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Segunda-feira,
11/5/2015
Obsessão, uma moléstia
Marco Garcia
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Marco Garcia Fortaleza (CE)
"Vou matar Isaura". Por muito tempo, a frase repercutiu no subconsciente do menino. Na falta do que fazer, ou sem brinquedos que o ajudassem a vencer as invariáveis horas do improdutivo cotidiano, ele professava a fé de sua mãe, devota incurável dos folhetins vespertinos.
Através da tela de 14 polegadas, 50% das tardes era preenchido com o remake do "maior sucesso de todos os tempos da teledramaturgia nacional", segundo a análise de audiência.
Da trama pouco absorveu, mas registrou o mantra. Qual a razão daquele homem de bigode querer tanto assassinar a escrava?
Na mesma época, assistiu a um filme, no qual um alienígena chega à terra e passa 1h50 dizendo: "Eu vim em paz". Também ouviu Lula repetir: "A luta continua, companheiro".
Trocou-se a década, ele cresceu. Novos mantras surgiram.
"Impeachment já", repetem os inconformados com o governo.
"Lula sabia", repetem as revistas semanais.
"Não há racionamento de água", repete o governador.
"É contra a lei de Deus", repete Silas Malafaia na direção dos homossexuais.
"Bandido bom é bandido morto", repetem os admiradores da Polícia Militar.
"Só Deus pode me julgar", repetem os que se sentem injustiçados pelo Sistema.
"Redução da maioridade penal", repetem os programas policialescos.
"Deus no comando", repetem os agraciados pelo favor divino.
"Hashtag fica a dica", repetem os redes-sociais-maníacos.
"Junte-se a nós", repetem ONGs e partidos políticos.
E por aí vai...
"Meu filho, você tem uma conversa que parece cantiga de igreja", disse a senhora ao neto que, insistentemente, lhe pediu dinheiro durante a manhã.
Tudo o que passa do limite tolerável vira obsessão. O dicionário desfaz quaisquer deslizes etimológicos. *
O mundo atual é uma bolha obsessiva. Tudo é compulsivo. De Pernambuco a Sumatra, existem pessoas obcecadas por alguma coisa.
Há um número incontável delas. Por emprego, dinheiro, mulher, homem, carro, casa, tablets, TVs, celulares, tênis, condecorações, elogios, likes, selfies, corpo perfeito, cabelo perfeito, vida alheia, jardim do vizinho, limpeza, filho da amiga, enfim, para tudo.
Há casos em que a obsessão gera a intolerância, que anda de mãos dadas com a violência. Alguns foram ao limite da crença e passaram a degolar adeptos de outras religiões. Outros, cegos por um time, matam o torcedor rival a pauladas. Hitler era um sujeito extremamente obsessivo. A História relata o resultado.
Num contraponto, a obsessão é a antessala do suicídio. Hábito fatal adquirido por jovens japoneses, que perdem o rumo ao perceberem que não atingirão a meta profissional traçada por familiares.
É preciso lutar por um ambiente livre desta moléstia. De qualquer espécie. Quem sabe viveríamos melhor. Ou não. Deve ser chato também estar num mundo abarrotado de conformados. Mas qual é a solução? Fica a pergunta.
*Obsessão
Preocupação exagerada com alguma coisa; apego excessivo a uma mesma ideia; ideia fixa.
Compulsão; necessidade intensa para fazer algo ilógico ou insensato: a obsessão pelo dinheiro.
Impertinência; ato de aborrecer alguém com solicitações insistentes.
Psicologia. Neurose que se define pelos pensamentos, ou ações, repetitivos e compulsivos; neurose obsessivo-compulsiva.
Postado por Marco Garcia
Em
11/5/2015 às 20h38
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