos outros animais, e que por isso detém o poder de escolher e julgar, pode, investido de justiça e moral, criar uma coletividade voltada para aquilo que o define, ser um animal político ( “zoón politikon”).

Quase todos conhecemos essas argumentações, aqui abruptamente resumidas, do filósofo grego, exatamente porque, dentre outras coisas, elas fundamentaram grande parte da compreensão da política e do estado por séculos.

Belém não é uma “pólis”, evidentemente, mas o espírito do viver em comum (a analogia aqui é mais inspiradora que comparativa) ainda nela habita.

Nessa múltipla urbe, uma senhora entra em uma loja buscando manter seu hábito; um grupo de pessoas, pelo mesmo motivo, junta-se para conversar.

Ambos, de certo modo, desafiam a ideia de uma cidade, como Belém, que em quase tudo parece não atender ao chamado do viver em conjunto, que dela se participe, realizando a sua finalidade, a finalidade do cidadão (o conceito de cidadão da Grécia antiga tinha relação com a participação política direta ou indiretamente, mas nem todos, como se sabe, eram considerados cidadãos) de participar do bem comum.

Mas, aqui, não é Belém ou o ente estatal somente a proverem esse comportamento, esse hábito, esse bem.


Planos citadinos I. Foto: Relivaldo Pinho


De certo modo, há ainda, não no sentido estritamente aristotélico, uma cidade que permanece apesar da fragmentação do ambiente citadino e mesmo com a inequívoca ausência de um estado enquanto poder.

A atitude da senhora e do grupo da calçada parecem exclusivamente individuais, mas não são. São comportamentos de um sentido maior, sentidos que permanecem em uma grande cidade como Belém.

No caminhar sozinha de casa para a loja, a senhora queria se assegurar que, mesmo em uma data incomum, ela iria conseguir seu pão, ou doce, onde sempre compra.

Há um hábito de sair de casa e se comunicar com a cidade, há uma tradição que, sendo assegurada, satisfaz, para a metódica cidadã, a sua doméstica riqueza, sua vida.

Os que ainda permanecem nas frentes de suas casas desejam apenas manter-se na calçada, essa extensão da casa que se comunica com a rua, sendo uma interseção ainda possível entre as separadoras grades de janelas e portas e uma certa necessidade de se integrar, com os outros, ao espaço citadino.

Se a noção de cidadão na antiguidade grega se liga à ideia de participação política na cidade-estado, na contemporânea cidade, essa noção parece cada vez mais distante.

Talvez a distância entre o indivíduo e o estado não possam suscitar essa direta participação como em momentos da antiguidade helênica.


Ângulos. Foto: Relivaldo Pinho


Não só porque a participação representativa indireta na cidade, no estado ocidental, se tornou uma das formas mais aceitas há muitos séculos. Mas, possivelmente, porque, com o distanciamento do aparato burocrático político, restou a uma parte dos cidadãos gritar em frente à TV, enraivecer-se diante de uma mensagem no celular, comprar um pão, ou ficar em frente de sua casa.

Você, estimado leitor, pode estar pensando que a senhora da conveniência poderia pedir seu produto pelo aplicativo, e que, por outro aplicativo, os contempladores da calçada poderiam manter suas conversas.

Sim, poderiam, e não há motivos para questionar que ambos os comportamentos se complementem hoje.

Mas, talvez, exista um elã que faça alguém sair de casa, congraçar-se com aquele caminho da cidade, e falar diretamente com alguém, mesmo que seja para fazer uma pergunta simples.

Haveria um mesmo motivo no ato de se estender para além dos quartos, salas e telas de celular e olhar para os outros e, principalmente, olhar para os outros e a cidade.

Pode parecer romântico, mas é possível que haja um certo cerne irremovível de nossa atitude gregária, de participação da cidade, que ainda, para lembrarmos Aristóteles, de algum modo nos defina – “zoón politikon”.

Na Belém do amanhã, espero passar novamente pela rua dos que ficam sentados na calçada e espero, antes, encontrar dona Andreia na fila do pão.


Relivaldo Pinho é autor de, dentre outros livros, “Antropologia e filosofia: experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia”, ed. ufpa.

