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Quinta-feira,
23/4/2015
De Kawabata para Leigh
Guilherme Carvalhal
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O livro A Casa das Belas Adormecidas foi lançado pelo japonês ganhador do Nobel de Literatura Yasunari Kawabata em 1961. É um livro forte e inovador, desses que podem facilmente botar o leitor para baixo caso ele pense em se colocar no papel do protagonista.
A história fala sobre um idoso chamado Eguchi, que começa a frequentar o prostíbulo que dá nome ao livro. Porém, lá dentro funciona de maneira pouco ortodoxa. Apenas velhos podem frequentar o local e as mulheres são postas todas nuas, adormecidas por um narcótico e assim deixadas à disposição do cliente. A cada noite Eguchi se depara com uma garota diferente e passa por variadas reações e pensamentos conforme a situação. É um livro que figura entre as maiores obras literárias do século XX.
No outro lado do planeta, um filme inspirado nesse livro desenvolvido pela diretora inglesa Julia Leigh, que também assina o roteiro, coloca algo a mais nesse enredo. Com o título Beleza Adormecida, o filme lançado em 2011 é uma visão bastante interessante em nível de comparação, porque mostra um outro lado de uma obra consagrada, que não foi explorado pelo autor original.
Nesse filme, temos Lucy, uma jovem de classe baixa que se depara com todas as dificuldades financeiras existentes. Aos poucos ela começa a se envolver com a possibilidade de um estranho emprego em um clube dirigido pela misteriosa Clara. Lá dentro Lucy descobre que está em um local onde deverá tomar um narcótico para dormir com homens desconhecidos.
O ponto alto desse filme é mostrar um lado não explorado por Kawabata, o da jovem que aceita esse emprego e fica na cama com estranhos. Cada um dos que deitam com ela tem aspirações diferentes, representadas pelas conversas com Clara antes de se deitaram, e tem fantasias com a jovem dormindo. Lucy chega a estranhar as marcas que aparecem em seu corpo após as noitadas de trabalho.
Um dos pontos negativos do filme é seu caráter um tanto quanto fragmentado. A história não possui muita continuidade, pulando de um aspecto a outro da vida da moça sem um todo coeso. Por exemplo, o final do filme é solto, não possuindo muita correlação com o que se passou. O papel de Lucy é interpretado por Emily Browning, que dos juvenis Desventuras em Série e Sucker Punch pulou para um filme bem mais adulto. Mesmo não sendo uma grande atuação, sua fisionomia combina perfeitamente com o papel e é utilizada como contraponto na fotografia do filme, um detalhe que faz toda diferença.
Pode-se pensar que a diretora ousou fazer um filme mais por ideias e sensações do que pela própria coesão. Mesmo assim, essa obra é interessante, com um visual muito interessante e bela fotografia, além de mexer com os espectadores diante de um roteiro que, mesmo pecando pela coerência, sobressai pela capacidade de impactar. E ele acaba por uma ideia interessante, a de pegar uma obra consagrada e, dentro do universo existente, criar uma perspectiva variada.
Postado por Guilherme Carvalhal
Em
23/4/2015 às 18h35
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