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Sexta-feira,
6/3/2015
Encontros em Jericoacoara (1) - Cristiane
Monica Cotrim
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O sol ainda não tinha nascido e eu já estava diante do mar em Jericoacoara, uma praia de acesso difícil no litoral cearense. Para se chegar lá, é preciso viajar quatro horas de carro de Fortaleza, sendo que os últimos quinze quilômetros sem estrada demarcada, no meio de dunas. Cercada de mar e de areia naquele amanhecer, eu me sentia distante do mundo. Caminhava com os pés na água, sem saber onde aquela imensidão me levaria. Quanto mais andava, mais a paisagem se estendia à minha frente, sem qualquer sinal de povoado.
E tome areia. E tome mar. Perdi a noção das horas.
De repente, sem que eu me desse conta, uma mulher surgiu à minha frente, como se tivesse brotado da areia. Era jovem, talvez não tivesse ainda trinta anos. Trazia uma mochila nas costas e os cabelos ondulados presos em um rabo de cavalo. Vinha correndo no sentido contrário ao meu, olhando em frente, em ritmo compassado, provavelmente acompanhando a batida da música que tocava no seu fone de ouvido.
Antes que ela passasse direto por mim e desaparecesse no meio das dunas, eu me postei à sua frente, interrompendo a corrida: que me desculpasse a curiosidade, mas eu precisava saber de onde ela estaria vindo, pois não conseguia avistar casa alguma no meio daquele areal sem fim. A resposta veio sorridente e de uma enfiada só, daquele jeito direto e desconcertante que os nordestinos tem de falar:
- Estou vindo de Camocim, que fica depois daquelas dunas bem branquinhas, lá embaixo - está vendo? É lá que eu moro, mas trabalho em Jericoacoara. Sou camareira de uma pousada. Da minha casa até lá são nove quilômetros pela areia. Quando vou correndo, consigo chegar no trabalho em cinquenta minutos. Se for caminhando, levo duas horas. Quando a maré está alta, sou obrigada a rodear pelo alto daquelas dunas e aí demora mais. É um pouco longe, mas assim mesmo prefiro morar em Camocim, porque em Jericoacoara o preço dos aluguéis está muito alto. Imagine que lá em Jeri um quartinho mixuruca, só para mim e meu marido, custa quatrocentos reais por mês. Tem gente que prefere pagar tudo isso para não ter que fazer este caminho todos os dias para trabalhar. Mas eu até acho bom - sabe? Aproveito para fazer minha ginástica no caminho para o trabalho. Meu marido também trabalha em Jeri. Ele fica ali na praia, junto dos cavalos, para levar os turistas para passear. Você já fez esse passeio? É muito bom, vai lá depois! Bem, agora preciso ir. Meu nome é Cristiane. Foi bom conversar com você. Tchau!
E lá se foi a camareira Cristiane, tão rápida que nem tive tempo de pedir para lhe tirar uma foto. Naquela noite algum turista iria descansar o corpo entre os lençóis de uma cama arrumada por ela, depois daqueles nove quilômetros de corrida na areia.
Postado por Monica Cotrim
Em
6/3/2015 às 07h03
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