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Esse texto foi publicado no Diário online

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Postado por Relivaldo Pinho
28/4/2023 às 03h30

 
Minha Mãe

Às cartas de mamãe, choradeiras constantes, eu não respondia. Histórias longas, assuntos de sempre, acontecimentos de Lagoa Grande não me despertavam interesse. Vivia dizendo que se preocupava comigo, que rezava por mim, queria saber se eu não passava frio, se me cuidava, as perguntas de sempre. Por mais que explicasse que o metrô, as casas e os lugares públicos de Nova York tinham aquecimento, não adiantava. Pior ainda as cansativas e constantes indagações sobre minha alimentação, se comia fruta e legume, acrescentando que não me descuidasse porque eu vivia num país onde o povo só comia cachorro-quente e hambúrguer. Ficava penalizada por me privar de coisas que ela fazia — descrevia tudo —, de farofa de carne seca, de goiabada cascão com queijo, por aí ia, não cansando de dizer que tão logo aparecesse um portador, ela mandava pra mim. Então eu tihha que explicar que os alimentos que as pessoas traziam de outros países ficavam retidos na alfândega pra quarentena, que dava um trabalho enorme retirar, muita burocracia, que era melhor não mandar nada. Eu tinha preguiça e impaciência pra responder suas cartas, mas mesmo assim, pra não deixá-la aflita, de vez em quando jogava um cartão postal na caixa do correio pra acalmá-la. Depois de um tempo, sua letra começando a perder firmeza, dizia que sentia a minha falta, que queria ouvir a minha voz, que podia ligar a cobrar. Aí eu baqueava. Os meus pensamentos ficavam confusos, um incômodo insuportável. Eu então era invadido por sentimento de culpa, de estorvo e de arrependimento por não ter sido um filho melhor. Tinha dia, punha uma folha de papel sobre a mesa, escrevia querida mamãe e não passava disso. Minha mãe. Minha mãe que me carregou tanto, hoje eu a carrego, um peso dolorido.

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Postado por Blog de Anchieta Rocha
26/4/2023 às 10h42

 
Pelé, eterno e sublime



Meu pai sempre dizia gostar mais de Garrincha do que de Pelé . Acho que ele gostava do tom zombeteiro do jogador, dele parecer gente comum e, mais ainda, acho que, no fundo, ele gostava mesmo era porque o craque, como ele, criava passarinhos.

Se Garrincha para ele sempre foi algo muito próximo, para mim Pelé encarnava em tudo a ideia do mito inalcançável.

Todos nós brasileiros, de certo modo, assim crescemos ouvindo sobre o mito, o rei.

Em casa, como em milhões de outros lugares, alguns sempre realizavam essa comparação entre o Mané e Pelé.

Em geral, em defesa do ídolo do Botafogo , gritava-se, como uma torcida, sobre a copa de 1962, vencida pelo anjo de pernas tortas.

Mas, ao lembrar de 1970, quase todos se curvavam ao passe mediúnico para Carlos Alberto, ou à cabeçada que, como um passarinho que bate asas, Pelé desferiu contra a Itália.

Quando crescemos, pós geração de 70, a TV nos fez o favor de trazer as imagens dos gols, dos dribles, do sublime do rei.



Não havia como passar incólume àquilo. Se Garrincha, para muitos injustiçado, permaneceria, merecidamente, no imaginário romântico do futebol, Pelé parecia-nos sempre presente, trazido, também merecidamente, pela imagem.

Pode parecer frustrante que nossa geração apenas pôde vê-lo atuar dessa forma, e não nos esqueçamos que os mais velhos sempre se vangloriaram de ter visto o camisa 10 em sua época, no seu auge.

Mas não sei quantas vezes vi e comentei com amigos o lance, visto em tape (assim se chamavam imagens do passado), o drible que Pelé esculpiu sobre o goleiro uruguaio Mazurkiewicz.



É o famoso lance do drible da vaca sem Pelé tocar na bola. Mas, ao ser chutada, a bola não entra. Teria algo insondável atuado ali? Uma força desconhecida e não percebida, ou um sopro inefável?

Certa vez comecei um debate com meu amigo, o jornalista Marcelo Vieira, sobre um gol que Neymar havia feito pelo Barcelona, em 2015, sobre o Villareal .

No lance, Neymar recebe uma bola cruzada com força, imediatamente dá um lençol de costas no marcador e, sem deixar a bola cair, fulmina o gol.

O que estava em jogo na conversa não era, evidentemente, se os lances eram iguais, mas o processo (palavra feia para falar de futebol).

