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Domingo,
24/5/2015
Satanique Samba Trio
Guilherme Carvalhal
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O Satanique Samba Trio é uma das sonoridades de mais difícil compreensão atualmente no Brasil. Seus discos parecem jazz, mas são cheios de samba. Parecem samba, mas são cheios de jazz. E são tão cheios de elementos distintos que não dá para dizer nem que sejam samba, nem que sejam jazz. As contradições começam pelo nome. O suposto trio é composto por seis integrantes. O samba também nem é tão samba assim. E, à parte o nome, nada nas músicas tem referência a religião, à exceção dos títulos, com nomes memoráveis do nível Auto-Retrato Em Tripas De Cachorro, Lambada Post Mortem e Pipocalipse.
A maneira mais simples de definir seu estilo é sua tentativa muito bem sucedida de ir além de tudo que normalmente se ouve no Brasil. Enquanto a música brasileira em sua imensa maioria repete a si mesma em seu mais variados estilos (rock, pagode, sertanejo, MPB, etc), o Satanique Samba Trio segue na contramão, com níveis de inovação e experimentação que a mesmice enraizada não consegue conceber.
Ouvir seus discos é uma experiência diferenciada. O álbum Sangrou, de 2007, por exemplo. Há pegadas que remetem claramente ao jazz fusion, como a faixa Kit de Amputação Asasulista. Porém, há bandolins, pandeiro, percussões de samba, um pouco de gafieira. Ou então em Estilo Ricky Ramirez, com um clima um pouco minimalista (tendo em vista a orquestração de suas faixas). Tudo na banda foge do lugar comum, podendo até afugentar ouvintes mal acostumados.
A estreia do grupo nos estúdios foi em 2004, com o Misantropicalia. O nome do disco já diz uma de suas intenções, que é debochar das convenções musicais existentes no Brasil. Nesse disco, o samba de gafieira e o samba rock são algumas das influências, além de uns momentos um quanto tenebrosos para afugentar incautos. Apesar da grande qualidade musical, ainda não é o ponto alto do grupo.
Em Sangrou, de 2007, já se encontra uma qualidade melhor. Há mais influências musicais e as transgressões musicais das quais a banda se vale soam mais coerentes, sendo menos provocativo do que o primeiro pretendeu e mais musical. Esse disco atinge extremos sonoros, sendo tantas as quebras de tempo e a pegada atonal que chega ao ponto da total confusão.
Já em Bad Trip Simulator #2 (2010; a contagem da série é fora de ordem) há maiores influências, como da música nordestina, e a exasperação através do excesso de arritmia é menor. Ou seja, é um disco mais palatável e menos exagerado, sendo o mais recomendável para novos ouvintes. É um disco que preza pela beleza (dentro do que se pode buscar de beleza na sonoridade da banda), sendo bem equilibrado entre os diversos estilos e menos agressivo. Seguem-se a esses trabalhos da série mais dois da série Bad Trip Simulator que mantém o mesmo nível.
Ouvir o Satanique Samba Trio é receber um alento por algo diferente no mais do mesmo que a música brasileira se tornou. O som busca inspirações em modelos musicais complexos e que fogem do que se tem por convencional, com doses de zombaria e genialidade.
Postado por Guilherme Carvalhal
Em
24/5/2015 às 21h32
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