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Terça-feira,
31/3/2015
A história poética do avião japonês
Guilherme Carvalhal
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O diretor japonês Hayao Miyazaki vem seguindo passos parecidos com os de Akira Kurosawa, ao abrir as portas do mundo para o cinema japonês. A diferença é que enquanto Kurosawa se dedicava aos filmes em carne e osso, Miyazaki se dedica às animações.
O maior sucesso de Miyazaki foi A Viagem de Chihiro, obra que lhe garantiu o Oscar de Melhor Animação em 2003 e o consagrou internacionalmente. O filme arrebatou fãs e tornou-se uma das maiores obras de animação do Japão, juntamente ao futuro sombrio de Akira.
Uma das principais características de Miyazaki é a sensibilidade com que desenvolve seus filmes. Ele dá cunho muito humano às suas histórias, envolvendo valores como amizade e busca pelos sonhos, em um grau de inocência cativante a uma sociedade que deixou de lado muitos de seus valores simbólicos. E é esse apelo emocional que ele utilizou em seu filme Vidas ao Vento, de 2013.
Esse trabalho de Miyazaki é uma versão livre sobre a biografia de um personagem real. A história retrata Jiro Horikoshi, um dos maiores engenheiros japoneses, responsável por grandes avanços na indústria aérea japonesa que garantiriam vantagens militares na Segunda Guerra Mundial. Nessa biografia, o diretor mescla altas doses de romantismo com a cronologia real de Horikoshi, desde sua infância até os testes positivos de seu trabalho, quando alcança seus sonhos.
A sensibilidade do diretor é responsável por fazer dessa história algo mais do que um simples relato pessoal. Uma das principais maneiras dele adicionar caldo à história é através do ambiente onírico. Desde a primeira cena, em que Horikoshi ainda criança sai pelos céus em um protótipo de avião em combate, o espectador já se depara com o estilo viajante do engenheiro. Em seus sonhos ele chega a conversar com Giovanni Caproni, construtor de aviões italiano a quem idolatra. A poesia de Paul Valéry sobre ventos ajuda a aumentar a dimensão poética do filme.
Esses sonhos do rapaz vão aos poucos se tornando concreto. Ele viaja para a Alemanha nazista em uma missão técnica, conhecendo sobre os aviões de guerra do país (e acaba conhecendo um outro grande nome da engenharia aeronáutica, Hugo Junkers). Os desenhos aos poucos vão se tornando realidade, mostrando a transformação de ideias em realidade prática.
Um aspecto interessante do filme é o retrato histórico. Já é pouco corriqueiro conseguir acessar filmes sobre Segunda Guerra Mundial que mostrem uma visão japonesa do conflito (recordo-me somente de Cartas de Iwo Jima, mesmo assim dirigido pelo norte-americano Clint Eastwood). Os aspectos culturais e sociais, além de alguns econômicos e políticos, são abordados na história. São as roupas, as construções, os hábitos alimentares, os encontros com autoridades militares, o casamento, que vão construindo junto a quem assiste uma ideia de Japão aliada a cultura, sociedade e história.
Além de toda beleza natural da obra, Vidas ao Vento é um relato histórico com o qual não estamos acostumados. O final do filme faz jus ao mostrar o uso dos aviões durante a guerra, finalidade última de nomes como Caproni e Horikoshi. Ainda assim, é uma obra tocante sobre sonhos, aspirações e realizações, com o estilo que vem tornado Miyazak o grande nome das animações no mundo.
Postado por Guilherme Carvalhal
Em
31/3/2015 às 16h45
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