Conversávamos como, em ambos os lances, o movimento pôde ser realizado como em um momento quântico da física ou da ficção nos quais tempos se fundem, olhando-se um futuro enquanto ele acontece.

Essa previsibilidade imprevisível está realizada principalmente no lance de 70. Exatamente porque Pelé foi o símbolo da desordem no universo retangular dos gramados, da fantasia incrédula dos olhares, da majestade do sublime sobre o óbvio.

Parece saudosismo. E é. A fantasia é um tipo de sensação que se sobrepõe sempre a um presente, a um momento que não se assemelha ao anterior, quase sempre, sublime.

Li em algum lugar que parece quase impossível, por meios científicos conhecidos, explicar com total exatidão como um pássaro retorna para os mesmos lugares durante as migrações. Diz-se ser algo magnético, quântico.

Talvez também por isso os pássaros estavam perto de Mané Garrincha. Ambos, traçavam caminhos insondáveis.


A Seleção Brasileira antes do jogo contra o Peru. Em pé, da esquerda para a direita: Carlos Alberto, Brito, Piazza, Félix, Clodoaldo e Marco Antônio; agachados: Jairzinho, Gérson, Tostão, Pelé e Rivellino. Fonte: https://pt.wikipedia.org/


Pelé, também. Havia um "inexplicável" avançar que o guiava, como uma bússola, em campo. O que para os "russos" eram incontroláveis movimentos, para ele, era o magnetismo de sua natureza.

Mas o rei, ao contrário de Garrincha, pôde atravessar a glória e mantê-la em vida, no ar, por mais tempo. E, depois, pairar sobre ela com a recompensa daqueles que cumpriram suas jornadas.

No panteão do futebol, em sua última sublime jornada, sua majestade, em um impossível salto, deve estar passando ao lado do Mané que, ao virar para um lado, vai para o outro, enganando o tempo e o espaço, dando, em um passe para o rei, as asas da eternidade.

Pelé eterno e sublime.


Relivaldo Pinho é autor de, dentre outros livros, “Antropologia e filosofia: experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia”, ed. ufpa.

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Esse texto foi publicado no Diário online

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Postado por Relivaldo Pinho
20/4/2023 às 18h48

 
Igualdade

Médico, louco ou poeta,
profissões ou adjetivos
cada qual com seus motivos
um pouquinho sempre tem.
Quem não conhece o remédio
que mitiga vários males?
Quem, por conta de momentos na vida,
muito louco nunca foi?
E poeta?
Todos nós somos um pouco,
seja o canto bonito, feio ou rouco.
Curando loucuras ou cantando doçuras
somos simples criaturas
boas, más,santas,impuras
por vezes, figurões
por outras, pobres figuras...


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Postado por Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
20/3/2023 às 16h06

 
A baleia, entre o fim e a redenção





Por abordar, ao mesmo tempo com sutiliza e crueza, a temática da obesidade, “A baleia” ("The Whale"), filme do final de 2022, de Darren Aronofsky, estrelado por Brendan Fraser, merece ser visto.

Charlie (Fraser) é um professor que ministra aulas online para jovens postulantes a escritores. Ele se tornou um homem obeso e recluso depois da perda de seu companheiro que tirou a própria vida.

Antes de mergulhar em sua melancolia pela perda do amor, Charlie abandonou sua mulher e a filha pequena. É a filha, uma adolescente, traumatizada pelo abandono do pai, que serve como ponte para sua busca para a redenção.

Como se pode ver, não é apenas a temática da obesidade que está em jogo no longa. Estão também a paixão, a perda do indivíduo amado e a desestruturação familiar.


Uma das artes do filme. Fonte: https://media.fstatic.com


Principalmente está nele algo que me interessa filosoficamente, a ideia, enfocada no filme, de que existem indivíduos que não querem salvar a si mesmos, mas buscam um tipo de salvação no que ainda podem fazer por outros.

Não é nem apenas a ideia de um mergulho sem volta, nem a ideia de que esse mergulho será menos doloroso se dele resultar algo bom.

Está entre essas duas coisas, e essa é uma das forças do filme, tratar dessas temáticas no limiar entre a dor, a aceitação de si, a compaixão para com o outro e o mergulho para o fim.

