Relutante, entrou na sala. Eugênia estava esperando, chaveiro na mão.
“Estou de saída, tia Dani. Vou encontrar um cliente em Campinas, durmo por lá. Fica à vontade, quando sair, deixa a chave com o porteiro.”
Após passar pelo banheiro para ajeitar o cabelo mais uma vez, a moça saiu de casa apressada, batendo a porta de entrada com força.
Surpresa com a recepção pouco calorosa, tia Dani olhou em volta lentamente e tentou se recompor. É verdade que não poderia esperar nenhuma atenção especial por parte da sobrinha. O drama terrível em que estava imersa era somente seu, e o relacionamento com a moça, no máximo, superficial. A verdade, porém, é que nunca sentira tanta necessidade de um aconchego, um ombro amigo para se encostar. Esperava que a sobrinha lhe fizesse companhia naquela noite, que ficasse interessada em seus desabafos. Enfrentava sozinha uma dura realidade e esperava encontrar em Eugênia uma solidariedade que lhe desse algum alívio.
Sentou-se numa das cadeiras em volta da mesa de jantar, os pensamentos confusos. Após uns quinze minutos, deu-se conta de como eram fantasiosas suas expectativas com Eugênia. Esperar amparo de alguém que nem conhecia direito... A moça tinha sua vida, suas lutas, seus próprios dramas. Levantou-se e começou a examinar o lugar onde iria passar a noite. O apartamento era bom, arejado e bem iluminado. Sala de tamanho médio, dois quartos. Entrou na cozinha, que se abria diretamente na sala, à procura de um copo d’água. A geladeira era grande e moderna; depois de beber água gelada, devolveu a garrafa. Um detalhe chamou a atenção: duas fotos estavam coladas na porta.
Na penumbra da cozinha, pouco podia ver. Curiosa, foi pegar os óculos na bolsa e acendeu a luz. Duas moças abraçavam-se risonhas, uma delas sua sobrinha. As cabeças se tocavam e cabelos misturavam-se, uns louros, outros castanhos.
Parecem felizes, meditou tia Dani. Antes assim. Voltou a concentrar-se em seus problemas. Filhos desempregados. Problemas financeiros. E o drama final, que quase a derrubara.
Viera para esta cidade atrás de um advogado que lhe fora recomendado. Chato ficar na casa dos outros, ainda mais sendo recebida claramente de má vontade. Não é que não podia pagar hotel: pedira para hospedar-se no apartamento da sobrinha mais pela esperança de encontrar uma aliada. Alguém que ouvisse seus problemas, mostrasse piedade, solidariedade. Iludira-se.
Voltou para a sala e continuou a explorar o apartamento. Foi logo ver o quarto de dormir; dia seguinte, tinha que se levantar bem cedo por causa da reunião agendada para as oito horas. Viu que era amplo e confortável, com uma cama de casal larga. E o outro quarto? Descobriu que fora transformado em escritório, onde Eugênia devia trabalhar. Mesa grande, computador, dois monitores, impressora... A cadeira era daquelas anunciadas para executivos importantes, modernas, leves e caras. Sentou-se por curiosidade: a cadeira balançava e movia-se ágil sobre rodinhas.
Preciso de uma dessas para mim, pensou ao levantar-se. Porém sabia que não tinha coragem de pagar o preço. Passou os olhos em volta; fora uma estante com poucos livros, não havia mais nada.
Ao sair do escritório, uma pilha de fotos ao lado do computador chamou-lhe a atenção. Sentindo-se um pouco culpada, pegou-as nas mãos, olhando uma por uma. As mesmas duas moças das fotos da geladeira protagonizavam as imagens, que mostravam paisagens variadas. Em algumas, o vento do mar desmanchava os cabelos das mulheres e dobrava as folhas das palmeiras. Em outras, viam-se montanhas ao longe. Notavam-se grandes demonstrações de afetividade entre as duas, o que lhe causou certa estranheza.
Antes de ir dormir, foi até à sala ver televisão. Sonolenta, assistia com pouca atenção a um noticiário, quando o telefone tocou. Uma voz feminina indagou:
“Eugênia?”
“Eugênia saiu. Sou a tia dela. Quer deixar um recado?”
A voz do outro lado da linha parecia ansiosa. “Mas que transtorno. Preciso falar com ela. O celular não atende, parece desligado.”
Sem saber o que dizer, Dani ficou em silêncio. A voz continuou.
“Quem está falando é a terapeuta da Laura. Por favor, diga a Eugênia que preciso falar com ela, urgente.”
Desligou. Tia Dani ficou sentada, um pouco confusa. Quem seria Laura? Pelas palavras da mulher ao telefone, devia haver bastante intimidade entre essa Laura e sua sobrinha. Seria a moça das fotografias? Começou a ter a impressão de estar puxando o fio de uma meada que não lhe dizia respeito.
