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Sexta-feira,
24/4/2015
Desculpe, eu não tenho whatsapp
ANDRÉ LUIZ ALVEZ
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Aconteceu num shopping, no final de tarde de um sábado recente. Eu bebia calmamente uma garrafa de água com gás, depois de andar várias quadras, naquela tentativa de melhorar a saúde. O lugar estava repleto de gente de todos os tipos. Num dado momento, olhei para a praça de alimentação lotada e percebi que quase todos digitavam textos no celular. Comiam sem olhar, bebiam por instinto, os dedos em forma de garras digitando sem parar. Dai olhei para um canto, depois para o outro, em cada ponta surgia uma moça perdida no mundo cibernético, andavam e digitavam ao mesmo tempo. Nunca fui bom nas leis da física, sequer sei fazer contas, mas era evidente que se nenhuma das duas olhasse para frente, a trombada seria inevitável. Foi exatamente o que aconteceu. Uma das garotas caiu no chão e a outra só não teve o mesmo destino porque conseguiu se amparar numa pilastra. Os celulares voaram no chão e a única preocupação das duas garotas era com o aparelho. Várias pessoas em volta começaram a filmar a cena e tirar fotos da garota que caiu. Fiquei bastante irritado com o acontecido, mas não surpreso, já vi gente filmando acidentes graves. Eu não tenho wathsapp e quando confesso este meu pecado, as pessoas me olham como se eu fosse um ser primitivo, o homem das cavernas que fala. Até tentei usar o dispositivo, mas simplesmente não consegui. Comprei um aparelho de primeira geração e com tantas funções que me perdi. Está jogado numa gaveta qualquer, não consigo encará-lo sem pânico e chego à conclusão que pilotar um avião não deve ser mais difícil. Que saudades dos bons tempos do email. Eu pertencia a um grupo e por lá trocávamos correspondências, falávamos de tudo, surgiu uma amizade muito grande, que durou mais de dez anos, embora a distância. Eu tento acompanhar a modernidade, hoje tenho Facebook, que me toma muito tempo, mas sempre estou por lá falando com os amigos, que são mais de mil, embora pessoalmente conheça no máximo vinte. Já não é o suficiente? Ontem pedi pra minha mãe uma foto antiga e ela me disse que me enviaria pelo "waths"! Até dona Dalva tem wathsapp, ela que é dos tempos em que se esperava o carteiro no portão trazendo cartas, o que só acontecia poucas vezes no ano. O que mais me surpreende nessa moçada do celular é a rapidez e eficiência com que digitam suas mensagens. Fico impressionadíssimo. Eu digito bem e rápido, sem olhar para o teclado, mas fiz curso nas antigas máquinas de escrever, daí a habilidade, mas esses jovens nem sabem o que foi o sistema qwerty, e ainda assim, digitam sem parar. Embora com medo de perder o encanto com coisas naturais; o dia de ar puro, a noite de lua e estrelas que cintilam, não pretendo desistir, vou comprar um celular mais acanhado, daqueles que a gente fala, recebe mensagens e que tenha wathsapp, só isso. E então vou sair digitando feito um maluco, o dia todo, a noite inteira, até aprender. Me aguardem!
Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
Em
24/4/2015 às 10h53
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