A representação desses temas em “A baleia” está quase sempre, apesar de um efeito estético pouco original no fim do filme, em uma fina linha d'água, equilibrando-se. Linha que facilmente no cinema, como Hollywood Hollywood já demonstrou, pode cair no estereótipo e na pieguice.

Sim, é um tema difícil que o espaço aqui não permite aprofundamento. Mas parte desse motivo temático está representado nas figuras dos personagens que tentam “salvar” o protagonista.


Charlie, sua filha e amiga. Fonte: https://www.diariocinema.com.br/


Como o garoto de outra cidade, que fugiu da casa dos pais e que vai na porta de Charlie oferecer uma salvação religiosa, e que o descrente professor repele.

Ou sua amiga, uma enfermeira que está sempre ao seu lado e tenta ajudá-lo. Ele aceita os curativos momentâneos, mas se nega a procurar estancar a dor no peito que o impele a essa pulsão de vida e morte.

Charlie a toda hora não só rechaça a ideia de salvação pela religião e pela medicina, como mergulha “propositalmente” em sua autopunição através da compulsão alimentar.

Dor sentida por fora, pelo corpo que sofre, e que, na verdade, vem, pela perda, de dentro.

A salvação daquele homem, que não consegue andar sem um andador, é fazer a filha caminhar por águas menos turvas que a sua.


Charlie e a filha. Fonte: https://www.lascimmiapensa.com/


Ele deixa uma herança em dinheiro para ela, mas, para ele, tão importante quanto isso, é reconhecer que ela, através de ações valorosas e de seu talento para escrever, possa caminhar com as próprias pernas.

Sim, é um tema difícil, mas, como nos demonstra o filme, tão difícil quanto caminhar é permanecer em pé abdicando de si mesmo e, apesar disso, vislumbrar (para si e em alguém) uma fina linha d'água de esperança, ou uma linha escrita como redenção.


Relivaldo Pinho é autor de, dentre outros livros, “Antropologia e filosofia: experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia”, ed. ufpa.

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Postado por Relivaldo Pinho
17/3/2023 às 13h02

 
O Semáforo

Três cores, vários intervalos de tempo, a orientação fundamental.
Ainda na escola, antes até, quando os mais velhos começavam a nos preparar para o Mundo, as cores do semáforo nos chamavam atenção. Era só encontrar um cruzamento, um ponto de travessia entre os lados da rua, e aquela lanterna sisuda estava ali avisando o momento para continuar o caminho.
Verde, amarelo, vermelho.
Aprendemos a temer no vermelho, a esperar no amarelo e a seguir em frente com o verde. Conforme o lugar, o verde ou o vermelho demoravam mais ou menos.
O amarelo sempre alertou para a necessidade de aumentar o cuidado e a atenção com o próximo passo.
Ainda contidos pela mão do pai, avó, mãe ou alguém mais velho e responsável, ficávamos esperando o momento para seguir. Nessas horas a lição era sempre repetida: “Só se atravessa com o sinal fechado para os carros”. Se estava no amarelo, esperava-se o ciclo seguinte.
Às vezes, uma confusão entre o vermelho para os pedestres e verde para os carros e vice-versa, obrigava a um rápido raciocínio para entender um cruzamento múltiplo, um semáforo moderno, mas a lógica sempre prevaleceu.
A lição que se aprende com os semáforos é mais que uma simples regra de segurança urbana. É uma norma pétrea para toda a vida. Só avançar em segurança e depois de avaliar os riscos, vantagens e desvantagens, possíveis lucros ou irreparáveis perdas.
Não desprezar nunca os lampejos do amarelo. Nunca tomar decisões sem avaliar bem a situação. Controlar as emoções sejam felizes ou não. Jamais colocar os pés fora da calçada antes de olhar para os dois lados. Não se deixar levar pela mão de alguma companhia afoita, algum parceiro ou parceira sem avaliar, por si mesmo, quais serão os resultados da pressa ou da cautela.
Quando o vermelho aparece, não há dúvida quanto ao fracasso do rumo escolhido. Quando o verde libera o caminho chegou a hora de prosseguir.
A vida vai ser toda sinalizada com as três cores. Entretanto, o amarelo é o principal aviso.
No começo, quando as emoções têm sabores mais fortes, os desafios lançam sombra sobre os lampejos do amarelo e o vermelho parece seduzir sem maldade. O bom senso é a única alternativa ao abstrato que é a sorte. Há quem diga que não existe sorte. Opiniões, divagações, filosofia. Mas, nascer é um fato de domínio da sorte.
O atavismo, a geografia e a economia não são suficientes para validar ou não uma vida.
Valeu a pena? Está valendo?
O amarelo em determinado momento começa a piscar. Olha-se para um lado e para o outro, não vem nada. Nenhum perigo. Voltamos para o semáforo virtual da consciência, da mente e do pensamento.
Ah, o amarelo parece que entrou em pânico. Apaga-se completamente e logo após tomado o fôlego, volta a insistir em sinais ritmados, talvez um código Morse, uma frequência do futuro, aquele que fica além do muro.
Quantos caminhos ainda a percorrer? Valerá a pena ou será mais uma atribulação, um baú de tranqueiras que ficará para alguém descartar? Uma pilha de livros,um porta-retrato a ser esvaziado, uma ausência que virou um brinde?
Ah, o amarelo anda sinalizando. É hora de prestar muita atenção.