Lembrou-se do pouco que sabia sobre Eugênia, quase tudo a partir de relatos da mãe dela, sua irmã. Moça bela e inteligente, depois de formada criara sua própria empresa de Marketing. Era mesmo o orgulho da família. Após muitos namorados, ficara noiva de um advogado jovem, morador de outra cidade, com brilhante futuro numa firma renomada. O casamento, marcado para setembro. Tudo preparado para um final feliz.
Escreveu um bilhete com o recado da terapeuta, colocou sobre a mesa e foi até o banheiro. Lavou o rosto e vestiu a camisola, preparando-se para dormir. Programou o despertador para bem cedo, não queria chegar atrasada. Logo que apagou a luz, o telefone voltou a tocar. Atendeu, bocejando.
“Sou eu de novo”, anunciou a terapeuta. “Eugênia já voltou?”
“Não, ainda não.”
Ouviu um suspiro do outro lado da linha.
“Não sei o que fazer. Laura teve uma crise grave. Está no hospital, tomou muitos comprimidos. A notícia do casamento marcado derrubou ela.”
Diante do silêncio da interlocutora, acabou desligando. Dani tentou dormir, só conseguiu depois de rolar muito tempo na cama, os pensamentos confusos. O dia amanheceu e apressou-se, louca para ir embora.
Quando ia abrir a porta para sair, Eugênia entrou.
“Ainda está aqui, tia Dani? Pensei que ia sair cedo”
A mulher mais velha parou, tentando achar palavras para expressar-se. Sem querer, fora cair no meio de um drama, que no momento parecia até pior do que os seus. A sobrinha notou a hesitação e viu o bilhete sobre a mesa.
“Telefonaram pra você. Laura...”
Eugênia sentou-se e escondeu o rosto entre as mãos.
“Mestres do ar” (Masters of the air, 2024), a série recentemente exibida pela Apple, com a produção executiva de Steven Spielberg e Tom Hanks , foi produzida para ser vista como uma história de bravura. Da bravura sobre a vitória aliada na Europa invadida por Hitler e da bravura de homens diante de seus medos.
A história do esquadrão da aeronáutica norte-americana, que por volta dos dois últimos anos da Segunda Guerra Mundial luta contra as forças alemãs, é sobre a relação entre amigos, companheiros e combatentes que, muito jovens, buscam se desviar dos flaks (artilharia antiaérea) a cada missão e, ao mesmo tempo, empenham forças para causar, com suas bombas, danos nas cidades inimigas.
Isso, sem dúvida, é o momento de ação mais bem realizado da série e traz um impressionante realismo que confere, aos efeitos especiais e filmagens em locações, um status notável nas produções sobre guerras.
As imagens não parecem cenas baratas de videogame, elas parecem nos colocar dentro dos muitos momentos dos combates e da violência com que são travados.
Não costumo comentar sobre esses detalhes técnicos, mas poucas vezes vimos tanto cuidado com esse nível de produção, até mesmo em produções que tem nos efeitos especiais e na recriação de cenários seu fundo mais importante.
A isso se alia a condução dos capítulos, feitos para provocar êxtase, retrair e causar expectativa no espectador.
O sumiço, por dois episódios, de Gale Cleven ( Austin Butler ), um dos protagonistas, abatido em combate, e o surgimento de um personagem ainda mais interessante para preencher seu lugar, o Tenente Robert Rosenthal (Nate Mann), é uma estratégia muito perspicaz para renovar o roteiro.
Rosenthal é dos que representam a figura da bravura de maneira mais explícita. No “Centésimo Batalhão” do qual fazem parte, completar 25 missões dava ao comandante do bombardeiro o direito de voltar para casa.
Rosenthal as completa, mas se nega veementemente a deixar seu posto, ao saber que os termos foram mudados para os que ficaram. Os remanescentes teriam, agora, que completar 30 missões para voltarem para suas famílias.
“Rosie”, como é conhecido, exibe a mesma coragem que Gale e John Egan ( Callum Turner ), os dois personagens centrais que formam a principal amizade da série.
São eles que parecem viver mais intensamente aquele ambiente de muitas mortes, destruição, campos de prisioneiros, mas também de companheirismo e vitórias.
Os dois galãs encarnam grande parte da mitologia sobre a participação norte-americana na Guerra e, talvez, isso explique, também, o sucesso de público da série.
Quase sempre juntos, eles são respeitados por seus colegas e são os modelos a serem seguidos pelos novatos.
É verdade que a mensagem principal da série não é a política em si, mesmo que seja impossível dissociar esse mundo em chamas das decisões no teatro político da Guerra.
Os atores mais famosos (políticos, generais e burocratas), desse teatro desolado pelo conflito, não surgem, como costumamos ver em outras produções. O foco aqui é naqueles que ficaram menos evidentes nos livros de história.
Mas há momentos em que a realidade política mais explícita, que resultou em milhões de mortes, surge.
Ao serem capturados pelos alemães, os aviadores conhecem parte dos horrores, causados por eles, do outro lado, ao verem a destruição nas cidades germânicas.
