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Terça-feira,
3/3/2015
FILÓSOFO DO RIGOR
Vinícius Ferreira de Oliveira
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Um precoce filósofo, por volta dos 30 anos, decidiu por em suspensão suas dúvidas angustiantes sobre questões sobre a natureza do bem e do mal, a existência de um ser supremo criador do universo, a possibilidade do conhecimento objetivo, e a consistência ontológica dos conceitos universais.
Compreendeu que era vão especular sobre isso sem conhecer a opinião dos grandes vultos do pensamento filosófico que o precederam na História da Humanidade. Passou então os 20 anos seguintes a estudar as divagações de Platão, Aristóteles, Plotino, Aquino, Descartes, Kant, Hegel e Husserl sobre os temas até que, aos 40 anos, se deu conta de que não podia saber ao certo a opinião que estes filósofos tinham tido sobre as grandes questões filosóficas da humanidade sem primeiro tornar claro, exato e indubitável o que eles tinham dito a respeito destes grandes temas.
Mergulhou então nos estudos filológicos e crítico-históricos. Só em cima de um único livro, "A Metafísica", de Aristóteles, passou 05 anos numa rigorosa averiguação dos volumes de Bekker, Bonitz, Shwegler, Chist, Ross e Jaeger, dos comentadores gregos da antiguidade, dos comentadores escolásticos, e dos comentadores modernos, continentais e anglo-saxões. Debruçou-se também sobre a maravilhosa biblioteca de estudos críticos sobre estes estudos. E sobre a fabulosa sub-biblioteca dos estudos críticos sobre os estudos críticos. E sobre... Como num jogo de espelhos.
Quando terminou os estudos, sem chegar a grandes conclusões, descobriu que lhe escaparam novas especulações sobre a Metafísica de Aristóteles que vinham sendo desenvolvidas em Princeton, Cambridge, Munique, Bristol, Praga, Stanford, Estrasburgo e São José dos Campos. Bem como sobre a revisão crítica destes novos enfoques. Passou então mais 5 anos a incorporar os novos estudos.
Prosseguiu nos estudos filológicos e crítico-históricos até os 65 anos quando descobriu que jamais se poderia falar sobre a verdadeira doutrina de Aristóteles ou a verdadeira doutrina de Platão, pois tudo o que havia era interpretações filológicas eternamente sujeitas a novas versões.
No ano seguinte, o filósofo morreu de câncer na laringe (tinha o hábito de fumar durante os estudos, embora nunca tivesse chegado a uma conclusão sobre se o cigarro era ou não de fato causa de neoplasias: não tinha percorrido nem um centésimo de toda a bibliografia científica sobre o assunto) e nada soube em sua vida sobre a verdade ou sobre o que os grandes vultos do passado haviam pensado a respeito dela, e nada mais disse nem lhe foi perguntado.
Morreu anônimo, sem nada publicar.
Postado por Vinícius Ferreira de Oliveira
Em
3/3/2015 às 22h08
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