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Postado por Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
4/3/2023 às 12h16

 
Esquartejar sem matar

O titulo sugere uma cena medieval, um castigo pavoroso imposto a seres humanos cujos crimes abomináveis, precisavam ser punidos com requintes de maldade absurda. Não bastava a simples execução, por si só execrável, mas a retribuição da barbárie com muito mais barbárie?
Não é bem assim. Não se trata disso.
Trata-se do desmembramento de uma biblioteca, ou melhor, dos já minguados despojos de uma, outrora, pequena mas muito querida biblioteca.
Desde criança, convivi com estantes cheias de livros de diferentes assuntos. Dúzias, centenas, pilhas acumuladas por falta de lugar.
Não fui um exemplo de aluno. Os livros escolares nunca tiveram a importância que seus parentes, aqueles colecionados lidos, relidos, guardados com carinho e reverência que o meu avô tinha com os dele. Mesmo assim, aproveitei bastante aquela biblioteca variada. Enciclopédias, livros de arte com ilustrações primorosas, livros antigos, raros, estes poucos. Romances, poesia, clássicos, enfim, Jules Verne, Pitigrilli, Platão, Suetônio, Bilac, Alberto de Oliveira, Machado de Assis, Conan Doyle.
A vida seguiu, saí de casa bem jovem, me casei, meu avô morreu e recebi aquele patrimônio fantástico, maravilhoso, um tanto volumoso, para minha alegria e responsabilidade. Não foi fácil. Meu pai também era um acumulador de livros. Curioso e cuidadoso, reuniu umas duas centenas de livros bem cuidados, encapados, limpos e com anotações em separado. A hora dele também chegou e mais um bom lote de maravilhosos livros abrigou-se comigo.
Aos oitenta anos não há mais aquela energia bibliófila no ar. O pessoal é moderno, prático, pragmático,sei lá. Em conversas cordiais,percebemos que: - “agora tem tudo na Internet” é só procurar e está lá! E os livros eletrônicos, que maravilha. Pode-se ler pelo handy, ou celular, ou cellphone.
Olho para a estante entulhada de cultura, história, conhecimento, diversão, passado, momentos, saudade. Pego um livro antigo e vejo um ex-libris do meu avô. Pego um outro e lá está um ex-libris do meu pai. Lembro quando aprendi o que era um ex-libris. Para quem não sabe, ora, vá na Internet, lá tem tudo.
Não tenho mais como manter as pilhas de livros. Não tenho mais como armazenar, avaramente todo o saber ali acumulado e não absorvido. Preciso começar a lançar a carga ao mar. Preciso aliviar o peso das futuras sobras da vida. Preciso me desapegar do passado.
Separei alguns volumes para descarte. Leia-se como descarte, doação, “presente”, abertura de espaço. Fiz uma pilha no corredor, tirei alguns, botei outros.
Do sofá onde estou sentado fiquei observando.Que tristeza. Livros não morrem. São eternos. Livros são assassinados sem dar um pio. São maltratados, insultados, agredidos, segregados, esquartejados sem serem mortos primeiro.
Uma página desmembrada, arrancada, solta, com uma poesia ou prosa continua transmitindo emoção ou nacos de cultura. Um Bilac do princípio do século passado, velho, encardido, meio mambembe pelo tempo de vida, assim como nós, está cheio de maravilhas. Um Machado de Assis velhinho, com as capas da brochura quase caindo, provoca as mesmas sensações de uma edição mais recente.
Um livro não morre. Quando a gente aprende amá-los, a conviver com eles, a sentir sua alegria ao serem consultados e lidos por prazer, a perceber o ato lúdico de folhear, reler, até escrever uma dedicatória, fica muito difícil racionalizar a dissolução de uma biblioteca.
Esquartejar sem matar. Dissolver uma relação , muitas vezes ciumenta, com esses amigos perenes pode parecer uma bobagem. Um exagero, quem sabe.
Não importa.
Livros são imortais até que a ignorância, a estupidez, o modismo ou, infelizmente, a necessidade, mude os cânones da existência.
Pesar sem luto.
Adeus amigos