Em uma das cenas como prisioneiros, os habitantes de uma das cidades gritam em direção a eles, “assassinos”, “aviadores assassinos!” e partem para cima dos militares, espancando e, com a ajuda dos nazis, matando quase todos. John Egan, um dos heróis, sobrevive.
Há também algum embate moral na produção, especialmente entre os personagens do tenente Harry Crosby (que narra grande parte da série, que, como se sabe, é baseada no livro de mesmo título, de Donald L. Miller) e Rosenthal que se questionam sobre seus atos. Mas isso é muito pouco na produção.
Talvez a cena política e humana mais representativa seja o conhecimento, por parte de Rosenthal, de um dos campos de concentração. Sua entrada no lugar e sua visão são, mesmo sem uma representação mais profunda e abrangente sobre o tema na série, impactantes.
Atordoado, em uma das paredes das celas dos prisioneiros, ele vê uma Menorá (um candelabro, símbolo do judaísmo). Algum sentido do que ocorrera ali parece se formar, definitivamente, em sua mente.
Em outro momento, os dois Buckys, Gale e Egan, como eles são conhecidos, tornam-se prisioneiros no mesmo campo. Em um estratagema, durante um deslocamento dos prisioneiros, Egan simula uma fuga, os soldados se distraem e Gale escapa com outros dois companheiros.
Durante a fuga, em uma momento de distração, um dos colegas sofre, pelas costas, um ataque com uma baioneta. Do ataque faz parte uma criança alemã que ameaça Gale com um revólver. O soldado toma sua arma e aponta furioso para a criança. O menino pede, “bitte!” (por favor!). Gale não atira. Ele precisa ser o belo e perfeito herói.
Na verdade, naquela altura dos acontecimentos, os soviéticos já haviam invadido Berlim e o fim do Reich era dado como certo. A arma utilizada pela criança nem munição mais tinha. Essa sequência, como tantas outras que já vimos sobre a Guerra, só demonstra a irracionalidade daquele momento.
Os aviadores do Centésimo Batalhão de Bombardeiros experimentaram essa realidade. Mas a mensagem que o episódio final, no qual eles jogam alimentos para um vila holandesa, quer deixar é de amizade, esperança e liberdade.
Pode parecer hollywoodiano demais, e é. Mas talvez a série lembre um cinema de outras épocas, de bravuras e esperanças de outras épocas.
E, talvez, seja o que explique sua aceitação pelo público. Homens desafiando o terror de outros homens e desafiando seus próprios medos.
A política é necessária.
Desde as cidades independentes que constituíam a Grécia antiga, até os dias de hoje, discutir, argumentar, definir, normatizar, definir e organizar o Estado, tem sido o papel fundamental, único e quase absoluto da Política.
Seculos, milênios de história nos dão conta da importância da Política no desenvolvimento da sociedade apesar de que sua prática, sempre ficou a mercê das variáveis mais sublimes e sórdidas, nas personalidades dos políticos.
Quando se percebe a habilidade em conduzir interesses pessoais por parte deles, avante das verdadeiras necessidades da sociedade, já é tarde...
Os mais impressionntes líderes tanto do passado como agora, constroem verdades, prometem mentiras, provocam delírios de entusiasmo e desilusão, quase que ao mesmo tempo.
Valores impalpáveis tais como, carisma, simpatia, manipulação, são escancarados em personalidades comprometidas com ambições sinistras. Poder, poder, mais poder, mascarado ou não de várias formas. Quando um grupo de políticos consegue estabilidade e organização, aquele mais destacado vai comandar um projeto pessoal de poder. Aí vale quase tudo.
Outros grupos se formam. Dissidências, outros carismáticos, novas promessas abordando aflições da sociedade são feitas alardeadas, gritadas a exaustão. Sempre mais do mesmo.
A afirmação da ideia de que cada politico representa, a seu modo, as vontades, desejos, aspirações e, principalmente, as necessidades dos seus representados não passa de diáfana prosa.
Democracia! Democracia!Democracia!
Então , um pouco de "pão " e muito "circo", vai mascarando uma Doutrina eivada de nobreza, pois a comida nunca chega para todos e o circo distrai sem distinção.
Políticos que apoiam ditaduras com discursos infames, repugnantes e covardes, são os piores. Usam suas capacidades verborrágicas para a ideia de "não opinar em assuntos estrangeiros", ou negar as diásporas que os horrendos ditadores provocam.
Defender o lixo político é fazer a má politica. Comprar votos usando sofismas e óbulos governamentais, doutrinar crianças e jovens, de forma sistemática, criando a fanatização em mentes ainda tenras é o que a politica tem de mal.
A crueldade, a barbaridade, a infâmia movida por sonhos de poder transforma a politica e seus ambientes num grande esgoto de esperanças.
