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Terça-feira,
3/3/2015
Maria Mortalha
Maria da Graça Almeida
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Minhas Marias: a primeira Maria Mortalha Maria da Graça Almeida Cedo, deitou-se Maria, pronta pra logo morrer,
vestindo a alva mortalha, sem medo de adormecer. Os olhos tanto mais fundos coroados por olheiras cerravam-se moribundos nessa hora derradeira. Implorando-lhe ajuda veio um moleque qualquer - Vó, apanha uma agulha, tira-me o bicho do pé Servil levanta a Maria, desvestindo a alva mortalha e já mais morta que viva o bicho do pé estraçalha. Volta, esvaída, Maria para o bom leito de morte, serve-lhe o leite fervente e duros nacos de pão. Com a fome então saciada e o corpo fortalecido, parte a jovem senhora com olhos agradecidos. Maria assim, novamente, põe-se no leito de palha, julgando que certamente não mais tiraria a mortalha.
E eis que lhe chega a vizinha com um pote tosco à mão. Queria do sal só um pouco que lhe salgasse o feijão. Maria deixa o leito... Que a Morte espere um instante... pra atender a boa vizinha, ergueu-se mesmo ofegante. Bem cheio o pote de sal, a dona vai-se embora. Maria já fria descora e aguarda da Morte a hora.
A Morte que vinha chegando notou-a em pele ardente, porém, percebeu que a lida tornara Maria valente. Vendo a mulher à espera, recolhida em seu leito, ordena que se levante e atenda-a com medo no peito Maria, surpresa, coloca os olhos esbugalhados sobre as vestes que a Morte trazia em trapos rotos, rasgados. A Morte impõe, soberana: - Sobreviva só mais um E apontando-lhe as entranhas, ressecadas e vazias, exige-lhe que ao fogo torne e o leite que frio jazia. Maria salta do leito, arranca a tal da mortalha e sem mesura ou respeito, rebelde, à Morte detalha: - Em face dos desmandos alheios,
viverei mais um ano e meio.
Postado por Maria da Graça Almeida
Em
3/3/2015 às 11h08
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