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Segunda-feira,
25/5/2015
O último trem
ANDRÉ LUIZ ALVEZ
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E de repente estou caminhando pelas ruas de paralelepípedos da vila dos Ferroviários, perto da antiga estação: Por lá, algumas árvores, antigas sentinelas, sobrevivem ao tempo. O trem do Pantanal passava por aqui - penso no exato instante que um vento gostoso, levemente gelado,sopra em meus ombros. Deparo-me com a velha estação transformada em feira-livre, um dos pontos turísticos de Campo Grande. Não sei se amo ou detesto. Gosto da feira, mas o lugar me remete aos finais de semana de quando eu era jovem e com amigos viajava de trem rumo ao balneário Cachoeirão: um suspiro de saudade me invade e assovio a canção do Paulo Simões, na mente atravessa a letra imortal: "enquanto este velho trem, atravessa o Pantanal..." De propósito, me perco na vila dos Ferroviários só pra sentir a saudade bater mais forte enquanto observo tudo ao meu redor. Se o vento soprar mais forte nos cachos daquelas árvores, é capaz de se fazer ouvir novamente o apito do trem que surgia na curva enquanto nos acotovelávamos na estação - imagino ao me dar de frente com frondosa árvore. Dizem que não nos esquecemos das coisas quando acontecem pela primeira vez. No caso do trem do Pantanal, eu não me esqueço é do último trem. Alguns detalhes ainda estão vivos na minha memória: Parece que vejo meu amigo Josino apontando uma moça escorada no muro lateral da estação; usava short curto, chinelo havaiana, o rosto meio escondido pelo boné e ele ria um riso sem jeito: "achou ela bonita?" A moça era muito magra, respondi que não e hoje acho graça ao constatar que ela viria a ser a esposa dele pouco tempo depois. Dentro do vagão, tínhamos lugar marcado: o restaurante do trem, que por lá sempre havia lugar pra sentar, comer e beber. Outro amigo, o João Batista, sabia tocar berrante, que levava consigo junto da velha mochila. Em cada parada de estação ele colocava a cabeça para fora do vagão e tocava o berrante, assustando os pássaros, chamando a atenção da boiada desavisada que passava por perto e nós caíamos num grito de loucos. Ao chegar ao balneário, descíamos num pulo dado quase ao mesmo tempo, levantando a poeira vermelha, que logo se misturava com a grama das pastagens, na ânsia juvenil, a disputa sem combinação pra ver quem chegava primeiro. O balneário é o oásis que algum desconhecido teve a ideia genial de aproveitar a água corrente dos veios d'água e fazer uma enorme piscina, que lembra um lago: rasa nas pontas, profunda no meio. Num tempo recorde já estávamos todos só de calção e prontos para o primeiro mergulho: Josino não era o mais velho da turma, mas o mais acostumado às aventuras: cresceu no mato, sobreviveu sem pai e mãe, morava num pensionato, era uma espécie de Peter Pan. "Você sabe nadar?" perguntou ao dar de frente comigo na beira da piscina. Claro que sim - respondi - mesmo não tendo certeza. E pulei na água dando braçadas desengonçadas. Eu era jovem e conseguia atravessar a piscina de um lado para o outro. De repente o final da rua de paralelepípedo me traz de volta ao presente. Um carro passa apressado e percebo que o dia está acabando. Um último pensar: O balneário ainda existe, mas falta o trem e os amigos. Talvez eu volte qualquer fim de semana de sol, embora a certeza que já não exista por lá o mesmo encanto de antes.
Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
Em
25/5/2015 às 10h19
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