Guerra: estupidez e desvario
A segunda grande guerra acabou por conta dos bombardeios maciços que destruíram as cidades da Europa A Alemanha foi devastada por bombardeios precisos e sistemáticos, que arrasaram tudo. Cidades repletas de civis apavorados e FAMINTOS, fabricas, usinas, etc. O louco que jogou o país no inferno matou-se e abriu o caminho para rendição. Assim foi com a Italia, e seu alucinado "duce", jogando a joia da Europa no lixo da destruição, miseria, fome, horror. A terceira perna do eixo, o Japão só parou sob o espanto da devastação de duas de suas cidades, repletas de civis, torrados pelas bombas atômicas. SEMPRE CIVIS FAMINTOS, HUMILHADOS, DESLOCADOS, DESABRIGADOS, pela estupidez, loucura, vaidade, prepotência, crueldade de indivíduos sempre abrigados em palacios, fortalezas, abrigos seguros, protegidos, longe da cena infernal das batalhas e escaramuças. No passado, o mundo não viu, em tempo real, o massacre de civis feito por terroristas nem a chuva de foguetes sobre cidades civis, que assistimos com horror e espanto. Nem viu os cogumelos atomicos, ou a chuva de bombas sobre cidades cheias de mulheres, crianças, velhos. Todos pagando a conta da loucura daqueles por eles escolhidos para conduzir seus destinos. É assim ,todos pagando a conta criada por assassinos desvairados. Crianças, mulheres, homens pacíficos ou incapazes de manejar um fuzil. A questão palestina não tem a lógica de uma guerra de domínio. O que Israel está combatendo é uma guerra de exterminio! A falange palestina tem como objetivo, mais do que o território de 1948 que não aceitaram . Seu objetivo é o extermínio do povo judeu! E ninguém diz nada! Ninguem cobrou renúncia dessa idéia registrada no manifesto palestino! Ninguém enxerga a dimensão dessa barbaridade, que transcende a existência de um territorio-estado, mas preconiza a destruição de outro e do seu povo Inteiro, com mulheres, crianças, velhos, moços, costumes, hábitos, cultura... O noticiário está deixando detalhes infames de lado.
Ele bateu o olho nela, o céu despencou. Aconteceu na festa dos calouros, o primeiro encontro dos estudantes no ano.
Falaram de vidas passadas — quem sabe os dois?... Lamentaram não terem se conhecido antes. Falaram de coisas que só os apaixonados falam. Ficaram numa ânsia grande, não dando notícia de nada acontecendo ao redor, o medo de se perderem um do outro. E o que não podia acontecer aconteceu, ela falando volto já, desaparecendo naquela noite, nos dias seguintes, meses. Conhecendo-se pouco, apenas os nomes, ele de Anápolis, ela de Diamantina, anúncio na rádio e tudo mais, tudo em vão. O tempo passou. Não é que no baile de formatura do cara, fim de festa, todo mundo indo embora, ele não aguentando de porre, ela, sem o frescor de antes, se encontram de novo no meio da pista de dança, o céu despencando mais uma vez, o tum-tum dos corações, o abraço demorado?
Ela chegou, tocou o meu braço. Em vez de me conduzir como todo mundo faz, segurou minha mão até a porta da frente do ônibus, me pôs na cadeira, rodou a roleta e em seguida se sentou do meu lado.
Falou que trabalhava até tarde, não disse com quê. Eu imaginava: loura, morena, negra, magra, alta... A voz doce, falava e pausava. A pausa diz muito. Na hora me lembrei de um locutor de rádio que dizia que o Tostão jogava sem bola.
Trabalhava todas as noites. Podia ser uma enfermeira, uma garçonete, uma professora, não quis perguntar. Contei do meu serviço de telefonista na fábrica de bebidas, onde passava o dia datilografando pedidos, e que os colegas de vez em quando aprontavam comigo escondendo minhas coisas. Ela riu quando disse que um dia um cara trocou a minha escova de dente com a de um motorista. Não me importava, molecagem eles faziam com todo mundo.
Senti a maciez da sua mão no meu braço quando sem graça desculpou-se pela pergunta que tinha feito, a de não sentir medo enquanto esperava o ônibus no escuro. Contei que, desde pequeno, mamãe só apagava a luz do meu quarto depois que via que eu dormia. Disse ainda que sentia a noite de diversas maneiras. — Uma mulher também — acrescentei. Não demorou me perguntou se eu a imaginava bonita. Me aproximei mais, senti sua respiração, toquei o seu rosto. Não tinha dúvida, foi a minha resposta.
Conversamos até ela descer.
No dia seguinte, na mesma hora, me pegou pela mão, aflito, demorou a se sentar do meu lado.
Morava com a mãe, chegava em casa de madrugada, quase não via o filho. Falou que não aguentava mais, queria ter uma rotina como todo mundo, chegar do trabalho no fim da tarde, botar uma bermuda e ver novela. Perguntou como era a minha vida, se sentia solidão, medo e outras coisas.
Foram dias assim. A minha alegria começava na hora em que nos assentávamos e eu tentava adivinhar como era o seu penteado, como se vestia. Se acertava, ganhava um afago.