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Postado por Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
8/2/2023 às 10h43

 
A moça do cachorro da casa ao lado

Um dia ela apareceu.
Vinha voltando da praça,
a moça da casa ao lado,
sorridente e faceira,
trazendo pela coleira
o seu cachorro engraçado.
Perguntei qual era a raça
do companheiro peludo.
-É inglês, manso de tudo,
respondeu cheia de graça.
-Quantos anos ele tem?
Estiquei mais a conversa.
E ela, sem demonstrar pressa,
foi contando quase tudo
da vida daquele cão
brincalhão e abelhudo.
-Então qual é o seu nome?
Continuei perguntando.
E ela foi comentando
como era seu amigo.
- Faz tempo que está comigo,
fica sempre ao meu lado,
continuou a falar.
Depois, foi embora sorrindo
e eu fiquei a pensar,
o quanto bom que seria
se a gente pudesse, um dia,
um cachorro peludo ser.
Com uma princesa viver,
ao contrario desta vida
que não nos deixa escolher
o que melhor nos parece.
Ser um lindo animalzinho,
um cachorro bom, mimado
e ficar sempre pertinho
de alguma mulher-menina,
com um sorriso traquina
e o olhar encantado,
assim como aquela moça
que mora na casa ao lado.


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Postado por Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
31/1/2023 às 11h20

 
A relação entre Barbie e Stanley Kubrick



Não, não é um texto sobre fofoca, mas poderia ser. Não sei se já viram o teaser do filme "Barbie", , a ser lançado em 2023. No anúncio, a boneca mais famosa do mundo faz uma paródia/pastiche do clássico "2001 - uma odisseia no espaço" (1968), do diretor norte-americano Stanley Kubrick.

As reações foram as mais diversas e revelam muito do espírito cultural contemporâneo.

Sites e comentadores disseram ser "épico", "fantástico", "genial", outros viram "homenagem", "referência", "imitação".

Mas não paremos por aí. Alguns foram além do vídeo e comentaram que acharam o filme de Kubrick chato e, para não dizer que se está sem embasamento, incluíram "Cidadão Kane" (1941), um filme de um tal de Orson Wells, na mesma categoria.

A boneca gigante, agora humana na figura de Margot Robbie , que surge no filme é a síntese daquilo que as culturas pop e pós-moderna, fazem de "melhor".


Fonte: reprodução


É claro que pode parecer apenas uma brincadeira com um clássico, mas, não nos enganemos, há uma estratégia nesse procedimento.

Não sejamos "apocalípticos", nem "integrados". A cultura contemporânea tem como uma das características esse reaproveitamento de suas próprias fontes, imagens, conteúdos.

Já escrevi sobre isso anteriormente ("Lady Gaga, uma aula do pastiche") e esse fenômeno se repete aqui.

Esse reaproveitamento se dá como citação de conteúdos presentes (essa é a palavra) em nosso imaginário, atualizando-os, citando-os, necessariamente, presentificando-os (aí está a justificativa daquela palavra).


Fonte reprodução


Esses procedimentos são inerentes a essa cultura, cada vez mais imagética, cada vez mais diante de nossos olhos e cada vez mais, estruturalmente (palavra demasiadamente clássica), fugaz.

Parte dessa fugacidade tende a criar uma percepção do mundo atual que se vê sempre em busca de um obsoletismo da imagem e, ao mesmo tempo, que busca, no palácio das memórias da literatura, da televisão e do cinema do Século 20 algo em que, quando necessário, se agarrar.

É uma nostalgia às avessas. Ao mesmo tempo que rememora um passado exemplar (um clássico) faz dele uma montagem reconhecível, como troça e como promoção. Não o renega, pelo contrário, se abraça a ele, como Andy Warhol "abraça" Marilyn.

