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Quarta-feira,
13/5/2015
Qualquer maneira de amor vale a pena
João Luiz Peçanha Couto
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O número 70 da revista Cult trazia Paulo Coelho na capa. Dentro, uma entrevista exclusiva e uma análise do Onze minutos, último livro do mago brasileiro. Algum desavisado perguntaria: sinal dos tempos? A crítica, enfim, estaria se rendendo ao mago vendedor de 54 milhões de exemplares no mundo todo? Bom, achei que seria interessante falar sobre Paulo Coelho, e sobre o que ele representa em termos de mercado literário e editorial. Porque, sem levantar poeira, não se chega a lugar algum.
Um dado que não pode ser deixado de lado, quando se fala que a crítica não engole Paulo Coelho, é que um sujeito do quilate de Umberto Eco elogiou o Veronika decide morrer, livro do mago editado em 1998.
Isso foi numa revista alemã com nome cheio de consoantes — portanto não me peçam para citá-la aqui. Isto posto, será que é tão unânime assim o fato de que Paulo Coelho não presta e de que só os críticos verdadeiramente sabem o que pode ser classificado como Literatura, assim mesmo, com L maiúsculo?
Na mesma linha literária de Paulo Coelho, a que privilegia acima de tudo o entretenimento do público leitor, há outro escritor brasileiro que vem lançando livros que vendem bem, só que na vertente do terror. É gaúcho e se chama André Viamco.
Bons livros de terror escritos por um brasileiro? Desconheço antecedentes. Viamco, assim, preenche uma lacuna na literatura de terror produzida por brasileiros, o que já é louvável por si só.
Já que às vezes é necessário rotular coisas, tudo bem, vamos rotulá-las. Chamemos a Literatura de escritores como Paulo Coelho e André Viamco de Literatura de entretenimento e, numa outra ponta, a praticada por Joyce, por exemplo, e outros monstros sagrados, de Literatura de prospecção, já que é aí que acontece a pesquisa de novas formas de abordagem do real, do ficcional e tal.
Antes, diga-se que esta divisão é horizontal — nunca vertical. Portanto, não há uma literatura melhor que a outra. Há, sim, diferenças nas abordagens envolvendo personagens e situações.
Não podemos nos esquecer de que uma obra literária é feita para chegar às pessoas. E Paulo Coelho e André Viamco, aqui colocados como escritores brasileiros que, mesmo preterindo pontadas de originalidade e ousadia chegam ao seu público, conseguem fazer juntos com que, de uma forma ou de outra, sem nenhum exagero, milhões de brasileiros leiam seus livros.
Só isso já seria motivo para olharmos para eles de forma diferente: mesmo que se possa concluir que a qualidade passa longe do que se julgou correto chamar de Literatura, escritores que colocam tantos leitores se interessando por sua obra assumem um papel importantíssimo na formação de um público leitor.
A Literatura de Entretenimento, portanto, pode ensinar como se chegar ao leitor.
O que eu vejo é que há bons escritores de Literatura de Prospecção sendo editados no Brasil, sim. Só que esses escritores, não esquecendo sua qualidade literária ou até encantados por ela, não conseguem encantar o leitor. Talvez lhes falte um pouco de humildade para ler o coração do seu leitor que, em última análise, e ao contrário do que imaginam alguns críticos, é o que é de fato importante? O alvo de todo artista deve ser seu público, pois não? Então, proponho que escritores aprendam com escritores. Uns, a ousar um pouco mais, aprofundar mais seus personagens. Outros, a tentar chegar mais perto do seu público leitor. O objetivo? O prazer da leitura.
Isso sim, pode significar um mercado editorial satisfeito, reciclando-se. Leitores satisfeitos por terem bons (e maus) livros à sua disposição e por preços mais em conta. Escritores satisfeitos por terem sempre um mercado azeitado e ansioso por novos títulos e, acima de tudo, por saberem que suas obras são lidas por milhares de pessoas.
É por aí que passa a tesão do escritor. O resto é balela.
Postado por João Luiz Peçanha Couto
Em
13/5/2015 às 22h46
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