Um dia não veio. Peguei o ônibus e procurei me concentrar no itinerário da volta pra casa. Os lugares por onde passava eu identificava pelo barulho, pelo cheiro e até pelo ar. Com algumas viagens e perguntas gravei a sequência: a umidade do vapor da lavanderia, a algazarra das crianças saindo da escola. Mais na frente, a pastelaria – um lanche, qualquer dia descia – e em seguida um longo trecho sem parada. Depois do semáforo o quartel e a cavalariça. A fábrica de tecidos com o ruído das máquinas, e o mais bonito, a alegria das meninas deixando o turno. Bares e bares. O presídio, um silêncio de entristecer, a igreja – a música! Mas o que mais me extasiava era a parada em frente à entrada do parque onde o ônibus permanecia por mais tempo. Num fim de tarde, um calor de ferver o asfalto, tinha chovido, o cheiro da vegetação invadiu o ônibus. Foi o meu pôr do sol. Espichei as pernas, abandonei o corpo e deitei a cabeça no encosto.
Por que ela não veio?
Entrei no quarto, liguei o rádio, só chieira.
A sopa, amarga.
– Nada não, mãe, muito serviço.
Se existe escuro, eu conheci naquela noite. Pesadelo, um atrás do outro, acordei com mamãe me entregando o telefone: — Já passou, o menino teve um febrão, amanhã tá bom, a gente se vê.
No dia seguinte, a boca perto da minha, precisava conversar. Deixamos o ônibus no ponto em que ela sempre descia.
Uma escada longa, vozes de mulheres. No quarto, me acomodou numa poltrona e perguntou se eu queria beber alguma coisa. Depois de algum tempo cantávamos as músicas do rádio. Riu muito quando pedi pra ela fazer strip tease.
Percorri o seu corpo com as mãos. Cada saliência me conduzia a mistérios e êxtases. Nunca tocara uma mulher daquele jeito. Cada parte, cada detalhe, tudo me pertencia?
No dia seguinte, a longa espera, ela não veio. O menino de novo, pensei. Já pra ir embora, outra mão, a de uma amiga, tocou o meu braço: — Ela não vem hoje. A polícia deu uma batida na casa onde trabalha, levou as mulheres, a mãe dela não sabe de nada também.
Eu me sentei no ônibus, baixei a cabeça e em vão tentei organizar o caminho de volta pra casa. As vozes dos bares se juntavam ao coro da igreja, os cavalos do quartel pisoteavam os canteiros do parque, as frituras da pastelaria e do vapor da lavanderia me confundiam.
“França – exército – Josephine”. Essas teriam sido as últimas palavras de Napoleão antes de morrer. Historicamente, existem controvérsias se foram realmente essas. Mas, para o filme de Ridley Scott , são esses motivos que ditam o enredo do seu “Napoleão” “Napoleão” (2023). O líder francês que a tudo ambicionava, constatará que nem sempre todo poder basta.
Antes de sua fama ecoar aos quatros ventos, Napoleão experimentará os caminhos pelos quais a política e o poder podem levar. Ele vê, taciturno, a rainha Maria Antonieta , sob os berros de escárnio do povo, ser guilhotinada, e vê as ambições e as brigas internas dos chefes da Revolução Francesa .
Em uma das poucas cenas representativas que remetem ao contexto histórico da Revolução, o líder jacobino Robespierre está discursando em um salão. A plateia se divide sobre sua fala. Do alto de um dos corredores, um líder adversário girondino grita em sua direção: “você não é um defensor da liberdade! Você se considera o juiz, o júri e o carrasco, não é verdade?”.
Esse período revolucionário seria lembrado por Norberto Bobbio (em “A teoria das formas de governo”) na sua exemplificação do poder despótico a partir de Montesquieu . O despotismo é o poder que tem no terror sua característica fundamental, seu símbolo.
Para Saint-Jus (o arcanjo do terror) e Robespierre, o terror é imprescindível para a chegada da república democrática, o reino da virtude. Como se sabe, como instiladores do medo, eles não se traíram. Mas o poder sem freios pode também a todos atingir. Logo depois, Robespierre e seu arcanjo serão vítimas de sua própria lâmina.
A Morte de Robespierre. Artista: Giacomo Aliprandi. Fonte: wikipedia.org
Napoleão (Joaquin Phoenix) sendo um produto da revolução, também, em um primeiro momento, não se trai. Após sua arrasadora vitória de Toulon, a batalha que lhe traria fama no território francês e que lhe proporcionou maior poder político, ele, no filme, com carta branca dos novos líderes revolucionários, explode, literalmente, a revolta monarquista de 1785.
Mas aí entra, definitivamente, Josephine (Vanessa Kirby). E, para a história de Ridley Scott, ela terá um papel decisivo na trajetória napoleônica. Ele não apenas se casa com ela, como, obsessivamente, por estar na campanha do Egito, implora por notícias suas.