Daí compreendermos (e, sejamos sinceros, bote compreensão nisso) que Kubrick e Wells, para essa nova forma de percepção e consumo, pareçam chatos. E entendermos que as cores de "Barbie", que vão cintilar, explodir a tela ano que vem, pareçam tão esperadas.

O próprio twitter oficial que representa Kubrick, compreendendo o processo produtivo atual, afirmou, na frase clássica, "dizem que a imitação é a forma mais sincera de homenagem. Até a Barbie é fã do Kubrick".

Não façamos, sobre o teaser, uma grita de puristas (apocalípticos), não adiantará; nem brademos a sua genialidade (integrados), será inútil.

Os dois polos, na definição de Dwight Macdonald , da inventividade do highbrow (alta cultura) e da diluição do lowbrow (cultura de massa) já, há muito, se encontram, se entrecruzam, se relacionam.

A relação entre Barbie e Kubrick também pode ser compreendida através de uma expressão atual, "shippar", até bem pouco tempo uma moda (nada mais fugaz) nas redes sociais.

A expressão derivaria da palavra "relationship" (relacionamento) que era utilizada por fazedores de "fan fiction", narrativas ficcionais feitas por fãs que fantasiavam e desejavam nessas histórias relacionamentos, muitas vezes improváveis, entre personagens, por exemplo, do cinema, já conhecidos.



A expressão "shippar" é o anseio ou a criação de uniões, prováveis ou não, e pelas quais se torce, se vibra.

O cortejar da boneca (do filme) sobre o diretor (seu cinema), poderia ser pensado desse modo. Ele cria um tipo de relação aparentemente incomum, mas ela é resolvida (dissolvida?) pelas estratégias do mercado atual das imagens.

Não seria à toa que os elogios a essa fusão highbrow / lowbrow são mais efusivos que suas críticas.

Poderia parecer improvável que "2001" se cruzasse com um filme sobre uma boneca. Mas olhemos além dos sintomas e talvez percebamos que isso faz parte de nossa odisseia da ficção contemporânea. É, se quisermos, um epifenômeno de nossa condição.

O monólito insondável do filme de 1968, que surge em vários lugares e que provoca as mais diversas indagações, pode agora ser, sem problema, uma loira totalmente sondável, em traje de praia.


O monólito de 2001. Fonte: reprodução


Pegue uma pipoca, reconheça a referência, sorria ou se enraiveça com ela. Não importa. O teaser anuncia que a boneca e o diretor não são uma "fan fiction". Não há mais pedras no caminho.

Para alguns, Kubrick está se revirando no túmulo; para outros, entre ele e Barbie há uma relação.


Relivaldo Pinho é autor de, dentre outros livros, “Antropologia e filosofia: experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia”, ed. ufpa.

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Esse texto foi publicado no Diário online

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Postado por Relivaldo Pinho
30/1/2023 às 23h54

 
Um canhão? Ou é meu coração? Casablanca 80 anos




Poucos filmes ficaram no imaginário do Século 20 como “Casablanca” (1942). Comumente, atribui-se esse feito à história de amor que ele conta, adornada pela famosíssima música “As Time Goes By”. Canção que aqueles que amam o filme, agora, devem estar cantarolando.

É verdade que grande parte do sucesso do filme também está em seu cenário político, a II Guerra Mundial , e, por ser realizado nesse período, aumenta ainda mais o motivo para que a obra de Michael Curtiz (para alguns, um dos mais injustiçados diretores de todos os tempos) permaneça na história.

Sempre teremos “Casablanca”, claro, mas sempre teremos política, paixão e poder. A história e o cinema sempre demonstraram isso.


Frame do Filme



Esses três elementos formam o núcleo do filme que mostra a intriga do amor de Rick ( Humphey Bogart ) e Ilsa ( Ingrid Bergman ), dentro da intriga “menor”, a guerra entre nazistas e aliados, reproduzida em miniatura no clube noturno Rick’s Café.

É no clube do norte-americano Rick que se localizam os eventos principais, porque é lá que estão soldados, mulheres, comerciantes, políticos, todos em busca de seus interesses, e um dos maiores desses interesses é escapar da cidade marroquina.

Escapar não só porque Hitler avançava em muitas frentes, mas, porque, Casablanca, sob o domínio francês até então, após a invasão da França pela Alemanha, a partir de 1940, estaria sob o Governo de Vichy , um governo submetido aos nazistas.

