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Segunda-feira,
25/5/2015
Paris, eu estou aqui!
ANDRÉ LUIZ ALVEZ
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Noite de lua cheia de um sábado tão calmo que resolvi comer na feira do Bairro Taquarussu. Estava na dúvida se trocava o sobá por um churrasquinho, quando um senhor se aproximou. O rosto enrugado, cansado, a barba rala e grisalha e os olhos de um azul bastante claro que chamavam a atenção. Falou comigo como se me conhecesse de muito tempo atrás, se apresentou pela alcunha de "Francês" e quando pensei que pediria comida, ele tirou do bolso da camisa rota um monte de jogos de loteria. Disse que era francês por parte de mãe, mas o pai era cigano e assim que me viu entrar na calçada da feira, teve o pressentimento que eu ganharia na loteria. Sou completamente cético quanto a isso, nunca ganhei nem rifa, uma vez comprei dez cartelas de um bingo do Comercial e não fiquei nem pela "boa". Mas o homem insistiu tanto que acabei comprando. Ao conferir o resultado, percebi que acertei quatro números, faltaram dois.Quase um milionário...
Então o vento soprou tão forte que amaldiçoei meus poucos cabelos, era brisa suficiente para levar as mechas ao longe. Ainda assim senti estranho prazer ao erguer os braços diante da Torre Eiffel, o cheiro de Paris invadindo minhas narinas enquanto eu pedia pra Graziela um beijo de cinema, porque todos os lugares do mundo são bons para beijos, mas em Paris é diferente, é eterno. Caminhamos de mãos dadas pelas margens do Rio Sena e o passado adentrou ao presente sem que eu pedisse, embora desejasse, tão logo vi surgirem as cadeiras espalhadas pelos cafés nas calçadas da Champs-Élysées. Com o Arco do Triunfo ao fundo, fui vendo desfilar fantasmas imortais.
Numa mesa, o Marquês de Sade discutia com Restif de La Bretonne, na outra Simone de Beauvoir cochichava algo nos ouvidos de Sartre que em seguida caía na risada. Mais ao fundo, bebendo uísque e fumando um charuto cubano, Ernest Hemingway contava segredo aos ouvidos atentos de Scott Fitzgerald, enquanto Gertrude Stein fazia sinais para o garçom servir mais uma bebida. E surgem La Fontaine, Picasso, Proust, Collete. Balanço a cabeça, estou num filme de Woody Allen, penso, e prossigo caminhando até chegar ao Louvre e só então tenho força para perguntar pra Graziela: você viu aquilo? Ela não responde, congela, vira uma dançarina do Moulin Rouge e eu sou arremessado ao túmulo do Jim Morrison no Cemitério de Père-Lachaise. Sinto a perna tremer ao imaginar que o corpo de um dos meus ídolos está enterrado logo abaixo dos meus pés, ameaço chorar, me contenho quando vejo no túmulo ao lado a foto do homem dos olhos azuis que me vendeu os números da loteria. Acordo aliviado, no silêncio do meu quarto. Sonho bom, que surgiu certamente quando imaginei qual seria a primeira coisa que faria com o dinheiro caso ganhasse o prêmio. Faltaram dois números e, por enquanto, Paris e seus fantasmas terão que esperar.
Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
Em
25/5/2015 às 10h43
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