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Quinta-feira,
21/5/2015
Uma História da Tecnologia de Informação- Parte 1
Claudio Spiguel
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66 anos é a minha idade. Frequentemente eu penso nas mudanças que eu já observei durante a minha vida. Diz-se que na segunda metade do século XX e nos primeiros 15 anos deste século XXI, para todos os efeitos nos últimos 66 anos, a humanidade avançou mais que em toda sua história anterior. Em nenhuma área do conhecimento isso é mais aparente do que nas áreas das comunicações e da computação, que constituem o meu campo de especialização. E, na verdade, foi a junção dessas duas áreas lá pelo meio desse período áureo da, assim chamada, ERA DA INFORMAÇÃO, que se constituiu no maior fator catalizador dessa aceleração vertiginosa. Ela vem nos propulsionando como uma raça cada vez com mais alcance e menos barreiras neste nosso planeta azul.
Como evidência disso hoje nos comunicamos com os quatro cantos do mundo através de um computador, como se fosse um telefone, e temos telefones (chamados inteligentes) que são também computadores. No começo da minha carreira profissional, quando muito, havia sobre uma mesa de trabalho um telefone preto com um rotor que nos possibilitava discar os dígitos arábicos 0 a 9. Hoje consideramos o computador ferramenta obrigatória em uma mesa de trabalho, e a penetração desse aparelho nas residências ocorre no mundo inteiro com uma velocidade também vertiginosa. Ela é compatível com a sede de informação dos cérebros evolutivamente crescentes em puro tamanho e também em complexidade que equipam os membros da nossa espécie.
Esse fenômeno, alinhado com outra escolha evolutiva, a de produzir a cria mais indefesa de todas as espécies vivas, e portanto dependente do período mais longo de criação, orientação e educação supervisionada por adultos, faz com que nossas crianças sejam expostas à informática cada vez mais cedo em suas vidas, ao ponto de hoje um adolescente não conseguir imaginar que um dia houve vida sem o computador e a Internet. Nós, sexagenários, sabemos que não é bem assim, e é interessante acompanhar, década a década, o caminho que percorremos nessa subida vertiginosa.
No início do século XX (meros cento e poucos anos atrás...), se desejássemos nos comunicar com alguém no Japão, precisaríamos de recursos para empreender uma viagem de vários meses, talvez anos, repleta de perigos e incertezas, e encontrar face-a-face com nosso interlocutor. O motivo da comunicação teria de ser válido pelo menos por todo o período da viagem, para justificá-la, além da esperança que nenhuma doença grave ou, Deus o livre, a morte, acometesse o nosso interlocutor ou nós durante a viagem. E se decidíssemos mandar o recado por outrem, poupando-nos o risco pessoal, teríamos de esperar o dobro do tempo (meses, anos...): a ida, e a volta da resposta. Hoje, comunicamos com os quatro cantos do mundo em uma questão de segundos, horas, ou no máximo UM DIA se a comunicação é com o Japão ou adjacências.
A primeira metade do século XX viu duas evoluções importantes: 1) a transmissão analógica de sons (por analógica entenda-se através de propriedades físicas da matéria, como por exemplo a condutividade do cobre), e por consequência a telefonia analógica, com a aposta de que todos nós não nos importaríamos em nos tornarmos, sem remuneração, operadores de um terminal simples com apenas os dez dígitos arábicos 0 a 9 (aquele telefone preto...), em troca de podermos transmitir os sons da nossa voz além de onde nossos gritos pudessem alcançar; e 2) a formulação matemática que tornou possível a computação digital (aqueles mesmos dígitos...), associada aos materiais que possibilitaram a construção dos primeiros computadores.
A história da humanidade prova que é nos meios militares, e principalmente nas guerras, que tecnologias dão saltos descontínuos de progresso, e a 2ª Guerra Mundial (décadas de 1930 e 1940) não foi exceção. Ela foi fundamental para: 1) o aprimoramento da telefonia analógica para comunicação entre tropas e com os quartéis-generais; 2) o aprimoramento dos computadores digitais cuja primeira aplicação prática foi o cálculo de trajetórias balísticas, e 3) o início dos conceitos de redes de comunicações entre computadores que viriam a formar a base topológica do que hoje é a Internet.
Na década de 1950, a invenção do transistor nos laboratórios da AT&T (American Telephone & Telegraph) nos Estados Unidos lançou a indústria de manufatura de computadores digitais em uma direção de miniaturização, aumento exponencial de capacidade e consequente queda de preço e facilidade de acesso que persiste até hoje. Isso tudo teve um impacto social tremendo através da penetração dos computadores nas comunidades.
A década de 1960 lançou o germe da tal junção catalizadora através da digitização fiel de representações analógicas, por técnicas de amostragem que permitiram a codificação em sequências de dígitos dessas representações, e a decodificação fiel dessas sequências ao sinal original, tornando então possível o uso de computadores digitais como veículos de transmissão de sinais tradicionalmente analógicos como os de telefonia (digitização fiel da voz humana). Mais tarde, o mesmo ocorreu com imagens, com o advento da fotografia digital comercial na década de 1990. As décadas de 1970 e 1980 trouxeram a evolução e a liberação da rede DARPAnet militar americana para o que é hoje a Internet. A congruência de todas essas tecnologias foi tão poderosa que nessas mesmas décadas a AT&T foi esfacelada juridicamente em pequenas companias para evitar o risco de um monopólio perigoso na área de comunicações.
Por pura coincidência, ou pura sorte, a minha carreira profissional me proporcionou o privilégio de estar fisicamente presente em momentos-chave desse trajeto mirabolante, essa jornada maravilhosa. Proponho-me nos meus Posts subsequentes a descrever esses momentos com o mínimo possível de linguajar técnico (ZERO linguajar técnico é minha definição de sucesso), e a sequência cronológica deles formará o pano de fundo que fará jus ao título deste texto: Uma História da Tecnologia de Informação. Mas ela aparecerá sob o microscópio de uma carreira profissional, ou seja, aproximadamente 50 anos, e que toda a evolução a ser descrita ocorreu em período tão insignificante em termos evolutivos é algo que realmente desafia a compreensão humana. Considero um alto privilégio poder compartilhar essa minha experiência aqui no Digestivo Cultural, pois sei que vocês são, conscientemente ou não, usuários de toda a infraestrutura resultante, pelo simples fato de terem lido este texto até aqui. Venham viajar comigo nessa reminiscência fantástica. Mal posso esperar...
Postado por Claudio Spiguel
Em
21/5/2015 às 23h49
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