Josephine, nesse momento, está traindo seu marido com outro homem. Napoleão ainda não sabe, mas uma cena da campanha do Egito serve como uma metáfora dessa relação nem sempre domesticável entre a política, o poder e a vida.
O comandante francês está diante dos tesouros arqueológicos egípcios. Encostada em uma parede, na vertical, está uma múmia dentro de um sarcófago.
Napoleão a olha, sobe em um banquinho, coloca seu famoso chapéu sobre a múmia e aproxima seu rosto daquela face sem vida. Em seguida, ele toca o rosto da múmia suavemente, deslocando-o para o lado, vendo o fim daquele poder já extinto. “Memento mori” (lembre-se da morte).
Napoleão diante da múmia. Fonte: https://twitter.com/EgyptianPodcast/status/1715462463821377980
Ele parece estar se perguntando, o que são os grandes homens? Aqueles que se acham deuses acabam assim? E nós com ele nos perguntamos se nem todas suas conquistas lhe teriam evitado a traição? Nem sempre todo o poder é suficiente.
Em seu retorno para a casa, ele, furioso, ameaça deixar Josephine. Ela reverte a situação dizendo para ele que, sem ela, ele não é nada. A partir daí, o filme começa seu desfile psicologizante, mostrando, grosseiramente, um edipiano e lascivo Napoleão.
Poucos personagens na história mereceram tantos textos. Poderíamos pensar que essa representação de um Napoleão incontrolável e contraditório faz parte de sua vida, faz parte do humano.
Mas para a história, ou pelo menos, para a história mais comum, ainda reverbera, por exemplo, a sua coroação e muitas de sua batalhas. Ele é um mito. E mitos são lidos de várias formas.
O filme de Ridley Scott dá essa versão na qual o homem e o mito procuram ser juntados. A famosa cena da coroação reproduz o famosíssimo quadro de Jacques-Louis David (1807).
”A coroação de Napoleão”, de Jacques-Louis David (1805-1807). Fonte: wikipedia.org
Diante do espanto de todos (no quadro isso é levemente perceptível, mas no filme gera um “ooohhh”!) o imperador coroa a si mesmo, marcando simbolicamente a separação do Estado e da Igreja, união fundamental das antigas monarquias.
Além das cenas impressionantes da Batalha de Waterloo , vemos a sequência da celebrada vitória em Austerlitz que, com o uso da tecnologia da computação, é capaz de representar esse momento, talvez, como nunca havíamos imaginado antes.
O sadismo do vitorioso general diante do derrotado Francisco II , ao agradecer ao imperador austro-húngaro por ter feito ele cometer um erro ao ter vindo até ele, o que lhe impediu de derrotar, já naquele momento, também os russos, é muito mais impactante que todas as cenas libidinosamente sádicas do filme.
A pretensão de mostrar Napoleão como homem e mito ganha ainda duas sequências representativas. A primeira é a dissolução do casamento com Josephine (ela não poderia ter mais filhos e o imperador queria um herdeiro). No ato, ele chora e, em seguida, estapeia Josephine para que ela assine o documento de divórcio em prol da França.
O poder supera o amor, mas, ao mesmo tempo, talvez esse poder possa ser um complemento da perda, da sua falta, dos seus medos. Homem e mito. As lágrimas caem, mas sem compaixão.
A segunda sequência é sua famosa entrada em Moscou. A câmera movimenta-se seguindo seu cavalo de perto, ele gira em 360 graus com seu animal e, em close, vemos seu rosto estupefato.
Napoleão encontra Moscou deserta. Fonte: IMDB
A cidade está deserta. Napoleão grita: “onde estão vocês!?”. Aquele que é tido por muitos como o maior estrategista de todos os tempos, não antecipara o movimento adversário.
Há muitas produções cinematográficas e séries sobre o líder francês. Mas o que o diretor Abel Gance fez em 1927 é algo totalmente extraordinário até hoje. O “Napoleão”, de Gance, é um daqueles filmes do cinema mudo que ficaram lendários por vários motivos.
Quando foi exibido teria sete horas de duração, suas técnicas empregadas são revolucionárias – não há outra palavra – para o período, com travellings (movimento de câmera) com a câmera na mão, cortes em contraponto (uma cena contrapondo ou complementando o sentido da outra), fusões de imagens, efeitos especiais e a famosa sequência final na qual três quadros na tela mostram, ao mesmo tempo, a mesma cena ou cenas diferentes.
Não apenas por todas essas inovações ele é cultuado. Ao contrário do filme de Scott, o filme de Gance (que interpreta Saint-Just, o arcanjo do terror) pretendeu mostrar o Napoleão desde sua infância, passando ainda por uma longa representação dos acontecimentos da Revolução Francesa, até terminar no início da campanha da Itália.
O “Napoleão”, de Ridley Scott, pode não ter tido essa pretensão. O fato de ser anunciado de que se pretende relançá-lo com mais uma hora e meia de duração para TV, talvez indique o quanto ele poderia ser mais coeso, parecendo menos uma sequência de episódios esparsos.