Esse cenário poderia ser, por si só, um conjunto perfeito para um filme de sucesso. Mas, Roger Ebert , um dos maiores críticos de cinema de todos os tempos, vencedor do Pulitzer, dá, em um texto de 1996, como já se disse, uma das chaves para o sucesso dessa obra.

Ebert diz que o que diferencia Casablanca de um dos fundamentos do cinema, a identificação, é que no filme de 1942, os personagens apaixonados de Rick e Ilsa têm tudo para seguir a trajetória do par romântico e do final feliz. Mas essa promessa e sua realização, com a qual nos projetamos e identificamos, não se cumpre, em prol de um valor maior.


Frame do filme


O casal se reencontra no Rick’s Café após um período intenso de amor em Paris e uma separação dolorosa, provocada pelos acontecimentos da Guerra. Mas ela surge com outro homem, Victor Laszlo (Paul Henreid), na verdade, seu marido e um dos líderes da resistência aos alemães e por quem, mesmo antes de Paris, ela devotava admiração.

Rick foi um ex-comerciante de armas para os inimigos dos nazistas e ex-combatente contra os nazis em guerras anteriores. Depois da perda do amor, torna-se, como a sina do amante ferido (ele acredita que Ilsa o abandonou, em uma fuga, na estação de trem em Paris), cinicamente niilista e diz não acreditar mais em política e ser apenas o dono de um clube.

A famosa cena da música que marca o filme, em que Rick se depara, inesperadamente, com Ilsa em seu clube, na qual a câmera, em close, mostra o espanto dele e o rosto, onde lágrimas suavemente surgem resplandecente, dela, une um passado doloroso dentro de um presente, em guerra, que se arruína.

A célebre frase de Ilsa, ainda em Paris, “o mundo todo desmoronando e escolhemos essa hora para nos apaixonar”, talvez, faça ainda mais sentido, naquele momento de reencontro.

A identificação pelo espectador com essa paixão é inevitável. Mas, como afirma Ebert, somente ela não daria, especialmente no final do filme, a noção do valor que a escolha política de Rick, a escolha de deixar Ilsa seguir com Laszlo, dá ao abdicar de sua paixão.

Ao contrário do que possa parecer, a inexistência do final feliz clássico em favor de uma razão maior – sim, Rick diz, no diálogo final, não ser muito bom em ser nobre – potencializa, pelo contexto histórico e político, pelo poder repressor e pela tentativa de um poder de libertação, essa força da identificação e da projeção.

É ele quem, na cena mais explicitamente política, porque simula, entre cânticos, o conflito em curso, autoriza a Marselhesa, o hino francês, a ser tocado contra os brados dos soldados nazistas, em seu clube. Há em Rick uma nobreza, como quase em tudo no filme, dissimulada.


Frame do filme


Lá já está esse processo de identificação (sem falarmos no poder, no charme e no aspecto sarcástico dos protagonistas) que nos faz querermos ser, ao som de “As Time Goes By”, tocada ao piano por Sam ( Dooley Wilson ), Rick e Ilsa.

Mas nos atinge mais ainda porque nessa obra, que ainda permanecerá por muito tempo, como na vida e no cinema, sempre teremos política, paixão e poder.

Essas dimensões estão sintetizadas em três momentos especiais. No final, quando o Capitão Renault (Claude Rains) joga, com desprezo, uma garrafa com a marca Vichy no lixo, simbolizando, talvez dissimuladamente, o início do fim de sua subserviência com aquele poder.

E, em seguida, quando ele, na cena final, caminha amigavelmente com Rick, o que profetiza (lembremos, o filme é de 1942), ironicamente (porque o capitão é, como Vichy, um colaboracionista dos nazis) a libertação da França pelos aliados, em 1944.

Política, paixão e poder. Esses aspectos do humano e do filme, já estão presentes na cena na qual, na iminência da invasão de Paris, Ilsa e Rick vão à janela e ela ouve um estrondo. Então ela pergunta, “Isso foi um canhão? Ou é meu coração batendo?”


Relivaldo Pinho é autor de, dentre outros livros, “Antropologia e filosofia: experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia”, ed. ufpa.

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Esse texto foi publicado no Diário online

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Postado por Relivaldo Pinho
30/1/2023 às 19h13

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