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Sexta-feira,
13/3/2015
É inacreditável que tenham dado o Oscar à BIRDMAN
TAIS KERCHE
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Fui assistir à BIRDMAN OU A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA, filme do incrível Alejandro González Iñarritu, já sabendo que tinha ganhado o Oscar e me surpreendi de diferentes formas.
Primeiramente, por se tratar de um filme que aborda diversos aspectos da indústria do entretenimento. Ele critica os filmes 'arrasa quarteirões', mais conhecidos como 'blockbusters', aborda as crises existenciais de atores e seus egos, escancara o vazio de nossa época em que sucessos relâmpagos acontecem a cada minuto no mundo virtual, denuncia o prazer da crítica, dita 'especializada', em destruir ou não uma obra de arte, explicita o imediatismo do público e o consumo de entretenimento por entretenimento e ainda satiriza a grande máxima "a vida imita a arte".
Tudo isso está em BIRDMAN, que a menos de um mês levou o Oscar de 2015 como melhor filme, diretor e roteiro original. Uma surpresa e tanto o Oscar reconhecer esta obra prima de Iñarritu, que tanto critica a atual indústria cinematográfica de forma tão densa e ousada. É quase inacreditável, diante do histórico do Oscar que sempre premia filmes politicamente corretos.
Michael Keaton é Riggan Thomson, um ator que entrou em decadência após recusar gravar o quarto filme da sequência em que interpreta o super herói que dá nome ao filme, BIRDMAN. Sequência que lhe rendeu muita fama e muito dinheiro, como acontece hoje em dia com O Homem de Ferro, Os vingadores, A mulher maravilha, e claro, o Batman, super herói já interpretado por Michael Keaton no final da década de 80, que lhe rendeu fama e dinheiro por um tempo. A escolha de Keaton para o papel é a grande sátira do filme, pois Thomson agora está em busca da fama por algo mais denso, poético, em busca de uma interpretação reconhecida artisticamente ao montar uma peça adaptada de um conto de Raymond Carver, escritor norte-americano.
Keaton surpreende pela intensa interpretação de um ator inseguro, presunçoso, que está em um grandeconflito, quer deixar de ser reconhecido como o ator que um dia interpretou o super herói e ser um reconhecido ator de teatro que busca a arte pela arte, mas ao mesmo tempo seu ego, simbolizado pela voz do super herói, sente a falta da fama, do dinheiro, de ser especial e reconhecido mundialmente. Todo esse conflito intermeado por outros egos que aparecem nas personagens de Edward Norton, Naomi Watts e Emma Stones, que também já participaram de filmes blockbuster, como Hulk, King Kong e O Homem Aranha, respectivamente.
Iñarritu, para contar essa ousada história, também ousou esteticamente, pois utilizou-se de longos planos sequência que nos dão a impressão de um filme sem cortes, com a passagem de tempo trabalhada de forma criativa e sutil, como a subida da câmera por um prédio durante a noite e que aos poucos vai clareando e amanhecendo e logo a câmera desce para dar continuidade à saga de Riggan Thomson.
O filme ainda traz metáforas, poesias, surrealismos, interessantes diálogos, conflitos, uma trilha sonora entremeada por tons jazzísticos, com uma bateria que aparece de tempos em tempos para dar o tom tenso do mundo do teatro a poucos dias da estreia de uma peça, ou seja, há muita criatividade, muita densidade, assim como toda a obra do diretor mexicano Iñarritu, que já nos deu o prazer de ver a sua arte em filmes como Beautiful, Babel, o incrível Amores Brutos, entre outros.
Há ainda muito a falar sobre BIRDMAN, mas este texto ficaria fora dos padrões de um blog, ou seja, longo. Convido os leitores que ainda não viram a ver e os leitores que já viram a colocarem suas impressões aqui nos comentários. Um ótimo BIRDMAN!
Postado por TAIS KERCHE
Em
13/3/2015 às 13h29
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