Talvez por isso ele tenha buscado se deter – com resultados questionáveis – nesses elementos que muitas vezes moveram a história, tragicamente ou não, a pátria (França), as armas (exército) e o amor (Josephine).
O filme nos conta que Napoleão nem sempre pôde ter essas conquistas como gostaria. Mas a história já mostrou que, quando esses elementos colidem, nem todo poder basta.
Sem noção.
Os temas "governança global" e "o poder do Sul", (do planeta)
apresentados por excepcionais exemplos de competência reversa em
desenvolvimento humano, combate a fome, honestidade, qualidade
política ,transparência democrática, e valores que tais, tem sido
os motes aproveitados pelo Flagelo do Agreste quando discursa em seus périplos
desde a libertação da cadeia por erro de endereço do tribunal, e vitória na eleição de quem seria o menos rejeitado. Ganhou por " una cabeza" no páreo da antipatia ao adversário. MAS GANHOU! Suas falas para ninguém alem dos notórios frequentadores dos encontros e protocolos, beiram ao
ridículo. Quer sentar-se a mesa dos arcanos! Quer ser o mensageiro do renascer, nesse começo de milênio. Imagina uma nova versão da santa ceia, com os ditadores, déspotas, caudilhos e simples chefes tribais como apóstolos, esquecendo das suas próprias limitações. Dizer que o "seu" País tem um débito de 200 anos com, pasmem, um Continente, por conta de praticas generalizadas pelo Mundo durante a colonização é, alem de sua sabida fanfarronice politica, um desrespeito ao Pais que não lhe pertence. O deslumbrado pensa que está agradando com suas sandices copiadas, é claro, mas está, com tamanha estupidez , fomentando ódio, ignorância, politicagem, e contenciosos desnecessários com a comunidade mundial de verdade. A senilidade e o desvario, alem da purulência verbal só cria vergonha e espanto. Alguém tem que avisar ao pré decrépito que a farra vai acabar, de novo, e nem os endereços servirão de argumento para um novo perdão.
Os mitos de Ícaro, filho de Dédalo, e Satã o Anjo caído, jamais poderiam encontrar-se, não fossem as analogias com a história recente do “País do Futuro”.
Um Ícaro moderno vestiu-se com asas aderidas com a cera de promessas douradas e brilhantes em busca de uma saída para um labirinto de absurdos, desmandos, corrupção e incompetência .
Uma voz bradante e altaneira, condutora ao caminho da luz, da honestidade, da retidão, da esperança de dias de prosperidade e justiça. Um discurso emocionado, indignado, valente, agressivo, tinturado de sinceridade.
Convenceu. Ganhou altitude, vibrou com o próprio feito, sobreviveu à morte. Apenas esqueceu-se do que eram feitas as suas asas. Penas de quimera, cera de inverdades. Cordões de algodão doce.
Satã, ainda cheirando aos odores da podridão das façanhas de seu passado de corrupto ativo e passivo, das “maracutaias” e desastradas indicações e recomendações ,consegue romper a barreira da luz diáfana da verdade e retornar, agora triunfante, ao topo da montanha, ponto de partida de Ícaro e suas inconsistentes narrativas antes de lançar-se ao abismo da realidade.
O sol dos fatos derreteu a cera mentirosa e desfez as asas daquele Ícaro transformado em mais um ser opaco, pesado, sem nada da sua própria maquiagem. Um tolo agressivo, inconsistente, comum e menor.
Satã, aproveitando a realidade sinistra que o beneficiou por tempos impensáveis, agora voltava a luzir tenebrosamente.
Começa a desencavar as múmias espectrais que já o acompanhavam em outros tempos, a ressuscitar ogros e heroínas tenebrosas dos horrores recentes, e retoma o covil perdido para Ícaro.
Agora as semelhanças estarrecedoras trazem a história para frente. Ícaro assim como Satã tem suas origens na roça. Foram lavradores, pertencem a grupos diferentes de famílias de lavradores. Apareceram no mundo em lugares separados. Tiveram o desenvolvimento de suas vidas de forma assimétrica, por razões, igualmente assimétricas. Ícaro pode ilustrar-se. Obter educação escolar, escolher e seguir uma Escola maiúscula, formadora de bons cidadãos e outros nem tanto, trilhar uma carreira profissional importante e complexa. Um seletor de inteligências.
Satã, ao contrário, percorreu caminhos duros e difíceis durante a juventude. A escola chegou bem tarde. O progresso urbano e social do qual Ícaro já desfrutava, demorou a gratificar o Anjo Caído. Entretanto, o caminho que lhe foi mostrado, levou a um grande destino. Experimentou o Mundo. Rapidamente, foi aprendendo tudo que viu e mais o que foi observando. Hábil,inteligente,aproveitou a rudeza como chame, característica sedutora, carismática. Chegou antes ao topo da montanha, embriagou-se com a altura, desatinou e, depois de alguns solavancos, e rolar encosta abaixo, retornou. Retomou aquela mesma montanha que Ícaro lhe havia tomado e, pouco tempo depois, iria lançar-se desvairadamente.
