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Terça-feira,
31/3/2015
Coisas da sala de Artes I
Paulo de Tarso Cheida Sans
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Uma das compensações em ser professor é que se aprende muito em sala de aula. Leciono num curso de Artes Visuais numa universidade e sempre vejo promissores artistas entre os alunos. Numa de minhas aulas, um aluno talentoso dizia sobre os seus trabalhos de grafite que havia realizado em um Shopping no interior do estado. Tinha visitado o local e fiquei boquiaberto com a qualidade dos grafites que ocupavam os espaços das lojas desativadas. As várias pinturas deram uma nova "cara" para o Shopping, não parecendo que havia muitas áreas vazias, lojas não locadas.
A ideia era boa porque em vez de ver espaços fechados com mostruário de lojas nas vitrines, viam-se pinturas em grandes formatos, bem feitas e que chamavam a atenção dos transeuntes, além de parecer que o Shopping estava todo ocupado e cheio.
Parabenizei o aluno porque ele realmente tinha feito um trabalho muito profissional e, sem dúvida, o Shopping tinha ganhado demais com isso. O ambiente ficou mais alegre, jovial, criativo e os grafites ocupavam locais estratégicos de visibilidade.
Após dar os parabéns, perguntei:
- Como foi? O Shopping pagou o seu trabalho?
A resposta soou como uma facada: "Não, professor, só tivemos o material e pintamos fora do horário de visitação. Foram várias madrugas de trabalho para realizar todos os grafites".
Como professor, sabendo que se tratava de um aluno muito especial e que, certamente, terá uma carreia artística brilhante pela frente, quis encorajá-lo e disse:
- Não se preocupe em não ter recebido pelo seu trabalho, se você tirou fotos das pinturas, guardou as notícias da mídia, isso já valerá muito, será muito bom para você no futuro. Você poderá colocar esse trabalho no seu portfólio e citar que realizou no Shopping. Certamente, isso abrirá caminho artístico porque um crítico, curador ou agente cultural sabe que para se realizar grafites num Shopping é necessário ser muito profissional e organizado. Possivelmente isso poderá lhe ajudar futuramente em outros projetos do gênero e aí sim você ser remunerado adequadamente.
O aluno ficou satisfeito com a minha opinião e parecia até que ele precisava escutar algo assim de um profissional, para não se desiludir com a carreira artística.
Logo em seguida, ouço um comentário de outro aluno atrás de mim, talvez por ter escutado a minha resposta, dizendo para a colega ao lado:
- Para um pedreiro, você não pode convidá-lo e dizer "faça a minha casa de graça, será bom para você! Aí você tira fotos da casa para colocar em seu portfólio".
Fiquei sem graça por ter escutado essa verdade e me lembrei da minha carreira. Quantas e quantas vezes trabalhei sem ser remunerado! Claro que esse assunto é vasto e quem é artista sabe o quanto a sociedade está devassada em o quanto a sociedade ainda precisa saber reconhecer o artista como um profissional. Geralmente, o artista é convidado para trabalhar de "graça" e raramente é reconhecido como um trabalhador de fato. Triste realidade... Pior vindo de uma grande rede de Shoppings...
Postado por Paulo de Tarso Cheida Sans
Em
31/3/2015 às 13h53
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