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Quarta-feira,
4/3/2015
Daquilo que não publicamos nas redes sociais
Fernanda Barbosa
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A mediocridade da vida me fascina. Gosto de escrever sobre aquilo que a gente se esforça para esquecer e tornar invisível: o entediante, o chato, o sujo e o feio do nosso cotidiano. Situações sem significados grandiosos. Cenas urbanas diárias que a gente não publica nas redes sociais, cenas que muitas vezes não saem de nossa memória, mas não são verbalizadas, compartilhadas, curtidas. Cenas sem filtros, sem poses, sem beijinho no ombro, sem pau de selfie. Cenas cruas que nos tornam, irremediavelmente, mais um na multidão. Justamente nós, tão acostumados a nos sentirmos acima da média, somos terrivelmente medianos em nossas miseráveis filas de transporte coletivo ("Quantos são na minha frente? 1, 2, 3... 15? É sério, isso?! Não vai dar pra ir na janela!"), em nosso gosto por ler as capas dos jornais populares em pé, em frente às bancas, para descobrir qual é a manchete hilária do dia ("hahahahaha Esse cara que faz os títulos é um gênio! Isso é Nelson Rodrigues na veia!"), em nossa torcida para encontrar um banquinho vazio e ir sentado na viagem longa de volta para casa ("Sai, sai, sai da frente... aperta o passo, aperta, aperta... vai que dá, se joga, se joga, com classe peloamordedeus! Que isso de dar pinta de que está desesperado para ir sentado não é elegante"), em nossa obsessão em olhar para as pessoas e botar defeito para passar o tempo ("Moço, esses óculos estão envelhecendo você. Cruzes! Se eu tivesse um pé assim eu não colocava sandália. Caramba! Que verruga é essa, meu irmão! Isso é da Nike mesmo?").
Ah, como somos imensamente comuns na maior parte do tempo... Uma pena desperdiçarmos toda a nossa timeline mostrando apenas o extraordinário (ou aquilo que, no comum, soa extraordinário após alguns filtros e edições apropriadas). A riqueza está no verdadeiramente ordinário.
Numa época em que todo mundo quer ressaltar o ego, dedicar-se à construção de si mesmo, reafirmar o seu eu, a sua própria genialidade, suas conquistas sem igual, o seu destaque e sua obra nessa sociedade tão massificadora e viciada em entretenimento e compartilhamento... nesta época de self (e selfie), mais do que nunca, sinto a necessidade de falar do medíocre. Daquilo que em nós é bastante café com leite, bem comunzinho, sabe? E se você fizer um esforço, vai resgatar várias comunzisses em seu cotidiano também.
Vamos comigo nessa jornada pelo invisível?
Postado por Fernanda Barbosa
Em
4/3/2015 às 18h39
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