Outros tempos. As histórias, os mitos, as narrativas se repetem. Assim como os discursos das suas principais personagens.
Nada de novo
O conceito de vadiagem tomou ares poéticos, românticos, até divertidos. O que seria um ou uma vadio ou vadia? Ora, alguém que não tem ocupação,que não faz nada. Vai levando a vida sem rumo certo, sem compromisso, sem preocupações.
Diferente do desempregado, do incapacitado seja física ou tecnicamente, o vadio vai levando o seu quotidiano encarnando diversos personagens para conseguir o sustento e a moradia. A forma mais comum é a do pedinte. O mendigo que estabelece o valor do óbulo quando pede.
-Moço dá cinco reais para eu tomar um café ou para comprar uma quentinha ou,pede uma moeda. Essa figura, atualmente abundante nas nossas cidades, não tem mais de 30 anos de idade. Não tem profissão ou perdeu a referência do que é trabalhar. Perdeu a noção ou nunca teve, do que é ser um cidadão. Múltiplas razões o atiraram na calçada, na sarjeta, no limbo da sociedade. Acostumou-se assim, perdeu o azimute da vida. Muitos são viciados em drogas assassinas, álcool e cigarro aproveitado as "bitucas” catadas no lixo ou no chão. Dormem em qualquer lugar dentro de um universo geográfico que eles mesmo elegem. Um bairro por exemplo. Pode ser embaixo da marquise de um comércio, um canto no recuo dos prédios, um banco de praça, atirados ao chão em qualquer lugar, algo muito sinistro.
O segundo tipo é o mendigo profissional. Esse consagra um determinado ponto para estabelecer a sua “empresa”. As portas dos supermercados, igrejas. Lugares procurados pelos cidadãos para abastecer-se de comida ou conforto espiritual são muito visados. Tem metas a cumprir. Na região onde moro, ao conversar com os motoristas taxistas, fico sabendo que “aquela mulher que fica ao lado da porta do mercado, sentada no chão sobre folhas de jornal, só vai embora quando atinge uma determinada quantia, cerca de R$ 150,00". Quando está bom, perto dos dias de pagamento dos trabalhadores produtivos, aposentados, pensionistas, ela vai embora cedo. Lá para o meio do mês, vai ficando até ao fim da tarde. Sempre tem alguém que paga a “quentinha”, traz um pacote de biscoitos para as crianças. São três entre 2 e 5 anos de idade. Também recebe pacotes com mantimentos, que ficam ali no chão, encobertos com andrajos para não chamar a atenção.Nas imediações um homem, seu companheiro,dissimuladamente, observa se outro mendigo ou mendiga vem tentar dividir o ponto. Ele se encarrega de retirar os mantimentos quando a pilha fica um pouco indiscreta.Um outro habitué, colega do "marido” da moça frequentava o lugar com uma tornozeleira de bandido… Este sumiu. Chamava muito a atenção. A versão mais recente do pedinte é o "viciado nóia", consumidor de crack, cocaína, drogas alucinógenas que, erradamente, o noticiário chama de entorpecentes. Estes, perambulam, imundos, alterados ou, nos intervalos da loucura, compondo angustiantes cenas de horror. A variedade de personagens é vasta. Inúteis? Sobras sociais? Vítimas do destino ou da sociedade? Na verdade , são variantes do antigo Vadio. São vadios. Um novo tipo de vadio recebe uma denominação, não sei se hilária ou jocosa: Nem-Nem, significando que nem trabalham nem estudam. Vadios-parasitas das próprias famílias. Vagabundos com várias desculpas para sua infame condição de inúteis. Exploram pais, avós, tios, amigos, amantes, enfim, não dormem no chão, não passam fome nem admitem a humilhação da mendicância explícita, seja profissional ou acidental. Diversas castas desta modalidade de vadios podem ser percebidas, desde os mais pobres até os bem fornidos de recursos. Há quem tenha tudo do bom e do melhor.A família provém. Há os que ficam parasitando os mais prósperos, fazendo companhia, bajulando, participando dos séquitos e círculos dos, verdadeiramente, ricos. Sempre estão bem vestidos, simpáticos com os afortunados, arrogantes com a patuleia,e a criadagem, ou os desconhecidos, periféricos que estejam tentando entrar na turma.
A condição de vadio já foi infração comportamental, listada no Código Penal. Vadio ia conversar com o Delegado… A carteira profissional fazia parte dos documentos a serem carregados no bolso dos comuns. Vadio, vagabundo, malfeitor, bandido, etc., não era motivo de graça nem poesia. Agora os direitos mandam mais do que os deveres, logo o “direito de ser vagabundo, nem-nem, vadio, nóia, etc", é sagrado e serve para teses de sociologia, para a indústria da pobreza e caridade, e o cidadão comum que se vire.
Tempos modernos esses.