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Quinta-feira,
14/5/2015
O silêncio do meu quarto grita como uma gaivota
Aden Leonardo Camargos
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Imagem: Photografize
Hoje de manhã doeu sobremaneira. Coloquei às 4:30 (hora que geralmente acordo impulsionada pelo universo) meus fones de ouvido. Selecionei uma faixa que fala dos sonhos jogados em lugar nenhum, da espera. Chama-se Wait, confesso ser do filme A culpa é das estrelas, ainda confesso ter visto e confesso ter chorado... Confesso até ter gostado da fofice que geralmente - ou sempre condeno.
Lembrei-me da última vez que nos encontramos. Era sempre nesse horário o de aprontar, porque só podíamos nos ver de madrugada, quando ninguém efetivamente ligaria.
Lembrei o corpo no meu rosto, na minha pele. Seus cabelos balançando enquanto nos amamos.
Quase pude tocar um fundo azul de mim. Agora já não sei mais onde está.
Vezes por dia dá desespero. Mas finjo tomar café. Vezes faço o que tem que fazer. Meu estômago desveste minha sanidade.
Ela é tão linda! Que eu abraçaria de levantar e trazer para casa.
Mandou uma mensagem me chamando de pequenina. Que sente muito por ser fraca e ter escolhido não ser feliz. Comigo.
Eu quis rolar um pouco no chão. Mas há sempre um café na minha vida a ser feito. Vesti-me, fui para academia. Gosto de exercitar. O corpo dói mais que meu espírito moído. Ela não vem.
Mas é linda.
Tem a boca de gaivota voando generosamente. Só que as gaivotas gritam. Ouvi muito.
Tem uma mancha na parede do meu quarto. Foi quando veio aqui. Ficamos na parede, a calça era preta e o botão arranhou a pintura. Está perto do meu guarda-roupas. Ali ela pousou numa de minhas pernas quando descansou.
Na minha cama nos amamos nesse mesmo dia, que lembrou uma outra noite em que passou por aqui. Quando pelas vias da loucura veio para meus braços. E pernas. E boca. E língua.
As lembranças estão impregnadas no meu rosto. No silêncio do meu quarto que grita como uma gaivota...
Hoje dói muito. Porque não tem data de nada hoje.
Hoje eu queria arrancar minha roupa e sair gritando.
Mas sempre tem um café para fazer. Uma conta para pagar amanhã. Essas coisas que continuam, e faz o coração tremer de normalidade.
Eu a amo. Mas ela prefere a inércia de não querer.
Eu a amo. Tenho café para fazer. Sei lá, estamos em 2037, tenho sessenta e cinco anos, ela não liga mais para minha casa, nem desliga. Foi ser feliz em Londres, Paris. Nem sabe. Eu ainda tenho fones de ouvidos. Ouço as gaivotas, todos os dias, meu amor. Aqui no lado B.
Só queria te contar querida, entre esses apagões governamentais, compartilhar com você essa confissão. Só de falar parece melhorar minha alma. A partir de hoje eu serei também, borboleta, como você. Quem sabe assim, alguém me notaria? Mesmo que minha vida toda só durasse um dia!
Postado por Aden Leonardo Camargos
Em
14/5/2015 às 21h58
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