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Terça-feira,
24/3/2015
Vidas desperdiçadas
João Luiz Peçanha Couto
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Pensando nas literaturas possíveis ou nas possibilidades de exercício estético-literário: pela primeira vez foi extrapolado o número de "desenraizados" registrado na Segunda Guerra. Há, segundo a agência de refugiados das Nações Unidas , 51,2 milhões de pessoas forçadas a deixar suas casas devido a guerras ou perseguições.
Destes, 86% são abrigados por países em desenvolvimento, o que deteriora ainda mais a capacidade daquelas populações receberem recursos provindos dos governos que as acolheram. Os órgãos de ajuda humanitária sentem-se impotentes frente a esta leva planetária de expatriados (ou de expatriados planetários).
Esses deslocamentos forçados não se restringem às fronteiras das nações: guerras civis e cisões internas, quase todas ausentes das pautas dos noticiários, são responsáveis por 1/3 desse contingente. Muitas dessas contingências obrigam populações numerosas a viver em campos por períodos, conforme o caso, de mais de vinte anos.
Há campos quase permanentes, onde existem escolas, hospitais, rádios e comércio funcionando regularmente. Entretanto, esses espaços não podem ser chamados de lares. São campos e, como campos, provisórios. Neles, o exílio involuntário dilacera a possibilidade da existência de uma memória que promova certa adesão afetiva a um lugar, pois o lugar, muitas vezes, não existe.
À parte do problema humanitário dos campos, uma questão pode ser pertinente: que exercícios estéticos, que arte e que literatura são produzidos nesses espaços? Como se promove a prática artística ali? Por que os órgãos de pesquisa e seus pesquisadores — e aqui ressalto que não me esgueiro de tal crítica — não dão atenção ao material estético fomentado naqueles espaços? O pior: assinalei uma das perguntas que não imagino ser respondida.
Segue como provocação.
Postado por João Luiz Peçanha Couto
Em
24/3/2015 à 00h39
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